Capítulo 16 a 20


 Capítulo 16 Parte 1 – Passagem Secreta (I)

— Saudações, Alteza Imperial — Fuyi calmamente enfiou o xale nas mãos do Gordo Liu e se curvou em uma reverência para Sui Tingheng.

Gordo Liu apressadamente jogou o xale de lado e tentou se levantar para cumprimentar o Príncipe, mas o tecido se enroscou nos seus pés e, com um baque surdo, ele caiu de novo no chão.

O Vice-Ministro da Justiça lançou um olhar ao homem que quase fora achatado pela bunda de Liu Shizi e murmurou a seu colega:

— Vá rápido e chame dois médicos. Com tanta gente assistindo, não podemos deixar que esses suspeitos morram aqui.

Sui Tingheng deu alguns passos adiante, mas a voz do vice-ministro o trouxe de volta à razão:

— O que está acontecendo aqui?

Ninguém ousou responder. Wang Yanhe e seus amigos olharam para Gordo Liu, enquanto o grupo de Fuyi trocou olhares silenciosos entre si. No fim, todos os olhares recaíram sobre Gordo Liu.

— Vigiem bem esses três — Sui Tingheng entregou o decreto imperial ao Chefe da Corte de Revisão Judicial. — Entregue isto a Ning Wangfei e mantenha vigilância rigorosa sobre a Mansão Ning Wang. Ninguém, além dos oficiais encarregados do caso, poderá entrar ou sair, para não perturbar as mulheres no pátio interno.

— Este súdito obedece à ordem. — O chefe de justiça pegou o decreto e saiu da loja de roupas. Do lado de fora, uma multidão havia se formado por causa da confusão. Entre os curiosos, estavam o neto do Grande Preceptor Du, o segundo filho do Ministro das Obras Públicas e até mesmo a delicada filha do Ministro dos Ritos — que parecia estar… segurando um pedaço de pedra de tinta?

Percebendo o olhar do chefe de justiça sobre ela, Lu Yan rapidamente escondeu a pedra de tinta atrás das costas e, discretamente, a enfiou na manga.

— Já está tarde. O que estão todos fazendo aqui? — o chefe de justiça suspirou, exasperado, desejando que esses jovens fossem pra casa em vez de se amontoarem ali.

— Boa noite, senhor. A noite está tão agradável, viemos dar um passeio.

— Viemos beber um pouco.

O chefe de justiça soltou um suspiro longo.

— Vão pra casa, certo? Estou de saída.

— Vá com cuidado, senhor.

Após a partida do chefe de justiça, o grupo foi se dispersando em pequenos ajuntamentos, embora nenhum deles parecesse com vontade de voltar pra casa.

O Jovem Mestre Du se aproximou discretamente de Lu Yan:

— Não se preocupe, Senhorita Lu. Yun Fuyi não sairá prejudicada.

Lu Yan virou o rosto e respondeu suavemente:

— Eu sei. — Levantou levemente a barra da saia, ficando na ponta dos pés para tentar enxergar melhor o interior da loja. Com toda aquela confusão, sua maior preocupação era que o Príncipe ficasse irritado com Fuyi.

Como ninguém se manifestava, Sui Tingheng não se irritou.

— Liu Shouchang, explique você — disse ele, dirigindo-se diretamente ao Gordo Liu.

— Alteza Imperial, este súdito só veio acompanhando Yun Fuyi — Gordo Liu, acostumado a intimidar os fracos e temer os fortes, não ousou hesitar diante do Príncipe. — Não sei quem são essas três pessoas.

— Pedimos perdão, Alteza Imperial — Fuyi interveio — esta filha de súdito estava apenas curiosa sobre o que a loja de roupas vendia, então viemos dar uma olhada. Quem diria que, de repente, três pessoas sairiam rastejando debaixo de uma laje de pedra? Pensamos que estivessem brincando, mas no instante em que nos viram, sacaram adagas ameaçadoramente. Foi realmente assustador. — Ela se afastou um pouco, como se de fato estivesse assustada.

— … — O Vice-Ministro da Justiça olhou incrédulo para o trio, já espancado até ficarem irreconhecíveis.

Gordo Liu também lançou um olhar de lado para Fuyi. Quem é que escala muro só pra visitar loja de roupas?

Lembrando-se de que os três haviam saído debaixo da laje, o vice-ministro rapidamente ligou os pontos. Sua expressão ficou séria ao levantar a pedra com força no local que Fuyi mencionara — havia mesmo um túnel embaixo.

— Alteza Imperial, há uma passagem secreta aqui! — o vice-ministro sentiu um arrepio percorrer a espinha. Construir secretamente uma passagem subterrânea na Rua Leste sem que ninguém percebesse… que tipo de poder estava por trás disso?

Sui Tingheng dirigiu-se ao túnel, mas foi interrompido no meio do caminho por Fuyi.

— Alteza Imperial, não sabemos aonde essa passagem leva. É possível que ainda haja elementos perigosos escondidos lá dentro. Por favor, não se aproxime demais.

— Entendo. — Sui Tingheng reparou na poeira na barra da saia de Fuyi, no pente torto em seu cabelo e na ausência de um brinco em sua orelha esquerda. Seu olhar percorreu o pátio e voltou a repousar sobre ela. — Senhorita Yun, está ferida?

— Agradeço sua preocupação, Alteza Imperial, mas esta filha de súdito não está ferida. — Fuyi, percebendo o olhar do Príncipe em sua orelha esquerda, levou a mão até ali e notou que de fato havia perdido um brinco. Levantou o punho direito e fingiu tossir duas vezes. — Alteza, para onde acha que essa passagem pode levar? Estou um pouco curiosa.

O canto dos lábios de Sui Tingheng se curvou levemente.

— Assim que os Guardas Jinwu confirmarem que o túnel está seguro, se ainda estiver curiosa, Senhorita Yun, poderá acompanhá-los para dar uma olhada.

— Agradeço, Alteza Imperial. — Os olhos de Fuyi brilharam. Que príncipe atencioso e compreensivo!

Ao ver que o Príncipe permitira que Fuyi o acompanhasse para assistir ao espetáculo, Gordo Liu rapidamente deu um passo à frente para fazer seu próprio pedido:

— Alteza Imperial, este súdito também gostaria de...

— De jeito nenhum — Fuyi o interrompeu sem piedade. — Você vai entupir o túnel.

Gordo Liu lançou um olhar furioso para Fuyi, rangendo os dentes, mas nada pôde fazer, pois ela rapidamente se escondeu atrás do Príncipe, erguendo as sobrancelhas com ar de superioridade.

