Capítulo 106 a 108


 Capítulo 106: Sem Aborto

Num instante, toda a atenção voltou-se para Han Yan. Ninguém esperava que ela fizesse tal exigência naquele momento.

Zhuang Shiyang levantou a cabeça de repente e lançou a ela um olhar feroz. Assim que Han Yan mencionou chamar um médico, ela propôs convocar o médico imperial. Aquilo não era o mesmo que questionar abertamente a competência dos médicos da Mansão Zhuang? De qualquer forma, fazer isso diante de tantas pessoas era um insulto direto à família Zhuang, e Zhuang Shiyang mal conseguia conter sua indignação.

Infelizmente para ele, Han Yan não tinha a menor intenção de lhe dar ouvidos. Que importância tinha sua reputação? Afinal, sua mãe fora traída por alguém em quem confiava. Agora era a vez de Zhuang Shiyang provar o gosto da traição. Ele deveria saber como era ser enganado por alguém que amava e em quem confiava.

Lady Zhou lançou um olhar desconfiado para Han Yan ao ouvir suas palavras. Embora os demais talvez não percebessem, ela sim entendeu o subtexto — Han Yan estava claramente lançando dúvidas sobre o suposto aborto da Concubina Mei. Na verdade, não era só Han Yan que suspeitava de algo — a própria Lady Zhou também sentia que havia algo errado. O plano que Concubina Mei lhes explicara anteriormente não deveria ter tomado esse rumo. Ela só precisava alegar estar doente; ninguém brincaria com a vida de uma criança. E agora ela aparecia dizendo que teve um aborto?

Mesmo que fosse para derrubar Han Yan, não fazia sentido arriscar o próprio filho. Além disso, Lady Zhou sabia muito bem o que essa criança significava para Concubina Mei. Com esse filho, talvez Zhuang Shiyang lhe concedesse o título de esposa legítima. A criança poderia se tornar o herdeiro da família Zhuang. Uma oportunidade de ouro como essa não seria desprezada por Concubina Mei. Lady Zhou já havia notado anteriormente que a atitude dela estava estranhamente reservada, mas quando a notícia do aborto chegou, ela ainda assim se chocou.

As suspeitas de Han Yan, de certa forma, apenas confirmavam suas próprias dúvidas. Havia apenas duas possibilidades: uma, que o aborto de Concubina Mei era totalmente falso, e a criança estava bem — o que tornaria o acontecimento de hoje uma peça ensaiada. No entanto, se fosse mesmo falso, como ela explicaria depois o sumiço da criança? Restava então a única explicação plausível: Concubina Mei jamais estivera grávida.

Mas... seria verdade que Concubina Mei nunca esteve grávida?

— Senhorita Zhuang — começou o Sétimo Príncipe lentamente —, talvez não seja apropriado chamar o Doutor Wu do palácio agora. Ele tem muitas obrigações.

Han Yan voltou o olhar para o Sétimo Príncipe e sorriu:

— Alteza, como pode dizer isso? Já que o senhor pode mandar trazer o Daoísta Jingxu até a Mansão Zhuang, é natural que eu, como parte da família Zhuang, também me esforce. Além disso, o Príncipe já disse que eu poderia pedir ajuda ao Doutor Wu sempre que precisasse.

Han Yan já havia decidido: hoje, ninguém escaparia. Se as águas já estavam turvas, por que não aproveitar para provocar algumas ondas? Seria um desperdício não fazer isso.

Seus subordinados partiram imediatamente para convocar o Doutor Wu. Embora Zhuang Shiyang estivesse furioso com a atitude de Han Yan, ninguém ousou impedi-la. Inconscientemente, ela emanava uma aura que se destacava entre a multidão — uma determinação fria e impiedosa escondida sob um exterior sereno. Mu Yan a observava em silêncio e, de repente, teve a impressão de que a esposa do Príncipe estava se tornando cada vez mais parecida com seu mestre. Seria isso o que chamam de casal em perfeita sintonia?

Depois de algum tempo, o Doutor Wu chegou, guiado pelos criados. A essa altura, o Daoísta Jingxu já havia sido contido, e tanto a Concubina Zhou quanto Lady Zhou estavam prostradas no chão — o rumo dos acontecimentos havia mudado completamente. Embora Zhuang Shiyang desaprovasse profundamente a atitude de Han Yan, não se atreveu a ofender o Doutor Wu. Aquele médico era renomado por sua habilidade e muito respeitado no palácio, sendo constantemente bajulado por altos oficiais. Mas o Doutor Wu era conhecido por seu temperamento excêntrico, agindo conforme seu humor — não se dobrava a gentilezas nem se intimidava com ameaças.

