Capítulo 88: A Morte Trágica da Nobre Consorte
A Nobre Consorte Chen ficou paralisada, achando que havia ouvido errado, os lábios tremendo:
— O que você disse?
— Eu disse — o rosto do Sétimo Príncipe continuava pesaroso, mas seus olhos eram frios como os de uma serpente, sem qualquer traço de emoção — que a comida que você acabou de comer foi envenenada por mim.
Assim que a Nobre Consorte Chen abriu a boca para responder, sentiu uma dor aguda no abdômen, uma agonia lancinante que lhe tirou o fôlego. Desabou no chão, segurando o estômago, olhando para o Sétimo Príncipe com desespero e incredulidade:
— Por quê...?
— Mãe — disse o Sétimo Príncipe —, você ofendeu o Tio, e ele certamente encontrará uma forma de matá-la para vingar sua Consorte Principal. Em vez de deixá-la morrer em vão pelas mãos dele, é melhor que morra aqui.
Um sorriso estranho curvou os cantos de seus lábios:
— Se você se envenenar de repente na prisão, a única explicação será que não suportou me implicar. — Estendeu a mão pelas grades de ferro e acariciou o rosto da Nobre Consorte Chen. — O Imperador certamente entenderá sua intenção; ele não me culpará, pelo contrário, passará a me tratar ainda melhor.
De fato, se a Nobre Consorte Chen sobrevivesse, o Sétimo Príncipe se tornaria um espinho no coração do Imperador por causa da influência dela. Porém, se ela tirasse a própria vida na prisão, o Imperador sentiria apenas tristeza, vendo nela uma mãe que sacrificou a vida pelo filho. Dado o afeto que o Imperador tinha pelo Sétimo Príncipe, naturalmente não o culparia. Ao contrário, provavelmente o trataria com ainda mais carinho, por ver o jovem príncipe sofrendo a dor de perder a mãe tão jovem.
A Nobre Consorte Chen abriu a boca em agonia, tendo conspirado por tantos anos por esse filho. Havia destruído inúmeras vidas apenas para abrir caminho para o Sétimo Príncipe. No entanto, jamais imaginou que um dia ela mesma se tornaria um obstáculo para ele, muito menos que o Sétimo Príncipe a descartaria sem piedade. Aquele era o filho que ela havia dado à luz!
— Monstro...! — conseguiu balbuciar, com esforço.
Tomada pela dor, a Nobre Consorte Chen rolava no chão, mas, na vasta masmorra, nenhum guarda apareceu para verificar. O Sétimo Príncipe certamente havia feito todos os preparativos de antemão; mesmo que ela morresse ali, hoje, ninguém viria. A Nobre Consorte Chen jamais havia sentido tamanha desesperança. A dor física não se comparava ao golpe emocional que dilacerava sua alma. Ela não conseguia entender como o filho que criara com tanto carinho poderia tratá-la assim.
O Sétimo Príncipe a observava debater-se no chão, com uma expressão complexa.
— Mãe, se você estivesse viva, como eu poderia me tornar imperador com uma mãe que perturba o harém, infiel e impura? Que vergonha seria ter isso registrado na história!
A Nobre Consorte Chen soltou uma risada baixa, tossindo sangue ao fazê-lo. Estava com dor demais para falar, mas o coração estava completamente despedaçado. Perturbar o harém, infiel e impura...? Se tivesse forças para se levantar, ela teria esbofeteado o Sétimo Príncipe com toda sua força. Foi ele quem a incentivou a incriminar Han Yan durante o banquete de aniversário e, quando o plano falhou, veio a vingança de Fu Yunxi. Ela tinha acabado naquela situação por causa dele! E o que recebeu em troca? Apenas uma taça de veneno e as palavras: "Perturbar o harém, infiel e impura!" O sangue jorrou de sua boca, manchando todo o rosto.
O Sétimo Príncipe observou em silêncio enquanto ela se contorcia e convulsionava, até gastar a última gota de força. As pernas estremeceram algumas vezes antes de finalmente ficarem imóveis. A pálida luz do luar atravessava as grades de ferro e iluminava seu corpo sem vida — outrora uma beleza deslumbrante, agora assemelhava-se a uma assombração, com sangue escorrendo pelos cantos da boca de forma grotesca.
— Mãe, se você se tornar um fantasma, lembre-se de que foi Fu Yunxi quem te prejudicou — disse o Sétimo Príncipe suavemente, virando-se para deixar a masmorra.
Essa noite estava destinada a ser insones.
Quando Han Yan soube do suicídio da Nobre Consorte Chen, ficou atônita por alguns segundos antes de perguntar a Ji Lan:
— Quem te contou isso?
Ji Lan mostrou a língua:
— Eu estava passando pelo pátio e ouvi os dois guardas do Príncipe conversando, perguntando quando ele iria ao palácio.
Han Yan franziu o cenho. Ela não conseguia acreditar que a Nobre Consorte Chen tivesse se envenenado. Para alguém que havia detido tanto poder por tanto tempo, ao cair em desgraça, o primeiro pensamento certamente seria o de virar o jogo. A personalidade da Nobre Consorte Chen era arrogante; ao ser aprisionada na masmorra, era mais provável que procurasse ajuda do que optasse por tirar a própria vida. Seria possível que ela tenha sido assassinada...?
O primeiro nome que lhe veio à mente foi Fu Yunxi, mas então balançou a cabeça. Fu Yunxi sempre agia com precisão e limpeza. Se realmente quisesse a morte da Nobre Consorte Chen, não usaria veneno nem encenaria um suicídio.
Mas se não foi Fu Yunxi... então quem poderia ter sido?