— A Senhorita Yun está preocupada com sua segurança, então é melhor que espere do lado de fora — disse Sui Tingheng com um sorriso. — Não desperdice as boas intenções dela.

Gordo Liu: “…”

Boas intenções?

Alteza Imperial, está sendo enganado por Yun Fuyi!

Gordo Liu estava inconformado, mas não ousou contestar Sui Tingheng. Só lhe restou afastar-se, irritado, e agachar-se num canto para fazer beicinho.

Após entrarem na Mansão do Príncipe Ning, os Guardas Jinwu não invadiram nenhum aposento à força. Em vez disso, informaram ao mordomo-chefe que primeiro gostariam de cumprimentar a Wangfei.

Sem saber as verdadeiras intenções deles, o mordomo-chefe inventou uma desculpa, dizendo que a Wangfei estava ocupada cuidando do Wangye e, portanto, indisponível.

— Considerando o estado grave do Príncipe Ning, não deveriam chamar um médico imperial para atendê-lo? — o comandante dos Guardas Jinwu parecia extremamente preocupado. — Se Sua Majestade souber disso, ficará com o coração partido.

— Agradecemos a preocupação, General. O Wangye já tomou o remédio e deve se recuperar logo — respondeu o mordomo com um sorriso forçado. Ele virou a cabeça e viu um atendente lhe fazer um sinal. Finalmente aliviado, seu sorriso se tornou instantaneamente mais descontraído. — Este servo não sabe onde o senhor pretende revistar, General, mas sinta-se à vontade para proceder como desejar.

— Do que está falando? — disse o comandante. — Nossa ordem é proteger o Príncipe Ning, não revistar a mansão. — E deu um tapinha tranquilizador no ombro do mordomo. — Fique tranquilo, encontraremos qualquer criminoso escondido aqui e garantiremos a segurança dele.

— Sim, sim, claro — o mordomo respondeu com uma reverência, juntando as mãos com respeito. — Então deixaremos tudo em suas competentes mãos.

Quero ver se vão encontrar alguma coisa aqui! — zombou ele por dentro.

Capítulo 16 Parte 2 - Passagem Secreta (II)




— Tanta poeira e teia de aranha. Será que nunca limpam este lugar? — resmungou Fuyi ao chegar na entrada do túnel escondido. Uma mão se estendeu para ela, e ela olhou para cima, vendo Sui Tingheng educadamente se inclinar para ajudá-la a subir. Após tirar a poeira das mãos na roupa, aceitou a mão dele, permitindo que a ajudasse a sair do poço seco.


Os Guardas Jinwu formaram um círculo protetor ao redor dos dois, permanecendo em total alerta.


— Isso parece... — Fuyi bateu a poeira das roupas — o pátio interno oeste da Mansão do Príncipe Ning?


Sui Tingheng puxou um lenço limpo da manga e entregou a Fuyi.


— É isso mesmo.


No momento seguinte, o som de passos e vozes se aproximando ecoou do lado de fora do pátio. A pessoa que liderava tinha uma voz aguda¹ e parecia estar de ótimo humor:


— Este é o pátio oeste. Atualmente, ninguém mora aqui, mas por favor, inspecionem bem, para garantir.


O mordomo-chefe, destrancando o portão com as chaves no cinto, acrescentou ao empurrá-lo:


— Espero que os criminosos sejam rapidamente encontrados, para que nosso Wangye possa se recuperar em paz.


Quando o portão do pátio se abriu, os olhos do mordomo se arregalaram de choque e sua voz quebrou num grito agudo:


— Quem são vocês?!


O comandante dos Guardas Jinwu entrou imediatamente no pátio e ficou surpreso ao ver as pessoas ali presentes:


— Alteza Imperial?


*Alteza... Imperial?* Só então o mordomo-chefe percebeu que a maioria dos “intrusos” eram homens em armaduras douradas, claramente Guardas Jinwu. Quanto à pessoa no meio, protegida pelos guardas — nada menos que o Príncipe.


— O velho servo saúda Sua Alteza Imperial — o mordomo-chefe rapidamente se ajoelhou, com os ombros tremendo. Não havia como os Guardas Jinwu terem simplesmente aparecido do nada. A única possibilidade era que tivessem descoberto o túnel escondido.


Mas como foi descoberto um túnel construído tão secretamente?



No pátio principal, Ning Wang, que estivera “inconsciente” por várias horas, finalmente acordou. Encostado na cabeceira, tomou o remédio entregue por um eunuco de uma só vez. Voltou-se para Ning Wangfei, que estava sentada ao lado da cama, e disse:


— A doença deste Wang fez Wangfei se preocupar.


— Esta consorte só está feliz que o senhor tenha acordado, Wangye — Ning Wangfei pegou suavemente o recipiente vazio do remédio de suas mãos, com um sorriso terno e cuidadoso. — Amanhã, vamos pedir que a cozinha prepare um caldo medicinal nutritivo para ajudar a recuperar suas forças.


— Obrigado pelo cuidado — disse Ning Wang, olhando para a porta. — Por que está tanto barulho lá fora?


— Alguns vilões audaciosos ousaram atacar um Junjun nomeado pelo tribunal bem no meio da capital. Sua Majestade está preocupado com sua segurança, por isso enviou os Guardas Jinwu para protegê-lo — explicou Ning Wangfei enquanto limpava delicadamente o canto da boca de Ning Wang com um lenço. — Ninguém te contou isso quando você estava no escritório do magistrado esta manhã?


Ning Wang lançou um olhar para a mulher que sorria gentilmente.


— O sobrinho imperial mencionou — respondeu de forma seca.


Ning Wangfei entregou o lenço para a criada atrás dela e se levantou.


— Já que acabou de acordar, Wangye, deve descansar. Esta consorte não vai mais incomodá-lo.


— Siyue — Ning Wang chamou pelo nome de Ning Wangfei, impedindo-a de sair. — Este Wang não tem muita energia ultimamente, por isso vou precisar que cuide das coisas na mansão.


— Pode deixar, Wangye. Esta consorte vai administrar tudo na mansão direitinho — Ning Wangfei assentiu.


Nesse instante, o mordomo-chefe entrou cambaleando no quarto. Ela se afastou um pouco, pausando sua saída.


— W-wangye, o pátio oeste... — o mordomo notou que Ning Wangfei ainda estava ali e rapidamente se curvou para ela. — Alguém escavou um túnel no pátio oeste. Esse assunto... esse assunto precisa que Wangye e Wangfei resolvam.


— O que disse?! — Ning Wang se sentou abruptamente. — Tem um túnel no pátio oeste?


