Capítulo 121: Quero Voltar
Lin Lang encarava Han Yan, atônita, de repente percebendo que não conseguia responder à mulher diante dela. Não importava o que dissesse, Lin Lang não conseguia refutar nenhuma de suas palavras. Aquela pessoa, que sempre parecera quieta e submissa, que nunca demonstrava raiva, de fato não estava com raiva. Lin Lang pensara que essa mulher de Da Zhong era fácil de intimidar ou queria manter a paz, mas agora percebia que estava errada — Han Yan simplesmente não se dava ao trabalho de se incomodar com elas porque as desprezava.
— Levem-na e punam-na — disse Han Yan friamente, virando-se de costas.
Duas mulheres robustas avançaram, agarrando Lin Lang e empurrando-a sobre o banco. Os dois servos que seguravam as tábuas hesitaram e olharam para Mu Feng. Todos sabiam que aquela era a criada da Princesa da Região Ocidental, e a Princesa estava destinada a se tornar a futura esposa do Príncipe Xuanqing. Se fizessem dela uma inimiga agora, talvez pagassem caro depois, caso a Princesa resolvesse retaliar... Mu Feng lançou-lhes um olhar feroz:
— Estão olhando o quê? Apenas façam.
Um dos servos rangeu os dentes e desceu a tábua com um sonoro estalo.
Lin Lang soltou um grito agudo e dilacerante. Ninguém na Região Ocidental jamais ousara tratá-la daquela maneira. Como criada pessoal de Yi Lin Na, era geralmente bajulada por todos e nunca imaginou que sofreria tal castigo físico. E tudo aquilo começara com uma palavra imprudente dirigida a Han Yan. Ela nunca imaginou que Han Yan realmente a puniria. Será que ela não tem medo de ofender a Princesa?
Han Yan olhava para Lin Lang com um leve sorriso, seu olhar profundo e silencioso, claramente transmitindo: Agora você sabe que eu estava falando a verdade.
Após vários golpes, os gritos de Lin Lang ecoavam como os de um porco sendo abatido — extremamente lastimáveis. Era impossível não ouvir tais clamores, e os que estavam no estúdio certamente não deixariam de notar. De fato, houve um rangido repentino quando a porta do estúdio se abriu e Yi Lin Na saiu.
— Zhuang Han Yan, você é muito ousada! — Yi Lin Na caminhou até Han Yan, com o semblante carregado.
Han Yan sorriu levemente.
— Princesa, está me elogiando. Sou bastante medrosa; caso contrário, teria entrado lá mais cedo.
Yi Lin Na captou a insinuação nas palavras dela e respondeu com arrogância:
— E daí? Eu estava compartilhando assuntos confidenciais com o Príncipe no estúdio. Como uma estranha, você naturalmente não pode entrar. Está achando que a residência do Príncipe Xuanying é um lugar onde pode entrar quando quiser?
Han Yan não franziu a testa nem rebateu, mantendo um sorriso calmo e impecável — e, ainda assim, Yi Lin Na sentiu uma leve indiferença. Incomodada, franziu as sobrancelhas e apontou para um dos servos:
— Pare imediatamente!
O servo olhou, constrangido, entre Han Yan e Yi Lin Na. Não podia se dar ao luxo de ofender nenhuma das duas, mas Han Yan já tivera uma posição especial no coração do Príncipe. Embora não entendesse por que as coisas tinham mudado dessa vez, estava claro pela expressão do Príncipe que ele ainda se importava com Han Yan. E se ela voltasse a subir na hierarquia...?
Han Yan tornou a sorrir.
— Pode parar.
O servo suspirou de alívio, lançando a Han Yan um sorriso agradecido. Ao ver isso, a raiva de Yi Lin Na só aumentou. Ela se considerava a verdadeira dona da residência do Príncipe Xuanying, mas os servos constantemente a lembravam — de forma consciente ou inconsciente — de que Han Yan era a verdadeira Princesa Consorte. Yi Lin Na sabia que Han Yan havia vivido ali por um ano inteiro, o que lhe permitira formar laços com a criadagem. Isso era uma péssima notícia para Yi Lin Na. Uma vez que Han Yan estivesse estabelecida no coração dos servos, como Yi Lin Na poderia conquistar seu respeito como futura senhora da casa? Eles sempre veriam Han Yan como a verdadeira Princesa Consorte, e ela, Yi Lin Na, pareceria insignificante. O respeito do servo por Han Yan apenas alimentava sua inveja e ressentimento.