Ao ver que Han Yan realmente o havia convocado, muitos ficaram secretamente surpresos, confirmando os boatos de que o Príncipe de Xuanqing era extremamente atencioso com sua jovem esposa — ao ponto de até o Doutor Wu lhe dar ouvidos.

Na verdade, quando Fu Yunxi dissera que ela podia buscar a ajuda do Doutor Wu sempre que quisesse, Han Yan ficou um pouco apreensiva. Sabia que ele não era uma pessoa comum, e incomodá-lo sem motivo parecia inapropriado. Mas Fu Yunxi dera a entender que sua relação com o Doutor Wu era bem próxima, então não havia com o que se preocupar. Ainda assim, Han Yan se sentia um pouco culpada — até ver o médico realmente aparecer. Só então soltou um suspiro aliviado.

Assim que entrou, Zhuang Shiyang correu para cumprimentá-lo com um sorriso bajulador:

— Doutor Wu.

O Doutor Wu apenas assentiu, sem sequer olhar para ele novamente. Seu olhar varreu a multidão até pousar no Príncipe Wei e no Sétimo Príncipe. Ele soltou uma risadinha:

— Hoje está bem movimentado, hein? Não esperava encontrar o Príncipe Wei e Sua Alteza, o Sétimo Príncipe, aqui — tudo a pedido da Princesa Consorte de Xuanqing.

Apesar de soar cortês, seu tom era arrogantemente desdenhoso — claramente não dava importância nem ao Sétimo Príncipe nem ao Príncipe Wei. Zhuang Shiyang prendeu a respiração, convencido de que aquele velho realmente não era alguém com quem se pudesse brincar.

O Sétimo Príncipe sorriu levemente:

— Está brincando, Doutor.

Não parecia nem um pouco irritado.

O Príncipe Wei também riu, mas, ao olhar para o Doutor Wu, havia um leve traço de desconfiança em seus olhos. Esse velho era favorecido pelo imperador, mas não se envolvia com mais ninguém da corte — exceto Fu Yunxi. E agora, estava do lado de Han Yan. Ele falava num tom estranho, tinha uma personalidade extrema. Ninguém queria se indispor com ele — e, pelo visto, sua presença ali indicava claramente apoio a Han Yan.

O Príncipe Wei estreitou os olhos.

Pelo jeito... tudo o que aconteceu hoje foi um plano arquitetado por Zhuang Han Yan.

— Doutor Wu — disse Han Yan com um sorriso —, se tivesse chegado um pouco antes, ainda teria encontrado o Grão-Tutor Zhang. Mas agora, ele já foi embora.

O Doutor Wu virou-se para Han Yan e a encarou.

— Oh? E por que voltou tão cedo? — Seu tom era completamente diferente do sarcasmo anterior; agora soava quase amigável. As pessoas ao redor ficaram surpresas, e até a própria Han Yan se sentiu um pouco desconfortável.

— Bem, talvez o senhor deva perguntar aos outros sobre isso, Doutor — respondeu ela com um sorriso delicado, os olhos cintilando com um leve brilho malicioso, como se saboreasse um pouco de schadenfreude. Essa expressão não passou despercebida pelos olhos atentos do Doutor Wu, que não pôde deixar de se aprofundar em seus pensamentos, observando com seriedade a jovem sorridente diante dele.

Aquela era a segunda vez que o Doutor Wu via Han Yan. A primeira fora quando Fu Yunxi a tratara do veneno da primavera. No entanto, ela estava inconsciente naquela ocasião, e ele não tivera a chance de ver sua verdadeira natureza. Só havia presenciado a preocupação inexplicável de Fu Yunxi por ela. Conhecendo Fu Yunxi há tantos anos, ver aquele homem frio e reservado tão agitado por causa de uma mulher despertara a curiosidade do Doutor Wu sobre a lendária Princesa Consorte de Xuanqing.

Ao saber que a própria Princesa Consorte de Xuanqing o convocara naquele dia, o Doutor Wu viera rapidamente — em parte porque Fu Yunxi lhe pedira que apoiasse aquela jovem esposa, mas também porque queria conhecer pessoalmente Zhuang Han Yan. Ao vê-la, surpreendeu-se ao notar que era apenas uma jovem ainda não plenamente madura. No entanto, ao observar com mais atenção seus traços e postura, ela se revelava como uma jade bruta: sua luz escondida, sua elegância ilimitada.

