Escritório da Prefeitura Metropolitana.
Sob a insistência de Yu Jian e sua equipe de Guardas Imperiais, a verdade do caso foi investigada minuciosamente.
— Dizem que a família Du é audaciosa — resmungou um dos guardas —, mas só ousaram vandalizar a lápide do falecido Imperador, sem tocar em mais ninguém. Dizem que são tímidos — mas chegaram até a mexer no mausoléu imperial.
Ao ver seu superior montar o cavalo às pressas, ele rapidamente chamou:
— Capitão, para onde vai?
— Suspeito que Du Qingke alimente intenções traiçoeiras. Preciso reportar isso imediatamente.
— Hoje, Sua Majestade e o Príncipe Herdeiro participam da cerimônia sacrificial do Grão no Ouvido nos arredores da cidade. A segurança está rigorosa — somos apenas humildes Guardas Imperiais. Como poderíamos ter audiência com o Imperador?
— A mensagem já foi enviada da Prefeitura Metropolitana para os Seis Ministérios. Agora, o que temos que fazer é arriscar. — Yu Jian tocou a espada na cintura. — Se der certo, será a bênção dos nossos ancestrais. Se não, será apenas uma viagem inútil. Vocês estão dispostos a correr esse risco comigo?
— Vamos nessa!
Os Guardas Imperiais montaram rápido nos cavalos. O subordinado de confiança de Yu Jian se aproximou e sussurrou:
— Capitão, algo aqui não me parece certo.
— Como assim?
— O administrador da família Du afirmou que fez tudo isso para causar problemas ao Príncipe Herdeiro durante a cerimônia de posse. Mas depois do incidente, não só o Príncipe saiu ileso, como Sua Majestade usou isso para confinar os outros príncipes no palácio.
O guarda não chegou a dizer abertamente, mas parecia menos uma armação contra o Príncipe e mais uma ajuda a ele.
O que era ainda mais estranho: depois de prenderem o administrador, a família Du não tentou recuperá-lo — nem mesmo silenciá-lo de forma permanente.
Seria essa a arrogância de uma família nobre, ou eles simplesmente desistiram?
— Alteza. — Dentro da espaçosa carruagem, Jiuzhu percebeu que ambos os lados da estrada estavam cobertos por tecidos amarelos, com guardas em posição a cada poucos passos.
Nenhum som de plebeus podia ser ouvido — só o barulho dos cascos e das rodas da carruagem preenchia o ar.
— Um silêncio tão solene é meio estranho.
— Por isso Sua Majestade raramente viaja com toda a pompa imperial — disse Yun Duqing, puxando Jiuzhu para seus braços. Ele inclinou a cabeça para falar, quase furando o queixo com o alfinete da fênix de nove caudas preso no elaborado coque dela. Virou a cabeça, sentindo saudades dos simples dois coques dela.
Jiuzhu riu, descansando a cabeça no colo dele.
— Princesa Herdeira ingrata. Quase fui furado pelo seu alfinete, e você ainda ri? — Ele observou os enfeites no cabelo dela. — Esses alfinetes são bonitos, mas poderiam facilmente matar alguém se puxados.
— Alteza, não mexa neles! São lindos — protestou Jiuzhu, protegendo os cabelos cravejados de joias —. Sua Majestade os escolheu pessoalmente para mim.
Yun Duqing suspirou por dentro ao pensar nos presentes infinitos de joias da mãe. Se isso continuasse, ele não teria ideia do que dar para Jiuzhu como marido.
— Esta é sua primeira cerimônia do Grão no Ouvido. Fique perto de Sua Majestade mais tarde — só siga o que ela fizer. — Ele levantou um pouco a cortina da carruagem. — Estamos quase chegando ao altar nos arredores.
Ao chegarem, Jiuzhu não desceu de imediato. Os sons ressonantes dos tambores e trombetas cerimoniais enchiam o ar, até que um oficial finalmente os convidou para o altar.
A Princesa Huai e a Princesa Consorte An já aguardavam do lado de fora. Ao ver Jiuzhu descer, elas a cumprimentaram com a devida cortesia, que ela retribuiu. Olhando ao redor, Jiuzhu sussurrou:
— Cadê a Terceira Cunhada?