Poderia ter sido a Imperatriz Viúva...? Han Yan sentou-se numa pequena cadeira no pátio, considerando o fato de que a Imperatriz Viúva e a Nobre Consorte Chen eram aliadas. A Nobre Consorte Chen devia conhecer muitos dos segredos da Imperatriz Viúva. Agora que ela havia perdido o poder, era totalmente possível que a Imperatriz Viúva quisesse silenciá-la.
Mas a Imperatriz Viúva estava sob escrutínio no momento; como poderia agir de forma tão imprudente? Han Yan sentia, vagamente, que essa história não era tão simples — como se uma mão invisível estivesse manipulando tudo nos bastidores. À medida que refletia, seu coração ficava cada vez mais inquieto, e suas sobrancelhas se franziram ainda mais.
Ji Lan percebeu a mudança em seu humor e rapidamente disse:
— Jovem Senhorita, em poucos dias será o Festival da Primavera.
Festival da Primavera? Han Yan ficou surpresa. O Festival da Primavera era um ritual anual realizado no início do ano, presidido pelo próprio Imperador, com cerimônias conduzidas por mestres para simbolizar a prosperidade da nação. Após o ritual, vinham várias apresentações animadas. Han Yan não via as cenas agitadas do Festival da Primavera havia muitos anos.
Parte disso se devia ao incidente com os bandidos da montanha, depois do qual ela passou a ficar sempre em casa; outra parte era porque ninguém jamais pensou em levá-la ao Festival. Ao ouvir Ji Lan mencionar aquele termo tão familiar quanto distante, ela foi tomada por um turbilhão de emoções, sem saber como descrevê-las. Sorriu e perguntou a Ji Lan:
— Você quer ir ver o Festival da Primavera?
Ji Lan a olhou com brilho nos olhos e respondeu:
— Quero, sim!
— Então vamos — disse Han Yan. Era raro ter uma segunda chance de viver; ela queria aproveitar as coisas que não teve tempo de experimentar antes, queria valorizar a vida. Após algumas brincadeiras entre as duas, Ji Lan, de repente, fez uma expressão de tristeza:
— Mas Shu Hong não pode ir...
Desde a última vez, quando Zhuang Hanming a feriu, Shu Hong estava acamada. Embora insistisse que estava bem, Han Yan sempre sentia uma pontada de dor no coração. Aquelas duas meninas só pensavam nela, enquanto tudo o que ela parecia trazer para elas era problema. Ji Lan, percebendo o abatimento da Jovem Senhorita, apressou-se em acrescentar:
— Mas tudo bem, Jovem Senhorita. Com aquele guarda de cara de pedra do Príncipe fazendo companhia pra ela, Shu Hong não vai ficar tão entediada.
Guarda de cara de pedra? Han Yan pensou por um momento e perguntou:
— Mu Yan?
Desde quando Shu Hong tinha tanta familiaridade com Mu Yan? Ele sempre parecia alguém frio e inatingível. Ji Lan cobriu a boca e riu:
— Aquele de cara fechada parece ter sentimentos pela Shu Hong; vive aparecendo lá... Hahaha.
Os lábios de Han Yan também se curvaram num sorriso.
— Eles realmente combinam.
Ji Lan logo concordou, animada:
— Né? E mesmo com aquele jeito gelado, ele é bem bonito e forte. Se a Shu Hong acabar ficando com ele, não vai sair perdendo!
Han Yan riu e repreendeu:
— Vocês, mocinhas, não têm vergonha nenhuma, só pensam na aparência! Eu acho que o Mu Feng também é bem bonito e animado. Por que você não fica com ele...?
— Não, não! — Ji Lan balançou a cabeça com vigor. — Aquele aí nunca fala uma palavra boa e vive me provocando. Eu não quero nada com ele! — Fez uma careta de nojo ao dizer isso. Han Yan achou graça, mas não conseguiu evitar refletir. Shu Hong e Ji Lan estavam crescendo; em alguns anos, já teriam idade para casar. Nesta vida, além delas, ela não confiava em mais ninguém. Se permitisse que se casassem, quem ocuparia o lugar delas como suas criadas? Mas mantê-las ao seu lado seria um ato extremamente egoísta.
— Jovem Senhorita.
Vendo Han Yan absorta em pensamentos, Ji Lan a chamou, ansiosa:
— Jovem Senhorita?
Han Yan sorriu suavemente para ela.
— Não é nada.
Enquanto isso, no palácio:
O Imperador já havia emitido ordens para o enterro da Nobre Consorte Chen, e essa decisão foi tomada em respeito ao fato de que ela lhe dera um filho. Contudo, por ser considerada infiel e impura, ela não podia ser enterrada no mausoléu imperial. A família Chen estava devastada, chorando como se o coração estivesse sendo rasgado, mas apenas a Senhora Chen realmente lamentava sua morte. O restante da família sentia pesar principalmente porque haviam perdido uma apoiadora poderosa com a queda da Consorte. Enquanto ela vivia, os Chen haviam ascendido em status; agora, com sua morte, a decadência era inevitável.
O Sétimo Príncipe, vestido com roupas de luto, ajoelhou-se diante do casal — o Ministro Chen e sua esposa — e bateu a testa no chão várias vezes.
— Vovô, vovó, agora que mamãe se foi, o pequeno Sete com certeza honrará vocês em nome dela e não a decepcionará.
A Senhora Chen levantou a cabeça para olhar o neto, cujo rosto lembrava o da filha. Ao ver os olhos vermelhos e a expressão de tristeza, seu coração se apertou, e ela o puxou com força para o colo.
— Meu pobre netinho.
Os convidados que haviam vindo prestar suas condolências não conseguiram evitar suspirar. Um deles consolou o Sétimo Príncipe, dando-lhe um tapinha no ombro:
— A morte é irreversível, Alteza. Seja forte.