Lançando um olhar ao redor — alguns estavam carrancudos, outros em total desordem —, percebeu que, embora a garota parecesse ilesa, os que a cercavam haviam saído prejudicados. Não pôde deixar de se admirar: era raro uma jovem causar tanto estrago, até mesmo ao Sétimo Príncipe. Contudo, suas sobrancelhas se franziram ao encarar mais uma vez aquela garota — sua aparência começava a parecer estranhamente familiar.

— Doutor Wu — Han Yan sorriu de leve —, que tal examinarmos a Concubina Mei? Todos nós estamos bastante preocupados com ela.

O Doutor Wu afastou os pensamentos e lhe lançou um olhar significativo antes de entrar no quarto com sua maleta médica. Zhuang Shiyang apressou-se para segui-lo, enquanto todos os outros se agrupavam do lado de fora, observando atentamente cada movimento no interior.

Assim que a porta do quarto da Concubina Mei se abriu, um forte cheiro de sangue escapou de dentro. O Doutor Wu franziu a testa.

— Quem foi que espalhou tanto sangue de galinha aqui dentro? — Fez uma careta e limpou o nariz. — Isso está fedendo demais.

Sangue de galinha? Todos — tanto dentro quanto fora do quarto — ficaram atônitos, especialmente Zhuang Shiyang, cujo semblante azedou na mesma hora. Se fosse confirmado que Concubina Mei falsificara um aborto, Zhuang Shiyang explodiria de raiva. Afinal, esse falso aborto revelaria seu caso com Lady Zhou, levando a consequências imprevisíveis.

Jiao Meng estava junto à janela, cuidando de Concubina Mei. Ao ver alguém entrar, afastou-se rapidamente, com o rosto coberto de lágrimas e expressão de pânico, visivelmente abalada com o suposto aborto de sua senhora. No entanto, olhando com mais atenção, notava-se que seus grandes olhos não demonstravam emoção real, e ela mantinha uma postura surpreendentemente composta.

O Doutor Wu claramente não ficou satisfeito com aquela encenação. Concubina Mei jazia sobre a cama, murmurando para si mesma. Han Yan sorriu com gentileza.

— Não se preocupe tanto, Concubina Mei. Trouxemos o médico mais renomado do palácio... o Doutor Wu. Deixe que ele verifique seu pulso. Vai dar tudo certo.

Ao ouvir isso, o corpo sobre a cama enrijeceu ligeiramente, e ela começou a gritar de repente, balançando a cabeça com força.

— Saiam! Saiam! Espíritos malignos! Vocês querem me machucar! Saiam daqui!

Estava claro que ela estava tendo um pesadelo. Alguém sugeriu cautelosamente:

— Será que ela está possuída? Não deveríamos sair do quarto?

O Doutor Wu zombou:

— Se quiser sair, vá. Está achando que pode me enganar? — Sua voz era gélida, como se fosse explodir de raiva a qualquer momento. A criada que falou imediatamente se calou. Zhuang Shiyang interveio depressa:

— Doutor Wu, por favor, não se irrite. Essa criada é ignorante. Alguém, tire essa insolente daqui e deem-lhe cinquenta chicotadas.

Han Yan franziu a testa e ordenou:

— Segurem a Concubina Mei. Doutor Wu, por favor, verifique seu pulso.

Ao ouvir isso, várias mulheres fortes imobilizaram a Concubina Mei, que se debatia. O Doutor Wu colocou a mão em seu pulso por apenas um instante antes de exclamar alto:

— Isso é uma farsa! Essa mulher nunca esteve grávida! Como poderia haver um aborto?!


