Capítulo 115: Você Está Preocupado Comigo
De costas para Zhuo Qi, ela focava intensamente na água. Vendo que ela o ignorava, Zhuo Qi sorriu de repente, a raiva se dissipando. Aproximou-se dela e disse:
— Yi Lin Na está prestes a se tornar a Princesa Consorte de Xuanqing. Garotinha, quer vir comigo?
Han Yan ignorou completamente as provocações dele. Zhuo Qi seguiu o olhar dela, confuso:
— O que está olhando?
Ela virou a cabeça e respondeu friamente:
— Você fez eu perder meu grampo no lago.
Zhuo Qi dispensou com um gesto despreocupado:
— Ah, é só um grampo. Depois te arrumo outro. A Região Ocidental produz jades lindos...
Antes que ele terminasse, Han Yan o interrompeu:
— Eu não quero.
Zhuo Qi sentiu uma onda de raiva, mas logo viu Han Yan se agachar, tentando inutilmente pescar algo na água.
Intrigado, Zhuo Qi se agachou ao lado dela:
— É só um grampo; se perdeu, perdeu. O que você está realmente procurando?
Ignorando-o, Han Yan estava tomada por uma tristeza indescritível. Aquele grampo era um presente de Fu Yunxi. Por algum motivo, ela sentia que tinha um significado enorme. Segurar o grampo que ele dera a ela sempre lhe dava coragem para enfrentar qualquer coisa que viesse a acontecer. Agora, com essa inesperada princesa da Região Ocidental, tudo havia mudado entre eles, e o grampo afundara no fundo do lago. Isso significava que não havia mais esperança para o relacionamento dela com Fu Yunxi?
Vendo a expressão triste de Han Yan, Zhuo Qi pareceu entender algo. Falou devagar:
— Foi um presente dele?
Han Yan não respondeu. Depois de pensar um pouco, levantou-se e foi para o outro lado, procurando um galho longo e seco para mexer na água. Ela queria mesmo mergulhar para recuperar o grampo, mas com Zhuo Qi ali, como expor a pele na frente de um homem? A raiva contra Zhuo Qi crescia nela — por que ele estava sempre rondando? Não tinha coisa melhor pra fazer?
Zhuo Qi percebeu o que ela fazia e franziu a testa:
— Garotinha, que tal eu te comprar um grampo novo? Você esquece esse daí.
Ignorando-o, Han Yan insistiu em mexer na água, com os olhos fixos no lago, sem sequer olhar para Zhuo Qi. A expressão dele escureceu:
— Ele vai se casar com Yi Lin Na; por que você se importa tanto com ele? Vocês dois não têm mais nada a ver um com o outro! — A última frase quase saiu pelos dentes cerrados. Ele não sabia por quê, mas ver os sentimentos de Han Yan por Fu Yunxi despertava uma raiva profunda dentro dele. O ciúme crescia, e como alguém que sempre se considerou superior, perceber que Fu Yunxi o ofuscava lhe enchia de vergonha.
— Já chega — Han Yan falou de repente, com um tom mais frio do que nunca. Ela sempre mantivera distância de Zhuo Qi, tentando evitar qualquer envolvimento. Ignorava seus comentários anteriores como conversa fiada. Porém, quando ele disse: “Vocês não têm mais nada a ver um com o outro”, a dor no peito dela se intensificou. Será que ela realmente poderia cortar os laços com Fu Yunxi? Ela enfatizou cada palavra:
— Se eu tenho ou não algum relacionamento, não é da sua conta, Alteza. Não acha que está passando dos limites?
Os olhos verdes de Zhuo Qi, tão ferozes quanto lobos, se fixaram nela, perguntando friamente:
— Você gosta tanto assim dele?
Decidida a acabar com as esperanças dele, Han Yan respondeu:
— Eu não gosto dele.
Quando Zhuo Qi parecia relaxar, prestes a sorrir, ela continuou:
— Eu o amo.
Como esperado, a expressão dele congelou instantaneamente, os olhos fixos nela como se pudesse pular e estrangular ela a qualquer momento.
Han Yan sorriu levemente:
— É errado amar alguém? Por mais nobre que você seja, Alteza, as emoções não podem ser controladas. Caso contrário, por que a Princesa arquitetaria se casar com a família real? Se você consegue entender sua irmã, não me diga que não consegue me entender. Isso seria a maior piada do mundo.