O olhar de Ning Wangfei alternou entre Ning Wang e o mordomo, e ela calmamente disse:


— Wangye ainda não está recuperado. Deixe que eu cuide desse assunto—


— Com um incidente tão grave acontecendo na minha própria mansão, como este Wang poderia ficar parado? — Ning Wang exigiu, pálido. — Traga minhas roupas.


— Tio Imperial, o senhor está gravemente ferido. Não deveria se mexer — Sui Tingheng entrou no quarto e se curvou para Ning Wangfei. — Este sobrinho apareceu sem ser convidado. Peço desculpas pela intromissão, tia.


Ning Wangfei se afastou, evitando a reverência semiforma do Príncipe.


— Somos todos família. Por favor, não precisa de formalidades.


Ainda meio vestido, o Príncipe Ning rapidamente afastou a criada que ajeitava suas vestes e jogou a capa sobre os ombros.


— Sobrinho, o que o traz aqui com tanta pressa?


— Há cerca de uma hora, alguns samaritanos ajudaram os Guardas Jinwu a capturar três suspeitos. Esses três saíram de um túnel escondido que leva direto à sua mansão, tio — disse Sui Tingheng com tom perfeitamente calmo. — Este sobrinho estava preocupado com sua segurança, por isso invadi sem permissão. Agora que vejo que está bem, fico aliviado.


Ning Wang olhou para Sui Tingheng por um momento, antes de forçar um sorriso.


— Obrigado, Tingheng, pela sua preocupação.


Ning Wangfei, que já estava quase saindo, voltou silenciosamente para o quarto e sinalizou para os servos prepararem chá e refrescos. O que tivesse que ser discutido poderia ser feito com calma — ela não estava com pressa.


— E quem ajudou a capturar os invasores? — o sorriso de Ning Wang continuava gentil. — Este Wang precisa agradecer pessoalmente.


— Não precisa agradecer, Wangye. Como súdito da família imperial, é meu dever — uma figura apareceu na porta. — Pode ficar tranquilo: se houver mais intrusos, esta serva vai pegá-los todos. Nenhum escapará.


— Yun... Fuyi... — Ning Wang encarou a figura na porta, sentindo o gosto do sangue subir na garganta. — É você?


Sui Tingheng se levantou, pegou a capa pendurada na divisória e envolveu Ning Wang com ela.


— Tio Imperial, o senhor ainda está fraco; não pegue um resfriado.


Enquanto via Sui Tingheng cuidadosamente envolver o Príncipe Ning com a capa, Fuyi não pôde deixar de suspirar por dentro. Apesar de todos os problemas que Ning Wang causara às suas costas, Sua Alteza Imperial permanecia tão cuidadoso e atencioso. Realmente, um príncipe compassivo e benevolente!


— Tio Imperial, o senhor já tem vinte e seis anos, não é mais tão jovem quanto eu — disse Sui Tingheng com um sorriso gentil. — Precisa cuidar melhor da saúde.


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Nota do Autor:

Sui Tingheng: “Fuyi, o Tio Imperial está ficando velho.”


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Notas:


¹ Eunucos geralmente têm vozes mais agudas devido ao desequilíbrio hormonal.



Capítulo 17 – Chorando

— Agradeço sua preocupação, sobrinho. — Embora Ning Wang falasse com Sui Tingheng, seu olhar permanecia fixo em Fuyi. — Gostaria de saber quem eram aqueles três criminosos e por que estavam cavando um túnel dentro da minha mansão.

— Wangye é o senhor desta mansão. Se nem o senhor sabe, então ninguém mais poderia saber — Fuyi riu, com o tom carregado de sarcasmo. — Talvez algumas pessoas tenham a consciência pesada e fugiram em pânico assim que viram os Guardas Jinwu se aproximando. Como ratos no esgoto, escondem-se nas sombras, com medo de serem expostos. É realmente repugnante.

— Senhorita Yun, Wangye está conversando com Sua Alteza Imperial, e é bastante grosseiro da sua parte interromper — interveio o mordomo-chefe. — Se continuar assim, este velho servo não terá escolha a não ser pedir que se retire.

— Wangfei está aqui e não disse uma palavra, e ainda assim o senhor presume tomar as rédeas? Acho que quem está sendo arrogante e desrespeitoso com seus superiores é o senhor — disse Fuyi, com calma, enquanto limpava a manga da roupa. — Como filha de um oficial da corte, prestei serviço ajudando a capturar criminosos dentro da mansão de Ning Wangye, e ainda assim o mordomo dele quer me expulsar? O que significa isso? Por acaso os que capturei não são criminosos, mas subordinados preciosos de Ning Wang?

— Claro que não. Fuyi, você é uma grande benfeitora par—

— Por favor, não me chame pelo nome, Wangye — Fuyi o interrompeu. — Sou apenas uma humilde filha de súdito e não posso me permitir tamanha honra.

— Tio Imperial, a senhorita Yun está certa — disse Sui Tingheng com um leve tom de impotência, como se fosse um júnior constrangido pela atitude inadequada de seu veterano. — O senhor é um homem casado. Como pode continuar chamando a senhorita Yun pelo nome de batismo? Isso pode prejudicar a reputação dela.

Ning Wang desviou o olhar de Fuyi.

— Agradeço o lembrete, sobrinho. Este Wang estava se apegando a sentimentos antigos e esqueceu que os tempos mudaram, como a água da primavera que corre e nunca mais volta.

— Por que culpar a água da primavera? Talvez seja culpa do riacho, que não teve competência para segurá-la — comentou Sui Tingheng, casualmente, girando a xícara na mão. — Este sobrinho não compreende tão profundas palavras, Tio Imperial, mas não se esqueça da grande ajuda que a senhorita Yun prestou.

— Ning Wangye não precisa ser tão grato a esta filha de súdito — disse Fuyi com um sorriso alegre, levantando-se e fazendo uma rápida reverência a Ning Wang e Sui Tingheng. — Agora que os Guardas Jinwu estão cuidando do assunto, retiro-me para evitar mais perturbações.

Sui Tingheng baixou a xícara e estava prestes a falar novamente, quando Ning Wangfei se levantou de seu assento.

— Senhorita Yun, por favor, espere um momento. Eu estava prestes a ir ao jardim colher algumas flores. Gostaria de me acompanhar?

— Com prazer — respondeu Fuyi, aceitando o convite sem hesitação.

