Cap. 3 – Acordar às Seis


 Yu Wanqiu voltou para o quarto para desfazer a mala. Ela escolheu o quarto à esquerda, enquanto Jiang Lan ficou com o da direita. Sem combinarem, as duas deixaram o quarto do meio vazio.

À noite, Yu Wanqiu preparou uma salada de legumes para o jantar. Depois de comer, passou uma hora fazendo ioga, seguiu com sua rotina de cuidados com a pele e foi dormir.

Essa era a vida diária de Yu Wanqiu.

Jiang Lan, por outro lado, não era muito de cozinhar. Pegou o celular e pediu comida por aplicativo. Enquanto esperava a entrega, aproveitou para arrumar suas coisas.

O quarto preparado pela produção era espaçoso, com banheiro e uma pequena varanda. Estava impecavelmente limpo.

Depois de cerca de meia hora, a comida chegou. Jiang Lan desceu apressada para buscar. No caminho, encontrou Zhang Tian. Embora a produção não tivesse imposto regras sobre pedir comida, Jiang Lan ainda perguntou:

— Diretor, tudo bem pedir delivery?

Zhang Tian assentiu. Era permitido, mas ficou surpreso por Jiang Lan preferir delivery a cozinhar — ele esperava que ela tentasse impressionar Yu Wanqiu com um jantar caseiro caprichado.

Pelas câmeras, ele via que Yu Wanqiu estava cozinhando camarões.

Jiang Lan, porém, ficou tranquila. Tinha pedido costelinhas agridoce e frango gong bao, além de duas porções de arroz.

Mesmo com pouca habilidade na cozinha, ela sabia pelo menos fazer um simples arroz frito, e planejava usar o arroz extra no café da manhã seguinte.

Lá em cima, Yu Wanqiu já tinha terminado sua salada — uma mistura de chicória, alface, repolho roxo e cenoura ralada fininha, com alguns camarões cozidos e meio ovo cozido, além de um copo de suco de laranja espremido na hora.

O prato parecia saudável e verde, mas Jiang Lan sabia que, se fosse ela, estaria com fome antes das oito da noite se comesse algo assim.

Ela se lembrou que, no almoço do dia anterior, Yu Wanqiu só tinha comido legumes cozidos na água, sem encostar na carne.

Será que a Yu Wanqiu é vegetariana? E, se for, a futura nora teria que seguir a mesma dieta?

Jiang Lan levou o pacote de comida e se sentou casualmente de frente para Yu Wanqiu na mesa de jantar. Como só havia uma mesa, não havia opção de comer separadas.

Morando sob o mesmo teto, era inevitável trocar algumas palavras.

— Senhora Yu, quer provar um pouco? — perguntou Jiang Lan.

Ela abriu os recipientes, revelando as brilhantes e suculentas costelinhas agridoce e o cheiro irresistível do frango gong bao. O arroz de grão longo estava perfeitamente cozido, com os grãos soltos e translúcidos.

Yu Wanqiu lançou um olhar rápido, deu uma mordida na salada e respondeu:

— Não, obrigada.

Jiang Lan assentiu, pegou os hashis e começou a comer.

Colocou uma colherada de frango gong bao no arroz, misturou e acrescentou um pedaço de costelinha agridoce.

A combinação simples de carne, arroz e legumes era incrivelmente satisfatória.

Ela evitava salsão, talos de alho e cenoura, mas gostava do pepino no frango gong bao. As porções eram pequenas, mas saborosas, e logo ela já tinha devorado duas costelinhas.

Quem vai querer legumes quando tem carne? Carne é muito mais gostosa.

Jiang Lan ergueu os olhos e percebeu que Yu Wanqiu quase não tinha tocado na salada, embora já tivesse bebido metade do suco. Enquanto isso, Jiang Lan já estava na metade do arroz.

Yu Wanqiu a observava, embora não fosse possível saber há quanto tempo.

Nos olhos dela, Jiang Lan viu algo parecido com desejo. Perguntou, cautelosa:

— Senhora Yu, quer um pedaço?

Se eu estivesse comendo salada enquanto alguém devorava costelinhas agridoce na minha frente, também não resistiria.

Yu Wanqiu franziu os lábios, prestes a recusar, mas Jiang Lan abriu o segundo pote de arroz e empurrou na direção dela.

Ela tinha pedido duas porções justamente para fazer arroz frito no dia seguinte. Mas, como Yu Wanqiu tinha pago o hot pot no dia anterior, dividir um pouco de arroz não era nada demais.

— Senhora Yu, prova. Tá muito bom.