Os lábios dela se curvaram num sorriso zombeteiro. Zhuo Qi percebeu que, sempre que Han Yan ficava brava, seu tom virava sarcástico e leve; quanto mais despreocupadas as palavras, mais dolorosas eram. Em poucas frases, ele sentiu um desconforto que nunca conhecera. Aquela garota, que mal parecia feminina, tinha um talento natural para provocá-lo com facilidade.
— Mesmo que ele vá se casar com Yi Lin Na, você não o odeia? Ainda o ama? — ele rosnou pelos dentes cerrados.
— Não há amor, então como haveria ódio? — respondeu Han Yan. — Amor e ódio não são contraditórios, certo? Mesmo que eu o odiasse, seria porque o amo. Se vamos falar de ódio, eu odeio quem cobiça o que é dos outros. Por melhor que seja o que alguém tem, ainda é deles. Se você toma, é só um ladrão.
Suas palavras tinham um significado mais profundo, acusando abertamente Yi Lin Na de cobiçar o marido alheio, rotulando-a como ladra de sentimentos, enquanto criticava indiretamente a Região Ocidental, sempre cobiçando o Da Zhong e causando confusão.
— Você... — a expressão de Zhuo Qi mudou. Ele até suportava comentários sobre ele e Yi Lin Na, mas as referências repetidas de Han Yan à Região Ocidental o enfureciam particularmente, e ele tinha dificuldade para rebater. Aquela garota era realmente afiada, e ele nunca conseguira levar a melhor sobre ela. O rosto dele ficou pálido:
— E daí? Seu grampo já caiu no lago. O que você pretende fazer?
Han Yan olhou para ele friamente:
— Estou esperando Sua Alteza, o Príncipe, ir embora. Assim que você sair, eu entro na água para recuperar.
Aquele grampo caiu à beira do lago, onde a água não é funda — ela achava que talvez ainda pudesse encontrá-lo.
— Você está louca? — Zhuo Qi olhou para ela surpreso. — Como pode...?
Embora Zhuo Qi não viesse de uma família influente, ele sabia um pouco sobre a conduta esperada de uma nobre. Uma dama de família prestigiosa, tomando a iniciativa de pular no lago por um grampo? A água é fria, e se algo acontecer...
— Quem disse que é da sua conta? — a paciência de Han Yan estava no limite; ela o olhou com certa irritação. — Quando Sua Alteza vai embora?
Em vez de se irritar, Zhuo Qi sorriu. O nível de preocupação de Han Yan por aquele grampo estava além do que ele esperava. Quando ela disse que entraria na água, uma parte dele admirou sua coragem. Mulheres nobres normalmente eram tão delicadas; ele só tinha encontrado mulheres tímidas e recatadas desde que chegara. A franqueza de Han Yan lhe lembrava um pouco as mulheres da tribo da Região Ocidental. Por outro lado, ele sentiu uma pontada de ciúmes — não era por ele que ela se esforçava, mas por outro homem.
— E se eu não for embora? — Zhuo Qi riu. — Isso significa que você não pode entrar na água pelo seu grampo?
Ele estava decidido a não deixar que ela o encontrasse, por razões pessoais e práticas. Não queria que Han Yan corresse riscos nem descobrisse algo relacionado a Fu Yunxi. Com ele ali, Han Yan jamais pularia — senão, se ele visse o corpo dela, ela certamente ficaria perto dele. Isso até seria bom, mas Zhuo Qi sabia bem que ela não mergulharia com ele por perto. Ela fazia tudo para evitar qualquer ligação com ele.
Han Yan se virou para encará-lo.
— Se Sua Alteza quer admirar a paisagem aqui, tudo bem, eu posso esperar. Você vai embora eventualmente, e aí eu entro.
Zhuo Qi foi pego de surpresa pela resposta dela; o tom dele mudou:
— Você é mesmo tão teimosa?
Han Yan sorriu levemente:
— Vale a pena.
O tempo passou. O grampo talvez não se mexesse, mas a água fluía, podendo levá-lo para o centro do lago. Zhuo Qi observava Han Yan, esperando ver um sinal de medo ou hesitação no rosto dela, mas se decepcionou. Han Yan encarava calmamente o fundo do lago, com expressão firme — e era essa calma que a fazia parecer tão determinada.