A Princesa Huai sorriu e fez uma reverência a Yun Duqing. Só depois que ele partiu com o oficial é que ela se aproximou de Jiuzhu e murmurou:
— Ontem à noite, o Terceiro Príncipe e sua consorte tiveram uma briga terrível. De manhã, ele disse que ela estava doente e não podia comparecer.
Para uma cerimônia tão importante, a menos que um príncipe e sua consorte estivessem abertamente afastados, era impensável excluir a última. Quem diria que o aparentemente dócil Terceiro Príncipe pudesse ser tão implacável?
— Saudações à Princesa Herdeira e às Princesas Consortes — Xiangjuan se aproximou com uma reverência. — Alteza, Sua Majestade me enviou para acompanhá-la.
Ao presenciar isso, a Princesa Huai suspirou por dentro. A Imperatriz Su realmente tratava Jiuzhu como sua própria filha. Ao manter a Princesa Herdeira ao seu lado numa ocasião assim, ela declarava para todo o império que Jiuzhu era a segunda mulher mais honrada da corte.
Mães que reprimiam suas noras eram muito mais comuns do que aquelas que as exaltavam — muito menos a esse nível.
— Jiuzhu, venha — chamou a Imperatriz Su quando Jiuzhu se aproximou. Ao vê-la perto, perguntou suavemente: — Sendo sua primeira cerimônia sacrificial, está nervosa?
Jiuzhu balançou a cabeça.
— Está animado com tanta gente.
A Imperatriz Su riu.
— Com certeza.
Depois de instruí-la sobre os protocolos cerimoniais, a Imperatriz apertou sua mão com carinho.
— A partir de agora, fique ao meu lado. Enquanto eu estiver aqui, ninguém ousará criticar seu comportamento.
Ao soar das trombetas em forma de chifre de boi, a cerimônia começou.
Oficiais, nobres e princesas abaixo do altar ficaram em formação solene, prendendo a respiração.
A Imperatriz Su sentiu algo roçar seu pé. Ao olhar para baixo, viu o pingente de cabaça de pêssego que Jiuzhu havia esculpido para ela.
Antes de sair do palácio, ela o havia amarrado firmemente na cintura — como havia se soltado?
Quando a cabaça redonda estava prestes a rolar pelos degraus, a Imperatriz Su dobrou os joelhos e estendeu a mão, segurando o pingente na borda do altar bem a tempo.
Whoosh.
O som de uma flecha cortando o ar chegou aos seus ouvidos, mas ela não percebeu o perigo imediatamente — apenas o clangue agudo que se seguiu.
Ela olhou para cima e viu Jiuzhu segurando o alfinete dourado de bronze que havia lhe dado, junto com metade de uma flecha. A outra metade jazia quebrada no chão.
— Pai, Mãe, há assassinos! — Jiuzhu agarrou a Imperatriz Su e a empurrou para os braços do Imperador Longfeng, posicionando-se protetora à frente deles. Então puxou um alfinete dourado do próprio cabelo e o enfiou na mão de Yun Duqing. — Alteza, use isto para se defender.
Ninguém tinha permissão para subir ao altar, exceto o oficial cerimonial. Os Guardas Imperiais, sentindo o perigo, avançaram para proteger a realeza. Mas o oficial cerimonial foi mais rápido — sacou uma adaga de arremesso do chapéu e mirou diretamente na garganta da Imperatriz Su.
Sem hesitar, o Imperador Longfeng usou o próprio corpo para proteger a Imperatriz, servindo como escudo humano.
Mas Jiuzhu foi ainda mais rápida. No momento em que o “oficial cerimonial” lançou a faca, ela pareceu prever sua trajetória e arremessou seu alfinete de bronze.
O alfinete e a faca colidiram no ar, caindo juntos com um estrondo.
O oficial cerimonial, atordoado pelo contra-ataque inesperado, mal teve tempo de reagir antes que Jiuzhu o chutasse para fora do altar.
Os oficiais civis e militares, assustados com o caos repentino, mal tinham gritado “Protejam Sua Majestade!” quando viram a pequena Princesa Herdeira derrubar um dos assassinos escada abaixo.
Graças aos reflexos rápidos de Jiuzhu, os Guardas Imperiais aproveitaram a oportunidade para avançar, formando um círculo impenetrável ao redor dos quatro membros da realeza.
Num piscar de olhos, Yun Duqing percebeu Jiuzhu puxando outro alfinete do coque despenteado, o olhar afiado e desconfiado — nem mesmo os Guardas Imperiais eram completamente confiáveis naquele momento.
