Capítulo 70 a 72


 Capítulo 70: O Príncipe Fica Com Ciúmes

— Você tem a língua afiada — comentou Zhuo Qi, ressentido por estar sendo desprezado pela primeira vez. Não era uma sensação agradável.

Han Yan sentou-se diante dele.

— Você me deve uma vida, um ferimento e um frasco de remédio.

Os olhos de Zhuo Qi caíram sobre o braço ensanguentado dela, lembrando-se de como ela havia arrancado decisivamente um grampo de cabelo para cortar a própria pele com precisão. Isso fez seu coração acelerar, mas ela parecia imperturbável enquanto enrolava um curativo no braço, o que explicava o cheiro persistente de sangue no quarto.

— Você não precisava ter feito isso — ele disse. — Está sendo dura demais consigo mesma.

Han Yan sorriu com desdém.

— Mesmo sem você, eles não teriam deixado passar hoje. À primeira vista, parece que eu saí perdendo, mas eles também não sairão ilesos. Se querem tramar contra mim, que estejam prontos para pagar o preço.

Os lábios de Zhuo Qi se curvaram num sorriso travesso.

— Você é mesmo interessante. Estou começando a achar difícil me afastar de você.

Han Yan respondeu:

— Eu salvei sua vida, então você também deve pagar um preço.

— Que preço? — provocou Zhuo Qi. — Trocar de corpo?

Han Yan arqueou a sobrancelha.

— Isso não será necessário. Só me prometa que nunca mais aparecerá diante de mim.

Esse homem era encrenca. E sua identidade estava longe de ser comum. Se envolver com ele só traria mais dores de cabeça.

Zhuo Qi a encarou intensamente.

— Com exceção dessa condição, concordo com todo o resto.

Han Yan lançou um olhar afiado, e ele caiu na risada.

— Garotinha, eu não devo favores a ninguém. Se a oportunidade surgir no futuro, com certeza retribuirei. — Ele se levantou, acrescentando: — Você se feriu hoje por minha causa. Se o seu Príncipe achar esse machucado feio demais e recusar você por causa da cicatriz...

Ele deu um passo para trás, aproximando-se da janela com um sorriso galanteador.

— Então, para pagar minha dívida... eu me caso com você.

Dito isso, desapareceu num instante, deixando Han Yan sozinha no quarto.

Ela franziu levemente a testa e estava prestes a organizar a bagunça sobre a mesa quando notou um pedaço de ferro ao lado de sua xícara de chá. Tinha um peso surpreendente na mão e estava gravado com caracteres que ela não conseguia entender. Supondo que o homem tivesse deixado aquilo para trás e que talvez fosse algo de valor, ela caminhou até a lateral da cama. Seus dedos tocaram uma saliência ao pé do móvel e, com um puxão firme, todo o estrado se ergueu, revelando um compartimento oco.

Era ali que Zhuo Qi havia se escondido mais cedo.

Após seu renascimento, Han Yan temia que a família Zhou tivesse colocado espiões no Jardim Qingqiu. Ultimamente, o dinheiro de prata que ela trocara com Jiang Yulou parecia inseguro demais para ser mantido consigo, então ela havia levado dois dias e duas noites para criar aquele espaço secreto sob a cama. O homem, afinal, era um cavalheiro — ao menos, não tocou no dinheiro guardado ali.

Han Yan retirou um pequeno saco de pano do compartimento e colocou ali o pedaço de ferro e as notas de prata, antes de remontar a cama. Depois de toda aquela confusão, sentia-se um pouco sonolenta. Mas como o dia já estava claro, não conseguiria voltar a dormir. Mandou Ji Lan trazer uma cadeira de vime para o pátio, onde pudesse tirar uma soneca ao sol da manhã.

Não sabia quanto tempo havia cochilado quando uma mão fria pousou sobre sua cabeça. Han Yan despertou com um sobressalto, apenas para ver Fu Yunxi parado à sua frente, olhando para ela de cima.

Ultimamente, ele vinha usando uma capa azul-escura, sob a qual vestia um manto azul-claro bordado com padrões sutis, conferindo-lhe um ar mais heroico — embora sua expressão estivesse sombria.

Han Yan ficou momentaneamente surpresa. Ao olhar em volta e não ver Ji Lan por perto, perguntou, curiosa:

— O que você está fazendo aqui?

Fu Yunxi apenas a encarou.

— Ouvi dizer que houve um assassino na residência dos Zhuang ontem à noite. Vim verificar como está a Princesa Consorte.

Ao ouvi-lo chamá-la de Princesa Consorte, Han Yan se sentiu um tanto desconfortável. Como ele age rápido, pensou. O incidente mal tinha acabado de acontecer, e ele já está aqui. Provavelmente havia mandado Ji Lan e os outros embora. Um gesto tão direto a fez suspeitar que ele tivesse entrado escondido.

— Você entrou pelo portão da frente? — questionou Han Yan.

Fu Yunxi achou graça da pergunta, embora seu rosto se tornasse ainda mais carregado.

— Está querendo dizer que este Príncipe teria entrado pelos fundos?

— Não foi isso que eu quis dizer... — Han Yan apressou-se em negar. — Só pensei que, se você entrou pelo portão da frente, muitas pessoas devem ter visto...

— E se viram, o que tem? — interrompeu Fu Yunxi, antes que ela terminasse. — Agora você é a Princesa do Palácio Xuanqing. É natural que este Príncipe venha ver sua própria Princesa.

Han Yan ficou sem palavras diante daquilo, olhando para ele sem saber como responder. Ainda assim, no fundo, compreendia que esse tipo de atitude faria os outros enxergarem que ele a valorizava. Ao saberem do atentado, ele apareceu logo na manhã seguinte para reafirmar sua posição ao lado dela. Aqueles que pensassem em oprimi-la no futuro provavelmente pensariam duas vezes — pelo respeito que tinham ao Príncipe Xuanqing.

Esse homem sempre tão cuidadoso, pensou ela, o que reduziu um pouco sua irritação com a arrogância dele.

— O que você quer? Não tem nada acontecendo aqui.

Fu Yunxi a encarou, os lábios firmemente cerrados. Após um momento, atirou para ela um pequeno frasco de jade branco. Han Yan o pegou no susto.

— O que é isso?

Fu Yunxi deu um passo à frente e agarrou o braço dela, pegando-a de surpresa. Rapidamente, arregaçou sua manga, com o olhar frio fixo no curativo branco sobre o ferimento.

Ao ver a expressão dele, Han Yan entendeu que ele queria ver o machucado, mas se sentiu um pouco envergonhada. Puxou levemente o braço de volta.

— Não tem nada demais pra ver.

— Não se mexa — disse Fu Yunxi, em voz baixa. — Zhuang Shiyang nem sequer pensou em chamar um médico para você!

Era verdade: Zhuang Shiyang nem sequer se preocupara com seu ferimento. Han Yan teve que encontrar um curativo sozinha e aplicar um pouco de pó medicinal às pressas, achando que bastava para cicatrizar. Agora, diante do tom severo de Fu Yunxi, sentiu uma leveza calorosa no coração e o tranquilizou:

— Não é um ferimento sério. Não há necessidade de incomodar um médico.

Fu Yunxi sentou-se em um banco de pedra ao lado dela, com o rosto sério, e rasgou o curativo improvisado, tirando outro novo e pronto para enfaixar o machucado ele mesmo.