O Sétimo Príncipe levantou os olhos e encontrou o olhar de Wei Ru Feng. A expressão de Wei Ru Feng era adequadamente compassiva, mas ele não disse nada e voltou a se juntar às conversas no salão da família Chen.
A mulher que acompanhava Wei Ru Feng, embora trajasse roupas simples, exalava um ar de riqueza e status. Com um rosto orgulhoso e belo, era Zhuang Yushan. Já era de conhecimento geral que ela era a consorte favorita de Wei Ru Feng, com posição elevada na residência Wei.
— Mestre — ela perguntou, com um leve tom de dúvida —, por que o Príncipe Xuanqing ainda não veio prestar suas condolências?
Assim que ela falou, o salão caiu em silêncio. Rumores recentes no palácio sugeriam que o escândalo da Nobre Consorte Chen fora uma armação, com Fu Yunxi envolvido. Agora que a Nobre Consorte havia tirado a própria vida, Fu Yunxi se tornara o centro das atenções. Se ele viesse ver pessoalmente a mulher cuja morte havia causado indiretamente, a situação seria delicada. Mas, se não viesse, pareceria culpa. De qualquer forma, seria um erro manter-se afastado — e, ainda assim, Zhuang Yushan havia trazido o assunto à tona em um momento tão inoportuno.
Capítulo 89: Desabafando por Ela
Wei Ru Feng sorriu e tranquilizou:
— Talvez a Princesa Consorte e o Príncipe tenham sido impedidos por algum contratempo e não conseguiram vir.
Essa afirmação provocou ainda mais especulações. Entre os que serviam na corte, a situação do Sétimo Príncipe era de grande importância, e, como tio do Príncipe, o Príncipe Xuanqing naturalmente deveria vir prestar condolências. No entanto, a observação de Wei Ru Feng sobre um possível atraso fez com que muitos se lembrassem dos rumores anteriores sobre um conflito entre a Consorte Chen e a Princesa Consorte de Xuanqing. Será que o Príncipe Xuanqing não ousou vir por se sentir culpado?
— O Príncipe Xuanqing chegou... — anunciou um servo do lado de fora.
Todos voltaram o olhar e viram o Príncipe Xuanqing entrando com passos firmes, expressão fria e exalando um leve ar gélido. Os murmúrios no salão foram silenciando gradualmente.
Wei Ru Feng não esperava que ele aparecesse daquele jeito. Recompôs-se e deu um passo à frente, sorrindo:
— Por que não trouxe a Princesa Consorte para prestar condolências?
Ao não ver Han Yan, Wei Ru Feng foi tomado por uma mescla indescritível de decepção e alívio. Não queria vê-la ao lado de Fu Yunxi, e ainda assim, foi exatamente com esse pensamento que se deparou. No meio desses sentimentos contraditórios, tudo o que conseguia sentir em relação ao homem diante de si era inveja e rancor.
Zhuang Yushan, percebendo isso, sorriu docemente e disse:
— Pois é, por que a Quarta Irmã não veio? Eu estava justamente querendo trocar umas palavras com ela. No outro dia, quando voltei à residência Zhuang, nem a vi por lá.
Suas palavras insinuavam que Han Yan não vivia na residência Zhuang havia bastante tempo; devia estar hospedada na residência do Príncipe Xuanqing. Para uma mulher solteira, ainda que noiva, morar na casa do futuro marido não era apropriado. Isso fez com que os convidados começassem a especular. O sorriso de Zhuang Yushan parecia sincero, mas seu olhar era afiado como uma lâmina.
Fu Yunxi apenas sorriu de leve:
— A Princesa Consorte pegou um resfriado no palácio outro dia. Preocupado com sua saúde, levei-a para o Palácio Xuanqing.
Em seguida, lançou um olhar significativo a Wei Ru Feng.
— Em ocasiões como esta, não se deve trazer pessoas doentes. Isso pode atrair má sorte.
De repente, os convidados compreenderam. Então era por isso que a Princesa Consorte de Xuanqing não veio hoje — o Príncipe estava apenas sendo atencioso. Ficava claro que o relacionamento entre eles era bom. Antes, havia quem dissesse que a Princesa Consorte não era digna do Príncipe, mas agora parecia evidente que ele realmente se importava com ela.
Zhuang Yushan se sentiu contrariada. As palavras de Fu Yunxi a colocaram numa posição constrangedora. Ele não queria que Han Yan saísse de casa por temer má sorte, enquanto Wei Ru Feng havia levado a moça consigo. Ela achava que poderia aproveitar a oportunidade para humilhar Han Yan, expondo sua falta de prestígio, mas agora parecia que Wei Ru Feng não estava tão preocupado com a própria saúde assim — portanto, talvez não pensasse tanto nela quanto dizia.
Wei Ru Feng ficou momentaneamente atônito. Ele sabia que Han Yan havia sido envenenada naquela noite. Se ele e Han Yan tivessem conseguido se aproximar, a situação de hoje jamais teria ocorrido. Mais tarde, soube que Han Yan fora resgatada por Fu Yunxi. Na época, foi tomado por uma enxurrada de sentimentos — sabia que o veneno era potente e só poderia ser neutralizado através de relações íntimas. Han Yan havia sido levada para a residência do Príncipe Xuanqing, e Fu Yunxi naturalmente fora quem a ajudou a se desintoxicar. A ideia de que os dois haviam sido íntimos o fez sentir uma dor profunda, um desejo de esquartejar Fu Yunxi mil vezes. Depois, quando a Imperatriz Viúva tentou usar o método de verificar a virgindade de Han Yan para prejudicá-la, ele recebeu relatórios dos espiões no palácio afirmando que Han Yan ainda era virgem. Isso o deixou com sentimentos confusos — feliz por ela ainda ser pura, mas angustiado por ter perdido a chance de se vingar de Fu Yunxi. Agora, ao ouvir que Han Yan estava sozinha em casa, ele começou a duvidar de sua real condição. Embora o veneno tivesse sido neutralizado, certamente ainda poderia ter efeitos colaterais sobre sua saúde.
