Capítulo 127 a 129


 Capítulo 127: O Governante Ordena a Morte do Vassalo

No momento crucial, uma longa espada reluzente surgiu de lado, desviando com precisão as lâminas que vinham em sua direção. Num piscar de olhos, a luz da espada se espalhou, e Han Yan mal conseguiu acompanhar o que acontecia — o sangue jorrou do pescoço do homem de preto à sua frente. De repente, alguém a puxou com força para trás, pressionando-a contra um corpo quente. Uma mão fria cobriu seus olhos, e ela ouviu vagamente um suspiro ecoando em seus ouvidos. Han Yan quis virar o rosto, mas no fim conteve-se.

— Jovem Senhorita! — Assim que o perigo passou, com vários homens de preto caídos em poças de sangue, Ji Lan e Shu Hong correram até ela, aflitas. No instante em que Han Yan estava prestes a falar, sentiu um alívio atrás de si — o estranho deu um passo para trás, soltando-a do abraço.

Quando ela se virou, um dos homens caídos repentinamente se levantou e desferiu um golpe com a faca em sua direção. Ela não esperava por isso; ele estava perto demais para que pudesse escapar. A pessoa atrás dela também pareceu pego de surpresa; a espada saiu da bainha, mas desviou no último instante, errando o alvo. No entanto, o homem avançou, envolvendo Han Yan com os braços, e foi ele quem acabou sendo atingido. A lâmina cravou-se fundo em sua cintura. O homem de preto congelou por um instante, e no segundo seguinte, a espada atravessou seu peito. Seus olhos se arregalaram ao ver que Han Yan permanecia ilesa, antes de cair morto.

Han Yan virou-se depressa para olhar o homem que a salvara, perguntando com ansiedade:

— Você está bem?

Foi só então que reparou em sua aparência. Ele usava uma túnica escura, com uma grande mancha encharcada — sem dúvida, de sangue —, mas não conseguia ver mais nada. O rosto estava coberto por uma máscara, tornando-o irreconhecível. O homem cambaleou levemente — um vacilo sutil, mas que Han Yan notou. Diante de seu olhar preocupado, a voz abafada do mascarado respondeu:

— Não é nada.

A voz era grave, diferente da do homem anterior. Han Yan hesitou.

— Posso saber seu nome? Um favor tão grande assim... não tenho como retribuir.

O mascarado fitou-a por um momento, antes de, subitamente, saltar e desaparecer. Han Yan permaneceu parada, e Ji Lan correu até ela, perguntando:

— Jovem Senhorita, está tudo bem?

Han Yan balançou a cabeça, lançando o olhar sobre os corpos dos homens de preto. De repente, deu um passo à frente, agachando-se diante de um deles e enfiando a mão em suas roupas, como se procurasse algo.

— Jovem Senhorita! — exclamou Ji Lan. — Precisamos sair daqui rápido! E se aparecerem mais homens de preto?

Mas Shu Hong, observando os movimentos de Han Yan, pensou por um instante e também se agachou ao lado de outro cadáver, imitando silenciosamente a jovem.

Depois de algum tempo, Han Yan se levantou com o semblante carregado.

— Vamos.

— Jovem Senhorita... — Ji Lan e Shu Hong também se levantaram. Vendo a mudança em sua expressão, trocaram olhares e a seguiram.

De volta ao Pátio Qingqiu, Han Yan sentou-se na cama, enquanto Ji Lan e Shu Hong nem ousavam respirar alto. Quando Han Yan ficava pensativa, sabiam que não deviam interrompê-la — mas hoje, ela parecia especialmente aflita. Teria descoberto algo?

Não sabiam quanto tempo se passou, até o óleo da lamparina quase se esgotar. Por fim, Han Yan suspirou fundo e pegou a xícara de chá ao lado, dando um gole.

Esse gesto indicava que seus pensamentos haviam avançado. Ji Lan e Shu Hong, que há muito seguravam suas perguntas, viram Shu Hong — geralmente a mais reservada das duas — não resistir e perguntar:

— Jovem Senhorita, descobriu alguma coisa?

Han Yan esboçou um sorriso amargo.

— Pode-se dizer que sim. Acabei de perceber que estamos com um grande problema.

Ji Lan franziu a testa, sem entender.