O maior perigo agora eram as flechas disparadas de direções desconhecidas.
Pelo protocolo, a área num raio de dois quilômetros ao redor do altar havia sido minuciosamente revistada, e a identidade de todos os presentes, verificada. A não ser que alguém de alta autoridade tivesse conspirado com os assassinos para permitir a infiltração.
Olhando para o alfinete na mão de Jiuzhu e seu cabelo despenteado, Yun Duqing se perguntou se suas palavras na carruagem tinham sido um mau presságio.
Por que ele havia mencionado que alfinetes podiam ser armas mortais?
Naquele momento, flechas começaram a chover de todas as direções. Os Guardas Imperiais ergueram seus escudos, guiando os membros da realeza escada abaixo do altar.
Ministros leais tentaram subir para ajudar, mas os guardas, desconfiados de cúmplices, os mantiveram afastados.
Os seis ministros rapidamente organizaram a evacuação de oficiais e nobres. Ming Jinghai puxou uma espada da cintura de um guarda, ficando imponente na linha de frente. Os oficiais do Ministério de Pessoal se amontoaram atrás dele, sentindo-se de repente muito mais seguros.
— Capitão, olhe — alertou um dos soldados da Patrulha Imperial ao chegar à borda do altar —, não são arqueiros lá nas árvores? Vários guardas estão desacordados por perto, e dois arqueiros encapuzados, vestidos de cinza, estão agachados numa árvore.
— Mova, mova, mova! — Yu Jian desembainhou a espada e a arremessou na direção da árvore. Um arqueiro caiu com um baque. — Capturem os assassinos!
— Irmãos, nossa chance de glória chegou!
Os patrulheiros avançaram, lançando suas facas em uníssono. O arqueiro que restava na árvore virou um verdadeiro colchão de facas.
— Tem algo muito errado no altar. — Yu Jian puxou a faca do corpo do assassino. Vendo que ele ainda respirava, ordenou que seus homens o amarrassem — um prêmio para apresentar ao Príncipe Herdeiro.
— Esses assassinos não vieram para brincadeira. Vamos varrer a área. Deve haver mais.
Mal terminou de falar, uma tropa dos Guardas de Armadura Dourada galopou em sua direção a cavalo. Apesar de ambos os grupos terem “dourado” no nome, os Guardas de Armadura Dourada estavam muito acima dos patrulheiros.
Eles não esperavam encontrar soldados de patrulha nas ruas. Supondo que estivessem apenas perseguindo um fugitivo, o líder mostrou seu distintivo:
— Estamos em missão oficial. Saiam da frente.
Yu Jian lançou um olhar invejoso para as armaduras brilhantes, mas permaneceu educado:
— Senhores, vieram prender os assassinos?
Os Guardas de Armadura Dourada se enrijeceram. O incidente no altar fora mantido em segredo para evitar pânico — como esses humildes patrulheiros sabiam disso?
Com as mãos nos punhais, a tensão cresceu, e uma briga parecia iminente.
— Por favor, não nos entendam mal! — Yu Jian apressou-se a explicar, apontando para o assassino amarrado e para a árvore onde o outro estava cheio de facas. — Nós mesmos capturamos esses arqueiros.
Os Guardas de Armadura Dourada encararam o corpo sem vida, crivado de flechas, na árvore, momentaneamente sem palavras.
— Senhores, meus homens são os melhores patrulheiros. Em tempos tão críticos, será uma honra ajudar.
Hesitaram. Deixar os patrulheiros livres poderia ser um risco de vazamento de informações. Após breve deliberação, concordaram.
— Muito bem. Agradecemos a ajuda.
— Somos todos súditos do Grande Cheng. A lealdade a Sua Majestade é nosso dever.
As suspeitas dos Guardas Imperiais estavam corretas — entre os oficiais, havia assassinos disfarçados. No caos, eles arrancaram as vestes oficiais, revelando roupas de combate por baixo.
Os oficiais ao redor ficaram pasmos. Não era de se admirar que aquele colega estivesse calado o dia todo — afinal, era um impostor!
O assassino puxou uma adaga da bota e a balançou na direção do oficial mais próximo, quando de repente uma pedra acertou seu braço.
A adaga caiu no chão com um clangue.
O assassino olhou friamente para quem tinha lançado a pedra.