Capítulo 107: Uma Lição de Sangue
 “Nunca esteve grávida”  essa frase deixou Zhuang Shiyang atônito. Ele olhou incrédulo para o Doutor Wu e perguntou:
— Doutor Wu, o que o senhor quer dizer com isso?
O Doutor Wu estava ainda mais irritado do que ele.
— O que eu quero dizer? Você me fez de bobo, e ainda ousa me perguntar o que eu quero dizer? — lançou um olhar para Han Yan, como se tivesse entendido algo, e reforçou a afirmação: — Essa mulher nunca esteve grávida; como poderia ter tido um aborto?
— Está mentindo para mim? — Zhuang Shiyang lançou um olhar feroz para a Concubina Mei, as palavras saindo apertadas entre os dentes.
— Mestre, eu não fiz por mal — disse Concubina Mei, vendo que não tinha como se justificar, levantou-se apressadamente da cama, com o rosto pálido como papel, implorando repetidamente: — Mestre, por favor, me perdoe desta vez; eu não vou mais ousar.
As irmãs Zhou trocaram um olhar, silenciosas, mas aliviadas por dentro. Tinham ficado intrigadas com o comportamento estranho de Concubina Mei, suspeitando que havia alguma conspiração por trás. Agora que ouviam o Doutor Wu dizer que Concubina Mei só estava fingindo estar grávida, tudo fazia sentido. Se Concubina Mei fingia gravidez, o plano de alegar um aborto era a desculpa perfeita para derrubar Han Yan. Embora Han Yan já tivesse se aliado a elas antes, quando ganhasse poder, Concubina Mei teria que tomar cuidado.
Porém, ao olharem para Han Yan, as irmãs Zhou sentiram um calafrio no coração. A situação indicava um fato incontestável: haviam perdido! A armadilha complexa que armaram acabara por se fechar contra elas mesmas. Tinham sido derrotadas por aquela jovem, ainda não totalmente crescida, que antes desprezavam como uma menina tímida escondida atrás dos outros. As irmãs Zhou desconheciam os detalhes da situação de Concubina Mei, mas a postura de Han Yan mostrava que ela já sabia de tudo há muito tempo, e havia virado o jogo, dando o último golpe decisivo justamente naquele momento.
Que estratégia profunda!
Com uma adversária assim, era realmente aterrorizante.
Agora, quem se sentia desconfortável não eram só as irmãs Zhou; Concubina Mei também estava assustada e cheia de lágrimas, tomada pela confusão. Aquilo não deveria estar acontecendo daquele jeito. Ela originalmente pretendia usar o aborto para jogar toda a culpa em Han Yan. Ela e as irmãs Zhou tinham combinado que, quando o Daoista Jingxu chegasse e encontrasse aquele objeto no quarto de Han Yan, poderiam jogar toda a sujeira para cima dela. Nesse ponto, Han Yan não teria como se defender e teria que aceitar a culpa.
Contudo, as irmãs Zhou só pediram que ela fingisse ter perdido a gravidez, e Concubina Mei, ansiosa e preocupada com o bebê em seu ventre, agiu precipitadamente, causando o aborto. O médico e a parteira já estavam combinados; como então o Doutor Wu apareceu de repente e expôs tão claramente seu plano? E por que as irmãs Zhou agora pareciam tão perdidas e desorientadas? Aquilo não deveria estar acontecendo.
Embora pensasse assim, Concubina Mei não ousava demonstrar. Sabia que Zhuang Shiyang detestava traição acima de tudo. Antes, quando mentira que estava grávida, Zhuang Shiyang havia ficado feliz e a protegido muito. Agora, se descobrisse que tudo era mentira e despejasse sua ira sobre ela... Concubina Mei conhecia bem a crueldade de Zhuang Shiyang, após tantos anos ao lado dele. Sabia que enfrentaria um destino terrível. Ao perceber isso, seu coração afundou ainda mais.
Naquele instante, Zhuang Shiyang sentia-se como se estivesse no meio de uma tempestade; tudo que acontecera naquele dia era completamente inesperado. Primeiro, Concubina Mei teve um aborto, e agora o herdeiro legítimo da família Zhuang desaparecera. Depois, havia provas da sua infidelidade com Lady Zhou, e agora o Doutor Wu alegava que Concubina Mei fingira estar grávida. Ele sentia uma humilhação profunda e chutou Concubina Mei, gritando:
— Maldita! Fala! Por que me enganou? Eu te tratei tão bem!
Tão furioso que mal conseguia raciocinar, ele a chutava repetidamente, murmurando “maldita” diversas vezes. Concubina Mei, sendo mulher, encolheu-se num canto para evitar os chutes, chorando e implorando:
— Mestre, eu errei! Não vou mais ousar, mestre, por favor...
Concubina Mei sentia dor e ressentimento no coração. Após tantos anos com Zhuang Shiyang, era a primeira vez que o via tão furioso, como se estivesse pronto para matar. Ela se orgulhava de entender os homens, mas naquele olhar de Zhuang Shiyang não havia o calor habitual; só medo. O que ela não conseguia aceitar era por que as coisas tinham tomado aquele rumo hoje!
Nesse momento, Han Yan, que estivera em silêncio até então, deu um passo à frente e disse:
— Pai, por favor, acalme-se.
Sua voz era como orvalho fresco, refrescante naquele ambiente quente, trazendo uma calma inesperada. Mais importante, carregava um leve arrepio, como se ela tivesse assistido o desenrolar daquela cena por tempo suficiente e finalmente decidisse acertar as contas. O escárnio chocante em seu tom fez Concubina Mei se voltar rapidamente para ela.