— Jovem Senhorita... não compreendo.

Han Yan balançou a cabeça.

— Sabe quem eram aqueles homens de preto?

Ji Lan e Shu Hong trocaram olhares e negaram com a cabeça.

— Eram da família imperial — suspirou Han Yan. — Consegue imaginar o que isso significa?

— Poderia ser... a Imperatriz Viúva? — arriscou Shu Hong, ousadamente. Ji Lan se sobressaltou, olhando em volta com pânico e repreendendo:

— Fale mais baixo! E se alguém ouvir?

Han Yan balançou a cabeça.

— Se fosse a Imperatriz Viúva, não seria algo tão complicado. Foi o Imperador.

— O Imperador?! — exclamaram Ji Lan e Shu Hong em uníssono, incrédulas. De fato, o Imperador não tinha inimizade com Han Yan. Mesmo durante a disputa pelo casamento com Fu Yunxi, ele demonstrara apenas um leve desagrado, que logo desapareceu após a defesa de Fu Yunxi. Por que, então, iria tão longe a ponto de tentar matá-la agora? Certamente, mesmo que quisesse agradar a princesa da tribo da Região Oeste, não precisaria descer a esse nível. Ainda mais porque um governante não precisa bajular ninguém... Mas então, o que Han Yan teria feito para ofender o atual Imperador?

Han Yan soltou mais um suspiro profundo. Mais cedo, encontrara um distintivo dos guardas imperiais no corpo de um dos homens de preto. Aquele distintivo não poderia ser falso, nem plantado para incriminar o Imperador. Os movimentos daqueles homens eram familiares e coordenados demais — Han Yan os reconheceu dos tempos em que esteve no palácio, ao ver os guardas ao redor do Imperador. Apenas o próprio Imperador tem autoridade para comandar os guardas imperiais. Ao perceber isso, um arrepio percorreu sua espinha. O Imperador queria matá-la. Mas... por quê?

Uma possibilidade era que Fu Yunxi fosse se casar com a Princesa da Região Oeste. No entanto, o Imperador havia emitido anteriormente um decreto permitindo que Han Yan se casasse com Fu Yunxi. Para então emitir outro decreto anulando esse casamento e concedendo o título de Consorte Princesa a Yi Lin Na o faria parecer inconstante. Para um monarca, perder a confiança é algo gravíssimo — especialmente alguém no poder, que faria de tudo para eliminar qualquer mancha em sua reputação. O Imperador talvez preferisse mandá-la matar para evitar ser visto como volúvel e, com a morte dela, poderia encontrar outra consorte para Fu Yunxi sem sofrer reação pública. Essa lógica até fazia sentido, mas, por algum motivo, Han Yan sentia que o Imperador não recorreria a tais medidas apenas por isso. Mas, se não fosse por esse motivo... então por quê?

Mesmo para proteger o casamento de Fu Yunxi com Yi Lin Na e evitar problemas inesperados, não deveria ter chegado a esse ponto. O Imperador era quase completamente complacente com Fu Yunxi e levava seus sentimentos muito a sério. Pelas atitudes de Fu Yunxi, era evidente que ele não queria morrer, então por que o Imperador tomaria medidas tão extremas e desnecessárias?

Agora, com o Sétimo Príncipe abrigando segundas intenções, uma Imperatriz Viúva cheia de artimanhas e um Imperador com o poder supremo — todos em inimizade com Han Yan —, a situação os colocava como parte do mesmo núcleo: a família imperial. Mesmo que fosse coincidência, era uma coincidência extrema demais. O coração de Han Yan disparou. Será que existe alguma relação inextricável entre mim e a família imperial? E se essa relação representasse uma ameaça ao trono... seria por isso que estão tentando me eliminar completamente?

Han Yan compartilhou seus pensamentos com suas duas criadas. Ji Lan e Shu Hong ficaram estarrecidas, mas mais do que surpresas, estavam apavoradas. Se fosse apenas o Sétimo Príncipe e a Imperatriz Viúva, Han Yan ainda poderia encontrar formas de agir, talvez contando com Fu Yunxi ou outros para garantir sua segurança. Mas se o inimigo fosse o próprio Imperador, então não havia margem para negociação. Quando o governante deseja a morte de um vassalo, o vassalo deve morrer. Não importava quão astuta fosse Han Yan — uma única palavra do Imperador poderia decretar sua sentença. Que futuro restaria?