O Sétimo Príncipe se levantou no momento oportuno e fez uma reverência diante de Fu Yunxi.
— Tio... — chamou, mas a voz lhe falhou. Depois, curvou-se profundamente e não se levantou.
Fu Yunxi perguntou:
— O que está fazendo?
O Sétimo Príncipe balançou a cabeça.
— Ouvi dizer que havia desavenças entre minha mãe e o senhor. Agora que ela se foi, devo me desculpar em nome dela.
O Sétimo Príncipe era conhecido por sua piedade filial e boas maneiras. Mesmo tão jovem e tendo perdido a mãe, ainda conseguia agir com tanta sensatez — algo verdadeiramente comovente.
Fu Yunxi não estendeu a mão para ajudá-lo, tampouco o olhou. Permaneceu em silêncio por um longo momento antes de dizer friamente:
— Não é necessário. Foram apenas boatos.
Sentindo-se rejeitado, o Sétimo Príncipe não respondeu. Levantou as vestes, preparando-se para ajoelhar-se diante de Fu Yunxi novamente.
— Suas palavras indicam que não perdoa minha mãe. Só me resta inclinar-me diante do senhor em nome dela.
Um Príncipe disposto a ajoelhar-se diante de um marquês causava desconforto entre os presentes. Contudo, com o Príncipe Xuanqing detendo grande poder na corte, ninguém ousava contrariá-lo, restando-lhes apenas lamentar em silêncio. Nesse momento, uma voz carregada de justa indignação rompeu o ambiente:
— Alteza, vossa influência é imensa, mas não há necessidade de dificultar as coisas para uma criança. O Sétimo Príncipe ainda é um filho real; por que pressioná-lo tanto assim?
Todos se voltaram para ver quem havia falado. Era a Senhora Chen. Após perder a filha, sua dor era indescritível; de um dia para o outro, seus cabelos haviam embranquecido consideravelmente. Ao vê-la, o Sétimo Príncipe a chamou:
— Vovó...
Mas não conseguiu dizer mais nada.
A cena dos dois se abraçando e chorando era comovente, dando aos presentes a impressão de que Fu Yunxi estava usando seu poder para oprimi-los. Zhuang Yushan, com um tom delicado, comentou:
— Ai, agora que a Consorte se foi, restaram apenas essa senhora idosa e uma criança sofrendo. Que lamentável! Por que o Príncipe não mostra um pouco de compaixão e compartilha da dor deles?
Wei Ru Feng balançou a cabeça e suspirou.
— De fato, o Sétimo Príncipe está sofrendo muito, e quem pode realmente compreender a dor em seu coração?
No vaivém das canções, alguns mais ousados começaram a comentar, manifestando apenas a crença de que o Príncipe Xuanqing tinha um temperamento mesquinho, guardando rancores mesmo após a morte da Nobre Consorte, enquanto o Sétimo Príncipe demonstrava extrema piedade filial, disposto a rogar perdão em nome da mãe, mas o Príncipe Xuanqing permanecia inflexível.
Fu Yunxi permaneceu em silêncio, imóvel, com a ponta da túnica branca sendo suavemente erguida pela brisa que soprava pelo salão. Após um longo momento, ele falou lentamente:
— Sentir a urgência dos outros, compartilhar de sua dor?
Suas palavras fizeram o salão mergulhar em silêncio imediato. Fu Yunxi então voltou o olhar para Zhuang Yushan, que estava intimamente encostada em Wei Ru Feng, e de repente sorriu de forma enigmática.
Zhuang Yushan congelou, sentindo instintivamente um arrepio que endureceu seu corpo. A expressão de Fu Yunxi era fria, mas o sorriso no canto dos lábios era ao mesmo tempo brincalhão e cruel ao dizer:
— O Sétimo Príncipe não é o único que perdeu a mãe ainda jovem.
Percebendo a retração de Zhuang Yushan, ele acrescentou:
— A nobre consorte se esqueceu? Minha consorte perdeu a mãe há apenas um ano.
Ele a encarou diretamente.
— Por que a nobre consorte não está aqui compartilhando da urgência e da dor dos outros?
Seu tom era calmo como a água, mas cada palavra carregava uma frieza cortante, como as nascentes geladas do inverno, espalhando arrepios pelos corações dos ouvintes.
Diante daquele questionamento, Zhuang Yushan gaguejou:
— P-por que... claro que estou aqui, sou muito próxima da quarta irmã...
— A nobre consorte, que compartilha da dor alheia... se bem me lembro, a senhora da residência Zhuang faleceu há um ano, e sua mãe entrou para a residência logo em seguida — disse Fu Yunxi, sem lhe dar chance de se defender. — E quanto à nobre consorte, tão sensível à dor alheia, não faz muito tempo, na véspera do dia sete, quando o jovem mestre se preparava para propor casamento à Quarta Senhorita, tornaram-se íntimos.
Ele lançou um olhar a Wei Ru Feng.
— Tanto que a Quarta Senhorita recusou-se a ser concubina e jurou um voto mortal.
A atmosfera mudou instantaneamente.