O digno Príncipe de Xuanqing estava enfaixando o braço de uma garota... Han Yan achou aquilo inapropriado e recusou:

— Eu mesma posso fazer isso.

Fu Yunxi respondeu:

— Fique quieta.

Ele lançou um olhar para Han Yan — e os olhos de fênix, geralmente profundos, agora brilhavam com uma frieza que a fez hesitar em encará-lo. Ela percebeu que ele estava de mau humor, mas... por que ele estava zangado? Quem se feriu fui eu...

Apesar de sua expressão sombria, os movimentos de Fu Yunxi eram cada vez mais gentis. Han Yan não sentia dor alguma e não pôde deixar de comentar:

— Sua técnica é bastante habilidosa, Alteza.

Sem obter resposta por um tempo, ela pensou que ele ainda estivesse irritado demais para falar, até que ouviu sua voz fria dizer:

— No passado, sempre que eu me feri no exército, fui eu mesmo quem enfaixou meus ferimentos.

Han Yan franziu o cenho, confusa:

— Não havia médicos com você? Por que precisava se enfaixar sozinho?

Fu Yunxi respondeu de forma indiferente:

— Eu não confiava neles.

As palavras "não confiava" pareceram casuais, mas Han Yan sentiu o peso por trás delas. Ela ouvira que o Príncipe de Xuanqing começou a vestir armadura e ir ao campo de batalha aos catorze anos. Era fácil imaginar as dúvidas e desafios enfrentados por um jovem naquela posição. A dor de não ser confiado e de não poder confiar em ninguém devia ter sido profunda. Foi esse caminho cercado de espinhos que moldou o caráter frio e indiferente de Fu Yunxi até hoje?

Enquanto ela se perdia nesses pensamentos, Fu Yunxi já havia limpado seu ferimento, aplicado o remédio e refeito a bandagem. Sua técnica era infinitamente superior à dela. Quando Han Yan estava prestes a agradecê-lo, Fu Yunxi olhou para ela e perguntou:

— Por que se machucou?

Ela ficou surpresa e não soube como responder. Com o histórico militar de Fu Yunxi, ele certamente perceberia qualquer mentira; sabia que aquilo não fora um acidente, mas algo proposital. O que eu digo agora?

— O grampo que eu te dei não foi para você usar para se ferir — disse ele, os olhos profundos encarando Han Yan como se quisessem absorvê-la, embora estivessem completamente desprovidos de emoção.

Ao perceber que ele havia descoberto tudo, Han Yan sentiu o alarme soar em sua mente e forçou um sorriso:

— A situação era urgente na hora...

— Já que podia invocar o nome da Princesa de Xuanqing, por que não fez isso desde o começo? — a voz dele era fria. — Por que precisou se ferir para provar sua inocência?

O rosto de Han Yan corou. Ela mencionara o título de Princesa apenas porque a reputação do Príncipe de Xuanqing lhe seria útil. Agora, suas palavras pareciam acusá-la de usar esse título de forma oportunista. Um tanto desconfortável, mas teimosa, respondeu:

— Ainda não estou oficialmente casada, então não posso ser considerada uma Princesa de verdade. Seria ridículo ficar invocando esse nome.

Ao ouvi-la, Fu Yunxi estreitou os olhos, com um sorriso meio divertido nos lábios:

— Está me lembrando de me casar com você o quanto antes?

Han Yan virou-se para fuzilá-lo com o olhar, sem entender como ele podia distorcer tanto as palavras alheias. Respondeu, ríspida:

— Vossa Alteza está pensando demais.

Depois de um breve silêncio, ela finalmente disse:

— O assassino de ontem era das Regiões Ocidentais.

Han Yan ficou espantada:

— Regiões Ocidentais? Não me surpreende que ele não parecesse alguém das Planícies Centrais. Mas as Regiões Ocidentais estão em conflito com nossa dinastia — como ele ousaria entrar no palácio para assassinar o imperador?

Ao lembrar-se de como o salvara na noite anterior, sentiu-se inquieta. Olhou de relance para Fu Yunxi, percebendo que ele provavelmente sabia o que acontecera e que ela ajudara o assassino a fugir. Vendo a expressão severa dele, temeu que achasse que ela estava envolvida com o inimigo. Resolveu se explicar:

— Eu não sabia que ele era das Regiões Ocidentais. Ele estava com uma faca na minha garganta. Se eu não tivesse ajudado...

— Onde ele se escondeu? — ele a interrompeu de repente.

Pega de surpresa, ela hesitou.

— No seu quarto? — ele arqueou a sobrancelha, o tom carregado de ameaça.

Ela piscou, então assentiu.

Antes que pudesse terminar de falar, sentiu um calor em seus lábios, e o rosto bonito dele preencheu sua visão. Assustada com o gesto repentino, ele então se afastou e declarou em tom de aviso:

— Você é minha Princesa!

Chocada, Han Yan o empurrou, atônita com a ousadia dele, mas Fu Yunxi parecia ter amolecido um pouco, deixando os itens que segurava e indo embora.

Depois que ele saiu, ela se aproximou das coisas que ele havia deixado para trás — era uma pomada para cicatrização. Um calor subiu em seu peito ao lembrar-se do beijo inesperado, as bochechas ficando ruborizadas.

De repente, tudo fez sentido. O comportamento estranho dele hoje não era por desconfiar de mim... era por estar incomodado por eu ter ficado sozinha com o assassino. Que mesquinhez! Mas, segurando a pomada nas mãos, pensou: Será que ele... está com ciúmes?

Depois de deixar a mansão, Fu Yunxi seguiu para o palácio, onde teria uma audiência com a Imperatriz Viúva.

No Salão Caifeng, ela estava reclinada sobre um sofá luxuoso, dispensando duas criadas que massageavam suas pernas. A Consorte Chen estava por perto, conversando com ela, quando um eunuco anunciou:

— O Príncipe Xuanqing chegou...

Ao entrar no salão, ele se ajoelhou com um dos joelhos ao chão e disse, com voz fria:

— Este filho saúda a Mãe.

— Levante-se — disse a Imperatriz Viúva, fazendo um gesto com a mão. — Yunxi, faz tempo que não o vejo.

Os olhos dele escureceram.

— Fui um filho ingrato, causando preocupação à Mãe.

A Consorte Chen sentou-se de forma composta, mas esboçou um sorriso enigmático.

— Yunxi, ouvi dizer que você vai se casar com a senhorita Zhuang — disse ela, estreitando os olhos enquanto tomava um gole de chá.

— Sim — respondeu ele, visivelmente sem vontade de se alongar no assunto.

— Eu pretendia arranjar esse casamento entre a senhorita Zhuang e o herdeiro de Wei, mas parece que você chegou primeiro — comentou ela, observando sua expressão. Sem obter a reação que esperava, ele respondeu:

— O Imperador já prometeu a filha do Primeiro-Ministro da Direita ao herdeiro de Wei. Deve ser uma união auspiciosa.

— HaHa — riu a Imperatriz Viúva, como se tivesse ouvido uma piada. — Essa união não foi arranjada por você com o Imperador?

Fu Yunxi respondeu:

— Também fiquei impressionado com a profunda afeição da senhorita Li pelo herdeiro de Wei.

Tendo tocado num ponto delicado, a Imperatriz Viúva decidiu não mais disfarçar suas intenções e perguntou diretamente:

— Por que deseja se casar com a Quarta Senhorita da família Zhuang?

— A senhorita Zhuang é renomada, e admiro-a muito. Que tal essa razão, Mãe? — ele disse.