Ming Jingzhou, frágil e pálido, ainda segurava algumas pedrinhas na mão.
— Vice-Ministro Ming, fuja! — O oficial salvo sacudiu-se e tentou agarrar a perna do assassino. — Você é uma peça fundamental da corte — não pode se ferir!
Para surpresa dele, Ming Jingzhou não só recusou fugir como lançou-se para frente, abraçando a outra perna do assassino.
— Como abandonaria um colega oficial e fugiria sozinho?
— Quer morrer? — o assassino zombou. — Eu realizarei seu desejo.
As mãos dele se fecharam em garras, mirando os pescoços dos dois, com intenção de quebrá-los.
Crack.
Uma dor lancinante atingiu seu tornozelo. O assassino gritou e caiu no chão.
— O-que… aconteceu com ele? — o oficial deu um passo atrás, assustado, até se lembrar de Ming Jingzhou ainda sentado no chão. Apressou-se em levantá-lo. — Vice-Ministro Ming, está bem?
— Estou — Ming Jingzhou afastou a poeira das mangas. — Esse assassino deve ter ossos frágeis. No momento em que abracei sua perna, ela quebrou.
— Com ossos tão frágeis, que tipo de assassino é esse? — O oficial pegou uma pedra próxima e, com um baque, nocauteou o assassino que gemia.
— Vice-Ministro Ming, vamos amarrá-lo juntos. — Enquanto falava, começou a desamarrar o cinto do assassino.
Ming Jingzhou não pôde deixar de olhar duas vezes para ele. Quem diria que o sogro do Príncipe Huai fosse tão… pouco convencional?
O oficial salvo era ninguém menos que o Vice-Ministro Wu do Ministério das Obras — pai da Princesa Huai.
Por que os assassinos mirariam no pai da Princesa Huai?
Enquanto ajudava o Vice-Ministro Wu a amarrar o assassino, uma suspeita tomou conta da mente de Ming Jingzhou. Ele se endireitou e olhou em direção ao imperador e à imperatriz — só para ver sua filha, Jiuzhu, arrancando um alfinete do cabelo e arremessando-o feito um dardo, derrubando outro assassino.
— Vice-Ministro Ming, a Princesa Herdeira é realmente formidável — comentou o Vice-Ministro Wu, admirado. — Derrubar um assassino com um único alfinete de cabelo!
— Essa menina estudou um pouco de medicina e conhece alguns pontos de pressão — Ming Jingzhou tossiu levemente. — É só uma habilidade menor. Por favor, não a elogiem demais.
Tendo lançado todos os seus alfinetes, exceto o do fênix de nove caudas, Jiuzhu o removeu e o colocou nas mãos da Imperatriz Su, com seus cabelos escuros caindo soltos.
— Mãe Imperatriz, por favor, espere por mim.
Sua mira não era perfeita — metade dos alfinetes erraram os alvos — então ela precisou pegar emprestado mais dos outros consortes.
— Espere—! — Antes que Yun Duqing pudesse impedi-la, ela disparou como um raio.
Ela sempre dizia que tinha nascido no Ano do Cão. Agora ele acreditava.
Porque ela corria mais rápido que um.
As consortes de alto escalão se juntaram, chocadas, quando a Princesa Herdeira surgiu repentinamente diante delas. Com um rápido:
— Com licença —
ela arrancou alfinetes das elaboradas madeixas delas.
Quando Jiuzhu tentou pegar o alfinete da Concubina Wei, esta cerrou os dentes e puxou a saia de Jiuzhu, tentando fazê-la tropeçar.
— Thud.
Em vez disso, foi Concubina Wei quem acabou arrastada de cara no chão, com a bochecha raspando dolorosamente no piso.
— Peço desculpas, Concubina Wei — Jiuzhu lançou essas palavras por cima do ombro enquanto sumia como o vento.
Concubina Wei ficou estirada, atordoada.
Ela acabara de tentar tropeçar um touro?
Por que ela estava no chão?
Isso não fazia sentido.
Armada com um novo estoque de alfinetes, Jiuzhu se sentia um pouco mais confiante — apesar de sua mira continuar duvidosa. Ela se encolheu por dentro, mas também sentiu um lampejo de alívio.
Pelo menos seus mestres não estavam ali para testemunhar sua falta de talento.