Essa mulher é realmente notável.
De repente, Zhuo Qi caiu na risada e se levantou, indo em direção ao lago. Han Yan se assustou e gritou:
— O que você está fazendo?
Zhuo Qi virou-se para ela:
— Estou de bom humor hoje, então vou ajudar você a encontrar seu grampo.
Dito isso, ele pulou na água gelada. Han Yan ficou boquiaberta, levantando-se em choque, mas a superfície do lago estava lisa como um espelho — nada havia ali.
Por mais que não gostasse de Zhuo Qi e da arrogante irmã dele, Han Yan não conseguia afastar a preocupação. O lago estava vazio, e Zhuo Qi não era uma pessoa comum; se algo acontecesse com ele, a Região Ocidental poderia reagir, o que seria muito ruim para Da Zhong. Além disso, a posição atual dele não era hostil a Da Zhong; havia uma aliança matrimonial. Se algo acontecesse a um diplomata, poderia causar sérios problemas.
— Zhuo Qi! — Han Yan correu para a beira do lago e gritou. — Zhuo Qi!
O lago continuava imóvel, e Han Yan sentia ansiedade. Perguntava-se se Zhuo Qi sabia nadar — não poderia ter se afogado, seria? Seu coração disparava; ali estavam só os dois. Ela não sabia onde Ji Lan e Shu Hong estavam, sentia-se impotente.
— Zhuo Qi, se você está me assustando, vou tratar você como príncipe de um império inimigo e ignorar — ela chamou baixinho, esperando ver sua silhueta. Mas a superfície da água não mostrava sinal algum de mudança. Nem um bom nadador ficaria tanto tempo submerso sem emergir; ele devia estar em perigo.
Desesperada, gritou:
— Zhuo Qi!
Então, mordendo o lábio, preparou-se para pular ela mesma.
Nesse instante, uma figura de repente irrompeu da água — Zhuo Qi, rosto encharcado, sorria marotamente:
— Você está preocupada comigo!
Capítulo 116: Devolvendo-o
Han Yan ficou momentaneamente atônita, soltou um suspiro de alívio e logo em seguida ficou irritada.
— Você me enganou!
Zhuo Qi sacudiu a cabeça para espantar as gotas d’água e nadou lentamente em direção a Han Yan, sem dizer nada, apenas sorrindo. O olhar dele deixava Han Yan um pouco inquieta. Finalmente, ao chegar à margem, Han Yan ajudou a puxá-lo para fora da água enquanto resmungava friamente:
— Imaturo.
Zhuo Qi parecia gostar da repreensão dela. Olhando para Han Yan, ele disse de repente, com um tom levemente culpado:
— Desculpe, mas eu não achei o grampo.
— Se você achou ou não, isso não importa — respondeu Han Yan. — Nunca foi da sua conta.
Ainda assim, a decepção na voz dela era evidente. Zhuo Qi franziu a testa e, inesperadamente, mexeu atrás das costas, revelando o brilhante grampo azul em forma de rabo de peixe, firmemente segurado em sua mão. Assim que Han Yan o viu, ficou radiante e rapidamente o pegou. Embora Zhuo Qi sentisse um leve desconforto ao ver a felicidade dela, logo sorriu.
— Eu achei esse grampo para você. Como vai me agradecer?
Mesmo sem gostar muito de Zhuo Qi, Han Yan ficou feliz que ele tivesse encontrado o grampo. Ele não era tão insuportável quanto Yi Lin Na. Mesmo assim, ela fez cara séria e disse:
— Esse grampo caiu no lago por sua causa, então é justo que você tenha que recuperá-lo. Eu não estou fazendo alarde — isso já é generosidade da minha parte. Por que eu deveria te agradecer?
Zhuo Qi a olhou incrédulo. Han Yan geralmente era composta e digna diante dele, e apesar de, às vezes, mostrar certa astúcia, aquela era a primeira vez que ele a via ser tão irracional. Estranhamente, ele achou aquilo encantador. Caiu na risada, mas, assim que fez isso, sua expressão mudou de repente, e seu rosto ficou pálido.