Yu Wanqiu não comia carboidratos havia mais de três meses. Levava uma vida regrada e tinha força de vontade, mas, naquela noite, tudo isso desmoronou num instante.

Jiang Lan comia com tanto gosto — cabelo preso, cabeça levemente abaixada — que, em pouco tempo, já tinha acabado com meia tigela de arroz.

Yu Wanqiu pensou: Só uma costelinha não vai fazer mal. Afinal, durante o programa, não tem como evitar interações com ela.

— Então você tem que provar um pouco da salada — disse, oferecendo.

Uma costelinha virou duas, depois uma colherada de frango gong bao… e, no fim, meia tigela de arroz.

Enquanto isso, Jiang Lan limpava o restante dos pratos.

Depois do jantar, Yu Wanqiu se ofereceu para lavar a louça, enquanto Jiang Lan se jogou no sofá para descansar.

Na verdade, ela estava apenas uns 70% satisfeita. Tinha provado a salada por insistência de Yu Wanqiu, mas o sabor era meio estranho — embora o camarão fosse adocicado.

Ela sabia que sentiria fome mais tarde.

Da cozinha, a voz de Yu Wanqiu se misturava ao som da água corrente:

— Comida de restaurante costuma ser muito salgada e gordurosa. Pode ser gostosa, mas não é saudável.

Jiang Lan assentiu e disse que entendia, mas não levou a sério.

Quando terminou de arrumar, Yu Wanqiu secou as mãos. Passava pouco das sete da noite, e ela lançou um olhar para Jiang Lan, ainda esparramada no sofá.

Sua impressão sobre a jovem não era das melhores. Além da diferença de origem, agora somava mais dois pontos negativos: Jiang Lan era meio preguiçosa e tinha hábitos alimentares pouco saudáveis.

Yu Wanqiu se recolheu cedo, enquanto Jiang Lan ficou no celular até as dez. Às 21h50, pediu uma pequena porção de frango frito. Como a mansão ficava nos arredores da cidade, a entrega só chegou às 22h30 — justamente quando Yu Wanqiu se preparava para dormir.

Ao descer para buscar, Jiang Lan cruzou com uma mulher de terno cinza.

Ela tinha cabelos longos e pretos, usava salto alto e parecia exausta.

Ao vê-la, a mulher parou:

— Você… é a Jiang Lan, certo? Olá, eu sou a Chen Shuyun.

Chen Shuyun era uma das participantes civis do programa.

— Oi! — respondeu Jiang Lan com um sorriso. — Tô só descendo pra pegar meu delivery.

Elas se cruzaram, e, alguns passos depois, Jiang Lan olhou para trás. Sob aquele ângulo, parecia que as costas de Chen Shuyun estavam ligeiramente curvadas. Já passava das dez e meia da noite, e ela estava só chegando em casa agora.

Depois de pegar seu frango frito, Jiang Lan voltou para o andar de cima de elevador.
Movendo-se em silêncio, sentou-se de pernas cruzadas no sofá, com o saco de comida no colo. Assim que abriu a embalagem, ouviu barulhos vindos de baixo.

A vila tinha um átrio aberto no centro, com uma ampla sala de estar no primeiro andar. Do quarto andar, era possível ver as áreas de estar e de jantar dos outros andares.

Jiang Lan se lembrou de que Chen Shuyun e sua família moravam no segundo andar.

Os sons vindos do segundo andar não eram nem muito altos nem muito baixos. Primeiro, duas portas se fechando, seguidas pela voz de uma mulher mais velha:

— Finalmente você voltou. Sabe que horas são?

Chen Shuyun respondeu suavemente:

— Sei… hoje foi um pouco tarde. É que esses dias estão sendo corridos.

A tia Zhao tirou da geladeira o jantar que havia guardado para Chen Shuyun. Mas ela logo falou:

— Mãe, já comi fora. Não precisa.

A tia Zhao franziu o cenho, com a voz afiada e severa:

— Você sente o cheiro de álcool que está em você? Nunca está em casa. Que tipo de esposa e mãe é? Tão obcecada com a carreira que não liga para a família… Cuidou daquilo que eu te falei? Não é pra te criticar, mas você está dando motivo para as pessoas comentarem…

Descalça, Chen Shuyun pegou uma garrafa de água da geladeira, falando com um tom levemente impaciente:

— Mãe, a transição no trabalho vai levar mais alguns dias. O jantar de hoje foi porque estou me demitindo, e meus colegas queriam fazer uma despedida. Só bebi duas taças.

A tia Zhao bateu a porta da geladeira com força.

— E que utilidade tem essas reuniões? Você vive comendo fora. Nunca te vi voltar pra casa e cozinhar para o Xiao Xuan. Sabe que ele está prestes a entrar no último ano do ensino médio?