Ning Wangfei observou discretamente a lendária senhorita Yun. Embora a saia carmesim dela estivesse um pouco empoeirada, ela parecia totalmente despreocupada. Seus movimentos eram relaxados e livres, irradiando uma sensação de leveza. Seu rosto claro estava adornado com uma expressão alegre — ela parecia particularmente bem-disposta.

— Wangfei, há algo no meu rosto? — perguntou Fuyi. Embora Ning Wangfei tentasse ser discreta, Fuyi era perceptiva o bastante para notar o olhar atento.

— Perdoe-me, senhorita Yun. Sua beleza é tão marcante que, por um momento, me perdi nela — Ning Wangfei não percebeu quanto tempo passara encarando-a e se sentiu um tanto envergonhada. — Fui indelicada.

— Fazer Wangfei se distrair, ainda que por um instante, é o maior elogio que esta aparência poderia receber — respondeu Fuyi, fazendo uma reverência. — Muito obrigada pelo elogio, Wangfei.

Um leve riso escapou dos lábios de Ning Wangfei. O constrangimento causado por sua leve falta de etiqueta pareceu se dissipar com aquela risada.

— Estou na capital há pouco tempo e percebo que é bem diferente de Lingbei.

— Cada região tem seus costumes próprios. Faz apenas dois meses que está aqui, é natural sentir certo desconforto — disse Fuyi com um sorriso. — Mas não se preocupe, Wangfei. Com o tempo, vai se acostumar.

Dada a situação delicada de Ning Wang, quase nenhum evento social ousava convidar sua Wangfei. Os membros da família imperial ainda enviavam convites por obrigação, mas comparecer a tais reuniões muitas vezes a deixava em situação mais constrangedora do que se não fosse.

Afinal, quando se trata de ler emoções e interpretar expressões, quem supera a família imperial?

Embora Ning Wangfei dissesse que iria colher flores, na verdade ela acompanhou Fuyi até o portão principal.

Uma leve garoa começou a cair. Do portão da Mansão Ning Wang, um grupo de jovens homens e mulheres podia ser visto espiando de longe.

— Agradeço pela hospitalidade, Wangfei. Os amigos desta filha de súdito estão esperando ali. Com licença, vou me retirar — Fuyi fez uma reverência a Ning Wangfei antes de erguer a barra da saia e correr sob a chuva.

Ning Wangfei observou enquanto a figura de Fuyi era rapidamente cercada pelos amigos. Seus criados seguravam guarda-chuvas enquanto o grupo se reunia num canto do muro, rindo e brincando, com a felicidade evidente em cada gesto.

— Wangfei, a chuva está engrossando — disse uma criada, segurando um guarda-chuva sobre a cabeça da senhora. — Vamos voltar?

Ning Wangfei lançou um olhar de volta à mansão, mas não resistiu em se virar mais uma vez na direção de Fuyi. Lentamente, começou a caminhar de volta.

— Alguém aqui é natural da capital? Conte-me mais sobre esta senhorita Yun.

— B-bem… — a criada, uma ex-serva do palácio enviada para a Mansão Ning Wang após sua fundação, abaixou a cabeça, hesitante. — Q-quando esta serva começou a trabalhar no palácio, Yun Junjun já havia partido para Chongzhou com sua família, então… então esta serva só ouviu alguns boatos vagos.

— Tudo bem — disse Ning Wangfei gentilmente, com o olhar suave. — É só uma conversa casual. Não precisa ficar nervosa.

Reanimada pelo tom amável da Wangfei, a criada contou algumas histórias sobre Fuyi — o quanto o falecido imperador a adorava, sua reputação notória como desocupada, e até as brigas que arrumava com os garotos de seu círculo. No entanto, a criada habilmente evitou qualquer menção à antiga ligação entre Ning Wang e Fuyi.

Ning Wangfei então perguntou:

— Ouvi dizer que a família da senhorita Yun quase foi assassinada no caminho para Chongzhou?

Diante disso, o rosto da criada empalideceu, e ela baixou os olhos, sem ousar encarar a Wangfei.

— E-esta serva… não sabe dos detalhes. Só ouvi rumores do palácio naquela época — disseram que a senhorita Yun foi atingida por uma flecha e caiu de um penhasco. Todos achavam que ela já estava morta, mas depois que Sua Majestade subiu ao trono, por volta de meio ano após a fundação da Mansão Ning Wang, surgiram boatos de que a senhorita Yun havia milagrosamente sobrevivido…

Quando a senhorita Yun sofreu o atentado, muitos suspeitaram que o ataque à família Yun estava ligado à Nobre Consorte Zeng. Mas como poderia ela, uma simples criada, ousar mencionar tais coisas diante da Wangfei?

No canto do muro, do lado de fora da Mansão Ning Wang:

— Por que a chuva está ficando mais forte? — Fuyi fungou. — Está um pouco frio.

— Senhorita, deveríamos voltar logo — disse Xiayu, lançando um olhar preocupado para a perna esquerda de Fuyi. — O médico Liu disse que sua perna ainda precisa de um ou dois anos para se recuperar completamente. A senhorita não pode, de forma alguma, deixá-la se resfriar.

— Shh — Fuyi cobriu a boca de Xiayu. — Não deixe Xiaowu e os outros ouvirem. Eles vão fazer um escândalo de novo.

— Fuyi, o que está cochichando com Xiayu? — Lin Xiaowu se aproximou, inclinando a cabeça.

— Nada demais. Vocês podem ir se divertir no Pavilhão Caiyin. Eu queria ir pra casa mais cedo e dormir um pouco — Fuyi reprimiu um bocejo, cobrindo a boca com a mão. — Da próxima vez, os drinques são por minha conta.

Vendo que ela realmente parecia cansada, Lin Xiaowu assentiu.

— Tudo bem, saímos juntas outra hora.

Quando os amigos souberam que Fuyi queria ir embora mais cedo, ficaram preocupados com a possibilidade de ela ser atacada de novo e logo se ofereceram para mandar os criados acompanhá-la até em casa.

— Está tudo bem. Isto aqui é a Rua Leste, tem patrulhas por todo lado. O que haveria para temer? — Fuyi tentou tranquilizá-los. Dado o talento natural daquele grupo para se meter em encrenca, ela na verdade se preocuparia mais se eles não tivessem criados vigiando.

— Então pelo menos vou te acompanhar de vol—

— Senhorita Yun — Sui Tingheng aproximou-se do grupo —, a chuva da primavera ainda está bem fria. Permita-me acompanhá-la.

Lin Xiaowu e os outros imediatamente recuaram assim que viram o Príncipe; ninguém ousou dizer mais nada.

— Agradeço, Sua Alteza Imperial — Fuyi bateu os pés frios no chão e seguiu Sui Tingheng até a carruagem.