Han Yan continuou lentamente:
— Não acha estranho, pai? O Doutor Wu disse que Concubina Mei nunca esteve grávida, e isso não pode ser mentira. Mas o Daoista Jingxu afirma que o filho no ventre da Concubina Mei foi invocado por espíritos malignos por minha causa. — Sorriu levemente. — O Daoista Jingxu levou os dados do nascimento da tia Zhou, mas disse que ela trouxe infortúnio para o marido. Pai, o que o Daoista Jingxu disse é verdade ou mentira?
As pessoas ao redor ficaram surpresas, sem entender exatamente o que Han Yan queria fazer.
— O Daoista Jingxu admitiu que foi instruído pela Tia Zhou e pela Lady Zhou para me incriminar, mas parece que a Concubina Mei também está envolvida. Que punição merece quem conspira contra a esposa de um Príncipe Real?
Ninguém esperava que Han Yan mencionasse de repente o nome da Princesa Consorte de Xuanqing. Todos na capital sabiam o quanto o Príncipe era próximo de Han Yan. Se as irmãs Zhou e Concubina Mei conspirassem contra ela, e essa notícia chegasse ao Príncipe Xuanqing, poderia causar um enorme escândalo. As expressões das pessoas ao redor mudaram, ficando mais cautelosas, com medo de serem implicadas junto das irmãs Zhou e da Concubina Mei.
Como ninguém respondeu, Han Yan sorriu novamente:
— Mas o Daoista Jingxu foi convidado especialmente pelo Sétimo Príncipe. Sétimo Príncipe, será que o senhor já sabia disso?
O Sétimo Príncipe ficou surpreso e respondeu com voz sombria:
— Besteira! Não sei nada sobre isso!
Ele estreitou os olhos para Han Yan, sentindo um pressentimento ruim. Essa Zhuang Han Yan era uma adversária formidável; ela tentava arrastá-lo para baixo junto com ela! Infelizmente, ele não conhecia o plano dela desde o começo e agora não podia se desvincular. Seria difícil escapar da implicação hoje. Mas que ousadia a dela!
Han Yan não ligava para o que o Sétimo Príncipe pensava dela. Sorriu e se voltou para o Príncipe Wei:
— Hoje, um grande incidente ocorreu na residência dos Zhuang, envolvendo até parentes reais. Eu realmente não sei o que fazer, por isso tive que chamar as autoridades para resolver. Todos aqui são testemunhas, então peço gentilmente que o Príncipe Wei também seja testemunha de tudo que aconteceu hoje na residência dos Zhuang!
Após dizer isso, sem esperar resposta, chamou firmemente:
— Mu Yan!
— Seu subordinado está aqui! — Mu Yan avançou. Tendo presenciado tudo, sentia uma profunda admiração por Han Yan. Antes, ele só conhecia a inteligência e astúcia dela; hoje viu seu talento incomparável para artimanhas. Não via nada errado nisso; se fosse tola, poderia ter sofrido consequências graves na residência do Príncipe Xuanqing. Os que estavam próximos ao Príncipe precisavam ser decididos e corajosos, e Han Yan dera um verdadeiro espetáculo.
Enquanto todos estavam reunidos em frente ao quarto da Concubina Mei, Mu Yan seguiu as ordens de Han Yan e encontrou o pacote de pano vermelho no Pátio Qingqiu que a Concubina Zhou usara para incriminar Han Yan. Ele retirou o conteúdo e o substituiu pelo Dudou da Lady Zhou, escondendo-o no quarto de Zhuang Shiyang, adicionando um toque dramático ao plano.
Denunciar às autoridades equivalia a tornar público tudo que acontecera na residência dos Zhuang, incluindo o caso entre a Lady Zhou e Zhuang Shiyang. Porém, Mu Yan já havia partido rapidamente. O tom de Han Yan não deixava dúvidas; ela claramente planejava tudo com antecedência.
Os olhares de todos não estavam na Concubina Mei chorando, na Lady Zhou desarrumada ou na Concubina Zhou abatida, mas sim em Han Yan. Ela observava tudo calmamente, dirigindo seus servos com método. Era quase uma ilusão pensar que aquela jovem era a verdadeira dona da residência dos Zhuang. Apesar de todo o absurdo ao redor, ela nem franzia a testa, sorrindo serena. Aquele sorriso parecia sincero, mas não alcançava os olhos; um olhar profundo podia gelar o coração.
Zhuang Yushan apertava os próprios braços, quase explodindo de raiva. Han Yan teve a audácia de pedir ao Príncipe Wei que testemunhasse! Testemunhasse o quê? As provas de que seus parentes conspiraram contra alguém — Zhuang Han Yan! Mas ela não podia agir de forma imprudente agora; Zhuang Yushan estava muito mais sábia do que antes. Rangendo os dentes, engoliu toda a sua fúria.
Concubina Mei lançou um olhar furioso para Han Yan, percebendo que tudo fora armado por ela. Como Han Yan poderia ter tanta capacidade? Ela ainda sabia dos planos e que a Concubina Mei fingira estar grávida. Isso era impossível; ninguém além das criadas pessoais dela deveria saber do esquema.
Se Concubina Mei tivesse sido um pouco mais esperta e atenta, teria percebido que sua criada conspiradora, Jiao Meng, não dera nenhuma sugestão durante os acontecimentos de hoje. Mesmo quando Zhuang Shiyang a agrediu, Jiao Meng apenas ficou de cabeça baixa, calada.
Quem te trai sempre é quem você menos espera. Infelizmente, Concubina Mei não aprendeu essa lição, enquanto Han Yan já pagara caro para aprender essa verdade em sua vida passada.