— Jovem Senhorita, o que faremos agora? — Ji Lan perguntou, ansiosa. Aos olhos dela, Han Yan estava em apuros profundos. Neste mundo, se o Imperador queria alguém morto, essa pessoa não sobreviveria. O fato de ele ter enviado guardas imperiais para matar Han Yan era uma ameaça real — só que, inesperadamente, alguém mascarado aparecera e a salvara. Isso mudava tudo. Se o Imperador falhasse desta vez, talvez ordenasse sua execução diretamente da próxima. E aí, não haveria mais escapatória. Ji Lan mordeu o lábio e disse:

— Jovem Senhorita, vamos fugir.

Han Yan ficou surpresa.

— Fugir? Pra onde?

— Pra qualquer lugar, desde que o pessoal do Imperador não nos ache — respondeu Ji Lan, com uma determinação incomum. — Estar viva é mais importante do que qualquer outra coisa, não é? Jovem Senhorita, vamos mesmo ficar sentadas aqui esperando a morte?

Han Yan ficou momentaneamente abalada pelas palavras de Ji Lan — “estar viva é mais importante do que qualquer outra coisa” —, mas então sorriu. Aquela garota era mais perspicaz do que parecia. No entanto, fugir não era uma solução. Neste mundo, existe algum lugar que não esteja sob domínio do Imperador? Se ele realmente quisesse matá-la, mesmo que ela fugisse até os confins do mundo, seus homens a alcançariam. Viver como um cão acuado, sempre fugindo, sempre com medo — que sentido teria isso?

— Não vamos pensar em fuga agora. Tenho algo mais importante para você fazer — disse Han Yan a Ji Lan. Naquele momento, aquela tarefa pesava mais em sua mente do que sua própria segurança.

Ji Lan ficou confusa.

— O que é? O que poderia ser mais importante do que sua vida?

Ela não entendia.

— Quero que você colete informações sobre o Palácio Xuanqing esta noite e continue até amanhã de manhã. Não perca uma única notícia.

Ji Lan ficou boquiaberta, sem entender por que Han Yan queria saber do Palácio Xuanqing. Em sua opinião, seria melhor cortar todos os laços com aquele lugar. Será que Han Yan queria pedir ajuda a Fu Yunxi...?

Han Yan franziu o cenho com força. Aquela pessoa de antes... poderia ter sido Fu Yunxi?