O caso entre Zhuang Yushan e Wei Ru Feng tivera muitas testemunhas, e já era assunto conhecido na capital. Agora, com essa revelação, somada ao fato de a matriarca Zhuang ter sido substituída tão logo após o falecimento da legítima esposa, havia uma insinuação clara. Em famílias ricas e numerosas, os conflitos entre filhos legítimos e ilegítimos nunca cessavam, mas tomar o noivo da filha legítima e forçá-la a tornar-se concubina era algo realmente desprezível. Não era de se espantar que a Quarta Senhorita tivesse jurado aquele voto mortal. Naquele instante, os olhares do público para Zhuang Yushan — e até para Wei Ru Feng — mudaram.
Wei Ru Feng era um homem que prezava por sua reputação. Ver Fu Yunxi falar abertamente sobre aquilo, sem lhe dar espaço para responder, fez seu sangue ferver de raiva. Então, viu Fu Yunxi sorrindo de leve e dizendo:
— Graças ao Jovem Mestre, pude me casar com alguém como Yan'er como minha Consorte.
O tom era excessivamente íntimo, e a fúria de Wei Ru Feng atingiu o ápice. Contudo, Fu Yunxi então se virou para o Sétimo Príncipe e a Senhora Chen, que ainda se abraçavam em desespero, e comentou:
— Um animal que abana o rabo, eu não posso detê-lo; da mesma forma, se o Sétimo Príncipe quer se confessar, também não posso impedi-lo.
Com as mãos cruzadas atrás das costas, completou:
— Quanto a saber se a Senhora Chen realmente tem culpa... o Sétimo Príncipe poderia muito bem perguntar ao Imperador por que ele não compareceu hoje.
A ausência do Imperador era significativa. A Senhora Chen fora a consorte mais favorecida em vida, mas o Imperador nem sequer olhara para ela após sua morte. Isso sugeria que as acusações de que o Príncipe Xuanqing a havia incriminado eram infundadas — do contrário, por que o Imperador não apareceria?
Num canto onde ninguém via, o Sétimo Príncipe cerrou os punhos com força, ainda chorando amargamente, mas com um brilho de ódio nos olhos.
Fu Yunxi caminhou até a porta e comentou com indiferença:
— Ademais, após o falecimento do Imperador anterior, neste mundo, fora o Imperador e minha mãe, qualquer um que se ajoelhar diante de mim será bem-vindo.
Dito isso, girou os ombros e partiu.
Que homem arrogante!
Todos assistiram sua silhueta, cortante como uma lâmina, desaparecer na distância, com um frio se instalando no peito. Mu Feng, que estivera escondido nas sombras observando tudo, finalmente saltou à frente e gesticulou para Fu Yunxi:
— Mestre, foi magnífico!
Que presença... tsk, tsk, nem o imperador pode se comparar! E ainda querem intimidar a Consorte... o Príncipe pode destruir toda sua linhagem.
Enquanto isso, numa certa estalagem na capital, um homem alto estava sentado no centro de um quarto.
— Você viu claramente?
A bela jovem ao seu lado assentiu.
— Gege, sim, com certeza eram eles.
O homem tinha olhos verdes brilhantes, que se estreitaram ao observar sua presa.
— Muito bem, Yi Lin Na. Fique de olho em cada movimento deles. Se agirem, poderemos nos beneficiar.
A garota assentiu:
— Entendido, Gege.
Três pequenas cobras verdes estavam enroladas em seus braços cor de mel, esticando as cabeças e vibrando as línguas.
Sob a superfície calma e próspera da capital, uma tempestade começava a se formar em silêncio — como montanhas que pressentem a chuva.
Capítulo 90: Sacrifício Escarlate
Com o início do novo ano, o Festival da Primavera se aproximava.
Alguns dias antes, Han Yan havia retornado à residência Zhuang. Ninguém sabia ao certo o que Fu Yunxi conversara com Zhuang Shiyang, mas, dessa vez, tanto ele quanto a Concubina Zhou surpreendentemente não dificultaram as coisas para ela. O Pátio Qingqiu de Han Yan permaneceu temporariamente sem visitantes, e nem mesmo Zhuang Hanming apareceu. Han Yan decidiu aproveitar para descansar alguns dias em paz no Pátio Qingqiu. Shu Hong também não havia voltado — em parte porque a situação na residência Zhuang era complicada e desfavorável à sua recuperação, e em parte porque o médico convidado pelo príncipe Xuanqing era muito superior a qualquer outro da residência Zhuang. Se Shu Hong conseguisse, nessa oportunidade, estabelecer algum tipo de contato com o guarda secreto de Fu Yunxi, seria ainda melhor.
Han Yan visitou uma vez a Concubina Mei e percebeu que sua vida não era tão confortável quanto imaginara. Isso se devia, principalmente, às visitas frequentes da Senhora Zhou, que parecia ter lançado algum feitiço sobre Zhuang Shiyang — ele estava estranhamente relutante em promover a Concubina Mei a esposa principal.
Isso já era esperado por Han Yan. Mesmo sem a Senhora Zhou, Zhuang Shiyang não a promoveria facilmente. Ele se importava muito com sua reputação e jamais aceitaria alguém de origem inferior como esposa principal. No entanto, Han Yan continuava desconfiada — as visitas frequentes da Senhora Zhou à residência Zhuang deixavam suas intenções bem claras.
Na manhã do Festival da Primavera, Han Yan acordou cedo. Ji Lan e Mamãe Chen discutiam sobre qual roupa ela deveria usar. Han Yan nunca ligou muito para esse tipo de coisa, mas Mamãe Chen discordava:
— Toda a capital sabe que a Jovem Senhorita é a favorita do Príncipe. Se não estiver bem vestida, aquelas damas nobres vão ter muito o que comentar.
A expressão “favorita do Príncipe” fez Han Yan estremecer involuntariamente. Ela se deu conta de que, ultimamente, toda vez que aparecia em público, era como se estivesse atuando. Muitos estavam de olho nela — e não estava claro se buscar apoio sob a grande árvore que era a Mansão do Príncipe Xuanqing seria abrigo ou ruína.