— Zhuang Han Yan, como ousa bater na minha criada?! — exigiu Yi Lin Na. Lin Lang era sua, e Han Yan bater nela bem diante dela era como receber um tapa no rosto. Originalmente, ela havia deixado a porta fechada de propósito para arrastar Fu Yunxi à cena e humilhar Han Yan. Mas quem poderia prever que Han Yan ousaria bater em sua criada à vista de todos? Se ela não saísse, pareceria fraca e fácil de intimidar. Mais ainda, Yi Lin Na tinha ouvido as palavras anteriores de Han Yan; ela zombara da Região Ocidental e a insultara diretamente, desprezando-a no fundo do coração. Para alguém como Yi Lin Na, acostumada a se sentir superior, isso era intolerável. Agora, pretendia usar o incidente para envergonhar Han Yan.
Han Yan arqueou uma sobrancelha.
— Vossa Alteza talvez não saiba, mas essa criada, aproveitando-se de sua proximidade, tem um caráter desprezível, espalha boatos e até me caluniou diante de você, alegando que estava apenas obedecendo às suas ordens. É costume do povo da Região Ocidental agir assim? Eu creio que não. Deve ser essa serva perversa tentando incriminá-la, por isso tomei a liberdade de dar-lhe uma lição.
Ela transferiu toda a culpa para a criada com total naturalidade. E o que Yi Lin Na podia fazer? Se não punisse a criada, seria como admitir indiretamente que a havia mandado causar problemas a Han Yan. Mas punir Lin Lang? Isso era absolutamente inaceitável. Cerrando os dentes, disse:
— Lin Lang jamais faria isso... você está tentando incriminá-la...
Han Yan sorriu levemente.
— Vossa Alteza está me interpretando mal. Há pouco, qualquer um no estúdio pôde ouvir minha conversa com a criada. Mesmo que o Príncipe e a Princesa não tenham escutado, não estava ali o guarda, Mu Feng? Mu Feng, eu falei alguma mentira?
Sendo chamado diretamente, Mu Feng gemeu internamente, mas só pôde endurecer a postura e responder:
— O que a senhorita Zhuang disse é verdade.
Han Yan se virou para Yi Lin Na, abrindo as mãos.
— Viu? Não estou mentindo; é a pura verdade.
Yi Lin Na de repente sentiu uma onda de impotência. Ao encarar Han Yan, percebeu que estava de mãos atadas; em termos de astúcia, simplesmente não podia competir com Zhuang Han Yan. Aquela Zhuang Han Yan era realmente formidável — aparentava ser calma e discreta, como uma serpente venenosa comum na Região Ocidental, aparentemente inofensiva, mas com uma mordida letal. Uma vez picada, não haveria esperança de sobrevivência. Han Yan era igual; uma vez que decidisse mirar em alguém, não havia volta. Sem perceber, Yi Lin Na já começava a enxergar Han Yan como uma mulher de estratégias profundas e métodos implacáveis.
O que Yi Lin Na não sabia era que a astúcia de Han Yan havia nascido do sangue e das lágrimas de sua vida passada. Cada plano que ela arquitetava era uma arma forjada através da sobrevivência feroz dentro da complexa teia de um grande clã. Para uma princesa como Yi Lin Na, criada dentro da família imperial com subordinados tramando em seu favor, uma vida tão cruel era inconcebível. Yi Lin Na conseguia ver a astúcia de Han Yan, mas não era capaz de perceber sua vulnerabilidade.
E para quem ela mostraria suas fraquezas? Han Yan sorriu de leve; desde que decidira viver melhor, também decidira esconder todas as suas fragilidades.
Yi Lin Na encarou Han Yan intensamente e, de repente, sorriu. Ela já era extremamente bela, mas sua atitude arrogante costumava esconder parte dessa beleza. Agora, ao sorrir, sua pele dourada reluzia e seus olhos, semelhantes ao vidro, cintilavam de forma cativante e sedutora.
— Eu ouvi o que vocês disseram, mas Lin Lang está certa. Fiquei sabendo que a senhorita Zhuang não voltou ontem à noite e foi vista passando a noite inteira com um homem estranho em uma estalagem.