Capítulo 128: Doença Terminal
O Palácio Xuanqing estava estranhamente silencioso naquele dia; não havia guardas na entrada, e as lanternas vermelhas penduradas do lado de fora não transmitiam nenhum clima festivo, conferindo ao lugar um ar desolado.
Quando a notícia de que o Príncipe Xuanqing havia adoecido com um resfriado se espalhou pela capital, muitos lamentaram. Diversos oficiais influentes trouxeram presentes valiosos para visitá-lo, mas foram todos recusados. O Imperador havia emitido uma ordem proibindo qualquer um de entrar na mansão, declarando que o Príncipe Xuanqing precisava se recuperar em paz, sem ser perturbado. Afinal, ele era um membro da família imperial que havia conquistado méritos militares, e o tratamento que recebia era de fato excepcionalmente generoso. No entanto, o público também se divertia com a história de como a Princesa da Região Oeste havia cuidado do Príncipe Xuanqing por vários dias e noites. Diziam que ela era verdadeiramente devotada — tão bela, disposta a ir tão longe por Fu Yunxi — de fato, Fu Yunxi era mesmo muito afortunado.
É preciso dizer: o status é algo peculiar. Se ela fosse uma mulher comum, as pessoas veriam seus cuidados com Fu Yunxi como algo esperado. Se fosse uma serva humilde, considerariam um crime se ela não o cuidasse bem. Mas, uma vez rotulada como “Princesa”, cada uma de suas ações carregava um ar de nobreza.
Em contraste, Han Yan, filha de um mero oficial de quinto escalão, no início recebeu certa compaixão, mas logo foi esquecida. Muitos até acreditavam que Yi Lin Na e Fu Yunxi eram feitos um para o outro, pois apenas uma princesa de tamanha nobreza poderia ser compatível com alguém tão extraordinário quanto ele.
Ao cair da noite, a porta do Palácio Xuanqing rangeu ao se abrir, e uma figura vestida com um manto verde-escuro saiu rapidamente. Essa pessoa subiu depressa em uma liteira que a aguardava, e os carregadores logo começaram a levá-la embora.
Era difícil dizer por quanto tempo haviam caminhado. O céu já estava escuro, e havia pouquíssimos pedestres pelas ruas. Apenas o som sincronizado dos passos dos carregadores quebrava o silêncio. Ao passarem por um beco estreito, a luz tênue de uma lanterna iluminou duas silhuetas ao longe. Ao mesmo tempo, uma voz feminina se fez ouvir:
— Posso perguntar se o estimado Doutor Wu está na liteira?
Os quatro carregadores trocaram olhares, sem saber o que fazer, e pararam. As duas figuras se aproximaram lentamente — duas jovens vestidas como criadas. Uma usava um vestido vermelho, a outra azul. Embora não fossem excepcionalmente belas, ambas tinham uma aparência fresca e refinada, exalando um ar erudito incomum, que dava a entender que não eram criadas comuns.
A pessoa dentro da liteira não reagiu de imediato. Depois de um momento, respondeu:
— E se eu estiver?
A jovem de vestido vermelho disse calmamente:
— Minha Jovem Senhorita deseja se encontrar com o Doutor Wu. Por favor, conceda-lhe esse favor.
Mesmo antes de o Doutor Wu responder, os quatro carregadores não conseguiram conter um leve suspiro de surpresa. Eles sabiam que o Doutor Wu era um dos médicos mais renomados da capital, um burocrata que até oficiais de alto escalão respeitavam profundamente. E ali estavam apenas duas criadas falando com ele de forma tão direta, mencionando com tanta confiança sua “Jovem Senhorita”. Que Jovem Senhorita teria tamanha audácia para tratar o Doutor Wu com tamanha ousadia, sem demonstrar o menor temor? Certamente, nenhuma Jovem Senhorita da capital teria tal presença. Mesmo a Princesa Yun Ni, filha mais favorecida do Imperador, provavelmente não impressionaria o Doutor Wu daquela forma.
