Capítulo 21 — Ainda Tão Rebelde


 Originalmente, ele planejava passar a noite no Quatro Estações Nuvem Alta, mas agora, com as duas irmãs mais novas a tiracolo, Zhong Ruanxing não teve escolha senão levá-las para a mansão de Song Jinxing. A casa havia sido comprada por Song Jinxing depois que voltou ao país, e nem Song Wenyin nem Song Shuling haviam estado ali antes. Na verdade, fora a Vovó Song, nenhum outro membro da família Song jamais havia pisado ali.

No caminho, Song Shuling gemeu desconfortável duas vezes por causa da bebedeira, então Zhong Ruanxing encostou o carro no acostamento e foi até uma farmácia comprar remédio para ressaca e protetor gástrico. Observando suas ações, Song Wenyin pensou: “O Terceiro Irmão não é tão frio e insensível quanto a Irmã Mais Velha e o Segundo Irmão dizem… Ele é até bem atencioso.”

— Já foi a bar com a Shuling antes? — perguntou uma voz baixa vinda do banco da frente. Song Wenyin se assustou, voltando à realidade, e gaguejou antes de responder suavemente:

— Essa foi a segunda vez.

Zhong Ruanxing olhou para o rosto ainda jovem dela pelo retrovisor:

— Está em que ano da faculdade?

— Terceiro ano.

Zhong Ruanxing falou:

— Da próxima vez que for se divertir em um bar, chame mais amigas de confiança. Não saiam só duas garotas. E não bebam nada oferecido por estranhos. Verifique bem antes de colocar qualquer coisa na boca.

Song Wenyin ficou um pouco surpresa. Ela achava que o Terceiro Irmão iria proibir de vez que ela frequentasse bares.

Ao se dar conta, assentiu rapidamente:

— Entendi, Terceiro Irmão.

Zhong Ruanxing perguntou de novo:

— A Shuling costuma ir a bares?

Song Wenyin apertou os lábios, olhou para a garota deitada em seu colo, ficou em silêncio por um tempo e respondeu com sinceridade:

— Sim. Ela conhece muita gente de diferentes círculos. Às vezes me leva para sair junto.

— Você viu de onde vêm esses “amigos” dela — disse Zhong Ruanxing, num tom leve. — Se eu não tivesse chegado a tempo hoje, sabe muito bem o que teria acontecido.

Song Wenyin empalideceu ao lembrar da cena mais cedo.

A princesinha da família Song cresceu sem esforço, rodeada de mimos por todos ao seu redor. Erguida num pedestal construído pelos mais velhos, tudo que ela via era a face próspera do mundo. Nunca havia presenciado o lado obscuro da sociedade. Se Song Shuling não a tivesse levado secretamente para se divertir, aqueles delinquentes jamais teriam tido a chance de sequer trocar uma palavra com ela.

Sua mãe, Song Si, sempre foi rígida na educação familiar. Teve apenas Song Wenyin, e desde pequena a colocou em uma infinidade de cursos extracurriculares — instrumentos musicais, caligrafia, xadrez, pintura. As notas e habilidades de Wenyin nessas áreas eram todas excelentes. Foi criada com todo o rigor de uma jovem dama da alta sociedade — uma filha orgulhosa do céu, que todos admiravam. Seu futuro seria assumir o lugar de Song Rushu.

Song Shuling também deveria ter sido assim.

Mas uma criança sem os pais presentes... sempre cresce de maneira diferente.

O restante do trajeto foi silencioso. O carro entrou na garagem subterrânea da mansão. Depois de estacionar, Zhong Ruanxing pegou Song Shuling no colo. Ela parecia ter recobrado um pouco a consciência, e ao vê-lo, arregalou os olhos. Talvez tenha reconhecido o próprio irmão, porque começou a se debater feito uma gatinha rebelde:

— Quem é você? Me solta!

Song Wenyin correu e apertou o botão do elevador privativo.

Ao chegarem ao primeiro andar, a sala de estar vazia estava cheia de caixas de papelão ainda lacradas, móveis e enfeites que Zhong Ruanxing havia comprado durante o dia.

Song Wenyin olhou em volta, curiosa, e achou que a casa era tão fria quanto o Terceiro Irmão — como esperado.

Zhong Ruanxing colocou Song Shuling na cama do quarto de hóspedes do primeiro andar, depois ferveu água quente para dar o remédio e limpou o rosto e as mãos dela com uma toalha úmida. Por ter experiência cuidando da Mãe Zhong e de Zhong You, seus movimentos eram gentis. Song Wenyin observava ao lado, sentindo que a imagem que tinha dele em sua mente estava, pouco a pouco, se desfazendo.

De fato, não se deve confiar cegamente no que os outros dizem. Ele era claramente diferente daquele “demônio frio e sem coração” que todos descreviam!

Depois de tudo pronto, Song Shuling enfim adormeceu profundamente. Zhong Ruanxing disse à preocupada Song Wenyin:

— Vai descansar também. Pode dormir em qualquer um dos quartos do primeiro andar.

— Ela vai ficar bem? Será que vai vomitar depois? — perguntou Wenyin.

— Não deve. Eu vou dormir na sala, qualquer coisa eu ouço. Vai descansar.

Só então Song Wenyin se retirou.