Ela se virou para olhar para Chen Shuyun, ficando ainda mais irritada ao ver a maquiagem no rosto da filha.

Chen Shuyun suspirou:

— Mãe, estou fazendo tudo isso para dar uma vida melhor para o Xiao Xuan. Ele estuda tanto… não merece ter um lar confortável, morar numa boa região escolar, ter professores particulares? Tudo isso custa dinheiro.

Sentando-se no sofá, parecia derrotada.

— Por quem você acha que eu me esforço tanto?

O tom da tia Zhao suavizou um pouco:

— Depois desse programa, você vai ter uma renda e não vai precisar trabalhar mais. Já pede demissão de uma vez.

Chen Shuyun olhou para as costas da mãe, com uma expressão complicada. Sob o olhar das câmeras, a maquiagem já havia se apagado, revelando rugas, olheiras e um cansaço resignado.

Eu vou mesmo virar dona de casa? É pra jogar fora mais de dez anos de trabalho e contatos? Eu ganho de 30 a 40 mil yuans por mês, não é menos que o meu marido. Por que sou eu que tenho que ficar em casa cuidando do filho? Por que ele não pode assumir mais responsabilidades?

Vendo o silêncio de Chen Shuyun, a tia Zhao insistiu, ríspida:

— Tá me ouvindo? Pede demissão já!

No sofá, Jiang Lan se recostou, mastigando uma coxinha de frango enquanto escutava a conversa. A voz de Chen Shuyun subiu até ela:

— …Eu sei. Já entreguei minha carta de demissão. Eu disse, a transição vai levar cerca de uma semana.

— Tão devagar… termina logo e volta pra casa depois que o programa acabar — murmurou a tia Zhao, mas Jiang Lan não entendeu direito. Até o barulho dela mastigando diminuiu.

Chen Shuyun vai largar o emprego?

Vendas deviam dar bastante dinheiro… Jiang Lan não entendia por que ela iria se demitir.

Ela estava tão envolvida na fofoca que nem percebeu a porta rangendo. Só quando levantou os olhos viu Yu Wanqiu parada na porta escura do quarto, enquanto o relógio de quartzo na sala mostrava o ponteiro dos minutos apontando para o oito.

Jiang Lan levou um susto tão grande que quase deixou a coxinha cair.

Olhou para Yu Wanqiu, depois para a coxinha na própria mão.

Não era nada demais, na verdade. O programa tinha colocado as quatro famílias juntas na mesma casa justamente para mostrar contrastes de estilo de vida. Ela não estava espionando.

Mas… Yu Wanqiu não tinha ido dormir depois das dez? O que ela estava fazendo ali agora?!

Será que foi porque o som de mastigar frango frito estava alto demais?

Jiang Lan engoliu o pedaço de frango na boca:

— Senhora Yu? Eu te acordei? Eu já volto pro meu quarto.

E não esqueceu de levar a comida junto.

A expressão de Yu Wanqiu não era das melhores — fosse por não conseguir dormir tão tarde ou por outro motivo — e ela fixou o olhar em Jiang Lan… ou melhor, na coxinha em sua mão:

— Que horas são? Por que você ainda não está dormindo e ainda por cima está comendo?

O bombardeio de perguntas deixou Jiang Lan atônita. Mas Yu Wanqiu claramente não deu muito tempo para ela pensar:

— Que horas você costuma acordar? Você toma café da manhã? Tão jovem e já com rotina desregrada. Amanhã, seis horas em ponto. Levanta.

Jiang Lan abriu a boca, se arrependendo de não ter comido no quarto. Por que a senhora Yu estava se metendo na hora que eu acordo?

Seis horas? Nem pensar.

— Senhora Yu, eu estou de férias. Seis horas é muito cedo. Eu não consigo acordar às seis — disse, conformada. — Não dá pra mim.

Ela só estava ali para participar de um programa de variedades, ganhar seu cachê. Nem precisava fingir um relacionamento profundo de sogra e nora. Ia mesmo ter que sacrificar dois meses da vida acordando cedo e dormindo cedo?

Era férias de verão, poxa. Mesmo que fosse pra praticar piano, não precisava acordar às seis.

Os olhos de Yu Wanqiu se estreitaram:

— O que você disse?

Nem se o próprio Rei do Céu aparecesse, eu acordaria às seis.

— Senhora Yu, eu preciso de oito horas completas de sono.

Yu Wanqiu olhou para o relógio na parede — já passava das onze. Cedeu um pouco:

— Tudo bem, então sete horas.


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