Quando um assassino que avançava em sua direção levou cinco ou seis alfinetes antes de finalmente desabar, Jiuzhu cobriu o rosto e se escondeu atrás de Yun Duqing.
Sua preguiça de infância finalmente voltava para assombrá-la. Ela não suportava a vergonha.
Sob a defesa implacável dos Guardas de Armadura Dourada e dos Guardas Imperiais, todos os assassinos foram dominados. Entre eles, três que miraram em oficiais tiveram destinos variados: dois foram abatidos pela lâmina de Ming Jinghai, enquanto o terceiro — cuja perna misteriosamente havia se partido — foi amarrado pelos Vice-Ministros Ming e Wu.
Ao saber que seu pai estava ileso e até ajudara a capturar um assassino junto com o pai da Princesa Herdeira, a Princesa Huai finalmente relaxou.
Os mais miseráveis eram os assassinos dilacerados pelos Guardas Imperiais.
Os mais humilhados, porém, eram aqueles imobilizados por vários alfinetes femininos, incapazes de morrer ou se mover, lançando olhares venenosos para Jiuzhu, que ainda segurava um punhado de alfinetes não usados.
Se ódio pudesse se transformar em lâminas, Jiuzhu teria sido atravessada cem vezes.
— Princesa Herdeira! — um assassino consciente rugiu, alto o suficiente para todos ouvirem. — Agimos sob suas ordens para vingar a dinastia caída! Por que você nos traiu?!
O tribunal explodiu em tumulto.
— Um rancor da dinastia caída?
— A Princesa Herdeira?!
A multidão voltou os olhares chocados para a Princesa Herdeira, apenas para ver o Príncipe Herdeiro protegendo-a rapidamente, sem hesitar, atrás de si.
— Você planejou tudo isso e, agora que sua trama foi exposta, ainda ousa difamar a Princesa Herdeira? Que risível — os olhos afiados de Yun Duqing varreram a assembleia, forçando-os a desviar o olhar com medo.
— Antes mesmo de ser torturado, você já quer jogar a culpa na Princesa Herdeira. Essa armação tão óbvia não convenceria nem um tolo — Yun Duqing chutou o assassino que estava a seus pés. — Difamar a Princesa Herdeira é mais uma acusação contra você.
— Se a Princesa Herdeira não tivesse jurado a nós que veio à capital para vingar seu mestre pela queda da antiga dinastia, por que seguiríamos suas ordens e invadiríamos o altar? — o assassino cuspiu amargamente. — Ming Jiuzhu, por riqueza e status, você traiu seu mestre e a nós. Você vai—
Antes que pudesse terminar, Yun Duqing lhe arrancou os dentes da frente com um chute.
— Arrastem-no e executem-no por suas baboseiras. — Se ele ainda não entendesse que isso era uma trama contra Jiuzhu e a família Ming, seria um tolo.
— Alteza... — antes que Jiuzhu pudesse falar, Yun Duqing segurou sua mão. — Eu não acreditarei em uma palavra do que dizem.
Os alfinetes que ela segurava caíram espalhados pelo chão. Jiuzhu olhou para a expressão resoluta de Yun Duqing e para suas mãos firmemente entrelaçadas, seus grandes olhos se curvando em crescente alegria.
Naquele momento, nenhum oficial do tribunal deu um passo à frente para acusar a Princesa Herdeira.
Todos tinham testemunhado como ela defendeu ferozmente o Imperador, a Imperatriz e o Príncipe Herdeiro.
A dinastia caída havia ruído há mais de um século. Mesmo que houvesse descendentes, eles não tinham poder para causar problemas.
Então a verdade estava clara: alguém estava armando contra o Príncipe Herdeiro e a Princesa Herdeira.
Os olhares dos ministros se voltaram para os três príncipes — os candidatos mais suspeitos.
Os Príncipes Huai e An se mexeram desconfortáveis sob o escrutínio, mas não podiam negar sua inocência abertamente. Só podiam baixar a cabeça, fingindo ignorância.
Concubina Wei lançou um olhar para os oficiais, esperando que os aliados de Du Qingke se manifestassem.
Mas o tribunal permaneceu em silêncio.
Ninguém questionou Ming Jiuzhu.
A família imperial era paranoica, e os ministros cautelosos quando a segurança do Imperador estava em jogo. Normalmente, mesmo duvidando das alegações dos assassinos, interrogariam Jiuzhu—
Sobre seus anos em Lingzhou, a identidade de seu mestre.