Finalmente, uma mão ergueu a cortina da liteira, e o Doutor Wu lançou um olhar para as duas mulheres, momentaneamente surpreso.
— São vocês duas.
A criada de vestido azul não respondeu às palavras do Doutor Wu. Em vez disso, sorriu para ele e disse:
— Doutor Wu, minha Jovem Senhorita disse que não se apaga fogo com papel. Se quiser proteger alguém, esse tipo de ocultação talvez nem possa ser considerado proteção. Se uma águia poderosa for mantida enjaulada, ela morrerá sem jamais saber que podia voar. Tudo pode acontecer, e se o senhor confiar em minha Jovem Senhorita, então vamos colaborar em um grande plano.
Suas palavras eram claras e firmes, sem um traço de hesitação — indicando que haviam sido cuidadosamente pensadas. Isso sugeria que ela já antecipava a reação do Doutor Wu desde o início. Ele franziu o cenho, pensativo, enquanto Ji Lan o olhava com um sorriso tranquilo, cheia de convicção. Ainda assim, ela era apenas uma criada jovem — de onde vinha tanta certeza de que ele não recusaria? Ao olhar para Shu Hong, a sensação era a mesma: embora seu rosto não expressasse emoção, sua postura serena superava até mesmo a de muitas matronas experientes do palácio. Diante dessas criadas, só se podia imaginar a imponência da senhorita que as comandava.
O Doutor Wu suspirou profundamente. A mensagem da senhorita realmente o havia tocado. Tudo pode acontecer neste mundo, e, se ele recusasse, aí sim não haveria mais nenhuma possibilidade. Sendo assim, por que não tentar? Além disso, ele tinha um pressentimento estranho... talvez aquela Jovem Senhorita de sorriso constante realmente tivesse uma saída.
Por fim, assentiu.
— Irei com vocês.
Ji Lan e Shu Hong trocaram um olhar e ambas viram a alegria nos olhos uma da outra. Ji Lan sorriu:
— Então, por favor, Doutor Wu, venha conosco.
Ela então se posicionou ao lado dos carregadores da liteira, indicando o caminho.
Assim, a liteira voltou a se mover, oscilando levemente, mas dessa vez conduzida por duas jovens criadas de porte gracioso.
Torre Wangjiang.
Han Yan abaixou a cabeça e não olhou para a pessoa à sua frente. Em vez disso, disse lentamente:
— Até quando você pretende me olhar assim?
A pessoa à sua frente ainda estava adornada com joias reluzentes, e seus traços belos tornavam tudo ainda mais peculiar. Ele apenas sorriu para a mulher com o véu branco diante de si. Embora ela estivesse com a cabeça baixa, ocultando o rosto, sua aura era inesquecível desde o primeiro olhar. Jiang Yulou arqueou uma sobrancelha.
— Achei que fosse cumprimentar um velho conhecido assim que chegasse aqui.
O olhar de Han Yan se tornou frio; ela percebeu que não poderia se esconder dos olhos atentos de Jiang Yulou. Era sabido que os mercadores tinham olhos aguçados, mas ela não tinha escolha a não ser vir à Torre Wangjiang. Não podia ver o Doutor Wu na residência Zhuang, onde era incerto quem era leal a Zhuang Shiyang — e mesmo que ele não descobrisse o conteúdo de sua conversa com o Doutor Wu, Zhuang Shiyang certamente informaria o Príncipe Wei ou até mesmo o Sétimo Príncipe. Também não podia ir a outro lugar; desde que o Imperador enviara assassinos atrás dela, quem saberia quantos olhos a observavam? Talvez tudo o que fizesse já estivesse sendo vigiado. O único lugar onde Han Yan se sentia segura era na Torre Wangjiang, que havia conquistado sua fama como a melhor torre do mundo justamente por ser protegida por especialistas de elite ocultos — apenas os convidados tinham permissão para entrar. Já havia ocorrido um caso em que um hóspede, fugindo de perseguidores, buscou refúgio na Torre Wangjiang, e os assassinos não conseguiram entrar, permitindo que ele escapasse ileso. Da mesma forma, Han Yan se sentia protegida de ser rastreada ali. Contudo, Jiang Yulou era um obstáculo difícil de lidar.