Finalmente, ela foi direto ao ponto. Han Yan não pôde deixar de sorrir internamente, se perguntando quando é que essa Princesa da Região Ocidental tocaria nesse assunto por conta própria. Yi Lin Na estava perdendo a compostura depressa demais. Han Yan também estava curiosa para saber quem havia vazado essa informação. A princípio, pensou que fosse Zhuo Qi, mas agora parecia mais provável que fosse Yi Lin Na. Será que ela mandou alguém me seguir? Han Yan hesitou por um instante, mas logo se tranquilizou — e daí se fui seguida?
— Yi Lin Na.
Uma voz fria interrompeu.
Fu Yunxi, de alguma forma, havia saído do estúdio e agora estava diante delas, falando suavemente.
Parecia que fazia muito tempo desde a última vez que Han Yan o via. Ela o encarou e notou que sua túnica escura fazia com que sua pele parecesse ainda mais pálida. Ele parecia significativamente mais magro, com uma expressão mais indiferente em seus traços. A intervenção dele agora deixava Han Yan incerta sobre suas intenções.
Yi Lin Na ficou surpresa, franzindo o cenho, claramente incomodada com a interrupção de Fu Yunxi. Ela fez um biquinho:
— Eu não estou errada, Vossa Alteza... ela—
— Vossa Alteza — interrompeu Han Yan de repente —, já que sabe disso, também sabe que o homem com quem passei a noite é seu irmão, o Príncipe da Região Ocidental?
Diante dessa declaração, todos ficaram atônitos. Mu Feng pareceu surpreso, enquanto Yi Lin Na balançava a cabeça.
— Impossível, você está inventando...
Mas os mais calmos eram Fu Yunxi e Han Yan. Han Yan se mantinha serena porque não via problema algum em declarar esse fato, mas o desconhecimento de Yi Lin Na sobre Zhuo Qi era, no mínimo, intrigante.
O olhar de Fu Yunxi vacilou enquanto ele observava Han Yan em silêncio. Ela continuava calma, como se nada daquilo a afetasse.
— Meu irmão jamais estaria com você — disse Yi Lin Na.
— Muito simples: eu o salvei — respondeu Han Yan friamente. — Princesa, enquanto aproveita sua vida, não se esqueça de que está em Da Zhong, e qualquer coisa pode acontecer. Aqueles que hoje miram no seu irmão podem mirar em você amanhã.
Ela sorriu levemente, sua expressão serena, como se tivesse tomado uma decisão.
— E eu não vou continuar por aqui.
— O que você pretende fazer? — perguntou, de forma inesperada, Fu Yunxi, que até então permanecera em silêncio. Seus olhos estavam frios e profundos, cheios de uma emoção indescritível e inquietante.
Han Yan respondeu suavemente, com um sorriso:
— Eu vou voltar, Vossa Alteza.
Capítulo 122: Saindo da Residência do Príncipe
A expressão de Fu Yunxi mudou sutilmente enquanto ele olhava para ela sem demonstrar emoção alguma. Han Yan sorriu levemente.
— Inicialmente, planejei esperar pelo decreto imperial antes de partir, mas mudei de ideia.
Yi Lin Na ficou surpresa a princípio; ela achava que Han Yan tinha vindo causar confusão, mas, ao contrário, Han Yan propôs deixar o Palácio Xuanqing, exatamente o que ela desejava. Espantada com a disposição de Han Yan em partir, disse:
— Isso é perfeito, assim você, uma forasteira, não atrapalha meu romance com o Príncipe.
Han Yan assentiu levemente e se virou para sair. Seus passos não eram apressados nem lentos, mas muito firmes. Sua silhueta frágil parecia estranhamente decidida. Mu Feng, observando de lado, sentiu como se Han Yan estivesse saindo para sempre de suas vidas. Ele se virou para lançar um olhar a Fu Yunxi, apenas para vê-lo fixo na figura que se afastava, com uma pontada de tristeza nos olhos — tristeza que desapareceu quase imediatamente, mas que Mu Feng notou. Ele olhou para Fu Yunxi confuso, sem entender o que estava acontecendo.
Depois que Han Yan desapareceu completamente, Yi Lin Na se aproximou de Lin Lang, franzindo o cenho.