Capítulo 108: Preparando-se para a Batalha
Por muito tempo, Han Yan não teve certeza se sua decisão havia sido a correta.
Naquele dia, na residência dos Zhuang, a Madame Zhou foi expulsa pelo Grande Tutor Zhang sob acusações de adultério, e sofreu uma punição que marcou seu rosto com o caráter de “lasciva”.
Ao andar pelo mercado, era apontada e ridicularizada. Madame Zhou nunca havia sido tratada daquela forma, e em seu tormento mental, discutiu com outras pessoas e acabou caindo no fosso da cidade durante a confusão, sem que ninguém viesse ao seu socorro. Morreu de maneira tão obscura.
A Concubina Zhou não teve destino muito melhor, pois conspirara com a Concubina Mei para incriminar Han Yan, e fora trancada numa prisão junto com a Concubina Mei. Estar presa significava, basicamente, nunca mais ver o mundo exterior. Han Yan sabia que essa punição tinha mais a ver com a influência de Fu Yunxi do que com a severidade do governo. Fu Yunxi certamente havia feito acordos com as autoridades.
As irmãs Zhou tinham relações com muitas famílias nobres, mas nenhuma foi capaz de ajudá-las.
Quanto ao Sétimo Príncipe, ele inesperadamente enfrentou consequências; o Imperador ficou irritado por ele não ter rezado pelo povo na montanha, mas sim ter escapado até a residência dos Zhuang e ainda ter convidado alguém como o Taoísta Jingxu, conhecido por suas trapaças. Era realmente necessário dar-lhe uma lição. Assim, o Sétimo Príncipe foi colocado temporariamente em prisão domiciliar.
Alguém como o Sétimo Príncipe deveria passar por algumas dificuldades, e com a atitude do Imperador, muitos oficiais que antes o apoiavam começaram a vacilar. A decisão do Imperador parecia indicar que o Sétimo Príncipe não era mais o preferido e levantava dúvidas sobre se o Príncipe Herdeiro seria, na verdade, aquele que valeria a pena apoiar.
Com o Sétimo Príncipe em prisão domiciliar, Wei Ru Feng naturalmente não podia contatá-lo. Na verdade, depois do incidente na residência dos Zhuang, o Príncipe Wei tinha começado a se afastar intencionalmente. Havia simplesmente muitas pessoas envolvidas naquele assunto, e apenas um tolo entraria numa tempestade assim.
Desta vez, Han Yan havia conquistado uma vitória significativa. Por um bom tempo, todos os oponentes que a ameaçavam não seriam capazes de importuná-la. Especialmente as irmãs Zhou; provavelmente jamais teriam a chance de se reerguer.
Quando a notícia da morte da Madame Zhou chegou até ela, Han Yan ficou perdida em pensamentos por um longo tempo. Não sentiu felicidade nem alívio; ao contrário, sentiu que havia cumprido algo que precisava fazer, mas isso a deixava ainda mais vazia por dentro.
Nesta vida, ela havia vindo para se vingar, e à medida que seus inimigos caíam um a um, seu fardo se tornava mais leve, porém ela ficava cada vez mais incerta de seu rumo. Se um dia todos os seus adversários fossem eliminados, que motivo teria para continuar neste mundo?
Perdida em seus pensamentos, Han Yan murmurou para Shu Hong ao seu lado:
— Shu Hong, qual é o meu propósito neste mundo?
Shu Hong ficou confusa com a pergunta súbita de Han Yan. Ela só sabia que sua senhorita não estava feliz ultimamente. Mesmo tendo exposto as tramas dos inimigos e não havendo atualmente ameaças da residência dos Zhuang, Han Yan ainda parecia muito infeliz. Desde que Han Yan acordara há um ano, Shu Hong frequentemente tinha dificuldade em entender o que sua senhorita pensava.