Mas Jiuzhu contrariou todas as expectativas.
Ela protegeu o Imperador e a Imperatriz com seu próprio corpo, chutou um assassino para fora do altar, cortou flechas no ar com um alfinete e interrompeu o avanço dos atacantes.
Seu tio salvara a vida dos oficiais, e seu pai, junto com o pai da Princesa Huai, dominou outro assassino.
Sem Jiuzhu, a Imperatriz estaria morta — e o Imperador talvez não tivesse sobrevivido.
Isso não era vingança. Era devoção.
— Princesa Herdeira, não se preocupe. A Imperatriz e eu não acreditaremos nas mentiras desses assassinos — declarou o Imperador Longfeng. — Por nosso decreto: a Princesa Herdeira Ming Jiuzhu arriscou a vida para nos proteger, a mim e à Imperatriz. Mas, como família, gratidão não precisa ser dita. Seu pai, Ming Jingzhou, criou uma filha exemplar e é um homem talentoso. A partir de hoje, será nomeado Grande Tutor do Príncipe Herdeiro e receberá o título de Duque do Apoio.
A postura do Imperador deixava claro — ele não apenas confiava na Princesa Herdeira, como elevaria a família Ming.
Concubina Wei segurava o rosto ferido, olhando fixamente para a cena, em estado de choque.
Isso não era para ser assim.
— Relatório! Majestade, o Capitão Yu Jian dos Guardas Imperiais tem notícias urgentes.
Yu Jian? Os ministros trocaram olhares intrigados.
— Pai, esse homem é capaz e astuto — disse Yun Duqing. — Vale a pena ouvi-lo.
O Imperador Longfeng assentiu.
— Como o Príncipe Herdeiro sugere. Tragam-no.
Yu Jian entrou e se prostrou profundamente antes de revelar que o administrador da família Du havia profanado o túmulo do Imperador falecido.
A nobre família Du?
Todos os olhos se voltaram para Du Qingke — mas sua expressão permaneceu calma, até divertida.
— Ministro Du, tem algo a dizer?
— Majestade, o Capitão Yu Jian fala a verdade — Du Qingke tirou o chapéu oficial e se ajoelhou. — Confesso.
— Concubina Wei, por que está no chão? — a Consorte Lü tentou ajudá-la, mas a Princesa Consorte An a puxou para o lado.
— Mãe, fique longe — sussurrou. — Algo está errado com Concubina Wei.
— O que há? Ela está tendo uma convulsão?
Ela nunca tinha mostrado esses sintomas antes.
— Majestade, encontramos a marca da forja da família Du nas armas dos assassinos.
Du Qingke permaneceu ajoelhado, sem se defender.
Todos sentiram vagamente que algo estava errado, mas ninguém ousou falar precipitadamente.
— Majestade, as armas usadas por esses assassinos foram de fato fornecidas por mim, mas esses homens não estão sob meu comando — Du Qingke tirou várias cartas do robe. — Sou culpado além do perdão e aceito voluntariamente a punição.
Ao ver as cartas que Du Qingke apresentou, Concubina Wei tremeu ainda mais violentamente. Teria ele enlouquecido? De que lhe adiantaria isso?
O Príncipe Jing, sentindo a situação se voltar contra ele, deslizou despercebido pela multidão e rapidamente deixou o local.
Depois da audiência com o Imperador, Yu Jian se retirou, as pernas trêmulas. Só quando chegou a um local isolado fechou os punhos e pulou algumas vezes animado.
Quando terminou, viu o Príncipe Jing escorregando sozinho para um canto, aparentemente se preparando para fugir por uma passagem secreta.
A tentativa de assassinato acabara de acontecer — por que o Príncipe Jing fugiria em vez de ficar para acompanhar o Imperador e a Concubina Wei?
Entrecerrando os olhos, Yu Jian o seguiu.
Enquanto isso, o caos se espalhava pelos arredores do altar.
Du Qingke havia confessado que a tentativa de assassinato de hoje fora uma conspiração orquestrada por ele, Concubina Wei e Príncipe Jing, trabalhando em conjunto.
Para criar um cisma na família Ming?
Para virar o Príncipe Herdeiro e a Princesa Herdeira um contra o outro, fazendo o Imperador desconfiar do próprio herdeiro?