— Você é tão inútil; nem consegue lidar com uma pequena coisa e acabou dando a ela a chance de perceber sua fraqueza. Parece que você não pode mais ficar ao meu lado.
Lin Lang ficou surpreso e rapidamente implorou:
— Princesa, me perdoe desta vez! Prometo que não vou mais ousar errar.
Yi Lin Na bufou friamente e, ao ver Fu Yunxi, caminhou rapidamente até ele, entrelaçando seu braço no dele.
— Ela finalmente foi embora. Agora a residência do Príncipe pode ficar em paz.
Fu Yunxi puxou o braço, seu tom indiferente.
— Não tome as coisas nas suas mãos no futuro.
O tom dele era nada agradável, e, em um acesso de raiva, Yi Lin Na riu.
— O que quer dizer com isso? Está infeliz agora que ela se foi? Quer correr atrás dela? Afinal, ela passou a noite inteira com meu irmão. Você ainda quer uma mulher assim? Pureza e decoro não são as coisas mais importantes em seu Da Zhong...?
Ele a interrompeu antes que terminasse.
— Cala a boca.
Yi Lin Na ficou surpresa, encontrando o olhar gelado de Fu Yunxi.
— Esta residência do Príncipe não é lugar para você falar.
Ela bateu o pé, sentindo medo, mas sem vontade de ceder. Mais cedo, no estúdio, ela havia dito aquelas coisas de propósito para manter Han Yan à distância, mas, naquele momento, Fu Yunxi havia se oposto fortemente a ela. Se não fosse por isso... Se não fosse por isso... De repente, ergueu a cabeça.
— Não esqueça, se não fosse por mim... você...
— Mu Feng — Fu Yunxi a interrompeu diretamente. — Leve a princesa de volta para o quarto.
Com isso, ele sacudiu a manga e saiu.
Desapareceu tão rápido que só ficaram uma Yi Lin Na furiosa e trêmula e um Mu Feng impotente. Mu Feng agora estava ainda menos satisfeito com Yi Lin Na; o comportamento dela só traria problemas. Uma princesa delicada que não sabe o que é dificuldade não merece o príncipe. Uma jovem da família Zhuang seria muito melhor — calma e capaz, com tudo organizado. Suspirar, as pessoas realmente não se comparam.
Enquanto Han Yan partia, Ji Lan e Shu Hong terminavam de arrumar suas coisas e estavam prestes a sair do quarto. Han Yan olhou ao redor do espaço em que morara por um ano. Esse quarto parecia tão familiar e seguro, livre da maldade da madrasta ardilosa e dos motivos ocultos do pai. Ainda assim, ela nunca imaginara ter que se mudar tão cedo. Hábitos são mesmo uma coisa complicada; quando você se acostuma, é difícil aceitar mudanças.
Ji Lan observava Han Yan cautelosamente, esperando que ela mostrasse ao menos um sinal de relutância ou tristeza ao partir. Ji Lan sempre temeu ver Han Yan abalada, pois isso a faria se sentir pior que sua própria dor. Mas Han Yan simplesmente fitava tudo no quarto, parecendo nostálgica, mas sem traços de arrependimento.
Em seu coração, Shu Hong aprovava silenciosamente. Sua jovem senhora era alguém que sabia levar a vida com leveza; se algo não valia a pena, não desperdiçaria emoções. O Palácio Xuanqing, por melhor que fosse, se mudasse e não pudesse mais oferecer calor, descartá-lo não era perda alguma. A felicidade não deve vir da caridade alheia; é algo que cada um precisa buscar por si próprio.
Após um momento de reflexão, Han Yan tirou do braço a presilha azul em forma de cauda de peixe e a colocou sobre a mesa. Aquilo deveria ser devolvido a ele.
— Senhorita, vamos mesmo voltar? O mestre... — disse Ji Lan preocupada.