Ela sorriu levemente, decidindo não fingir mais, mas ainda evitando ser demasiadamente direta.
— Não me lembro de termos laços, muito menos de sermos velhos amigos. Se há alguma conexão entre nós, é meramente comercial. Negócios devem se basear em trocas justas, e falar de amizade é um tabu.
Sua franqueza pegou Jiang Yulou de surpresa. Tantas pessoas desejavam sua amizade, e ainda assim nenhuma havia traçado limites de forma tão clara quanto ela. O que o surpreendia ainda mais era a razão em suas palavras — embora não fosse uma mercadora, compreendia esse princípio com perfeição. Aquela jovem era, de fato, difícil de decifrar. No entanto, ele sorriu com despreocupação.
— Está sendo tão fria e implacável por causa daquela pessoa? Está deliberadamente afastando todos os que têm alguma ligação com ele?
— Sempre há incontáveis conexões entre as pessoas. Se o que diz for verdade, então eu não deveria lidar com ninguém, já que qualquer um poderia estar ligado àquela pessoa, não concorda?
Jiang Yulou ficou momentaneamente atônito.
— Tem razão.
Ele refletiu por um instante.
— Afinal, o que a traz aqui hoje?
Han Yan sorriu de leve.
— Com quem me encontro não importa. O que importa é se você manterá segredo por mim.
Antes que Jiang Yulou pudesse responder, ela rapidamente acrescentou:
— Sei que é um homem de negócios, e reputação é tudo para um negociante. A Torre Wangjiang sempre preservou os segredos de seus convidados. Só espero que me trate como uma estranha e guarde meu segredo como faria com qualquer outro hóspede. Nem uma palavra sobre os acontecimentos de hoje deve ser dita a ninguém.
Jiang Yulou a observou por um momento antes de dar de ombros.
— Já que colocou nesses termos, não posso me recusar a guardar seu segredo. Mas não precisa ser tão categórica em afastar nossa relação; eu raramente faço amigos.
Han Yan franziu ligeiramente as sobrancelhas quando Jiang Yulou se levantou, balançando suavemente o leque em sua mão.
— Não direi nada a ninguém. A pessoa que está esperando já chegou.
Dito isso, ele saiu de trás da cortina, justamente quando uma voz áspera ressoou do lado de fora.
— Garotinha, que bom vê-la bem.
Doutor Wu entrou, erguendo a barra da túnica.
— Faz tempo, Doutor Wu — disse Han Yan, inclinando ligeiramente a cabeça, mas sem se curvar.
Surpreendentemente, Doutor Wu não se irritou com isso; ao contrário, achou que aquele comportamento transmitia uma nobreza e intangibilidade peculiares. Ficou momentaneamente atônito ao perceber que não havia um traço sequer de tristeza em seu rosto — apenas indiferença, firmeza e resolução, mescladas com uma leve sombra de questionamento.
Ela era praticamente outro Fu Yunxi. Doutor Wu suspirou profundamente por dentro, percebendo o quanto os dois se assemelhavam; talvez fosse por isso que se sentiam atraídos um pelo outro, mesmo que nenhum dos dois parecesse ter notado.
— O que deseja perguntar? — Doutor Wu se sentou e foi direto ao ponto.
Han Yan o encarou friamente.
— O que aconteceu com Fu Yunxi? Ele precisa das suas habilidades médicas excepcionais porque está tão gravemente doente assim?