Han Yan percebeu a mudança de cor e ficou momentaneamente surpresa. Então viu uma mancha vermelha conspícua sob as roupas encharcadas de Zhuo Qi — era claramente sangue, e ele estava escorrendo. O que estava acontecendo? Será que o príncipe da Região Ocidental estava ferido? Teria ele aberto uma ferida ao mergulhar para buscar o grampo dela, e agora estava sofrendo?
— O que aconteceu com você? — perguntou Han Yan. Ela não esperava enfrentar tantas situações inesperadas naquele dia, e agora Zhuo Qi estava em apuros — seria ela envolvida nisso?
Ao ver a expressão ansiosa de Han Yan, Zhuo Qi pareceu estranhamente satisfeito e falou devagar:
— Você está preocupada comigo.
O tom dele era diferente, tenso e forçado, como se estivesse lutando para se manter firme, suprimindo a dor. Han Yan olhou para baixo e viu a ferida na cintura dele — parecia grave, o sangue aumentava, misturando-se com a água do lago e tingindo grande parte das roupas de vermelho. Qualquer um que visse aquela cena sangrenta ficaria assustado. Han Yan suspirou:
— O que diabos há com você?
— Não pode ser um pouco mais gentil comigo? — Zhuo Qi sorriu. Era impressionante que ele ainda conseguisse sorrir naquela situação, e Han Yan não pôde deixar de admirá-lo um pouco.
Zhuo Qi disse:
— Me machuquei; minha ferida reabriu quando entrei na água agora há pouco.
— Se você está ferido, por que faz pose de durão? — Han Yan falou com irritação. Zhuo Qi era do tipo que arrumava encrenca para si mesmo, e aquela situação era realmente irritante.
Zhuo Qi olhou para ela e sorriu levemente:
— Não tenha medo, estou bem.
Ainda assim, ele praticamente se apoiava em Han Yan, e ela sentia seu tremor e fraqueza. Ficava claro que Zhuo Qi suportava uma dor indescritível, mas mesmo naquele momento tentava consolá-la, o que amoleceu um pouco o coração de Han Yan.
— O que vamos fazer agora? — Han Yan o apoiava. — Se você não fizer um médico olhar essa ferida rápido, pode dar problema sério.
Em sua vida anterior, Han Yan sabia que muitas doenças persistentes vinham de não cuidar da saúde a tempo. Zhuo Qi tinha perdido muito sangue; se um médico não chegasse logo, provavelmente haveria complicações graves.
Zhuo Qi ficou em silêncio por um momento.
— Você pode me levar de volta para a estalagem?
Han Yan ficou surpresa.
— O quê?
— Me leve de volta para a estalagem — disse Zhuo Qi. — Não consigo voltar sozinho agora. Se quiser me ajudar, encontre uma carruagem e chame um médico.
Han Yan ficou um pouco desagradada; aquilo não era algo que ela deveria fazer. Na verdade, pensava que nem conhecia direito Zhuo Qi. Sempre que ele aparecia, dava problema para ela. Agora que ele estava em apuros, não deveria ser responsabilidade dela ajudá-lo. Ela olhou para Zhuo Qi e falou:
— Você só pode estar brincando. Cadê seus subordinados? Você é um príncipe da Região Ocidental; com certeza consegue alguém para servi-lo, não?
Zhuo Qi sorriu fracamente diante das palavras dela. Esse sorriso não era o charme habitual nem a postura dominante dele; carregava uma pitada de sarcasmo e tristeza, e não havia emoção na voz.
— Você acha que pessoas da Região Ocidental podem aparecer abertamente diante do povo comum? Você acha que um príncipe da Região Ocidental viria a Da Zhong sem motivo? Quanto mais pessoas souberem minha identidade, mais em perigo eu fico.
Han Yan ficou atônita. Ela lembrou da suspeita que teve antes, de que Zhuo Qi estava sendo caçado por pessoas da Região Ocidental, e sentiu uma pontada de simpatia. O atual imperador da Região Ocidental não era Zhuo Qi, mas ele ainda era um príncipe, o que naturalmente o colocava em risco de perseguição para garantir sua segurança. Mesmo em Da Zhong, havia ameaças invisíveis entre o Sétimo Príncipe e o Príncipe Herdeiro. Fazer parte da família real significava, intrinsecamente, falta de liberdade. Os de fora só viam a imensa riqueza, mas os envolvidos sabiam o quão afiada e dolorosa ela podia ser.
Ao ver a expressão de Han Yan, ele forçou um sorriso difícil.