Todos conheciam os rumores maldosos sobre Han Yan. Como uma mulher caída, provavelmente seria alvo de desprezo ao andar pelas ruas. Zhuang Shiyang era alguém muito preocupado com sua reputação; esse incidente certamente lhe causara grande vergonha, e ele poderia odiar Han Yan por isso. Além disso, a queda da concubina e das irmãs Zhou estava diretamente ligada a Han Yan; de qualquer jeito que se olhasse, Zhuang Shiyang não tomaria partido dela. Seria como se Han Yan tivesse atormentado aquelas duas até seu fim trágico, e Zhuang Shiyang não perderia a chance de dar um golpe contra ela. Estranhos talvez não soubessem disso, mas Ji Lan e Shu Hong sabiam muito bem que Zhuang Shiyang tratava Han Yan não como filha, mas como inimiga natural. A vida na residência Zhuang não seria melhor do que no Palácio Xuanqing.
— Do que vocês têm medo? — Han Yan riu ao ver a expressão preocupada de Ji Lan. — Não temos medo daquela Princesa da Região Oeste; por que deveríamos temer ele? Afinal, o cargo oficial dele não se compara ao de uma Princesa, certo?
— Mas, Senhorita — disse Ji Lan, confusa —, você não falou que a Região Oeste era só uma nação derrotada e que a Princesa era apenas um troféu? Agora parece que está dizendo que ela é muito preciosa.
Ji Lan sempre acreditara nas palavras de Han Yan ao pé da letra, então confiou plenamente no que ela dissera antes para Lin Lang. Porém, o ditado “camelo morto é maior que cavalo” veio à mente; as palavras de Han Yan simplesmente exploravam a ignorância de Yi Lin Na e Lin Lang sobre a situação do Da Zhong. Afinal, a Região Oeste era uma nação derrotada, e Han Yan usara seus sentimentos para manipular suas percepções, fazendo-os acreditar que a Princesa da Região Oeste era insignificante. Mas eles não tinham ideia de que, na situação atual, o Da Zhong também tinha certa cautela em relação à Região Oeste. Afinal, conseguir um impasse no campo de batalha por um ano mostrava que a força nacional da Região Oeste não podia ser subestimada. A existência das alianças matrimoniais vinha do equilíbrio de poder entre as duas nações. Se o Da Zhong realmente tivesse força para derrotar completamente a Região Oeste, jamais aceitaria tal condição. Portanto, no cenário atual, o panorama maior ainda precisava ser considerado. O Imperador não poderia tratar Yi Lin Na como um mero presente de uma nação derrotada; pelo contrário, a trataria com bondade.
— Isso foi só para assustá-la — Han Yan riu. — A Princesa está muito melhor do que ele.
Han Yan já não chamava mais Zhuang Shiyang de “pai”; em parte porque ele falhara em cumprir os deveres paternos, e em parte porque ela acreditava, inconscientemente, que Zhuang Shiyang não era seu pai biológico. As pistas deixadas pela falecida A’Bi a faziam suspeitar de algo estranho. Esse pensamento a fez lembrar do lenço bordado que dera a Fu Yunxi um ano atrás. Naquela época, depois que Fu Yunxi descobriu que o lenço pertencia a alguém do Clã Tang, nada mais aconteceu. Depois, quando Fu Yunxi foi para o campo de batalha, o assunto foi se apagando da memória. Mas agora, com Fu Yunxi de volta e considerando a relação entre eles, ela temia que ele não a ajudasse a investigar o caso. Parecia que teria que fazer isso sozinha.
Mas como começar?
— Senhorita — interrompeu Shu Hong, tirando Han Yan de seus pensamentos —, vamos.
Han Yan assentiu, pegou seu embrulho e saiu primeiro. Estranhamente, não sentia tristeza. Havia muitas coisas que ela ainda não conseguia julgar naquele momento, mas uma coisa era certa: ficar parada esperando definitivamente não era do seu feitio. Se não descobrisse, o resultado de permanecer confusa provavelmente só Deus saberia.
Ao atravessar os portões do Palácio Xuanqing, Han Yan sentiu como se alguém a observasse silenciosamente por trás. Virou-se, mas não havia nada — absolutamente nada. Ji Lan e Shu Hong a olharam com expressões intrigadas, e Han Yan sorriu:
— Vamos.
Talvez fosse só imaginação dela, uma visão de alguém observando sua partida, talvez um olhar cheio de saudade que lhe deixou um gosto agridoce.
Dentro do Palácio.
O Imperador estava sentado no alto de seu trono, sua longa túnica amarela bordada com dragões dourados arrastando no chão. Comparado a um ano atrás, havia mais sinais de cansaço no rosto, e um ar pesado pairava entre as sobrancelhas, como se enfrentasse um problema complicado sem solução.