O interior da carruagem estava bem aquecido, com um grande braseiro colocado no centro.

— Seque o cabelo, por favor — Sui Tingheng entregou a Fuyi um lenço limpo.

— Obrigada, Sua Alteza Imperial — Fuyi pegou o lenço e secou o cabelo às pressas, enxugando a água da chuva.

Os dedos de Sui Tingheng se contraíram levemente ao ver os grampos desalinhados no cabelo dela e os fios agora armados, mas desviou o olhar em silêncio.

— Esta filha de súdito já desperdiçou dois dos seus lenços hoje, Sua Alteza Imperial — disse Fuyi, enquanto retirava os grampos e refazia o penteado num coque rápido, prendendo-o de forma casual com um simples grampo de jade.

— Não precisa de tanta formalidade, senhorita Yun — disse Sui Tingheng, pegando o bule da mesinha e servindo-lhe uma xícara de chá quente. — Graças à sua ajuda, conseguimos impedir que aqueles suspeitos escapassem.

Fuyi segurou a xícara com ambas as mãos, sentindo o calor se espalhar pela pele. Com os olhos baixos, falou suavemente:

— Ouvi dizer que, quando a Nobre Consorte Zeng morreu no incêndio, muitos dos que a serviam também não conseguiram escapar e foram reduzidos a cinzas?

Sui Tingheng assentiu.

— Havia trinta e dois eunucos e trinta e seis criadas em serviço no Palácio Xiangkun naquele dia. No fim, pouco mais de dez sobreviveram. Todos os nomes foram registrados, e o homem que tentou assassinar você, Wang San, era um deles.

Fuyi não perguntou por que tão poucos haviam escapado. Segredos imperiais não eram algo que ela precisasse saber. O fato de o Príncipe já ter revelado tanto era, por si só, surpreendente.

Cerca de uma hora depois, a carruagem parou diante da mansão da família Yun.

— Senhorita Yun — chamou Sui Tingheng, descendo da carruagem e parando Fuyi antes que ela cruzasse os portões. Ele retirou um pequeno saquinho da cintura. — Esqueci de lhe entregar isto antes.

Fuyi se virou e pegou o saquinho. Ao abri-lo, ficou surpresa ao encontrar dentro o brinco que havia perdido.

— Agradeço, Sua Alteza Imperial — ela sorriu calorosamente para Sui Tingheng.

— Entre logo — disse ele, pegando um guarda-chuva aberto das mãos de Mo Wen e entregando a ela. — Não vá pegar um resfriado.

Fuyi fez uma reverência, segurando o guarda-chuva.

Sui Tingheng virou-se e subiu novamente na carruagem. Enquanto ela se afastava, ele observou Fuyi virar-se e voltar à mansão Yun acompanhada de sua criada.

Porque ele era um príncipe, ela teria ficado parada ali, esperando, caso ele não tivesse ido embora.

— Três anos atrás, ele a conheceu no jardim imperial. Ela caminhava à frente, com seu tio logo atrás.

Os olhos de Sui Tingheng notaram um brilho debaixo de uma almofada. Ele se abaixou e pegou um pequeno grampo de cabelo em forma de cigarra dourada, delicadamente adornado com folhas de jade.

— Se Ning Wang fosse esperto, já estaria arrastando o corpo doente até o palácio agora mesmo para implorar perdão, dizendo que falhou ao administrar sua casa e por isso os criminosos entraram — disse Xiayu, colocando o pacotinho de ervas medicinais do médico Liu dentro da banheira.

— Ning Wang não é burro, mas os Guardas Jinwu postados em sua mansão talvez não lhe deem essa chance — respondeu Fuyi, encostada na borda da banheira. — Além disso, ele cresceu mimado e sempre achou que o mundo girava ao redor dele. Embora tenha se mantido discreto nos últimos dois anos, a arrogância que lhe corre nas veias não desaparece tão fácil assim.

Se Sui Ruijing tivesse a cara de pau necessária, já estaria ajoelhado nos portões da própria mansão a esta hora, chorando alto para que toda a capital visse. O imperador só está no trono há dois anos; com uma demonstração pública de humildade e lealdade do único irmão mais novo ainda vivo, provavelmente cederia por questão de imagem.

Infelizmente, arrogância era o maior defeito de Sui Ruijing. Ela, Fuyi, sabia disso muito bem — e por isso havia ido tão longe para provocá-lo.

Na sessão matinal da corte, como era de se esperar, um oficial apresentou um pedido de impeachment contra Ning Wang, acusando-o de proteger criminosos, nutrir más intenções contra o irmão e soberano, e até mesmo conspirar para se rebelar. No entanto, os ramos colaterais da família imperial logo intervieram, alegando que tudo poderia não passar de um mal-entendido — e a corte rapidamente mergulhou em uma confusão de debates acalorados.

De repente, os soluços do imperador ecoaram do trono. Todos ficaram atônitos — tal cena era inédita, e toda a corte caiu instantaneamente em silêncio, com apenas o choro do imperador rompendo a quietude.

— Ruijing é jovem e tolo. Mesmo que ele guarde ressentimento contra mim, seu irmão mais velho, é porque eu falhei como irmão — o imperador chorava, batendo no peito, sem perceber que sua coroa com franjas já havia escorregado. — Queridos ministros¹, parem de brigar. Ainda que Ning Wang tenha intenções rebeldes, ele continua sendo apenas uma criança. Como diz o ditado: “A culpa do pai está em não saber ensinar o filho.” Após o falecimento do falecido imperador, foi Zhen², seu irmão mais velho, quem ficou responsável por sua criação. Se ele errou, será que Zhen pode realmente dizer que é inocente?

Os cortesãos ficaram tão chocados com o desabafo inesperado do imperador que mal conseguiram reagir.

— Por favor, por amor a Zhen, perdoem Ning Wang desta vez — implorou o imperador, sem esperar resposta. — E se ainda estiverem insatisfeitos, vamos puni-lo cortando sua pensão por três anos — não, por oito! Se ele ousar errar de novo, Zhen o punirá severamente!

— … — O juiz supremo era o mais sem palavras de todos. Sua Corte Judicial e o Ministério da Justiça estavam conduzindo o caso juntos. Eles ainda nem tinham encontrado provas concretas da rebelião de Ning Wang, mas o imperador já estava chorando e suplicando clemência.

— A bondade e compaixão de Vossa Majestade nos comovem profundamente — disse Yun Wanggui, avançando. — Mas, como súdito leal, espero que Ning Wang jamais se esqueça da graça que Vossa Majestade lhe concede hoje. Se ele voltar a cometer tais atos traiçoeiros, preferiremos morrer a perdoá-lo.