A Imperatriz Viúva não olhou para ele. Em vez disso, virou-se para a Consorte Chen.

— Estou velha e já não entendo mais esses assuntos de admiração. Consorte Chen, por que não nos diz que tipo de pessoa é essa Quarta Senhorita Zhuang?

A Consorte Chen respondeu respeitosamente:

— A senhorita Zhuang é uma figura trágica. Perdeu a mãe no ano passado, não é favorecida por seu pai e ainda sofre bullying das concubinas da casa. Ela parece bastante lamentável.

Por fora, suas palavras demonstravam simpatia por Han Yan, mas nas entrelinhas, destacavam seu status inferior — insinuando que, mesmo sendo filha legítima, ela não era valorizada por sua própria família. Uma garota assim não parece digna de se tornar uma Princesa.

Como esperado, a Imperatriz Viúva suspirou ao ouvir isso.

— Uma menina tão infeliz... Yunxi deve tratá-la bem. — Então mudou o tom: — No entanto, já que sofreu tanto, talvez tenha dificuldades quando entrar para sua casa. Posso recomendar algumas esposas secundárias ou concubinas para amparar a senhorita Zhuang; seria algo benéfico também.

Fu Yunxi respondeu com calma:

— Mãe, talvez não saiba, mas já jurei diante de todos os oficiais que, nesta vida, só me casarei com a senhorita Zhuang.

— O quê? — A Imperatriz Viúva ficou espantada. — Como assim? Nunca houve tal regra! Os filhos da família imperial sempre tomaram uma esposa legítima. É seu dever garantir a continuidade adequada da linhagem — como pode agir por capricho? Não concordo com isso.

— Mãe Imperatriz — disse Consorte Chen suavemente. — Foi a própria quarta senhorita Zhuang quem propôs isso. Quando o herdeiro de Wei e seu pai foram à Mansão Zhuang para pedir sua mão, ela declarou que só se casaria com ele se fosse como sua única esposa. Foi isso que desestimulou o herdeiro de Wei.

Os olhos da Imperatriz Viúva se arregalaram de raiva.

— Que mulher ciumenta! Uma mulher deve ser generosa e seguir as virtudes da obediência — isso é o que faz uma boa esposa! E ela ousa fazer exigência tão absurda? O que acontecerá quando entrar para sua casa? Yunxi, não permito que se case com uma mulher dessas. Rompa o noivado imediatamente!

— Mãe, está brincando — Fu Yunxi manteve a postura tranquila. — O Imperador aprovou esse casamento diante de todos os oficiais; como poderia ser alterado? Mesmo hoje, ela está destinada a ser a Princesa do Palácio Xuanqing.

Consorte Chen cobriu a boca, rindo suavemente:

— Não é à toa que dizem que o Príncipe é um cavalheiro. Se quiser atender às expectativas de sua mãe, é simples! Basta emitir um decreto de repúdio e o noivado estará anulado. O Imperador apenas concedeu o casamento, não proibiu o divórcio.

A Imperatriz Viúva assentiu, satisfeita:

— Exatamente, Yunxi! Deve emitir esse decreto de repúdio imediatamente. Há muitas boas moças na capital; posso lhe recomendar um bom casamento.

— Posso perguntar, mãe, que crime cometeu a senhorita Zhuang para merecer um repúdio? — Fu Yunxi arqueou a sobrancelha.

— Cometeu o crime de ser excessivamente ciumenta! — Os olhos da Imperatriz Viúva brilharam com severidade. — Como uma mulher ciumenta pode ser aceitável?

— Se dizer que só se casaria comigo for considerado ciúmes, então isso não é válido — disse Fu Yunxi lentamente. — Porque eu desejo, de bom grado, prezar apenas por ela.

Essas palavras fizeram o sorriso de Consorte Chen congelar por um instante, e seu olhar para Fu Yunxi tornou-se de incredulidade. Para ela, homens eram criaturas volúveis; não havia gato que não roubasse peixe. A ideia de um homem se dedicar a uma única mulher por toda a vida era algo completamente impossível. Dada a chance, certamente buscaria várias mulheres, especialmente alguém como Fu Yunxi — jovem, belo, invicto no campo de batalha, de origem nobre, um verdadeiro ímã para as damas da alta sociedade. Como alguém assim poderia, por vontade própria, esperar a vida inteira por uma única mulher?

"Príncipe, não brinque assim," pensou Consorte Chen, convencida de que Fu Yunxi estava apenas fazendo teatro. "Com suas condições, como poderia se contentar com uma única esposa legítima? Além disso, aquela senhorita Zhuang não tem nada de extraordinário. Se quisesse, haveria incontáveis jovens nobres no mundo..."

— Terei apenas uma Princesa consorte — Fu Yunxi lançou-lhe um olhar, e o frio em seus olhos fez o coração de Consorte Chen vacilar. Ele sequer se referia a si mesmo como “filho” diante da Imperatriz Viúva. Declarou:

— Este casamento já foi aprovado pelo Imperador. Existe alguém acima do Imperador? — Seu olhar passou significativamente pela Imperatriz Viúva e por Consorte Chen, sua voz carregando uma ameaça velada: — Se alguém ousar cobiçar a posição de Princesa consorte, não terei misericórdia.

A expressão da Imperatriz Viúva escureceu ao encarar o jovem de feições marcantes, ereto como uma espada no centro do salão, com uma postura indiferente, porém exalando uma aura gélida. Era como se suas palavras fossem lei, inquestionáveis — desafiá-las traria apenas infortúnio. Ela se perguntou quando aquele Príncipe começou a se distanciar dela, tornando-se cada vez mais impossível de controlar. Sua arrogância, mesmo em sua presença, parecia intencional. O que ele está planejando?

Afastando esses pensamentos, a Imperatriz Viúva forçou um sorriso:

— Só me preocupo com você, meu filho. Sempre foi determinado, mas casamento não é um assunto trivial...

— Já sou adulto — ele a interrompeu. — A mãe pode deixar isso comigo agora.

A Imperatriz Viúva ficou surpresa, seu olhar se tornando complexo ao encará-lo. Fu Yunxi juntou as mãos em um gesto de saudação e disse:

— O Imperador me convocou. Devo me retirar.

Dizendo isso, virou-se e foi embora.

No Palácio Caifeng, as duas permaneceram em silêncio por muito tempo até que a Imperatriz Viúva estreitou os olhos, e sua expressão de ternura maternal se transformou em frieza implacável. Comentou preguiçosamente com Consorte Chen:

— Viu? O lobo que criamos já não pode mais ser mantido.

Consorte Chen abaixou a cabeça:

— Então... devemos arrancar a raiz.

Enquanto isso, Fu Yunxi retornava à residência do Príncipe Xuanqing, onde Cheng Lei o recebeu com um tom provocador:

— Foi ver sua pequena Princesa consorte?

Fu Yunxi o ignorou e entrou direto em seu estúdio. Percebendo algo estranho em sua postura, Cheng Lei o seguiu e o viu instruindo Mu Yan:

— Encontre dois guardas para proteger secretamente a senhorita Zhuang na mansão dela — ordenou. Após um momento de reflexão, acrescentou: — E envie alguns homens para vigiar o palácio.

Mu Yan saiu para cumprir as ordens, e Cheng Lei perguntou, intrigado:

— Você acabou de voltar do palácio?

— A Imperatriz Viúva está inquieta — respondeu Fu Yunxi.

A expressão de Cheng Lei ficou séria.