Ji Lan inclinou a cabeça e a observou:
— Senhorita, o Imperador também estará presente hoje no Festival da Primavera. A senhorita deve se vestir mais bonita. — Após uma pausa, acrescentou: — Não deixe que a Segunda Senhorita brilhe mais do que você.
Han Yan deu uma risadinha leve:
— O que há para temer? Não estou competindo com ela.
De fato, em cerimônias como essa, as famílias ficavam reunidas para aproveitar a festividade. Zhuang Yushan já havia se casado com a família Wei e estaria ao lado de Wei Ru Feng. Embora Han Yan fosse a Consorte do Príncipe Xuanqing, ainda não havia entrado formalmente na mansão, podendo apenas ficar ao lado de Zhuang Shiyang.
Ji Lan fez um leve biquinho:
— Mesmo assim, haverá comparação.
Han Yan deu de ombros, como se não se importasse. Para ela, vestir-se adequadamente já era o suficiente. Mesmo que Ji Lan a arrumasse como uma fada das flores, ainda assim não atrairia toda a atenção sozinha.
Ji Lan, não satisfeita, continuou discutindo com Mamãe Chen. Han Yan sentou-se junto à janela, sentindo uma inquietação inexplicável, como se algo grandioso estivesse prestes a acontecer. No entanto, segundo suas memórias dos treze Festivais da Primavera que vivenciara, nunca havia acontecido nada de extraordinário. Se algo acontecer, certamente será contra mim, pensou. Sentia-se inquieta, mas não sabia dizer o porquê. De repente, o espelho de cobre em sua mão estalou com um pop alto, assustando Ji Lan. Han Yan abaixou os olhos e viu uma rachadura enorme cortando o centro do espelho de cima a baixo, chamando atenção de forma gritante.
O estilhaço repentino do espelho parecia um presságio.
Han Yan ficou paralisada encarando o espelho rachado, enquanto Ji Lan rapidamente o tomou de suas mãos, dizendo:
— Que coisas quebradas tragam paz, que coisas quebradas tragam paz...
Sabendo que a outra estava apenas tentando acalmá-la, Han Yan se recompôs e sorriu:
— Vamos, penteie logo meu cabelo.
Mas, por dentro, pensava que não podia se deixar abalar agora; precisava manter a calma e encarar o que quer que estivesse por vir. Ji Lan, alheia aos pensamentos de Han Yan, começou a pentear seu cabelo animadamente. Era bastante habilidosa e, desde que Han Yan se tornara Consorte do Príncipe Xuanqing, havia aprendido vários penteados novos para garantir que ela pudesse se destacar diante dos outros.
Não se sabia ao certo quanto tempo Ji Lan passou arrumando seu cabelo, mas justo quando Han Yan começou a sentir o pescoço endurecido, Ji Lan finalmente disse:
— Pronto, senhorita.
Com um suspiro de alívio, Han Yan levantou-se imediatamente e se espreguiçou. Ji Lan esperava receber ao menos um elogio por seu trabalho, mas para sua decepção, Han Yan nem sequer olhou para o espelho. Levemente desapontada, Ji Lan a viu puxar uma caixa de uma bandeja quadrada e retirar uma adaga de flor de ameixeira.
Ji Lan a reconheceu como a arma de defesa pessoal que Han Yan vinha carregando ultimamente. Embora seus movimentos ainda fossem um pouco desajeitados, poderia ser útil em uma situação crítica. No entanto, achou estranho que Han Yan decidisse levá-la justo hoje, apenas para o Festival da Primavera. Será que havia algum perigo? Esse pensamento deixou Ji Lan inquieta, e o clima festivo desapareceu por completo.
Quando Han Yan saiu da mansão, Zhuang Shiyang já havia preparado os cavalos. A Concubina Mei ficara para descansar devido à gravidez, e a Concubina Wan e Zhuang Qin estavam doentes. Surpreendentemente, apenas a Concubina Zhou e Zhuang Hanming os acompanharam. Ao ver Han Yan, a Concubina Zhou a cumprimentou com simpatia:
— Quarta Senhorita.
Depois da desavença entre elas, Han Yan não se deu ao trabalho de conversar e apenas lhe lançou um sorriso antes de entrar na própria carruagem, que havia sido preparada separadamente. Percebeu, de repente, que ser a Consorte do Príncipe Xuanqing tinha lá suas vantagens — como poder fazer-se de desentendida em situações como essa. Lembrando-se da arrogância de Fu Yunxi, sentiu agora certo prazer em poder ser igualmente ousada.
Notando o leve sorriso no rosto de Han Yan e o brilho em seus olhos, Ji Lan perguntou:
— Senhorita, acha que este Festival da Primavera será animado?
Han Yan respondeu sorrindo:
— Com certeza, mais do que nunca.
Agora que o Estado estava próspero, com músicas e danças por toda parte, e o povo vivendo em paz, o Festival da Primavera estava se tornando cada vez mais grandioso.
Ji Lan ergueu a cortina e espiou para fora da carruagem, com o tom um pouco nostálgico:
— Se ao menos a senhora estivesse aqui... ela adorava agitações...
Assim que terminou a frase, percebeu o deslize e rapidamente se calou. O sorriso no rosto de Han Yan foi se desfazendo aos poucos, substituído por uma tristeza profunda.
De fato, se sua mãe ainda estivesse viva, tudo seria diferente. Nessa nova vida, ela havia mudado muitas coisas, mas não podia mudar o fato de que sua mãe havia falecido. Evitara muitos desastres e armadilhas, mas se encontrava agora em uma situação ainda mais complexa. Sua própria identidade, a falecida A’Bi, a luta pela sucessão imperial, o distanciamento de Zhuang Hanming — tudo parecia coincidência, mas era, na verdade, inevitável. O mais assustador era que não havia como voltar atrás; só restava seguir em frente.