— Mas essa é a primeira vez que eu revelo minha identidade para você de forma voluntária.
Percebendo que estava cada vez mais difícil para ele falar, Han Yan entendeu que tudo o que havia acontecido naquele dia era culpa dela. Se não tivesse ido procurar aquele grampo, Zhuo Qi não teria pulado no lago, sua ferida não teria reaberto, e esse problema todo não teria acontecido. Ele nunca lhe havia feito mal; se sua antipatia vinha por causa de Yi Lin Na, isso não seria precipitado demais? Mais importante ainda, as palavras que Zhuo Qi acabara de dizer haviam tocado profundamente Han Yan. Ela sabia como era a sensação de estar completamente sozinha, sem poder confiar em ninguém. Em sua vida anterior, ela se sentira assim — lutando em meio às dificuldades, tendo uma família que mais parecia ausente, e os que a machucavam geralmente eram justamente os mais próximos.
Ver Zhuo Qi era como enxergar uma versão diferente de si mesma. Han Yan se perguntou se poderia se tornar alguém em quem Zhuo Qi pudesse confiar, já que confiança era algo precioso para alguém como ele. Se essa confiança não fosse retribuída, poderia ser devastadora. Ela havia renascido, mas Zhuo Qi não tivera essa chance.
Ela se levantou, encarou Zhuo Qi com um olhar carregado de sentimentos complexos por um longo tempo, e por fim assentiu suavemente.
— Tudo bem.
Os olhos de Zhuo Qi se iluminaram na mesma hora, e ele abriu um sorriso para Han Yan. Aquele sorriso era puro e radiante, repleto da alegria de ter alguém disposto a ajudá-lo. Naquele momento, Zhuo Qi parecia uma criança. O coração de Han Yan amoleceu involuntariamente, e ela o ajudou a se levantar.
— E Ji Lan e Shu Hong? — perguntou ela.
Zhuo Qi hesitou por um instante.
— Estão ali; eu os imobilizei.
Han Yan lançou-lhe um olhar fulminante, e Zhuo Qi desviou o olhar.
Após encontrarem Ji Lan e Shu Hong, Zhuo Qi liberou os pontos de acupuntura que havia pressionado. Ji Lan correu imediatamente até Han Yan.
— Senhorita, você está bem? Ele te machucou?
Han Yan balançou a cabeça.
— Vá buscar uma carruagem; precisamos levá-lo de volta.
— Hein? — Shu Hong olhou surpresa para Han Yan e depois para Zhuo Qi, percebendo que ele se apoiava pesadamente nela e estava muito pálido, como se estivesse ferido. Enquanto ela e Ji Lan conversavam, de repente tiveram os pontos de acupuntura selados. Shu Hong ficou extremamente preocupada, temendo que Han Yan tivesse se deparado com um homem perigoso. Agora que via que ela estava bem, respirou aliviada. No entanto, a aparência de Zhuo Qi as deixava desconfiadas; devia ter sido ele quem as havia imobilizado. Qual era exatamente sua relação com Han Yan? Por que ela parecia tão ansiosa com o ferimento dele?
Shu Hong e Ji Lan já tinham visto Zhuo Qi algumas vezes e sabiam que sua relação com Han Yan não era amistosa — ele até havia ameaçado ela na primeira vez em que se encontraram.
Han Yan não tinha tempo para explicar nada. Disse apenas:
— Ele está ferido; não podemos simplesmente deixá-lo. Ji Lan, vá buscar uma carruagem.
Ji Lan ficou paralisada por um momento; embora ainda confusa, rapidamente saiu para procurar uma. Apenas Shu Hong permaneceu ao lado de Han Yan, lançando olhares desconfiados a Zhuo Qi. Ele estava cada vez mais fraco; inicialmente ainda conseguia trocar algumas palavras com Han Yan, mas agora havia ficado em silêncio. Quando a carruagem chegou, Han Yan ajudou Zhuo Qi a subir nela e também se acomodou, partindo em direção à estalagem que ele havia mencionado.
No caminho, Zhuo Qi permaneceu encostado silenciosamente na parede da carruagem, de olhos fechados. Esse lado raro e silencioso dele se revelou diante de Han Yan. Ela o olhou de soslaio e viu que ele franzia levemente a testa; mesmo dormindo, parecia inquieto. Han Yan se lembrou de Fu Yunxi, que também tinha o hábito de franzir levemente a testa. Ela se perguntou com que tipo de angústia ele estaria lidando.