O imperador continuou chorando, lamentando repetidamente sua falha em educar o irmão e a dor insuportável que isso lhe causava.

Até os parentes imperiais, que haviam se manifestado mais por preocupação com a postura do imperador diante dos ramos colaterais, ficaram profundamente tocados com a demonstração de emoção.

Sempre souberam que o imperador se importava com eles. Em comparação com esse monarca generoso e benevolente, Ning Wang realmente parecia um ingrato desprezível.

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Nota da Autora:
Imperador: — Não tem problema se Ning Wang for arrogante, porque Zhen é o mais cara de pau~

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Notas:

¹ Querido ministro (爱卿, aiqing): Modo como um imperador se dirigia a cortesãos favorecidos. Na maioria dos casos, qualquer ministro que não fosse detestado recebia esse tratamento.

² Zhen (朕): Autoapelativo utilizado exclusivamente por um imperador.


Capítulo 18 – Jarra de Vinho — Majestade, se perdoar Ning Wang tão facilmente por seus crimes graves, não estaria, na verdade, encorajando aqueles com intenções traiçoeiras de desafiar o trono? — A expressão afiada do General Cao cortava como lâmina ao lançar seu olhar sobre os membros do clã imperial presentes no salão. Os membros do clã imperial se remexeram, inquietos. O que exatamente o General Cao estava insinuando? Estaria suspeitando que estavam colaborando com Ning Wang? Ou que tinham ambições quanto ao trono? Eles certamente não tinham chance de alcançar aquele posto, então por que estavam sendo envolvidos em acusações tão pesadas? Dois anos atrás, dois qinwangs haviam iniciado um golpe para forçar o imperador anterior a abdicar. Muitos membros do clã imperial foram implicados e perderam a vida. Embora o golpe tenha falhado, seus efeitos não foram insignificantes: o imperador, enfurecido pelas ações rebeldes dos filhos, acabou falecendo. Até mesmo a odiada Nobre Consorte Zeng, famosa por ser a concubina maligna que desviava o imperador de seu dever, morreu no incêndio que consumiu seu palácio. Com a morte repentina do imperador e nenhum decreto oficial nomeando seu sucessor, restaram apenas dois filhos legítimos além dos qinwangs rebeldes: o atual Imperador, então conhecido como Li Wang, e o atual Ning Wang. Na época, alguns oficiais da corte sugeriram que, como o falecido imperador favorecia Ning Wang, este deveria herdar o trono. No entanto, os membros do clã imperial discordaram e apoiaram Li Wang como novo imperador, em respeito às leis ancestrais de sucessão. Nesse momento, um velho junwang, de geração mais antiga entre os membros do clã, deu um passo à frente. Temia que, se não deixassem sua posição clara agora, boatos começariam a circular no dia seguinte, acusando-os de apoiar Ning Wang em um complô contra Sua Majestade. — Majestade, este velho súdito acredita que as palavras do General Cao têm mérito — declarou o velho junwang, seus cabelos brancos contrastando com sua voz firme. — Embora Vossa Majestade tenha perdoado Ning Wang por sua transgressão, esse assunto não deve ser tratado com leviandade, ou outros podem vê-lo como um precedente. Quem seriam esses “outros”, ele não sabia — mas com certeza não seriam eles, os membros do clã imperial. — O que quer dizer com isso, tio-avô? — O Imperador interrompeu imediatamente seus soluços, com medo de que seu choro afetasse a saúde do velho junwang. Pela linha de sangue, ele precisava chamá-lo de tio-avô. — Que tal tirar o título de qinwang de Ning Wang e rebaixá-lo para junwang? Assim ele recebe um aviso severo, sem ser punido com rigor extremo. — O junwang acariciou a barba, satisfeito com sua sugestão. — Isso não seria severo demais? Ruijing foi mimado desde pequeno… — Majestade! — Vendo a hesitação do Imperador, o velho junwang, como membro mais respeitado do clã, demonstrou imediato desagrado. — Mimar uma criança não a ajuda a amadurecer — arruína-a! E Ning Wang já não é mais uma criança; pretende deixá-lo continuar nessa tolice? — Não, tio-avô, por favor, não se irrite; não se exalte — o Imperador desceu do trono do dragão para apoiar pessoalmente o velho junwang. — Como membro mais jovem, Zhen é grato por sua sabedoria. Zhen reconhece que conduziu mal esta situação. — Isso, isso — o velho junwang se sentiu honrado. Estendeu a mão e deu um leve tapinha no braço do Imperador, suspirando: — Majestade, fico feliz que tenha compreendido. Ruijing foi estragado pelo falecido imperador; está mais do que na hora de ser disciplinado. — É claro, é claro. Zhen seguirá seu sábio conselho — assentiu o Imperador repetidamente, e até mandou trazer uma cadeira para o velho junwang se sentar — uma grande honra. O velho junwang ficou cada vez mais satisfeito com o Imperador, que respeitava os mais velhos e era gentil com o irmão mais novo. Que bom governante! Que imperador exemplar! Tivemos sorte por Sua Majestade ter um coração tão generoso, bem diferente do anterior! E assim, graças aos choros dramáticos do Imperador, Ning Wang foi apenas rebaixado de qinwang para junwang, e teve sua pensão suspensa por oito anos. Depois da dispersão da corte, os ministros viram os olhos vermelhos do Imperador e sua saída solitária e abatida, o que os comoveu profundamente. — Senhor Zhou — o Chefe da Justiça chamou o Ministro da Justiça — Sobre o caso do Palácio de Ning Wang… — Já que Sua Majestade demonstrou tanta afeição e cuidado com o irmão mais novo, não há necessidade de investigar mais — respondeu o Ministro da Justiça com um sorriso. — Os prisioneiros e as evidências encontradas serão entregues à Guarda Jinwu. Como súditos, não seria adequado dificultarmos as coisas para Sua Majestade, não acha? — Entendo. Agradeço sua orientação. — No fundo, o Chefe da Justiça ainda se sentia um pouco confuso. Por que, afinal, ninguém perguntou diretamente se Ning Wang havia ou não realmente conspirado contra o trono? … — Estou morrendo de sede! — O Imperador entrou a passos largos no Palácio Zhaoyang da Imperatriz, pegou uma xícara da mesa e a esvaziou de um gole só — sua garganta estava seca de tanto chorar a manhã inteira! — O que foi que Vossa Majestade aprontou agora? — A Imperatriz encheu a xícara novamente e a entregou a ele. — Hoje, cortei a pensão do Ruijing por oito anos e tirei o título de qinwang. Agora ele é só um *junwang — respondeu o Imperador, com um brilho satisfeito no olhar. — Daqui pra frente, quando nosso Heng’er o cumprimentar como um sênior, ele terá que retribuir o gesto com respeito! Os olhos da Imperatriz brilharam. — Conte-me tudo em detalhes. Depois de ouvir o relato, ela riu: — Recuar para avançar, hein? Muito bem jogado! — Não tive outra escolha — suspirou o Imperador. O falecido imperador havia sido indulgente e extravagante, esbanjando sem limites. Após subir ao trono, ele herdou um tesouro vazio, ministros apáticos, parentes hedonistas e soldados nas fronteiras com meses de soldo atrasado. — Onde aprendeu esse truque de chorar desse jeito? — perguntou a Imperatriz, curiosa. — Adivinha. — Não faço ideia. — Com a filha do Ministro Yun — respondeu o Imperador com orgulho, tirando a coroa de franjas. — Conheci aquela garotinha há doze anos. Foi ela quem me ensinou que quem chora, ganha o doce. — Então você devia agradecê-la como se deve — riu a Imperatriz. Doze anos atrás, a filha dos Yun tinha