— Você vem vigiando a Imperatriz Viúva há anos. Por quê?

— Você descobrirá em breve — disse Fu Yunxi, sem levantar os olhos.

— Yunxi, a Imperatriz Viúva se opõe ao seu casamento com a senhorita Zhuang, não é? — Cheng Lei o observava. — Ouvi dizer que, a princípio, ela pretendia casar a senhorita Zhuang com Wei Ru Feng. É estranho... A senhorita Zhuang parece tão comum. Por que a Imperatriz Viúva está tão envolvida nisso? Seus homens descobriram algo?

Fu Yunxi balançou a cabeça.

— Parece que foi abafado. Agora que ela se opõe, fico ainda mais desconfiado.

Cheng Lei o olhou com atenção.

— Está disposto a romper com a Imperatriz Viúva por causa dela? Vale a pena?

Vendo que Fu Yunxi permaneceu em silêncio, ele continuou:

— Além disso, vocês se encontraram poucas vezes. Por que ir tão longe, até mesmo pensando em torná-la Princesa consorte? Sem contar que ela tem apenas treze anos, ainda é uma criança. Por mais especial que seja, você não é alguém que se casa impulsivamente à primeira vista. Não entendo.

De fato, Fu Yunxi era extremamente reservado. No acampamento militar, muitas mulheres haviam sido enviadas a ele — de todos os tipos e estilos — para tentá-lo. Havia as encantadoras e sedutoras, as inocentes e espontâneas, as orgulhosas e reservadas, e até algumas ousadas e destemidas. Aquelas garotas, ricas ou não, corriam até ele ao ouvirem seu nome. Um jovem belo, invicto em batalha, de nascimento nobre — naturalmente, tinha um magnetismo irresistível. No entanto, naquele ambiente austero, ele sequer olhava para elas. Na época, Cheng Lei ficava admirado com seu autocontrole.

Mas agora, ele estava quebrando seus próprios princípios por causa de uma garotinha que mal conhecia. Às vezes, parecia que deixara de ser um ser acima dos sentimentos mundanos para se tornar alguém comum, com emoções e desejos. Ele era capaz de sorrir, de se irritar, de chocar a corte por causa dela, até mesmo de confrontar a Imperatriz Viúva por sua causa.

Vale a pena?

Fu Yunxi balançou a cabeça e riu baixinho.

— Não foi a primeira vez que a vi. Já a vi no banquete do palácio.


Capítulo 71: Assuntos da Juventude

Ele se lembrava daquela tarde, sete anos atrás.

Naquele tempo, ainda era um jovem orgulhoso, intocado pelas dores do mundo. Tinha acabado de descobrir um segredo que impactaria toda a sua vida e, incapaz de aceitá-lo, teve seu primeiro confronto com o irmão mais velho, exigindo ir para a guerra. O irmão, sem ter outra escolha, concordou com seu pedido. Ainda assim, a raiva e a tristeza dentro dele não diminuíram. Naquela tarde, ele deixou o palácio e vagou pela capital, acabando por chegar a uma encosta isolada no lado oeste da cidade.

Era um lugar muito tranquilo, cercado por montanhas verdes e águas cristalinas. O clima estava frio e uma nevasca pesada havia acabado de cobrir tudo de branco. Ele se sentou numa árvore, com o vento soprando forte, o coração ainda agitado. Foi então que ouviu um som de choro.

A princípio, não queria prestar atenção, mas o choro foi ficando mais alto, até parecer que a criança soluçava de tanto chorar. Ele tinha ido ali em busca de paz e, em vez disso, foi perturbado por aquele barulho. Irritado, inclinou-se para ver o que estava acontecendo e encontrou uma menininha, de uns cinco ou seis anos, sentada debaixo da árvore.

Era uma coisinha suja, com o cabelo preso em dois coquinhos redondos, enxugando as lágrimas, parecendo extremamente triste. Fu Yunxi, irritado, não conseguiu se conter e pulou da árvore, dizendo friamente:

— Cale a boca!

A menininha se assustou. Quando viu o jovem extraordinariamente bonito à sua frente, apesar da expressão nada amigável, jamais havia encontrado alguém tão belo. Ficou encarando, deslumbrada, enquanto estendia a mão para ele.

— Você é um imortal?

Na vida, Fu Yunxi já havia sido admirado por incontáveis moças, mas era frio por natureza e não gostava de ser tocado. Normalmente, ninguém ousava puxar sua manga. No entanto, aquela menininha, com as mãos sujas de lágrimas e ranho, agarrou-se à sua manga e o chamou de imortal. Olhando para as manchas escuras em sua túnica branca impecável, Fu Yunxi sentiu uma onda de frustração.

Ele recuou um passo.

— Não me toque.

A garotinha pareceu um pouco confusa, mas sorriu e disse:

— Você é mesmo muito bonito.

Fu Yunxi pensou consigo mesmo: Que tipo de criança malcriada é essa, tão sem modos? Depois de uma pausa, disse:

— Fique quieta.

A menina o encarou, fez um biquinho e, de repente, desatou a chorar.

Fu Yunxi se assustou com o choro repentino e perguntou:

— Por que está chorando?

A menininha olhou para ele e respondeu:

— Estou triste. Minha tia e meu pai disseram que não podemos chorar dentro de casa, então estou chorando por amanhã, depois de amanhã e os outros dias tudo de uma vez.

Fu Yunxi ficou confuso com aquelas palavras, mas depois de um momento entendeu que aquela devia ser uma filha desprezada de alguma família, maltratada por uma concubina, escondida ali em desespero. Vendo-a chorar de forma tão dolorosa, perguntou:

— E por quanto tempo você pretende chorar?

A menininha levantou os dedinhos para contar:

— Um, dois, três... Acumulei meia lua de lágrimas, mais as dos dias que vêm por aí... acho que por mais ou menos uma hora.

Uma hora? Fu Yunxi não resistiu e levou a mão à testa. Será que eu realmente tenho que ouvir essa menininha feiosa chorar por uma hora?

A garota olhou para ele com seriedade e perguntou:

— Imortal, você vai chorar também?

Depois de um momento, deu um tapinha no próprio ombro e disse:

— Pode se encostar no ombro da Yan'er.

Fu Yunxi ficou sem palavras. De onde ela tirou isso? Ao vê-la realmente estufar o peito e inclinar o ombro franzino em sua direção, com um ar generoso, respondeu sem jeito:

— Agradeço pela gentileza, mas não quero chorar.

— Você não quer chorar? — a garotinha olhou para ele, desconfiada. — Mas você parece que quer muito chorar. Não tenha medo, segurar o choro faz mal à saúde. Yan’er não vai rir de você.

Fu Yunxi olhou para aquela criaturinha minúscula e pensou no segredo que ouvira naquele dia, sentindo um aperto no peito. Como se falasse tanto para ela quanto para si mesmo, murmurou:

— Chorar ajuda?

Era uma pergunta profunda para uma menininha. Ela inclinou a cabeça, pensou por um bom tempo e respondeu:

— Pelo menos alivia um pouco.

Fu Yunxi resolveu se sentar ao lado dela.

— E você... está se sentindo melhor?

As palavras pareceram acionar sua memória.

— Ai, não! Fiquei conversando com você e esqueci de chorar. Ainda tenho que chorar pela minha mãe, pela Ji Lan, pela Shu Hong e pela Mamãe Chen.

