Capítulo 14 – Carecas Juntos


 Na manhã seguinte, bem cedo, Lu Qingyu carregou Lu Yaoyao até o lago como de costume, e depois de ela lavar o rosto, deu um passeio ao redor. Lu Qingyu achou estranho. Yao Jiuxiao normalmente saía junto e ficava ao lado, mas por que ele ainda estava dentro de casa?

Mas Lu Qingyu nem se importou muito. Espalhou a manta de pele de besta no chão e tirou várias coisinhas coloridas do seu espaço místico para a criança brincar.

Lu Yaoyao, por curiosidade, empurrou uma conta colorida. Tocou a cabeça e suspirou tristemente.

Ela era um filhote careca.

Antes de Yao Jiuxiao sair, Lu Qingyu tirou uma fruta e disse:

— Zhu’er, olha.

Os olhos de Lu Yaoyao brilharam. Fruta gostosa!

Ela lembrava do sabor da fruta, e a boca logo encheu de saliva. Essa fruta devia ser difícil de encontrar. Depois de tanto tempo, o Papai e o Pai só tinham dado quatro delas no total. Por ser rara e também a mais deliciosa e aceita na sua dieta atual, Lu Yaoyao não parava de pensar nela.

Rapidamente, rastejou até Lu Qingyu, puxou a calça dele e abriu a boquinha:

— Aaahh... Papai, dá pra bebê.

Lu Qingyu não deu a fruta na hora, mas perguntou:

— Papai te trata melhor que os outros?

— Ah! Sim!

— Você gosta mais do Papai?

— Ah, ah! Eu gosto mais do Papai!

Lu Qingyu pareceu entender. Só então ficou satisfeito e entregou a fruta para Lu Yaoyao.

Ela mordeu a fruta duas vezes e chupou o suco com gosto. Agora que já tinha dentes, podia ir ralando a casca e mastigando a polpa. Achou a polpa tão gostosa quanto o suco. Mastigou um pedaço e fechou os olhos de contentamento.

Lu Qingyu claramente preferia ver a filha animada e ativa. Era bom vê-la tão feliz assim. Mas, se Yao Jiuxiao visse, com certeza ficaria bravo. Ele tinha receio que a fruta espiritual fosse forte demais para a criança e impunha a regra de só dar essa fruta uma vez a cada quinze dias. Hoje ainda não era o dia.

Na opinião de Lu Qingyu, Yao Jiuxiao era muito tímido. Exceto pelas duas primeiras vezes que a criança caiu num sono profundo, ela não teve efeito especial após comer a fruta, então não havia motivo para limitar o consumo. Se não fosse pela vigilância rígida de Yao Jiuxiao, ele já teria dado muitas outras coisas boas para ela comer. Pensando nisso, Lu Qingyu nem sentia culpa por alimentar a criança escondido de Yao Jiuxiao.

De repente, ouviu um movimento atrás de si. Virou-se calmamente, prestes a falar, mas sua pupila tremeu e as palavras sumiram antes de sair.

Depois de um instante, uma risada frenética ecoou alto.

A risada de Lu Qingyu assustou Lu Yaoyao. Ela levantou a cabeça confusa:

— Por que Papai está rindo assim?

Lu Yaoyao seguiu o olhar do Papai. Quando viu o Pai vindo, ficou tão chocada que a fruta que estava comendo caiu no chão.

O cabelo preto e brilhante de Yao Jiuxiao, que normalmente era cuidado com esmero, havia desaparecido — ele estava tão careca quanto ela.

Yao Jiuxiao ignorou a risada enlouquecida de Lu Qingyu, aproximou-se da filha, inclinou-se e a pegou no colo.

— Shu’er, não fique triste. Estamos iguais — disse Yao Jiuxiao, com o rosto ainda frio, mas os olhos quentes.

Lu Yaoyao estendeu a mãozinha e tocou a cabeça do pai, tão careca quanto a dela.

— Ah? — Aquele lindo cabelo do Pai sumiu, agora ele era um bebê careca como ela.

Os olhos de Lu Yaoyao estavam cheios de confusão, como se quisesse ficar feliz, mas não conseguisse. Mesmo sem o cabelo bonito, o Pai ainda era muito bonito.

— Yao Jiuxiao, vai entrar para a Seita dos Dez Mil Budas? — Lu Qingyu ria tanto que lágrimas saíam dos cantos dos olhos. Queria mesmo que os velhos da Seita Guiyuan vissem como estava seu Dao Venerável naquele momento.

Yao Jiuxiao lançou um olhar indiferente para Lu Qingyu e depois voltou a olhar para a pequena.

As mãozinhas de Lu Yaoyao ainda tentavam tocar a cabeça de Yao Jiuxiao. Ele baixou a cabeça de forma cooperativa, deixando a criança tocar.

— Ah, ah! — Lu Yaoyao se aninhou nos braços do Pai e balbuciou reconfortada.

Ela estava tão triste por estar sem cabelo, então o Pai devia estar tão triste quanto ela. Tinha que confortá-lo. Não queria que ele ficasse infeliz.

Lu Yaoyao inclinou-se, fez biquinho e beijou o rosto de Yao Jiuxiao algumas vezes.

Pai, não fique triste!

Lu Qingyu ainda ria no começo, mas logo ficou mal ao ver a filha tão grudada em Yao Jiuxiao.

— Eu sei que você sempre pensa que o corpo, cabelo e pele são presentes dos seus pais e que não deve feri-los... mas, veja só...

Lu Qingyu lembrou que os humanos eram muito apegados a essa ideia, mas Yao Jiuxiao estava disposto a raspar a cabeça só para agradar a filha.

Lu Qingyu olhou para a menininha ingênua. Havia um significado profundo e incompreensível em seus olhos. Ele parecia subestimar a influência dessa criança sobre Yao Jiuxiao, e talvez também a influência dela sobre si mesmo... não, era só uma filha. Ele a mimaria dentro do aceitável, mas não faria papel de bobo só para agradá-la.

Lu Qingyu olhou para a parte de trás da cabeça de Yao Jiuxiao, tão careca e lisa que refletia a luz do sol. Ele soltou outra gargalhada.

Yao Jiuxiao colocou Lu Yaoyao de volta na manta de pele de besta e, então, pegou Lu Qingyu de surpresa.

Lu Qingyu reagiu rápido para resistir, mas foi um passo mais lento e acabou amarrado com uma corda anti-demônio para prisioneiros. No momento seguinte, sua cabeça ficou leve e milhares de fios de cabelo caíram no chão.

— Yao, Jiu, Xiao! — Quando finalmente se libertou, já era tarde demais. Ele estreitou os olhos perigosamente e seu ódio explodiu.

— Uau, haha...

Uma risada clara e repentina soou, e os olhos de Lu Qingyu voltaram do vermelho-sangue ao preto normal. Ele olhou e viu a filha olhando para ele, rindo feliz.

Lu Qingyu: “...”

Deixa pra lá, o importante é que a pequena está feliz.


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