só seis anos! Imaginar que o imperador, com a idade que tinha, aprendeu truques com uma criança… — Eu não entendo os gostos das moças jovens — murmurou o Imperador. Só de ouvir a palavra “agradecer”, já ficou com cara de dor. — Que tal você convidá-la ao palácio para uma refeição? Assim mostramos a todos que você a tem em alta consideração. — O favor da Imperatriz vale mais que qualquer riqueza do mundo — acrescentou depressa. Sabendo que a sovinice do marido estava atacando de novo, a Imperatriz pessoalmente redigiu um convite, chamando Fuyi para comparecer ao palácio para um pequeno encontro no dia seguinte. Na sua segunda visita ao palácio desde o retorno à capital, Fuyi trouxe suas criadas pessoais, Qiushuang e Xiayu. Os eunucos e atendentes que a receberam eram os mesmos da última vez, embora agora estivessem ainda mais solícitos. Pelo comportamento deles, Fuyi percebeu que o casal imperial apreciava sinceramente seus esforços em causar problemas a Ning Wang. — Esta filha súdita saúda Sua Majestade, a Imperatriz — disse Fuyi ao entrar no Palácio Zhaoyang, mas antes que pudesse completar a reverência, a Imperatriz a ergueu pelas mãos. — Este palácio já lhe disse antes: não há necessidade de tanta formalidade — declarou a Imperatriz, segurando a mão de Fuyi. — Já tomou café da manhã? — Esta filha súdita estava ansiosa para ver Vossa Majestade o quanto antes, então comi apenas alguns petiscos para forrar o estômago — respondeu Fuyi com sinceridade. Como costumava dormir até mais tarde, ter sido acordada cedo para se preparar a deixou sem tempo para uma refeição decente. — Perfeito, então pode comer comigo — disse a Imperatriz, acomodando Fuyi ao seu lado enquanto os empregados do palácio traziam uma variedade de pratos. Quando Fuyi se levantou para servir a Imperatriz, foi gentilmente impedida. — Protocolo serve para aparência; sem forasteiros aqui, não há necessidade de tanta rigidez — comentou a Imperatriz, empurrando uma tigela de sopa de barbatana de tubarão na direção de Fuyi. — Sente-se e aproveite a refeição. O comentário da Imperatriz fez Fuyi endireitar as costas instintivamente, pois sua mãe dizia o mesmo em casa. Será que Sua Majestade me trata como alguém do círculo íntimo? Não seria... informal demais? Após o desjejum, informaram à Imperatriz que as flores de pêssego no jardim haviam começado a desabrochar. Ela levou Fuyi para admirá-las. Infelizmente, os pessegueiros ainda estavam apenas brotando, e as flores, escassas e solitárias, pareciam um pouco murchas. — As flores ainda não estão em plena floração. Quando estiverem, você deve voltar para vê-las — suspirou a Imperatriz, decepcionada. — Agradeço, Vossa Majestade. — Ao passarem por um dos pessegueiros, Fuyi se lembrou de que havia enterrado duas jarras de vinho ali quando tinha treze anos. Na época, prometera a Ning Wang que os desenterrariam juntos quando ela completasse dezoito. — Há algo debaixo desta árvore? — perguntou a Imperatriz, notando o olhar peculiar de Fuyi. — Bem, esta filha súdita enterrou duas jarras de vinho debaixo desta árvore há alguns anos. Não sei se ainda estão bebíveis — disse Fuyi com um sorriso tímido. — Seria possível desenterrá-las? — Claro. Este palácio também quer provar — a curiosidade da Imperatriz foi imediatamente despertada. — Que tipo de vinho você enterrou? — Uma jarra de Vinho Vermelho da Filha e outra de Licor de Flor de Pêssego — respondeu Fuyi, pegando uma pequena pá das mãos de um eunuco. Lembrava que não os havia enterrado muito fundo. — Deixe que eu mesma faço isso. … Quando Sui Tingheng passou pelo jardim de pessegueiros, viu sua mãe com as mangas arregaçadas e uma pá na mão. — Mãe Imperatriz, o que está fazendo? — perguntou, confuso. — Cavando vinho — respondeu a Imperatriz, entregando-lhe outra pá. — Ajude também. Veja se encontra algum vinho sob essas árvores. Sui Tingheng olhou em volta e viu que vários pessegueiros já tinham pequenas covas escavadas ao redor. Ao longe, Fuyi se curvava com determinação, cavando com afinco. — Isso não faz sentido. Lembro claramente de ter enterrado aqui. Como não estão aqui? — Fuyi se endireitou, esfregando as costas doloridas, e sussurrou para Qiushuang: — Será que Ning Wang os desenterrou escondido? — … — Qiushuang não sabia o que dizer. Embora Ning Wang fosse realmente um canalha desprezível, ele chegaria ao ponto de roubar o vinho da senhorita...? — Por que não tenta esta árvore aqui? — sugeriu Sui Tingheng, apontando para o pessegueiro ao lado de Fuyi. — Se não se importar, senhorita Yun, posso ajudá-la a cavar. — Saudações, Vossa Alteza Imperial — Fuyi sorriu ao vê-lo. — Mas esta filha súdita lembra que enterrou o vinho perto de uma árvore maior. — Cinco anos atrás você era mais jovem; as árvores pareciam maiores naquela época — comentou Sui Tingheng, levantando a barra da túnica e começando a cavar. — Agora que cresceu, talvez as árvores não pareçam tão grandiosas quanto antes. — Faz sentido — Fuyi se agachou ao lado dele, ajudando na escavação. Qiushuang e Xiayu trocaram olhares aflitos. Como explicariam isso para a Madame quando voltassem? Se ela perguntasse o que a senhorita tinha feito no palácio, deveriam dizer a verdade — que ela passou o dia cavando buracos com a Imperatriz e o Príncipe...? Elas pensavam que o comentário da Imperatriz sobre dispensar formalidades era apenas cortesia — mas não esperavam que fosse literal. Ser tão informal assim… isso sim era revelador! — Achei! — exclamou Fuyi, radiante, ao ver o canto de uma jarra de vinho surgir na cova que Sui Tingheng cavava. — Vossa Alteza Imperial, além de talentoso nos estudos, também é ótimo em cavar buracos! Sui Tingheng lançou um olhar para Fuyi. Ao ver os olhos dela brilhando de alegria, sorriu: — Talvez eu só esteja com sorte hoje. Quando Fuyi se abaixou para pegar a jarra, ele a impediu. — Deixe que eu faço isso. Não precisa sujar as mãos. Fuyi olhou para as próprias mãos cobertas de lama, depois para as mãos limpas e belas de Sui Tingheng. Após um breve momento de hesitação, cedeu. — Obrigada, Vossa Alteza Imperial. Sui Tingheng arregaçou as mangas, ajoelhou-se e começou a remover cuidadosamente a terra das jarras de vinho que haviam sido enterradas por cinco anos. Vendo o quão sério ele estava com aquilo, Fuyi quase se perguntou se, por engano, tinha enterrado um tesouro valioso em vez de vinho... — Um bom vinho é difícil de encontrar — disse ele. — Teria a honra de provar este hoje? — Claro — respondeu Fuyi, agachando-se ao lado dele, limpando a jarra com um lenço. — Só não sei se está bom ou se agrada ao paladar de Vossa Alteza. Algo enterrado por cinco anos… quem poderia garantir o sabor? — Como não estaria bom? — Sui Tingheng discordou, com um sorriso quente como a primavera. — Este vinho envelhecido é único. Extremamente especial. •°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°• Nota da Autora: Sui Tingheng: “Enterrar vinho não é nada demais; o verdadeiro encanto está em desenterrá-lo juntos e compartilhá-lo.” •°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°• Notas: [1]: Junwang (郡王): Príncipe de Segundo Grau. Um título concedido aos filhos de um qinwang nascidos da consorte principal. Sua esposa é chamada Junwangfei (郡王妃). [2]: Durante a corte matinal, apenas o imperador pode se sentar em seu trono; todos os demais devem permanecer de pé.