Ela disse isso e tornou a fazer biquinho. Fu Yunxi, quase apavorado com a possibilidade de novas lágrimas, instintivamente estendeu a mão e tapou sua boca.

— Não chore.

A garotinha estufou as bochechas e o encarou. Talvez sua expressão boba fosse engraçada, porque Fu Yunxi não resistiu e beliscou a bochecha dela.

— Não posso brincar com você mais — ela disse. — Não vai dar tempo e o choro não vai acabar nunca.

Fu Yunxi, encarando sua expressão séria, perguntou:

— Por que não transforma seu choro em riso?

— Rir? — a menininha inclinou a cabeça, pensativa. — Eu não sei rir.

Algo dentro dele se agitou. Uma criança tão pequena... e não sabe rir? Ela devia ter sofrido muito. E ainda assim, nem podia chorar à vontade, tendo que se esconder nas montanhas para derramar as lágrimas. Seu tom suavizou-se.

— Por que está chorando?

A garotinha começou a desabafar, contando como as outras concubinas de seu pai maltratavam a ela e à mãe, como seu pai as tratava com frieza e como os criados as desprezavam. Enquanto falava, as lágrimas voltaram a cair, sem controle. Fu Yunxi suspirou, sentindo subitamente uma sensação de empatia.

O mundo não é fácil para ninguém; quem está realmente melhor do que o outro? Aquela menininha, com seus coquinhos inocentes, tinha suas próprias dores. Vendo-a chorar sem parar, ele a consolou:

— Que tal pescarmos um peixinho juntos? Não chore mais, tá bom?

Nas montanhas profundas, o riacho límpido borbulhava suavemente, revelando peixes coloridos nadando abaixo da superfície. Ele estava começando a sentir dor de cabeça com tanto choro e, inesperadamente, se viu tentando consolá-la.

Vendo a menininha o encarar em silêncio, Fu Yunxi se levantou e foi embora. Logo voltou com uma vara de pescar. Pela primeira vez na vida, aquele jovem mestre mimado sentou-se à beira de um riacho para pescar... por causa de uma garotinha. Ao vê-lo fazer isso, a pequena pareceu achar engraçado e, surpreendentemente, parou de chorar, sentando-se quietinha ao lado dele, olhando para o anzol na água.

— Imortal, por que você está chorando? — Fu Yunxi estava perdido em pensamentos quando ouviu a pergunta.

Ele hesitou, surpreso.

— Eu não chorei.

— Seus olhos não choram — ela apontou para o peito de Fu Yunxi —, mas aqui está chorando.

Fu Yunxi ficou surpreso, encarando a garotinha por um momento sem dizer nada. Ela realmente conseguia enxergar sua vulnerabilidade.

Mas Fu Yunxi simplesmente respondeu friamente:

— Não estou.

A garotinha notou sua expressão indiferente e recuou um pouco, dizendo:

— Chorar aqui dói mais do que chorar pelos olhos. Mamãe disse que quem chora aqui é muito, muito triste.

Ele permaneceu em silêncio, com um leve sorriso frio se formando no canto dos lábios.

— Imortal, você vai voltar aqui pra pescar de novo no futuro? — ela perguntou.

O jovem respondeu com indiferença:

— Talvez não. Amanhã vou para a guerra, e pode ser que eu não volte com vida. Te encontrar desta vez já foi obra do destino.

Ele encarava sua própria vida e morte com desdém, chegando a pensar que morrer no campo de batalha talvez fosse até melhor — assim, não precisaria mais voltar.

A garotinha o olhou, sem entender muito bem o que aquelas palavras queriam dizer.

— Então você não vai voltar?

Ele a encarou de relance.

— Isso mesmo. Então considere esse peixe colorido como uma lembrança de despedida.

No entanto, no fim das contas, a garotinha nunca o viu pescar o tal peixe colorido.

Pouco depois, duas criadas aflitas chegaram chamando "Jovenzinha!" enquanto mantinham um olhar desconfiado sobre Fu Yunxi. Quando levaram a pequena embora, ela ainda acenou animada para ele:

— Imortal, até a próxima!

Próxima vez? Que próxima vez? Aquela despedida os deixava com os destinos incertos; talvez se reencontrassem em outra vida... ou talvez nunca mais. Ele abaixou a cabeça, puxou com força a linha de pesca, e um lindo peixe colorido, cintilando com um brilho azulado, saltou da água, reluzente no ar.

Ele ainda não havia entregue aquele peixe.

Sorriu, retirou cuidadosamente o anzol e devolveu o peixe à água. O peixe azul bateu a cauda, levantando respingos, e sumiu num instante sem deixar rastros.

— Se eu voltar com vida... virei te ver de novo — sussurrou ele para a água, lançando um último olhar na direção por onde a menina desaparecera. Em sua memória, o rosto dela se tornava indistinto em poucos segundos.

Tudo bem... naquela época ela estava toda borrada de lágrimas e ranho mesmo. Nem cheguei a reparar direito no rosto. Só se lembrava dos olhos — olhos recém-lavados pelo choro, tão límpidos que qualquer coisa do mundo refletida neles parecia uma profanação.

No dia seguinte, Fu Yunxi partiu com o exército, montado altivo em seu cavalo, fitando o vasto céu azul, com uma expressão firme e séria.

No campo de batalha que veio depois — entre o entrechoque de lâminas, fogo e fumaça —, o jovem amadureceu rapidamente ao longo dos anos: tornou-se frio, contido, profundo. De um rapaz arrogante, transformou-se num homem elegante e sereno, que não se abalava diante de milhares de soldados, com uma postura impecável e um charme natural.

Cheng Lei olhava para ele com preocupação:

— Você mudou tanto com os anos… chega a ser assustador.

Ele respondeu:

— É porque você ainda não passou pela sensação de não conseguir mais chorar.

Fu Yunxi, de tempos em tempos, pensava naquela garotinha — a que apareceu de repente em sua vida no momento de maior desamparo e fúria. Ela causou uma pequena comoção, mas ao mesmo tempo aliviou uma grande dor. Aquele peixe colorido, que ele nunca entregou como presente de despedida, parecia agora uma promessa, algo que lhe deu coragem para sobreviver no campo de batalha.

As pessoas sempre precisam ter algo com que se importar.

Quando retornou vitorioso, à frente de cem mil soldados de elite, ele ainda montava ereto sobre seu cavalo, observando os portões da cidade se abrirem, as multidões aclamando, mas sentindo uma leve melancolia.

Afinal, ele já não era mais o jovem destemido de antes.

Em um banquete no bosque de flores de ameixeira do palácio, ele acabou se deparando com uma garotinha que, em meio a uma situação perigosa, se aproximou dele sem saber que ele próprio era ainda mais perigoso do que a ameaça.

O coque da menina lhe pareceu familiar, e só quando ela ergueu o rosto, revelando aqueles olhos sempre brilhantes, seus traços aos poucos se sobrepuseram à imagem de um rostinho coberto de lágrimas.

Num dia de neve, sete anos depois, ele finalmente reencontrou aquela garotinha. A feiosa que chorava sem parar havia se tornado uma jovem de olhos em meia-lua e sorriso levemente inclinado, olhando o mundo com escárnio e indiferença. Seus olhos ainda eram límpidos como uma nascente, mas já não refletiam a pureza do mundo — e sim o cansaço de quem enfrentou inúmeras dificuldades.

O coração dele doeu. E ela, com certeza, também sentia o mesmo.