Capítulo 129: Um Golpe Devastador
O Doutor Wu ficou surpreso, completamente desprevenido diante das palavras de Han Yan. Ainda assim, o tom dela era resoluto, o olhar certeiro, como se já tivesse desvendado tudo. Ela já sabe? Mas aquilo era impossível — apenas algumas poucas pessoas tinham conhecimento do ocorrido. De onde ela poderia ter ouvido isso...?
Sem olhar para a expressão do Doutor Wu, Han Yan manteve os olhos nas folhas de chá flutuando em sua xícara.
— Não precisa se alarmar, Doutor Wu. Já que mencionei isso, não há mais por que esconder. E, considerando que o senhor veio até aqui, sua intenção original era justamente me contar, não é?
Embora cada palavra de Han Yan fosse verdadeira, o Doutor Wu ainda havia vindo com certa hesitação. Se antes ele estava indeciso, depois de ouvi-la, decidiu-se quase imediatamente. Suspirou profundamente, encarando a figura velada à sua frente. Os olhos que se viam por entre o tecido eram frios e irônicos, sem um traço de tristeza, apenas uma percepção profunda. Será que ela realmente não está triste? Será que não sente nada por Fu Yunxi? O Doutor Wu não pôde deixar de duvidar. No entanto, quando surgiram rumores de que Fu Yunxi pretendia se casar com a Princesa da Região Oeste, também começaram a circular boatos sobre a antiga consorte princesa de Xuanqing estar com o coração partido e mergulhada na melancolia. Ainda que exagerados, não há fumaça sem fogo — devia haver alguma verdade ali.
Han Yan cerrava os punhos com força, o coração acelerado, mas seu rosto permanecia impassível. Ela sabia que estava apostando alto, contando com a reação do Doutor Wu. Se ele não estivesse convicto, acabaria revelando algo. Ela apenas fingia calma, baseando-se em uma suposição; para arrancar a verdade dele, precisava pegá-lo de surpresa, antes que tivesse tempo de pensar.
Ela sorriu levemente e disse:
— Doutor Wu, falar com franqueza é o único caminho para se encontrar uma solução.
— Não sei de onde tirou essa informação — respondeu ele, em tom grave, o olhar carregado. Já havia decidido revelar tudo. Não fazia sentido competir com uma jovem; acompanhara o crescimento de Fu Yunxi e conhecia um pouco de seus pensamentos. Se essa moça soubesse da verdade, talvez voltasse para ele, mesmo que isso lhe causasse dor. Ainda assim, comparado ao sofrimento solitário de Fu Yunxi, Wu preferia ser um pouco egoísta. No íntimo, pediu perdão a Han Yan antes de dizer:
— Ele está realmente... além de qualquer salvação.
Han Yan sentiu como se um trovão explodisse sobre sua cabeça, deixando-a tonta. Suas pontas dos dedos quase perfuraram a palma da mão, e foi a dor aguda que a trouxe de volta à realidade. Inspirou fundo, engolindo o sangue que ameaçava subir à garganta.
Ao ver que o rosto dela não expressava nenhuma emoção, Wu se convenceu ainda mais de que ela já sabia. Se já sabia, por que trazer à tona o Palácio de Xuanqing? Essa garota, por vezes, era tão enigmática quanto Fu Yunxi, impossível de prever. Wu disse:
— Você se lembra da vez em que foi envenenada com veneno primaveril?
Isso fora há um ano, durante um banquete no palácio, quando Han Yan caiu em uma armadilha da Imperatriz Viúva, sendo envenenada pela bebida. Felizmente, Fu Yunxi a levou de volta ao Palácio de Xuanqing, e o Doutor Wu a tratou, evitando uma tragédia.
— Esqueci de mencionar — disse Wu, alisando o bigode —, o veneno que você ingeriu, Yan Hua Mei, é na verdade incurável. Foi o Príncipe quem a salvou.
Han Yan ficou atônita. Não se lembrava muito bem daquele episódio, como se tivesse vivido um longo sonho e, ao despertar, tudo estivesse em paz novamente. Agora, as palavras de Wu a atingiam como um martelo: o veneno era incurável, e se nem o médico divino podia fazer nada, como Fu Yunxi teria conseguido?
Vendo a dúvida em seu olhar, Wu explicou:
— O Príncipe usou o próprio sangue para salvá-la. O sangue dele é, por natureza, a substância mais fria do mundo. O veneno primaveril que você ingeriu era extremamente potente; usando veneno para combater veneno, ele conseguiu neutralizar a toxina.
— Substância mais fria? — Han Yan não pôde deixar de perguntar.
Wu a encarou e disse lentamente:
— O Príncipe foi contaminado por um tipo de veneno de frio quando era muito jovem. Esse veneno também é incurável.
Ao ouvir a palavra incurável mais uma vez, Han Yan sentiu uma pontada aguda no coração, mais dolorosa do que ao saber que o veneno primaveril não tinha antídoto. Desde que aquela figura mascarada a salvara, ela quase confirmara em seu coração que se tratava de Fu Yunxi. Sua aura gélida era inconfundível; mesmo com a voz alterada e o rosto oculto, ela o reconheceria num piscar de olhos.
O desejo de Fu Yunxi de salvá-la deixou Han Yan sem saber se aquilo era esperado ou surpreendente. Contudo, uma coisa ela sabia com certeza: as habilidades de Fu Yunxi eram tais que um simples guarda imperial não seria capaz de feri-lo. Por mais desesperadora que fosse a situação, Fu Yunxi jamais cometeria um erro tão primário. Portanto, só havia uma possibilidade — algo havia acontecido com Fu Yunxi que o deixara vulnerável a ponto de ser pego desprevenido por um mero guarda.