No grande salão, um general de armadura prateada ajoelhava com a cabeça baixa, em silêncio. Sem sinal de quem estava acima, não ousava se levantar, apenas permanecia ajoelhado, sem saber há quanto tempo estava ali. Finalmente, ouviu uma voz lenta de cima:
— General Cheng.
— Seu servo está aqui! — respondeu Cheng Lei respeitosamente.
O Imperador falou devagar:
— Ouvi dizer que Zhuang Han Yan deixou voluntariamente o Palácio Xuanqing.
Cheng Lei ficou surpreso.
— Tão cedo? Mas como Han Yan poderia sair por conta própria...
— Ela tem certa consciência — o tom do Imperador era difícil de interpretar como alegria ou raiva. — Achei que ela esperaria meu decreto antes de partir.
Cheng Lei permaneceu em silêncio. Na verdade, qualquer coisa que dissesse agora seria errada; só podia escutar quieto. Contudo, estava claro que o Imperador ainda não tinha terminado, pois continuou:
— O que acha que devo fazer com Zhuang Han Yan?
— Seu servo... seu servo não sabe! — respondeu Cheng Lei. Os pensamentos do Imperador eram sempre imprevisíveis, especialmente em relação ao irmão de Fu Yunxi, que nunca fora tolo.
— Não sabe? — o Imperador debochou friamente. — O Príncipe de Xuanqing não disse como devo lidar com Zhuang Han Yan?
Capítulo 123: Reinvestigação
— O Príncipe nunca me mencionou nada — respondeu Cheng Lei.
Era verdade; Fu Yunxi não tinha informado Cheng Lei sobre seus planos, então ele não fazia ideia do que estava pensando. Porém, dada a situação atual, Fu Yunxi também não devia estar se sentindo muito bem com isso. Mas como poderiam imaginar, naquela época, que tantas coisas aconteceriam depois?
O Imperador lançou-lhe um olhar, seu tom ficando sério:
— Sei que você e o Príncipe de Xuanqing sempre foram próximos. Fique de olho nos movimentos dele daqui para frente e, se acontecer algo, me avise.
Essa declaração era uma clara indicação para Cheng Lei agir como informante do Imperador. Cheng Lei não recusou nem concordou; de repente falou:
— Majestade, há algo que não sei se devo mencionar.
O Imperador olhou para ele friamente:
— Se sabe que não é apropriado, então não fale.
Vendo Cheng Lei calar-se, ele ficou um pouco irritado, pressionou a testa e disse:
— Fale!
Cheng Lei respondeu respeitosamente:
— Sim! — e continuou — Majestade está pensando no Príncipe, mas, depois de tantos anos o acompanhando, sei que seu temperamento não é fácil de controlar. Mesmo que possa ser manipulado por um tempo, no fim das contas nada neste mundo o prenderá para sempre. O que acontecerá quando ele se libertar e não estiver mais sob controle?
Foi uma observação muito sutil, como se só os dois entendessem o que estava sendo dito. Ao ouvir as palavras de Cheng Lei, a expressão do Imperador escureceu imediatamente.
— Está me questionando?
— Vosso servo não ousa — respondeu Cheng Lei.
O Imperador disse friamente:
— Isso não é da sua conta. Pode ir.
Cheng Lei mordeu o lábio.
— Sim — disse, curvando-se ao sair.
O Imperador permaneceu alto em seu trono, expressão indecifrável. As palavras de Cheng Lei não eram sem fundamento. Fu Yunxi era um homem de grandes ambições; o que neste mundo poderia realmente contê-lo? Mas ele próprio não tinha escolha — sem essa situação, Zhuang Han Yan e ele não poderiam ficar juntos. O sentimento de Fu Yunxi por Han Yan era genuíno; ela foi a primeira mulher por quem ele se apaixonara. Pessoas da realeza não deviam ser excessivamente sentimentais; se apaixonar assim nem sempre é algo bom. Ele suspirou profundamente, com um toque de melancolia nos olhos — um raro momento de vulnerabilidade para quem detinha tanto poder.
Mãe, será que o que estou fazendo é certo ou errado?
Na residência Zhuang.