Seria esse tipo de vida o caminho certo?
A carruagem mergulhou em silêncio, com as duas mulheres imersas em pensamentos.
O local do sacrifício ficava no grande altar ao leste da cidade. Naquele dia, a capital fervilhava de movimento, com multidões reunidas para assistir à animada celebração do Festival da Primavera. No extremo leste do local erguia-se uma torre de nove andares, onde estavam o Imperador, Príncipes, Princesas e Consortes. O povo vinha pela festividade — alguns, ansiosos para ver o rosto do dragão; outros, na esperança de encontrar um bom marido ou uma companhia estimada. Afinal, muitos oficiais traziam suas famílias, e se algum par conveniente surgisse, podiam manifestar suas intenções ali mesmo.
Quando a carruagem da família Zhuang chegou, muitos olhares se voltaram para ela. Em teoria, Zhuang Shiyang era apenas um oficial de quinto escalão, e não deveria atrair tanta atenção. Contudo, Han Yan seria a futura Princesa Consorte de Xuanqing, e o público já ouvira muitos rumores sobre ela. Todos estavam curiosos para ver a belíssima Princesa Consorte de Xuanqing — a mulher que, em breve, conquistaria o coração daquele notável Príncipe.
Zhuang Shiyang foi o primeiro a descer da carruagem, seguido por Zhuang Hanming, Concubina Zhou e, por fim, Han Yan, que saiu de sua própria carruagem separada.
Wei Ru Feng estava entre os oficiais do tribunal e avistou Han Yan de longe. Seguindo seu olhar, notou também Fu Yunxi, trajando suas vestes oficiais. No instante em que viu Han Yan, um lampejo de surpresa cruzou seus olhos.
Han Yan vestia uma túnica longa em verde-esmeralda simples, bordada com camélias em tons claros, e uma faixa verde-escura marcava sua cintura esbelta, conferindo-lhe uma elegância graciosa. Por cima, usava um casaco de gaze verde-claro. No pulso, um bracelete de jade adornava seu braço, e seus longos cabelos negros estavam presos em um único coque, com uma fita verde e uma presilha azul e branca em formato de cauda de peixe.
Normalmente vestida como uma criança, hoje, graças ao arranjo caprichado de Ji Lan, ela parecia completamente diferente. Ji Lan havia realçado habilmente seus pontos fortes e suavizado sua juventude, apresentando-a com uma graça digna que atraía muitos olhares curiosos.
Wei Ru Feng não sabia descrever o que sentia; aquela garotinha, apenas com uma mudança de traje, havia se tornado tão encantadora. Ela sempre fora difícil de decifrar, como um enigma. Ele pensava que, por trás de sua aparência infantil, havia apenas uma mente perspicaz. Mas hoje, despida de sua esperteza e inocência, restava uma aura de nobreza.
No meio da multidão, Fu Yunxi estreitou os olhos. Aquela garotinha parece ter crescido um pouco... Seria essa versão desprotegida dela sua verdadeira face?
Han Yan semicerrava os olhos e, à distância, lançou a Fu Yunxi um olhar de cumplicidade, claramente dizendo: Então, não te envergonhei, certo? Fu Yunxi sorriu sutilmente, e mesmo daquela distância, Han Yan conseguiu sentir a profundidade em seu olhar. Ela desviou rapidamente o rosto, fingindo ter se distraído com outra coisa.
Ji Lan cobriu a boca e riu baixinho. Han Yan acompanhou Zhuang Shiyang até o local onde os oficiais se reuniam. No alto do palco, diversos itens sacrificiais estavam dispostos: um pano de seda vermelha cobria as cabeças dos bois e carneiros, e uma figura semelhante a um sacerdote permanecia acima.
O Festival da Primavera mudava a cada ano, sendo mais voltado ao espetáculo. Atrás de Zhuang Hanming estava Yingzi, e Ji Lan não tirava os olhos dela. Desde o último incidente, Ji Lan havia ficado cautelosa com Yingzi. No entanto, ela apenas mantinha a cabeça baixa, seguindo Zhuang Hanming com obediência e timidez, sem nenhuma atitude suspeita.
Três batidas fortes soaram quando um poste de madeira atingiu um enorme sino de bronze: “Dang, dang, dang.” O Festival da Primavera havia começado.
O sacerdote empunhou uma espada de madeira, entoando palavras em direção ao altar antes de se ajoelhar, curvando-se até o chão. Subitamente, várias pessoas usando máscaras divinas saltaram, executando uma dança sacrificial. Pulsos e tornozelos enfeitados com sinos vermelhos criavam um clima festivo.
Ji Lan assistia com grande interesse, enquanto Han Yan sentia que havia algo estranho. Uma inquietação sutil começou a se formar dentro dela — uma sensação instintiva de perigo. Discretamente, ela desviou o olhar para outras áreas.
Yingzi estava muito próxima de Zhuang Hanming, também focada na cerimônia sacrificial, sem qualquer sinal de comportamento anormal. Concubina Zhou permanecia colada a Zhuang Shiyang, mas sua saúde frágil fazia com que parecesse pálida e debilitada. Han Yan franziu o cenho, percebendo que se se afastasse ainda mais, perderia a visibilidade. Ela olhou para a torre real ao longe — será que a Imperatriz Viúva também viera?
O tempo passou rápido, e a cerimônia sobre o palco se aproximava do clímax. O sacerdote, de repente, abriu a boca e soprou uma rajada de fogo sobre o barril de vinho sacrificial, incendiando chamas vivas que iluminaram o local, seguidas por aplausos e gritos de comemoração. O anúncio marcava o fim de toda a cerimônia de sacrifício, e as pessoas ao redor se juntaram à celebração.