Perdida em pensamentos, logo a carruagem parou em frente à estalagem. Han Yan ajudou Zhuo Qi a entrar em um dos quartos e pediu que Shu Hong fosse chamar um médico. Felizmente, os três haviam saído usando véus, então ninguém viu seus rostos. O médico chegou rapidamente, examinou o pulso de Zhuo Qi e escreveu uma receita. Descobriu-se que, além de um grave ferimento na cintura, Zhuo Qi também estava envenenado. Embora parte do veneno já tivesse sido retirada antes, ainda havia resquícios em seu corpo, e, após ter se molhado naquele dia, sua condição piorou.
Depois que o médico partiu, Ji Lan e Shu Hong foram preparar a medicina para Zhuo Qi, enquanto Han Yan ficou com ele no quarto. A essa altura, Zhuo Qi já havia caído em coma. Han Yan olhou ao redor — era um quarto muito simples, nada luxuoso como os aposentos típicos da nobreza, cheio de itens comuns e sem graça. Só de olhar, ninguém imaginaria que ali residia um Príncipe da Região Ocidental.
Capítulo 117: Passando a Noite Juntos
Han Yan estava prestes a se levantar para servir uma xícara de chá, sentindo certa sede depois de toda a agitação. No instante em que fez menção de se erguer e ainda não havia dado um passo, sua mão foi subitamente agarrada por alguém. Han Yan se assustou e se virou para ver Zhuo Qi segurando-a com força, murmurando:
— Não vá.
Han Yan franziu o cenho e tentou se soltar, mas o aperto de Zhuo Qi era firme. Um homem adulto superava facilmente a força de uma jovem frágil como ela. Incapaz de se libertar, ela ouviu Zhuo Qi murmurar mais uma vez:
— Pai...
Ele a chamou de pai, não de pai imperial, o que deixou Han Yan momentaneamente atônita. Viu Zhuo Qi com os olhos fechados com força e as faces coradas, segurando sua mão. Naquele momento, ele abandonava toda sua postura agressiva e parecia apenas uma criança indefesa, repleta de dependência. Han Yan mergulhou em pensamentos.
Aquele homem não era tão ruim quanto ela imaginava. Pelo menos, após o primeiro encontro, ele não havia feito nada para feri-la. Na verdade, tinha até se ferido por causa dela. Qual era o propósito por trás de sua insistência em permanecer por perto? Han Yan ainda não podia dizer com certeza. No entanto, havia uma coisa que podia afirmar: por ora, ele não era seu inimigo.
Mas isso não significava que Han Yan fosse poupá-lo. Afinal, Yi Lin Na era sua irmã, e essa Yi Lin Na havia usurpado seu lugar, o que tornava ambas rivais. Se ele queria proteger Yi Lin Na, então ela também não iria recuar. Com um movimento brusco, Han Yan puxou a mão de volta. No instante em que Zhuo Qi a soltou, sua expressão, mesmo inconsciente, se tornou abatida.
Han Yan não sentiu piedade alguma; apenas se sentou à mesa. Os acontecimentos daquele dia haviam se desenrolado de forma repentina demais, e o problema mais urgente agora era que já havia anoitecido, e ela não podia simplesmente abandonar Zhuo Qi. Se confiasse a ele os cuidados de outra pessoa, não ficaria tranquila. Se Zhuo Qi fosse uma pessoa comum, talvez fosse mais fácil, mas ele era um Príncipe da Região Oeste. Quanto mais pessoas soubessem de sua identidade, maior o perigo para ele. Do mesmo modo, aqueles que soubessem poderiam acabar sendo silenciados; Han Yan não permitiria que uma pessoa inocente perdesse a vida por sua causa.
Uma jovem senhorita passando a noite com um homem estranho... mesmo que nada acontecesse, quem acreditaria nisso? Se a história se espalhasse, mesmo que Han Yan quisesse assegurar sua posição como Princesa Consorte de Xuanqing, isso seria posto em risco. Felizmente, além dos dois, apenas Ji Lan e Shu Hong sabiam, e elas certamente não comentariam nada. Ninguém saberia onde ela passou aquela noite. Mas... será que Fu Yunxi se preocuparia se soubesse que ela não voltou a noite inteira?