Para matar o pai da Princesa Huai no caos, garantindo que ela guardasse rancor contra a Princesa Herdeira?
A multidão ouvia atônita, tempo demais para reagir.
Se a Imperatriz Su não tivesse se ajoelhado no momento crucial em que as flechas voaram, o plano poderia ter dado certo.
Se a Princesa Herdeira não tivesse chutado o assassino para longe e arriscado a vida para proteger o Imperador, a trama também poderia ter sido bem-sucedida.
Mas a Imperatriz Su havia dobrado o joelho no instante mais crítico.
Quanto à Princesa Herdeira...
Bem…
Suas habilidades marciais eram surpreendentemente afiadas — nada parecidas com as de seu frágil pai e irmão.
Não era de se espantar que a família Ming raramente mencionasse os anos que ela passou num templo taoista. Tinham secretamente treinado-na para ser uma mestra, discretamente a colocando ao lado do Príncipe Herdeiro para proteger a família imperial.
A lealdade da família Ming ao trono era realmente comovente.
Ming Jingzhou não fazia ideia do que os oficiais da corte estavam pensando, mas os olhares que lançavam a ele pareciam… incomumente brilhantes.
— Pai, quem diria que minha irmã era tão formidável? — Ming Jiyuan sussurrou em seu ouvido. — Aqueles dois mestres taoistas devem ter sido extraordinários.
Ming Jingzhou permaneceu em silêncio, alisando suas vestes oficiais.
Não lhe perguntem — ele era apenas um estudioso fraco, sem força para matar uma galinha.
O Imperador Longfeng pegou as cartas que Du Qingke apresentou e imediatamente reconheceu a caligrafia — algumas escritas pelo Príncipe Jing, o resto em um elegante estilo provavelmente pertencente à Concubina Wei ou à consorte do Príncipe Jing.
— Sei que meus pecados são graves e não peço clemência, apenas a morte — Du Qingke se prostrou no chão como um homem já morto, sem vitalidade.
Ele queria morrer.
Jiuzhu viu nele não só resignação, mas um lampejo de loucura — como se pretendesse arrastar outros para sua queda.
Notando seu olhar, Du Qingke ergueu a cabeça e encontrou os olhos dela.
— Nasci em uma família nobre, mas tudo o que ganhei foi uma vida de limitações. — Ele deu uma risada amarga e cortante. — Propriedade e dignidade não passavam de um lodo podre que me oprimia.
— Numa casa assim, as pessoas não são pessoas — são marionetes da prestígio familiar. — O sorriso torto desapareceu do rosto de Du Qingke enquanto encarava o Imperador Longfeng. — Eu não podia escolher o que queria. Mas a mulher ao seu lado o traiu por ganho — quão glorioso é realmente o senhor?
— Isso já é demais. O senhor não tem posição para se comparar a Sua Majestade — Jiuzhu interveio com justiça imparcial. — O Imperador tem a devoção da Imperatriz Su, a reverência do Príncipe Herdeiro, o amor do povo e o apoio da corte. Ele é, sem dúvida, muito mais estimado que o senhor.
O Imperador Longfeng tossiu levemente, fingindo não ouvir.
Du Qingke ficou em silêncio.
Concubina Wei, forçada a se ajoelhar pelos eunucos, lançou um olhar a Jiuzhu como se quisesse despedaçar sua boca.
Ela se voltou para Du Qingke.
— Você fez tudo isso só para me incriminar?
— Poupe-me da hipocrisia, Concubina Wei. Você também não conspirava contra mim? — Du Qingke zombou. — Trancou a consorte do Príncipe Jing no palácio para cortar os laços com a família Du caso o plano falhasse.
— Você não passa de uma mulher tola e gananciosa. Como ousa pensar que poderia me usar? — Ele escarneceu. — Se não fosse meu desejo de mostrar ao mundo como uma concubina e um príncipe traem seu imperador, por que você achou que poderia me mandar?
Du Qingke olhou de novo para o Imperador Longfeng.
— Seu filho quer vê-lo morto. Isso não o dói?
O Imperador não respondeu, mas Jiuzhu sussurrou:
— Alteza, onde está o Príncipe Jing?
— Majestade! Majestade! — uma voz estrondosa ecoou lá fora.
— Príncipe Jing foi pego fugindo sorrateiramente como um ladrão!
0 Comentários