O Pátio Qingqiu parecia o mesmo de antes, mas o quarto estava coberto de poeira, indicando que os servos não tinham tomado tempo para limpar; parecia um lugar completamente abandonado, ou talvez ela mesma se sentisse abandonada.
No caminho de volta, embora os servos não ousassem dizer nada abertamente, as expressões zombeteiras que lançavam a Ji Lan a deixavam muito desconfortável.
Felizmente, Zhuang Shiyang não estava em casa naquele dia; parecia que ele tinha ido visitar um colega. Isso era um tanto surpreendente, já que a carreira de Zhuang Shiyang quase fora dada como perdida há um ano, e era inesperado que um colega ainda o convidasse. A situação era realmente curiosa.
Han Yan refletiu; era coincidência demais que um colega viesse justamente quando ela retornava à residência Zhuang. Talvez ela tivesse vivido uma vida pacífica por tempo demais, quase esquecendo que havia muita gente observando-a de perto.
Depois de passar toda a tarde limpando o Pátio Qingqiu, Zhuang Shiyang ainda não havia voltado, e já era noite. Han Yan pediu que a cozinha preparasse alguns pratos simples, que ela comeu casualmente antes de levar uma cadeira de vime para fora para tomar chá.
Na verdade, não queria chá; apenas não conseguia dormir. A brisa fresca lá fora ajudava a clarear a mente. Tinha muitas coisas para fazer, e em poucos dias seria o dia em que faria uma aposta com Yang Qi. Se uma forte tempestade causasse inundações, e se Yang Qi acreditasse em suas palavras, poderia conseguir muitas informações dele.
A ordem do Imperador para casar Yi Lin Na com Fu Yunxi agora levantava muitas dúvidas. O que poderia levar um Imperador a arriscar sua confiança mudando de ideia?
Uma figura apareceu repentinamente na mente de Han Yan: a Imperatriz Viúva.
Seria o Sétimo Príncipe, desaparecido há muito tempo, o responsável por vazar informações sobre ela e Zhuo Qi?
Enquanto pensava nisso, de repente sentiu um vento forte atrás de si. No instante seguinte, uma figura familiar apareceu diante dela — Zhuo Qi, sorrindo enquanto a olhava.
— Ei, garotinha, por que voltou?
Han Yan respondeu friamente:
— Porque preciso abrir espaço para sua irmã. Se eu não voltar, como ela vai se tornar a Princesa Consorte de Xuanqing?
Zhuo Qi parecia acostumado com o sarcasmo de Han Yan e deu de ombros, despreocupado.
— Obrigado por ontem.
Ele se referia a como Han Yan o levara para a estalagem para encontrar alguém que tratasse seus ferimentos. Zhuo Qi lembrava-se de ter acordado e encontrado Han Yan dormindo, com a cabeça sobre a mesa. Ele achava que ela teria ido embora logo, já que parecia muito focada em seus objetivos, sempre capaz de avaliar os prós e contras rapidamente. Salvar ele não parecia trazer nenhum benefício, mas mesmo assim ela o trouxera de volta.
Ao longo da vida, Zhuo Qi suportara muitos ferimentos, dentro e fora do campo de batalha, causados por inimigos e amigos. Sempre conseguira resistir. As pessoas raramente notavam as cicatrizes em seu corpo; costumavam focar na aparência. Porém, sob a superfície mais polida, havia feridas escondidas.
Quando Han Yan ficou ao seu lado, Zhuo Qi sentiu um calor que não experimentava há muito tempo — desde que seu pai morrera. Han Yan era tão pequena e frágil, mas lhe dava uma sensação de segurança.
Aquele sentimento era algo que Zhuo Qi prezava, e ele não queria deixá-lo escapar.
— Toda a cidade sabe o que aconteceu ontem. Foi você? — Han Yan foi direta, cortando as conversas superficiais.
— Não fui eu — respondeu Zhuo Qi com firmeza.
Han Yan observou sua expressão e percebeu que ele não parecia estar mentindo. Assentiu, pensativa.
— Que estranho. A notícia se espalhou rápido naquele mesmo dia.
— Então você saiu do palácio? — perguntou Zhuo Qi.
— Não foi só por isso — Han Yan balançou a cabeça. — São vários fatores. Mas é verdade que essa situação surgiu por sua causa. Eu te salvei duas vezes, então você me deve dois favores.