E seria mesmo assim tão simples? Será que ninguém descobriria o que aconteceu naquela noite?
Do lado de fora, Ji Lan e Shu Hong preparavam a medicina. Ji Lan, vigiando a panela no fogareiro enquanto abanava o fogo, não conseguiu conter-se e perguntou:
— Shu Hong, por que você acha que a Jovem Senhorita fez isso?
Ji Lan não conseguia compreender os acontecimentos daquele dia. Han Yan e Zhuo Qi não eram exatamente amigos, mas por alguma razão, Zhuo Qi havia se ferido. Ji Lan não acreditava que Han Yan o tivesse machucado de forma tão grave. No entanto, Han Yan sempre fora uma pessoa racional; no passado, teria mantido distância em situações assim, evitando qualquer envolvimento com Zhuo Qi. Mas naquele dia, suas ações surpreenderam a ambas—ela não apenas chamou um médico para cuidar de Zhuo Qi, como também decidiu permanecer e cuidar dele pessoalmente.
De repente, uma expressão de pânico cruzou seu rosto, e ela se voltou para Shu Hong, sussurrando:
— Shu Hong, será que a Jovem Senhorita... gosta dele?
Shu Hong lançou-lhe um olhar reprovador.
— Não diga essas coisas.
Isso não era algo para se dizer levianamente; se caísse nos ouvidos de alguém com más intenções, Han Yan estaria em apuros. Apesar de Han Yan carregar o título de esposa rejeitada, os sensatos sabiam que ela não tinha culpa—havia sido injustiçada pela Princesa da Região Oeste, e o Príncipe Xuanqing também estava errado. Mesmo que o Imperador emitisse um decreto para afastá-la, ela provavelmente receberia alguma compensação, pois não havia cometido erro algum. Mas se, como Ji Lan sugeria, Han Yan realmente gostasse de Zhuo Qi e isso se tornasse público, a situação seria diferente. A sociedade tende a ser indulgente com os homens, mas cruel com as mulheres.
Assim, quando Fu Yunxi retornasse vitorioso, com a intenção de se casar com a Princesa da Região Oeste e negligenciar Han Yan, isso seria aceito. As pessoas talvez até sentissem pena de Han Yan por um tempo, mas anos depois, quem ainda se lembraria dela? Era até possível que surgissem histórias sobre o profundo amor entre o grande Príncipe e a Princesa da Região Oeste. Mas se os sentimentos de Han Yan por Zhuo Qi fossem revelados, o que diriam?
Diriam que a filha da família Zhuang não cumpria os deveres de uma esposa, que mesmo sendo parte de outra casa, se envolvia em relacionamentos secretos, agindo de forma indecorosa e impura. Sua reputação seria vista como corrupta e desprezível; onde quer que fosse, seria alvo de escárnio e zombaria, sem conseguir erguer a cabeça pelo resto da vida. Todos diriam que Fu Yunxi fez bem em escolher a Princesa da Região Oeste, e que Han Yan merecia ser expulsa. O Imperador não só se recusaria a recompensá-la, como a veria como alguém que manchou a reputação da família imperial, possivelmente até ordenando punição contra ela. Ela seria um bode expiatório para as massas.
Depois que Shu Hong disse tudo aquilo, Ji Lan percebeu que havia sido precipitada e logo se arrependeu, sentindo-se desanimada. No entanto, quanto mais pensava no assunto, mais sentia que sua perspectiva fazia sentido. Afinal, Zhuo Qi era, de fato, um homem excepcional. Não apenas era bonito e habilidoso nas artes marciais, como seu status como Príncipe da Região Oeste também era bastante relevante. Ele poderia até se tornar rei da Região Oeste no futuro. Embora a Região Oeste tivesse sido hostil com Da Zhong no passado, com o recente casamento de aliança, os conflitos abertos deveriam ser evitados por ora. Ji Lan tinha a sensação de que a postura e o porte de Zhuo Qi indicavam que ele não era alguém comum; ele talvez alcançasse grandes feitos no futuro. Se fosse o caso, estar ao lado de Han Yan tornaria a Região Oeste ainda mais formidável.