Depois de todo aquele acontecimento, o sono dela tinha sumido por completo. Após tomar banho e vestir roupas confortáveis, Zhong Ruanxing pegou um cobertor e se deitou no sofá da sala. Já passava das duas da manhã, e como Song Shuling parecia estável, ela decidiu não avisar Song Jinxing, deixando para contar tudo pela manhã.

Preocupada com o estado da irmã, teve uma noite de sono agitado. Quando o despertador tocou pela manhã, Zhong Ruanxing estava tão exausta que mal conseguia abrir os olhos.

Bocejando, foi até a geladeira. No dia anterior, havia pedido para Ling Ding abastecê-la conforme suas instruções, e agora estava repleta de frutas, legumes e carnes — muito satisfatório. Pegou metade de uma abóbora e preparou mingau de abóbora, além de ovos no vapor.

Depois de se arrumar, Song Wenyin saiu do quarto e foi surpreendida pelo cheiro da comida:

— Terceiro Irmão... você sabe cozinhar?

Ela realmente não sabia se Song Jinxing sabia cozinhar. Zhong Ruanxing colocou o mingau e os ovos na mesa de jantar:

— De vez em quando cozinho. Quando estava no exterior, era por necessidade. Vamos comer.

Song Wenyin olhou para a porta fechada do quarto ao lado:

— A Shuling ainda está dormindo?

Devia estar fingindo. Na noite anterior, preocupado em escutar qualquer barulho, Zhong Ruanxing tinha deixado a porta entreaberta. Mas agora ela estava trancada.

Song Wenyin foi até lá e bateu:

— Shuling, já acordou? — girou a maçaneta e percebeu que estava trancada por dentro. Bateu de novo: — Shuling, vem tomar café! O Terceiro Irmão preparou mingau. Você bebeu demais ontem, precisa comer algo leve.

Bateu por um bom tempo, mas não houve resposta.

— Já deu, deixa ela — disse Zhong Ruanxing. — Vem comer.

Song Wenyin não teve escolha senão sentar-se novamente. Ainda tinha aula naquele dia. Antes de sair, perguntou com cautela:

— Terceiro Irmão... você não vai contar pra minha mãe o que aconteceu ontem, né?

Só depois de receber a garantia dele, ela saiu aliviada.

Após o café, Zhong Ruanxing limpou a cozinha, depois se sentou na sala para abrir os pacotes. Em qualquer época da vida, garotas sempre têm uma certa paixão por abrir encomendas.

Depois de pendurar alguns quadros decorativos, colocar alguns vasos com flores, trocar a mesa de centro preta por uma mesa redonda artística, estender um tapete de padrões simples e colocar um calendário artístico com virador automático de páginas, o ambiente ficou imediatamente mais acolhedor.

Terminando de desmontar as caixas, ela saiu para jogar o lixo fora.

Havia um ponto de coleta logo na entrada do jardim, onde os funcionários da limpeza passavam a cada hora.

Mas, para sua surpresa, ao voltar, deu de cara com Song Shuling já na sala de estar. Ao vê-la, Song Shuling também se espantou. Pelo som da porta batendo, deve ter achado que Zhong Ruanxing havia saído e, por isso, decidiu sair do quarto.

Agora, olhando de novo, aquele rosto tinha traços diferentes dos de Song Jinxing — devia puxar mais para o lado da mãe, com feições mais suaves. Já os traços de Song Jinxing eram afiados, marcantes.

Só que o olhar da garota não era nada acolhedor, cheio de frieza e desconfiança.

Zhong Ruanxing não se incomodou:

— Acordou? Vai comer.

Song Shuling mantinha aquele ar impaciente de quem não queria papo, e virou as costas sem dizer uma palavra.

Zhong Ruanxing segurou seu braço:

— Vai aonde?

Song Shuling tentou se soltar duas vezes, mas não conseguiu. Irritada, resmungou:

— Não é da sua conta.

Zhong Ruanxing a avaliou de cima a baixo:

— Você tem vinte e três anos agora, né?

— E daí? — ela franziu o cenho.

— Nessa idade, ainda tão rebelde assim? Não deveria.

Song Shuling ficou envergonhada e irritada ao mesmo tempo. Tentou se soltar com força:

— Que saco! Me solta!

Zhong Ruanxing ignorou, arrastou a garota até a mesa de jantar e a empurrou para a cadeira.

— Come primeiro. Depois pode sair.

Pelo visto, não ia escapar sem comer aquela refeição. Song Shuling estava furiosa. Pegou a tigela e tomou o mingau de abóbora num gole só, depois bateu a tigela na mesa com força:

— Feliz agora?

Um celular apareceu de repente na frente dela.

Estava tocando o vídeo gravado na noite anterior.

O homem tatuado, com quem ela sempre compartilhou gostos, chorava e fungava:

— A gente perdeu muita grana apostando… queríamos fazer uns vídeos pra arrancar dinheiro dela.

— Ela é bem mão aberta. É só elogiar um pouco, e ela já se oferece pra pagar tudo.

— Ela acha que tratamos ela como princesa, mas na real a gente vê ela como uma vaquinha leiteira… uma riquinha burra fácil de enganar.

O rosto pálido de Song Shuling ficou ainda mais branco.

Parecia tomada pela raiva. De repente, agarrou o celular e, com ódio, apagou o vídeo nojento.


Postar um comentário

0 Comentários