Elas cresceram juntas, compartilhando tudo, e antes era fácil para Shu Hong adivinhar seus pensamentos, mas agora era diferente. Os olhos de Han Yan carregavam o peso de muitas histórias, mas Shu Hong e Ji Lan não faziam parte dessas narrativas.
Han Yan costumava parecer firme e calma, raramente mostrando tamanha confusão e incerteza, como uma criança perdida, o que fez Shu Hong sentir uma ponta de compaixão.
Após um momento de reflexão, Shu Hong respondeu sinceramente:
— Senhorita, você não precisa se preocupar com seu propósito. Apenas ser feliz já é suficiente. Se precisar encontrar uma razão para viver... poderia pensar no Príncipe.
Fu Yunxi? Han Yan ficou surpresa, e então ouviu Shu Hong continuar:
— A maneira como o Príncipe trata a Senhorita está clara para todos verem. Um Príncipe assim é mais do que digno de ser importante para a Senhorita.
Han Yan caiu em profunda reflexão. Era verdade que Fu Yunxi a tratava muito bem. Desta vez, o que aconteceu na mansão não foi um assunto pequeno. Envolvia o Sétimo Príncipe, o Príncipe Wei e até a Imperatriz no palácio. No entanto, Fu Yunxi nunca lhe pediu opinião; ele abriu o caminho para que ela agisse com confiança, organizando tudo, desde o médico Wu até os oficiais. Han Yan se perguntou internamente: Que virtude ou capacidade eu possuo para que Fu Yunxi faça tanto por mim?
No entanto, por causa das palavras de Shu Hong, Han Yan sentiu calor no coração. Naquele momento, ela quis ver Fu Yunxi, não para falar nada, apenas para olhar seu semblante indiferente que não conseguia esconder sua preocupação. Isso já bastaria.
— Não é bom, Senhorita! — Ji Lan entrou apressada de fora, quase tropeçando, justo quando Han Yan hesitava sobre quando ver Fu Yunxi.
Shu Hong perguntou:
— O que aconteceu? Por que está com tanta pressa? Fale devagar.
Ji Lan correu até o lado de Han Yan, ofegante:
— Senhorita, é ruim! Ouvi os populares do lado de fora falando; disseram que o Príncipe está prestes a ir para a guerra contra a Região Ocidental.
— O quê? — Han Yan se levantou de repente, encarando Ji Lan incrédula. — Não ouvi direito, repita.
Ji Lan lançou um olhar preocupado para Han Yan, mordeu o lábio e repetiu:
— O Príncipe vai para a guerra contra a Região Ocidental.
Com uma afirmação tão clara, Han Yan não pôde fingir que não sabia. Ela já sabia há muito tempo que Fu Yunxi partiria para a batalha, mas como poderia ser tão cedo? Não dizia que ele esperaria até depois do casamento para partir? Pensando nisso, Han Yan perguntou ansiosamente:
— Ji Lan, você sabe quando ele vai partir?
Ji Lan olhou para Han Yan, hesitante, como se tivesse medo de perturbá-la, mas teve que falar:
— É no mês que vem...
Tão cedo! Han Yan fechou os punhos, suas emoções se confundindo num instante. Talvez ela nunca tivesse pensado em como lidaria com a partida de Fu Yunxi para a guerra. Contudo, por um tempo, ela estaria em posição de total segurança. Não era essa a razão de Fu Yunxi poder partir sem preocupações? Ele confiava que ela cuidaria de tudo na mansão porque sabia que, depois de sua partida, ninguém protegeria Han Yan.
— Eu quero vê-lo. — Han Yan repetiu lenta e firmemente: — Quero vê-lo.
De fato, nunca sentira um desejo tão forte de ver Fu Yunxi. Era algo que precisava discutir com ele; precisava esclarecer muitas coisas, inclusive seus próprios sentimentos.
— Ji Lan, prepare o cavalo. — Ela se levantou, pensou por um momento e caminhou até o aparador, pegando o bordado que acabara de terminar. Os patos mandarins estavam recém-feitos; a técnica não era das mais refinadas e parecia um pouco desajeitada. Mas o par de patos mais parecia dois falcões. Seu nome estava bordado acima; ela pretendia presentear Fu Yunxi com aquele bordado, sem imaginar que logo chegaria a hora de fazê-lo.