Ele ficou nas sombras, observando silenciosamente cada movimento dela. A menina lançou um olhar gélido àqueles que a caluniavam e tramavam contra ela, e então sorriu com doçura, rebatendo cada investida com precisão, deixando seus inimigos completamente indefesos. Parecia que ela não chorava mais, sempre sorrindo para tudo ao redor.

Ele já não era mais o rapaz cujas emoções transpareciam no rosto, e ela não era mais a menina que escondia as lágrimas.

O tempo havia mudado tudo — e ao mesmo tempo, parecia que nada havia mudado.

Ele teve vontade de tomá-la sob sua proteção, onde ela pudesse chorar à vontade, se quisesse, sem precisar mais forçar um sorriso.

Fu Yunxi se lembrou de que ainda devia a ela um presente de despedida. Agora que havia voltado, ofereceu-lhe um prendedor de cabelo com cauda de peixe azul e estendeu a mão para ela sob a luz do luar.

— Minha princesa.


Capítulo 72: A Morte de A'Bi
Três dias depois.
Han Yan decidiu visitar novamente aquela vila ao leste da cidade.
Muitos mistérios continuavam sem resposta, e se A'Bi pudesse revelar a verdade, seria o ideal. Caso contrário... teria que recorrer a métodos mais discretos.
Enquanto a carruagem balançava pela estrada esburacada da parte leste da cidade, Han Yan esfregava a testa com dois dedos. Parecia que o aniversário da Consorte Chen se aproximava rapidamente; em sua vida passada, ela não havia comparecido. Mas desta vez, usando o título de Princesa Xuanqing, seria difícil evitar. A data do incidente com Zhuang Hanming também se aproximava, então tudo precisava ser tratado com cautela. As irmãs Zhou a viam como uma pedra no sapato, e com Wei Ru Feng e o Sétimo Príncipe envolvidos, sua situação era bastante delicada.
Perdida em pensamentos, não percebeu que já haviam chegado à entrada da vila. Han Yan, Shu Hong e Ji Lan desceram da carruagem e, assim que seus pés tocaram o chão, foram atingidas por um vento frio carregado com cheiro de sangue.
O odor era intenso, e Ji Lan sentiu náuseas. Ao ver a expressão tensa de Han Yan, percebeu que algo estava terrivelmente errado e disse:
— Jovem Senhorita, deixe que eu e Shu Hong entremos para verificar...
Han Yan balançou a cabeça.
— Vamos juntas.
Embora dissesse isso, seus dedos já se enterravam na palma da mão, um mau pressentimento crescendo em seu peito. E de fato, depois de poucos passos, viram um homem caído no chão, não muito longe da entrada, coberto de sangue e com ferimentos de faca por todo o corpo.
Ji Lan correu até ele, hesitou por um momento, depois empurrou o homem. Virando-se de volta, disse:
— Jovem Senhorita, ele está morto.
Han Yan se aproximou e viu que o homem vestia roupas simples. Parecia ser um morador da vila. Havia um corte profundo na altura da cintura, o sangue escorria pelo chão, e sua expressão era de puro terror — olhos arregalados, como se não tivesse acreditado que morreria tão de repente.
Os dedos de Han Yan se sujaram com o sangue dele. Ela se levantou lentamente e caminhou para o interior da vila. Assim que se aproximou, viu uma cena infernal.
Havia sangue por toda parte e corpos espalhados por todos os cantos. O velho que retornava do corte de ervas morreu em frente à sua casa. A mulher que segurava a criança teve a garganta cortada. Ninguém na vila escapou. Todos os mortos eram moradores. A água do poço estava tingida de vermelho com o sangue. Um silêncio mortal dominava o lugar, exceto pelos animais domésticos que ainda comiam, alheios ao que havia acontecido.
Todos na vila tinham sido brutalmente massacrados!
Han Yan cerrou os punhos com força. Ji Lan cobriu a boca, chocada:
— Isso é cruel demais! Quem faria algo assim?
Shu Hong parecia preocupada:
— Jovem Senhorita, temo que essas pessoas não tenham ido longe. Este lugar está perigoso. Devíamos...
Han Yan afastou a mão dela e seguiu até o quarto mais ao fundo.
A porta de A'Bi estava escancarada. Quando Han Yan entrou, viu A'Bi deitada de costas, ainda segurando um pedaço de bordado, o sangue manchando completamente o tecido. Claramente, ela estava trabalhando em uma nova peça antes de morrer. O quarto havia sido revirado, com gavetas abertas e tudo em desordem.
Ji Lan sussurrou:
— O que aconteceu aqui?
Han Yan se sentia completamente esgotada e balançou a cabeça. Ao olhar de volta para o corpo de A'Bi caído na poça de sangue, notou um leve sorriso nos cantos de sua boca, como se finalmente tivesse se libertado de um fardo que carregava há muitos anos.
Han Yan percebeu que uma das mãos de A'Bi agarrava firmemente o bordado, em uma posição estranha.
Mesmo durante o ataque, como ela poderia ter segurado o bordado com tanta força até o fim? Aquilo parecia muito suspeito. Han Yan se agachou e tentou puxar o objeto da mão dela.
Depois de algum esforço, conseguiu soltá-lo — era um lenço, não um bordado. O lenço era macio e delicado, bem diferente de uma seda comum. Dada a pobreza em que A'Bi vivia há anos, como poderia ter algo tão refinado?
Sem tempo para examinar melhor, Han Yan escondeu o lenço na manga e disse a Ji Lan:
— Precisamos voltar imediatamente.
Ji Lan apontou para o corpo de A'Bi:
— E ela?
Han Yan hesitou por um momento antes de responder:
— Depois, mande alguém informar as autoridades.
Ji Lan assentiu.
Dessa vez, a carruagem mal permaneceu no local. Sem conseguir se conter, Ji Lan olhou para Han Yan e perguntou:
— Jovem Senhorita... a senhora acha que essas pessoas mataram todos da vila por nossa causa...? — Alguns dias antes, Han Yan havia visitado aquela vila, e logo em seguida ocorreu o massacre. A ligação era difícil de ignorar.
Han Yan baixou o olhar.
— Sim.
Ji Lan abriu a boca, mas ao ver a expressão de Han Yan, engoliu as palavras. A voz da jovem ecoava em seus ouvidos:
— Eles temiam que A'Bi revelasse algo. As preocupações dela eram, de fato, válidas; agora, massacraram toda uma vila para impedir que descobríssemos qualquer coisa.
O rosto normalmente sereno de Shu Hong não conseguiu esconder a raiva e o ódio que surgiam quando ela disse:
— Isso é monstruoso.
Quando era jovem, Shu Hong havia saído com sua família, apenas para ver seus pais serem mortos por bandidos. Depois de escapar, foi capturada por traficantes humanos, que pretendiam vendê-la para um bordel. Por sorte, conheceu a Senhora Wang, que, sendo bondosa, a comprou para servir como criada de Han Yan. Por isso, Shu Hong nutria grande respeito por Lady Wang e lealdade inabalável por Han Yan. Tendo perdido seus pais num massacre, nutria um ódio profundo por esse tipo de atrocidade.
— Tudo se resume à minha culpa — o olhar de Han Yan era sombrio. — Se eu tivesse sido mais cuidadosa, todas essas vidas teriam sido minha responsabilidade.
— Jovem Senhorita, não se culpe; não foi culpa sua — disse Ji Lan, tentando confortá-la. — Essas pessoas é que são cruéis demais, tirando dezenas de vidas sem motivo algum.
Han Yan abaixou a cabeça.
— Não se pode dizer que foi sem motivo; pelo menos agora tenho certeza... essas pessoas devem ser da família imperial.
Somente membros da família imperial agiriam com tamanha rapidez e precisão. Os ferimentos eram limpos — muitos foram mortes instantâneas. Parecia obra dos guardas do palácio. Quem poderia mobilizar com tanta facilidade os guardas reais para massacrar uma vila inteira só para eliminar alguém como A'Bi? A brutalidade era excessiva, sem qualquer piedade. Um sentimento estranho cresceu dentro de Han Yan, semelhante à sensação que tivera ao lembrar do massacre da família do Príncipe Dong Hou, anos atrás.
Será que a família do Príncipe Dong Hou foi aniquilada apenas por causa de uma pessoa da família Wang?
Han Yan balançou a cabeça — aquilo era apenas uma suposição sua. A pista sobre A'Bi já havia sido cortada. Mas... quem mais saberia o que realmente aconteceu no dia em que ela nasceu?
Teria sido obra do Imperador? Talvez não.
Pensando nisso, ela retirou de sua manga o lenço e o examinou cuidadosamente.
Estava bordado com um escorpião, o que já era estranho por si só, mas a cauda do escorpião era adornada com uma flor, ao lado da qual havia um único caractere: Qiao.
Qiao?
O nome de solteira de sua mãe não incluía o caractere Qiao. Além disso, o lenço claramente havia sido feito por uma mulher, e normalmente, lenços femininos continham poesias ou desenhos, com o nome da dona inscrito no canto inferior direito.
Aquela mulher não era sua mãe, nem a empobrecida A'Bi — então, quem poderia ser?
Enquanto acariciava o lenço, um sentimento estranho surgia dentro dela. Era um item refinado, claramente não comum, mas...
Com esse pensamento, ela disse a Ji Lan:
— Vamos ao Pavilhão Ruyi.