— Na verdade, só um — Zhuo Qi sorriu para ela, encontrando seu olhar. — Eu já paguei um favor.
— Quando? — Han Yan perguntou.
— Durante o festival da primavera, quando você ficou encurralada na falésia. Eu te ajudei naquela hora, então isso conta como um favor pago, certo? — Zhuo Qi olhou para ela com um sorriso.
Han Yan ficou surpresa, mas pensou consigo mesma: então era ele. Ela sentira que alguém a ajudava nas sombras, mas achava estranho — se alguém estava ajudando, por que não se revelar? Agora fazia sentido; com a tensão entre a Região Ocidental e o Da Zong, Zhuo Qi, sendo de uma nação inimiga, não podia se arriscar a ser descoberto. Se aparecesse, poderia arrastar ela junto, com todo mundo achando que ela conspirava com a Região Ocidental.
Olhando para ele, Han Yan refletiu por um momento.
— Mesmo assim, você ainda me deve um favor, não é?
Os olhos verdes brilhantes de Zhuo Qi brilharam.
— Como quer que eu pague? Com meu corpo? — Ele não era ingênuo; as palavras de Han Yan claramente indicavam que ela queria que ele fizesse algo. A ideia de que ela tinha um motivo para salvá-lo deixou Zhuo Qi um pouco desconfortável. Porém, como ela veio até ele em vez de seus auxiliares confiáveis, parecia que ele era o único capaz de lidar com essa questão. Pelo menos ela ainda confiava nele, o que era melhor do que pedir ajuda a Fu Yunxi.
Han Yan sorriu.
— Vamos pular a parte do corpo. Preciso que me ajude a investigar alguém.
— Quem? — Zhuo Qi fixou o olhar nela.
— Essa pessoa tem o caractere “Qiao” no nome e está ligada à Seita Tang — ela disse.
Zhuo Qi ponderou por um momento antes de responder:
— A Seita Tang é uma facção de artes marciais, certo? Por que quer investigar isso?
Han Yan sorriu levemente.
— Isso é com você descobrir. Vai ajudar ou não?
Zhuo Qi deu um sorriso de canto de boca.
— Claro que vou ajudar. Mas se eu conseguir, como vai me pagar?
— Você é mesmo interessante — respondeu Han Yan. — Mesmo que consiga, isso só quita a dívida do meu favor; ficamos quites. Como ainda quer agradecimentos?
Zhuo Qi não perdeu nenhuma mudança na expressão dela, sorrindo enquanto dizia:
— Você sabe melhor do que ninguém se já quitou só um favor, garotinha. — Seu tom suavizou de repente. — Não precisa de grandes gestos de agradecimento. Nós nos ajudamos; isso nos torna amigos. O que acha disso?
A sinceridade dele era evidente. Sem o título de Príncipe da Região Ocidental, ele parecia uma pessoa comum buscando reconhecimento. Han Yan lembrou-se de como Zhuo Qi segurou sua mão na noite anterior, enquanto ela estava inconsciente, parecendo tão vulnerável. Viver sozinho nesse mundo devia ser incrivelmente difícil. Ela assentiu.
Zhuo Qi riu alto.
— Você é minha primeira amiga no Da Zong, e será minha última.
Han Yan franziu ligeiramente a testa, e Zhuo Qi continuou:
— Vou me retirar. Quer encontre algo ou não, volto em dois dias.
Depois de um instante, acrescentou:
— Tenha cuidado. Não ligue para o que os outros dizem.
Han Yan ficou surpresa enquanto ele desaparecia rapidamente no pátio. Ele realmente tratava a residência Zhuang como seu quintal, entrando e saindo como se fosse desabitada.
Shu Hong parecia intrigada.
— Por que a Senhorita deixou esse assunto com ele? Será que ela quer mesmo ser amiga dele?
— O que há de errado em ser amiga? — respondeu Ji Lan. — Ele é o Príncipe da Região Ocidental, raro por não ser arrogante — alto, bonito, gentil e atencioso. Se ele não tivesse ajudado durante o festival da primavera, quem sabe o que teria acontecido com a nossa Senhorita?
Han Yan achou engraçado; Ji Lan realmente exagerava nas qualidades de Zhuo Qi. Ela suspirou e disse:
— Eu só estava enganando ele.
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