Naquele momento, Han Yan se lembrou de algo de muito tempo atrás. Talvez pelas diferenças enormes entre sua vida passada e a atual, ela havia se convencido de que os acontecimentos de sua encarnação anterior não passavam de um sonho, e gradualmente os esquecera. Mas agora, recordou-se: após o retorno de Fu Yunxi do campo de batalha em sua vida anterior, ele de fato caíra gravemente doente. A enfermidade foi feroz, quase tirando-lhe a vida. O Imperador procurou médicos por todo o reino, mas não encontrou solução. No fim, foi a Princesa da Região Oeste quem se casou com ele para trazer boa sorte, e só então seu estado começou a melhorar. Contudo, se ele havia sido realmente curado, Han Yan não sabia — pouco tempo depois disso, ela havia morrido.
Diante das muitas mudanças nesta vida, ela havia esquecido da doença de Fu Yunxi, já que seu tempo no campo de batalha havia sido diferente. Han Yan pensava que muitas coisas poderiam ser alteradas após sua renascença, mas envelhecer, adoecer e morrer eram desgraças inevitáveis. Por mais capaz que fosse, não podia mudar isso. Então, será que não há mesmo saída...?
O Doutor Wu percebeu que Han Yan parecia estar com a mente tomada por pensamentos muito complexos. Porém, como já havia decidido contar tudo, suspirou fundo e disse:
— Você pode até saber que ele foi envenenado, mas provavelmente não sabe de onde veio esse veneno. Já que não parece ser uma garota comum, explicarei a origem.
Fu Yunxi alcançou fama ainda jovem — bonito, refinado, nascido em família nobre, como se tivesse vindo ao mundo com uma colher de ouro na boca. Para muitos, ele era realmente uma figura excepcional, abençoada com uma vida livre de preocupações, algo que os outros só podiam invejar. Mas a dor por trás de todo esse sucesso era invisível aos olhos dos demais.
Quando Fu Yunxi era pequeno, sua mãe, a Consorte Jing, faleceu. Ela era a consorte mais favorecida pelo Imperador, recebendo privilégios que nem mesmo a Imperatriz possuía. Consorte Jing teve três filhos, mas morreu no parto do caçula, deixando para trás Fu Yunxi e o atual Imperador, que à época era o Príncipe Herdeiro.
A Imperatriz tratou Fu Yunxi e o Príncipe Herdeiro muito bem, pois não tinha filhos próprios, criando ambos sob seu nome. Era o retrato da mãe ideal. Após a morte do antigo Imperador, o Príncipe Herdeiro ascendeu ao trono, com o apoio constante da Imperatriz Viúva. Observando a forma como o atual Imperador tratava a Imperatriz Viúva, era evidente o quanto ela significava para ele.
Fu Yunxi sempre teve grande afeto pela Imperatriz, mas, aos catorze anos, de repente insistiu em ir para o campo de batalha contra a Região Oeste. O Imperador recusou, e a Imperatriz Viúva chorou por dias, os olhos inchados de tanto chorar. No entanto, ninguém conseguiu mudar a decisão de Fu Yunxi. Ele partiu para a guerra, indiferente às súplicas, e voltou coberto de méritos militares.
— Você consegue imaginar por que ele quis ir para o campo de batalha? — perguntou o Doutor Wu, fazendo uma pausa ao olhar para Han Yan.
— Por causa da Imperatriz Viúva? — ela arriscou.
O Doutor Wu tomou um gole de chá e continuou.
Na verdade, havia outro boato no palácio: dizia-se que a Consorte Jing havia sido envenenada pela Imperatriz. Mas era só um rumor. No dia do nascimento do terceiro príncipe, a Imperatriz estava no Monte Wutai, orando pelo bebê que estava para nascer, e só soube do que havia ocorrido com Consorte Jing no dia seguinte. Além disso, a Imperatriz sempre tratara o Príncipe Herdeiro e Fu Yunxi com gentileza, e por isso esse rumor fora facilmente refutado.
Em sua juventude, o Doutor Wu era um sujeito rebelde. O falecido Imperador, valorizando sua habilidade médica, o levou ao palácio, mas seu temperamento selvagem o tornava alguém difícil de lidar na corte. Exceto por uma pessoa — Fu Yunxi.
O Doutor Wu era indomável, mas Fu Yunxi era ainda mais. Muitas vezes, o médico via nesse jovem algo que fazia seu coração acelerar. Com o tempo, estabeleceram uma relação parecida com a de mestre e discípulo, desenvolvendo uma espécie de amizade entre gerações. Foi com ele que Fu Yunxi procurou ajuda pela primeira vez, quando adoeceu.
O Doutor Wu jamais esqueceria aquela cena — o jovem era frio como gelo, sua pele, antes alva como jade, agora parecia neve. Seu olhar era glacial, como se a pessoa à beira da morte congelante não fosse ele mesmo. Os lábios estavam arroxeados, e ele encarava o médico antes de murmurar duas palavras:
— Salve-me.
Em seguida, desabou no chão.
O Doutor Wu o arrastou para dentro do quarto. Já tendo visto muitas doenças estranhas, deduziu, ao observar a condição incomum, que Fu Yunxi sofria de um raro veneno de frio. Quando o veneno se manifestava, o corpo ficava gelado, e a dor era comparável a agulhas de gelo atravessando os ossos. Quanto mais a pessoa envelhecia, mais severo o veneno se tornava; uma vez que atingisse completamente os órgãos internos, o indivíduo perdia todas as sensações e se tornava como um cadáver congelado — assustadoramente, o corpo ainda permanecia vivo.
Esse era um veneno crônico — o que significava que Fu Yunxi fora envenenado desde muito jovem.

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