No primeiro dia em que Zhuang Yushan entrou na Mansão do Príncipe Wei, sentia-se bastante indignada. Como concubina, não podia entrar pela porta da frente, nem causar alarde; teve que ser levada discretamente pela parte de trás, em uma liteira macia. Estava furiosa. Se não fosse pelo meu nascimento, com certeza seria a esposa legítima. Mas agora, mesmo como concubina, se conseguisse conquistar o coração de Wei Ru Feng e cair nas suas graças, isso ainda seria vantajoso.
Com esse pensamento, sentiu-se um pouco mais consolada. E quanto à esposa legítima da família Zhuang? Se não for amada, ainda pode acabar morta pelas intrigas da própria mãe. Mas aquela filha dela era realmente difícil de lidar. Agora estava destinada a ser a esposa legítima da Mansão do Príncipe Xuanqing. Zhuang Yushan apertou o lenço em sua mão, sentindo que, em termos de beleza e talento, não se comparava àquela mulher — como ela podia ser tão afortunada?!
Com tais pensamentos, adentrou a Mansão do Príncipe Wei.
Naquele momento, Wei Ru Feng estava em casa bebendo com o Sétimo Príncipe. Este o observava com uma expressão fria e disse:
— Agora que sua bela concubina entrou, o que está fazendo aqui bebendo ao invés de acompanhá-la?
Diante de Wei Ru Feng havia vários jarros de vinho vazios; ele já estava um pouco embriagado. Ao ouvir as palavras do Sétimo Príncipe, um sorriso gelado surgiu nos cantos de sua boca.
— Apenas uma concubina de baixo status.
O Sétimo Príncipe girava o jarro de vinho entre os dedos.
— Ainda está pensando naquela Quarta Senhorita Zhuang? Não, espere — ele riu. — Agora ela deve ser chamada de Princesa de Xuanqing.
— Hmph — Wei Ru Feng se serviu de mais uma taça de vinho e a bebeu de um gole só.
O Sétimo Príncipe se inclinou mais perto:
— Você está mesmo disposto a ver a mulher que ama se tornar esposa de outro?
O rosto de Wei Ru Feng escureceu.
— Mas não tenho saída!
— Posso te dar uma mão — disse o Sétimo Príncipe, erguendo o olhar e notando a urgência nos olhos de Wei Ru Feng.
— Qual é o seu plano, Sétimo Príncipe?
— Em alguns dias será o aniversário da minha mãe — respondeu o Sétimo Príncipe. — Se você realmente não consegue esquecê-la, por que não a torna sua esposa antes? Uma vez feito, ninguém poderá mudar isso.
Wei Ru Feng ficou surpreso, voltando à sobriedade.
— De jeito nenhum! Sem falar no que ocorreria no palácio, agora ela é a Princesa de Xuanqing. Se eu me envolver com ela, o Imperador não me perdoará.
O Sétimo Príncipe examinava distraidamente a taça em sua mão.
— E se eu testemunhar a seu favor, dizendo que foi ela quem te seduziu? Que tal? — Observando a descrença no rosto de Wei Ru Feng, continuou: — Você só precisa dizer que estava bêbado e jogar toda a culpa nela. Assim, a Princesa de Xuanqing se tornaria motivo de escândalo, e quanto à Quarta Senhorita Zhuang... nem vale a pena mencionar o castigo. Uma mulher tão infamada, ninguém mais vai querer. Você poderia se casar com ela, fazer o que quiser, e ainda ganharia fama de ser generoso e magnânimo.
A expressão de Wei Ru Feng começou a vacilar, tentado pela ideia de transformar Fu Yunxi em motivo de piada. No fundo, sentia que Fu Yunxi havia roubado aquilo que por direito lhe pertencia — e agora, poderia se vingar e ainda realizar seu desejo.
— No entanto — disse ele após pensar por um momento —, Alteza, se Zhuang Han Yan estiver envolvida nisso, agindo de forma desleal, e se o Imperador resolver responsabilizá-la, isso pode levar à sua ruína...
— E se eu a matasse na hora? — O sétimo príncipe estreitou os olhos. — Mesmo que ela morresse, ainda seria melhor do que vê-la se casar com o Príncipe de Xuanqing. Quer que ela se torne Princesa e, depois, tenha que se curvar diante dela quando a encontrar?
A ideia de Han Yan possivelmente morrer fez Wei Ru Feng hesitar — ele ainda se importava com ela. No entanto, também não suportava vê-la se casar com Fu Yunxi. Assim como o sétimo príncipe dissera: se não posso tê-la, então a destruirei. Mas...
O sétimo príncipe o observava com calma, um brilho impiedoso nos olhos.
— Nenhum homem alcança grandes feitos sem ser implacável; não se pode permitir que os sentimentos atrapalhem.
Com uma mordida decidida no lábio, Wei Ru Feng respondeu:
— Então deixo esse assunto a cargo de Vossa Alteza.
O sétimo príncipe lhe deu um tapa amigável no ombro.
— Temos um inimigo em comum, estamos no mesmo barco. Vou te ajudar com isso — disse, com um sorriso —, só me pague depois.
E acrescentou, descontraído:
— Mas sua concubina ainda está esperando no pátio dos fundos. Um homem deve expandir seus horizontes e aproveitar as oportunidades; afinal, ela é mesmo uma bela mulher.
Wei Ru Feng já havia bebido demais, e ao ouvir as palavras do sétimo príncipe, o álcool lhe subiu à cabeça. Ele deu uma risada.
— Então vou dar uma olhada. Haha, Alteza, aproveite a bebida.
O sétimo príncipe acenou, dispensando-o. Observou a silhueta cambaleante de Wei Ru Feng desaparecer pela porta e então chamou um jovem criado.
— Vá e envie uma mensagem para a Imperatriz Mãe — ordenou. — Está na hora de agir.