À medida que Ji Lan refletia, sua convicção se fortalecia, e ela começou a achar que os sentimentos de Han Yan por Zhuo Qi eram justificáveis. Para ser sincera, a mudança drástica de atitude de Fu Yunxi em relação a Han Yan as havia magoado profundamente, como criadas leais. Ambas sabiam o quanto Han Yan sofrera desde a infância. Ji Lan acreditava que Fu Yunxi era alguém que realmente se importava, e ficou chocada ao vê-lo oferecer um presente tão extravagante à Princesa da Região Oeste na cerimônia de maioridade de Han Yan. Não sabia como Shu Hong se sentia, mas, desde aquele momento, Ji Lan carregava um profundo sentimento de injustiça em nome de Han Yan, e seu coração se encheu de raiva pela frieza de Fu Yunxi. Agora que um homem tão notável havia surgido na vida de Han Yan, Ji Lan desejava nada mais do que vê-la com ele, como uma forma de ferir o orgulho de Fu Yunxi.
Ji Lan era diferente de Shu Hong. Sempre fora ousada e direta; suas ações e pensamentos muitas vezes beiravam a audácia. Por isso, ela não compartilhava da crença convencional de que uma mulher devia guardar sua pureza por um homem, tampouco aceitava que mulheres precisassem suportar em silêncio os maus-tratos masculinos. Ela acreditava que a felicidade estava em suas próprias mãos, e que, se houvesse uma escolha melhor, só uma tola não a aproveitaria.
Shu Hong talvez tivesse captado o que Ji Lan estava pensando, pois logo disse:
— A medicina está pronta. Vamos levá-la logo.
Quando Ji Lan e as outras trouxeram o remédio e o deram a Zhuo Qi, Han Yan estava sentada à mesa tomando chá. Shu Hong se aproximou e perguntou:
— Jovem Senhorita, já está tarde... — dando a entender se deveriam ou não retornar ao Palácio Xuanqing.
Han Yan balançou a cabeça:
— No estado em que ele está, não pode sair. Ele se feriu por minha causa, então vamos passar a noite aqui.
Shu Hong franziu levemente o cenho, demonstrando reprovação:
— Mas ele é um homem...
— E daí? — Han Yan riu. — Com a condição em que está, o que poderia acontecer?
Shu Hong insistiu:
— Por que não procuramos outro quarto para ficarmos?
— Não é necessário — respondeu Han Yan. — A identidade dele é especial, e com certeza há pessoas na capital procurando por ele. Entramos juntos aqui. Se formos buscar outro quarto e chamarmos atenção, aumentamos as chances de sua identidade ser descoberta.
— Mas... — Shu Hong ainda queria dizer algo.
— Além disso — Han Yan a interrompeu —, do jeito que ele está, como poderíamos deixá-lo? Vamos considerar isso como um favor retribuído. Se o encontrarmos novamente no futuro, o trataremos como um estranho.
— A senhorita tem razão — disse Ji Lan. — Não temos nada a temer enquanto agirmos com retidão. Não fizemos nada de errado. — Ji Lan já estava do lado de Zhuo Qi; ele era muito melhor que Fu Yunxi. E embora também fosse perigoso, pelo menos não havia feito mal a Han Yan.
Vendo que não conseguiria convencê-la, Shu Hong entendeu que Han Yan já havia tomado sua decisão. Não havia como fazê-la mudar de ideia, então suspirou e se calou.
Han Yan então foi até a janela, sentou-se e abriu a esquadria de madeira entalhada, olhando para a lua crescente acima do salgueiro, mergulhada em pensamentos.
Por que decidiu ficar? Han Yan também não sabia. Entendia que os argumentos de Shu Hong faziam sentido; se voltasse agora, ainda haveria tempo—certamente seria melhor do que não voltar. Se realmente não conseguisse sossegar o coração, poderia ter deixado Ji Lan ou Shu Hong para cuidar de Zhuo Qi. E ainda assim, ela escolheu ficar. Na verdade, se fosse apenas para retribuir um favor, não precisava ser daquela forma.
Talvez, no fundo, Han Yan simplesmente não quisesse voltar ao Palácio Xuanqing. Aquele lugar, que antes lhe trouxera calor, agora transbordava opressão. Por mais que fingisse não se importar, a dor no coração era dela e de mais ninguém. Será que, nesta noite, Fu Yunxi também estaria olhando para a lua crescente... pensando nela?
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