Ji Lan, ainda encantada, comentou:
— Jovem Senhorita, este Festival da Primavera está mesmo maravilhoso.
Han Yan permaneceu indiferente, olhando a multidão — densa e caótica. Em um cenário tão tumultuado, algo poderia dar errado com facilidade. Com essa preocupação no coração, ela sentia-se inquieta e não sabia exatamente o porquê. Nesse momento, viu que a cerimônia no palco havia terminado e uma série de apresentações animadas estava prestes a começar.
Após os rituais do Festival da Primavera, artesãos habilidosos costumavam apresentar espetáculos festivos que o povo adorava assistir. Essas performances eram inovadoras e alegres, simbolizando fartura e bom tempo para o próximo ano. No palco, começaram as danças do dragão e do leão, e o trabalho artesanal nas figuras era primoroso — tão vívido e realista. Os artistas exibiam habilidades impressionantes, saltando e girando de forma envolvente, arrancando risos da plateia.
O Imperador, lá do alto da plataforma, chegou até a exibir um leve sorriso; uma nação próspera era a cena que ele mais desejava ver.
Mas será que o mundo era realmente próspero?
As apresentações já duravam um bom tempo sem nenhum incidente, e Han Yan começou a relaxar pouco a pouco. Pensou na guarda imperial escondida por perto e percebeu que estava se preocupando demais. Em um lugar tão público, quem ousaria agir de forma imprudente? Nesse momento, sentiu um olhar sobre si e ergueu os olhos, vendo Fu Yunxi olhando em sua direção. Embora separados pela multidão, ainda conseguiam se ver. Han Yan sorriu para ele, e Fu Yunxi curvou levemente os lábios em resposta, antes que ela voltasse sua atenção para o palco.
O espetáculo havia chegado à parte das acrobacias com facas. Vários homens com grandes facões saltaram sobre as costas das mulheres e, com a ponta das lâminas, erguiam pratos que giravam no ar. Era necessário ter muita habilidade para isso. As pessoas ao redor estavam impressionadas, e Han Yan também se deixou atrair pela cena. Nesse instante, o homem que tocava o tambor desferiu uma batida pesada. Quando o número chegou ao clímax, um dos homens de repente girou o corpo e brandiu o longo facão em direção à mulher. O sangue espirrou por todos os lados, e só se ouviu um som de “gulu” abafado. Com um golpe, a cabeça da mulher caiu no chão.
O público ficou em silêncio por um instante, e então entrou em pânico, fugindo em todas as direções como se tivessem visto um demônio:
— Socorro! Estão matando gente!
Vários dos homens armados no palco giraram os corpos e saltaram para a multidão, avançando com os facões em punho, atacando indiscriminadamente. Sangue jorrou por toda parte, e gritos ecoaram em meio ao caos.
Todos estavam atônitos com a reviravolta repentina. Em questão de instantes, a multidão mergulhou no caos, tão comprimida que ninguém conseguia ver quem estava ao lado. Os guardas encarregados de proteger o Imperador foram os primeiros a reagir:
— Arqueiros, em prontidão! Protejam o Imperador!
Milhares de arcos e bestas foram erguidos, prontos para atirar, mas logo surgiu outro problema. Embora fosse fácil identificar os poucos homens armados com facas, perceberam que, entre a multidão, havia também civis portando cutelos de açougueiro. Essas pessoas estavam misturadas ao povo, impossibilitando distinguir inimigos de inocentes. Pior ainda, atirar à esmo poderia ferir ou matar muitos inocentes.
Alguém havia se infiltrado na multidão para provocar esse caos! A área ao redor de Han Yan se encheu de gente num piscar de olhos; sendo pequena, ela não conseguia se mover nem um centímetro e era empurrada junto com a maré humana. Gritos e pedidos de socorro enchiam seus ouvidos, e o cheiro de sangue no ar era espesso e nauseante. Tentava desesperadamente encontrar Zhuang Hanming e Ji Lan, mas só conseguia ver corpos amontoados por todos os lados — nenhum sinal dos dois. Naquele momento, uma tensão inexplicável apertou seu peito, e ela sentiu o perigo se aproximando.
Quem causou esse massacre? Qual era o objetivo? Han Yan sabia que uma operação em escala tão grande não poderia ter sido planejada pela família Zhou, nem pelo clã da Senhora Zhou — nenhum dos dois teria coragem para isso. Seria a Imperatriz Viúva? Mas com que propósito? Mesmo que quisesse envenená-la, não haveria necessidade de algo tão grandioso.
Nesse instante, Han Yan ouviu uma voz familiar gritar:
— Jovem Mestre! Jovem Mestre!
Reconheceu a voz no mesmo segundo — era Yingzi. A urgência em seu tom fez o coração de Han Yan disparar. Teria acontecido algo com Zhuang Hanming? Um pânico a invadiu enquanto tentava se aproximar da origem do som, mas a multidão estava tão densa que era quase impossível avançar. Apesar das discussões recentes, Zhuang Hanming era seu único parente de sangue no mundo. Ela não podia simplesmente assistir à sua morte. Com esse pensamento, começou a abrir caminho à força pela multidão, o cabelo se embaraçando enquanto lutava para seguir em frente — até se deparar com uma cena que lhe tirou o fôlego de puro horror.
Um homem com um facão enorme estava atrás de Zhuang Hanming, que havia sido jogado ao chão, coberto de ferimentos e completamente indefeso. A lâmina estava prestes a descer sobre ele, e o coração de Han Yan se apertou dolorosamente, enquanto memórias horríveis de sua vida passada invadiam sua mente.
— Não...
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