Enquanto isso, Wei Ru Feng tropeçava embriagado rumo ao pátio dos fundos, escancarando a porta com um chute. Toda a etiqueta e os ensinamentos que aprendera ao longo dos anos foram esquecidos em sua embriaguez. A sensação de ter chutado a porta foi inesperadamente satisfatória, e quanto mais bêbado ficava, mais imprudente se tornava. Mandou todas as criadas saírem e seguiu direto para o quarto.
Lá dentro, a noiva estava sentada na cama, vestindo um vestido de noiva vermelho-vivo. Sua silhueta era graciosa, e a túnica era viva, bordada com um desenho de mandarins brincando na água. Ao olhar para ela, Wei Ru Feng sentiu uma onda de ironia subir-lhe ao peito. Avançou com passos largos e, sem delicadeza, ergueu o véu da noiva. Ela ofegou e abaixou a cabeça com modéstia.
Wei Ru Feng estendeu a mão, ergueu-lhe o queixo e a examinou de perto. Suas sobrancelhas eram como luas crescentes, os olhos como ondas de outono, os lábios vermelhos e delicados, a pele lisa como jade. Normalmente, a beleza de Han Yan era tudo o que chamava sua atenção, por isso nunca notara o quanto essa filha de uma concubina da família Zhuang era bonita. Sempre se orgulhara de ser um cavalheiro, não alguém obcecado por aparências, mas naquele estado de embriaguez, com aquela beleza gentil diante de si, um desejo distorcido surgiu de repente dentro dele. Sem pensar, puxou-a para seus braços.
Zhuang Yushan havia se preparado meticulosamente para aquele momento, se produzindo exatamente conforme o gosto de Wei Ru Feng, esperando finalmente atraí-lo para seu quarto. Mas ao vê-lo bêbado e naquele estado deplorável, mesmo com repulsa, conteve os sentimentos. Não esperava que o jovem mestre, que sempre parecera tão cavalheiresco, fosse tão bruto. Não conseguiu conter um grito de dor — e não percebeu que esse som parecia ter atiçado Wei Ru Feng ainda mais. Seus movimentos tornaram-se ainda mais violentos. Com um só gesto, rasgou ao meio a túnica nupcial novinha dela.
Atordoado, Wei Ru Feng olhou para baixo e viu que a mulher à sua frente era, de fato, deslumbrante — sua pele era tão lisa que parecia jade. Estendeu a mão para tocar o rosto dela. Era uma beleza natural. Mas quando voltou a olhar para o rosto sedutor e encantador diante de si, ele começou, aos poucos, a se transformar... em outro rosto. Um rosto que não era tão deslumbrante, mas delicado e puro, com uma expressão obediente e comportada — e, ao mesmo tempo, olhos rebeldes e indomáveis. Naquele instante, ela o olhava com desprezo, como se jamais tivesse se importado com ele. Seu olhar arrogante e cheio de escárnio provocou de imediato o desejo de dominação de Wei Ru Feng. Como uma besta enfurecida, ele se lançou sobre ela, dilacerando-a com força selvagem, os olhos tomados por fúria e a expressão absolutamente aterradora.
Zhuang Yushan apenas queria expressar delicadamente seu amor por Wei Ru Feng quando, de repente, percebeu a mudança em seu olhar. Seus movimentos tornaram-se brutais, como se quisesse devorá-la. Instintivamente, ela recuou, mas ele avançou sobre ela, puxando-a para baixo de si e beijando seus lábios. O coração de Zhuang Yushan saltou de alegria, achando que aquilo era Wei Ru Feng demonstrando afeto. Tentou ao máximo tornar seus movimentos mais receptivos a ele, mas então viu, no meio do frenesi, Wei Ru Feng encará-la com olhos obsessivos, murmurando:
— Yan’er...
Foi como um trovão em céu limpo. Zhuang Yushan ficou paralisada de choque, temendo ter ouvido errado. Mas Wei Ru Feng se aproximou de seu ouvido e chamou repetidamente:
— Yan’er... Yan’er... — E então disse: — Por que você não quer se tornar esposa deste jovem mestre... mas quer ser a Princesa Consorte de Xuanqing? Yan’er, você nunca sequer me lança um olhar...
Zhuang Yushan sentiu que as ações impiedosas dele, de repente, se tornaram repulsivas e humilhantes. Estava ali, deitada sob ele, permitindo que fizesse o que quisesse — mas jamais se sentira tão humilhada.
O nome Zhuang Han Yan parecia um pesadelo do qual ela nunca conseguiria escapar nesta vida. Zhuang Han Yan sempre conseguia facilmente tirar dela tudo o que quisesse. Mas, além do status, em que aspecto ela era inferior a Zhuang Yushan? Agora, Zhuang Han Yan já era a Princesa Consorte de Xuanqing e ainda queria tomar seu homem. Como ela podia engolir essa indignação?
Talvez antes só quisesse tirar dela a posição de filha legítima, ou talvez sua atitude despreocupada lhe causasse repulsa. Mas, desde que começaram a se encontrar, Zhuang Yushan nunca havia vencido Zhuang Han Yan!
Nesse momento, ela de repente envolveu Wei Ru Feng com força, seu corpo se enroscando ao dele como uma serpente, os olhos sedutores.
— Mestre... seja mais gentil...
Aquele homem era sua única carta na manga. Agarrando-se a ele, poderia garantir sua posição dentro daquela mansão — e dar um golpe em Zhuang Han Yan que a deixaria sem forças para se reerguer.
Os sons de corpos entrelaçados preenchiam o quarto, o ambiente impregnado pelo desejo da primavera. No jardim da Mansão Wei, o Sétimo Príncipe terminou sua última taça e, com um leve movimento de manga, partiu.
Enquanto isso, Zhuang Han Yan chegava ao Pavilhão Ruyi. Tinha saído às pressas naquele dia, sem esperar por um desfecho tão inesperado. O mesmo lojista de sempre a atendeu. Ao vê-la, disse:
— Com licença, senhorita, preciso ver seu mestre.
O lojista percebeu que era ela novamente. Embora soubesse que talvez ela trouxesse algo valioso, também sabia que o mestre não podia ser incomodado sem um bom motivo, por isso se mostrou um tanto relutante.
— Senhorita, se tiver algo, fique à vontade para me mostrar. Se eu não conseguir avaliar o valor, terei de chamar o mestre, mas isso levará algum tempo.
Da última vez que Zhuang Han Yan estivera ali, ela havia sido calorosa e muito educada com ele. Mas, desta vez, sua expressão ficou ligeiramente fria.
— Desculpe, não viemos para negociar. Só queremos que seu mestre examine algo. Este item... talvez você nem queira olhar.
O lojista, que costumava manter certa imponência diante da nobreza, ficou surpreso. Ninguém jamais falara com ele daquela forma — nem mesmo o próprio mestre. Seu rosto mudou na hora, e ele perguntou com um tom de suspeita:
— Senhorita, está tentando causar confusão?
Zhuang Han Yan não quis perder tempo com mais palavras. Retirou diretamente o grampo de cabelo em forma de cauda de peixe de jade azul da cabeça, bateu-o com força sobre a mesa com um "tum" e disse em um tom incisivo:
— Quero ver seu mestre!



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