No Palácio Xuanqing,
Fu Yunxi estava sentado em silêncio à sua escrivaninha, vestido com uma túnica longa de jade branca, segurando uma carta na mão. A caligrafia era extravagante e solta, e à primeira vista parecia difícil acreditar que pertencia a uma mulher. Era a carta que Han Yan enviara quando buscou sua ajuda pela primeira vez.
A imagem de um ganso selvagem levando uma mensagem trouxe um leve sorriso aos seus lábios. Mas logo ele realmente teria que depender dos gansos selvagens para se comunicar com Han Yan. Quem dera ela fosse como um grande ganso, o seguindo por onde fosse, sempre ao seu lado.
No campo de batalha, lâminas e lanças não tinham piedade; qualquer coisa poderia acontecer. Fu Yunxi não pôde evitar preocupar-se com os perigos que Han Yan poderia enfrentar após sua partida. As circunstâncias dela eram, na verdade, pouco melhores que as dele. Enquanto ele encarava a dura realidade do campo de batalha, pelo menos as ameaças ali eram visíveis. Os perigos invisíveis no ambiente de Han Yan eram muito mais assustadores.
Ele franziu ligeiramente a testa. A sensação de não poder proteger a pessoa que desejava cuidar era realmente dolorosa. Mas Fu Yunxi ainda era Fu Yunxi; tinha sua própria missão a cumprir. Tudo o que podia fazer era eliminar o máximo possível de obstáculos para Han Yan antes de partir, garantindo que pudesse sair sem preocupações.
— Ei. — Cheng Lei percebeu o raro momento de melancolia do amigo e provocou: — Se você vai sentir tanta falta da sua pequena Princesa, nem precisa ir. O Imperador não quer que você vá mesmo.
Era verdade; o Imperador tinha um carinho profundo por Fu Yunxi e naturalmente não queria vê-lo no campo de batalha. Infelizmente, Fu Yunxi era teimoso, e uma vez decidido, nem o Imperador conseguia fazê-lo mudar de ideia. Ele tentou dissuadi-lo daquela campanha.
Fu Yunxi balançou a cabeça:
— Eu tenho que ir.
— Poderia esperar até casar com a pequena Princesa para ir — disse Cheng Lei, mordendo o pincel. — Ir embora antes mesmo de casar? Isso não é perda?
Casamento. A expressão indiferente de Fu Yunxi mostrou um lampejo de mudança. Ele tinha pensado nisso, mas ela ainda era muito jovem, nem sequer tinha idade suficiente. Como poderia se casar com ela? Além disso, se algo acontecesse no campo de batalha, ele não poderia deixar Han Yan viver sua vida na solidão; com o temperamento de seu irmão mais velho, ela poderia acabar em uma sepultura. Ele não poderia egoisticamente empurrar Han Yan para uma situação dessas.
Cheng Lei riu:
— Você vai mesmo partir? E se minha irmã inteligente e adorável for cortejada por outro enquanto você estiver fora?
Assim que essas palavras saíram da boca, um arrepio percorreu a sala.
— Cortejada? — Os lábios de Fu Yunxi se curvaram lentamente num sorriso. Seu rosto bonito tinha uma expressão calma, mas aquela calma causava calafrios.
— Quem ousar cortejar alguém do Palácio Xuanqing estará cortejando a própria morte — respondeu friamente.
Cheng Lei não pôde evitar estremecer; a expressão de Fu Yunxi era realmente assustadora. Com sua natureza destemida e arrogante, se ele realmente colocasse os olhos em Han Yan, nove vidas não seriam suficientes para salvar quem quer que ousasse se aproximar dela. No passado, seus métodos de interrogar prisioneiros inimigos no exército só podiam ser descritos como infernais. Seria melhor para a cunhada continuar bem comportada.

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