Capítulo 19 – Carta na Manga

Duas jarras de vinho estavam expostas sobre a mesa no Palácio Zhaoyang, com seus exteriores limpos, como se nunca tivessem passado cinco anos enterradas no solo. Assim que o lacre foi quebrado, um rico aroma alcoólico preencheu o ar. Fuyi examinou cuidadosamente as jarras diversas vezes, depois sussurrou para Sui Tingheng:

— Vossa Alteza Imperial, por favor, convoque dois médicos imperiais para verificar se há veneno.

Diante do olhar confuso de Sui Tingheng, ela explicou:

— Embora esta filha súdita tenha enterrado pessoalmente o vinho anos atrás, não sou a única que sabe da existência dessas jarras sob o pessegueiro.

Ultimamente, ela vinha se desentendendo constantemente com Sui Ruijing. E, sendo ele vingativo como era, não seria impossível que tivesse envenenado o vinho em retaliação.

— Está bem — respondeu Sui Tingheng, o olhar deslizando brevemente pelas jarras antes de instruir um dos criados a chamar os médicos. Em seguida, convidou Fuyi para tomar chá com ele no pátio.

A Imperatriz já estava sentada no pátio. Ao notar a presença deles, examinou a vestimenta palaciana que Fuyi acabara de vestir e assentiu com um sorriso satisfeito.

— Essa roupa lhe caiu muito bem.

— É porque Vossa Majestade tem bom gosto — respondeu Fuyi com um sorriso. Sabendo que a Imperatriz detestava formalidades excessivas, sentou-se diretamente ao lado dela e disse: — Caso contrário, como poderia ter escolhido este traje para mim?

Divertida, a Imperatriz a presenteou com vários conjuntos de roupas e joias.

Observando as duas mulheres conversarem animadamente como se ele tivesse deixado de existir, Sui Tingheng não demonstrou qualquer desagrado. Apenas tomou seu chá em silêncio, lançando olhares ocasionais para as duas.

— Raro é você me fazer companhia por tanto tempo. Seu Pai, o Imperador, também se juntará a nós antes do almoço — comentou a Imperatriz, enfim se dirigindo ao filho. — É bom fazer uma pausa e aproveitar a paisagem. Não fique trancado com os livros o dia todo; é jovem demais para virar um velho erudito.

Nesse instante, uma voz ecoou do portão, anunciando a chegada do Imperador. Fuyi se levantou, preparando-se para fazer uma reverência, mas a risada calorosa do Imperador a alcançou antes:

— Não precisa de formalidades, Fuyi. Zhen já a segurou nos braços quando era pequena.

Parece que todo ancião tem uma frase dessas. Fuyi ergueu os olhos discretamente e lançou um olhar curioso ao Imperador. Apesar da túnica negra simples que usava, sua postura alta e imponente exalava autoridade — tão diferente das vestimentas espalhafatosas que o antigo Imperador costumava usar.

Após se sentar, o Imperador notou que Fuyi permanecia de pé.

— Sente-se — disse com uma risada. — Da primeira vez que Zhen a viu, você era bem ousada.

— Vossa Majestade, esta filha súdita sempre foi tímida — respondeu Fuyi com graça, enquanto se sentava. Ao mesmo tempo, tentava se lembrar quando foi que conheci o Imperador ainda criança...?

— Talvez, como dizem, bezerro recém-nascido não teme o tigre. Eu era um pouco travessa na infância — disse ela com um tom respeitoso, mas descontraído.

— E agora, tem medo?

— Não. Esta filha súdita ainda não tem medo de tigres ferozes — disse com um sorriso —, mas Vossa Majestade é o verdadeiro dragão que abriga todos sob os céus. Como sua súdita, naturalmente o admiro e reverencio.

O Imperador ficou encantado com as palavras espirituosas. Discurso floreado o entediava, mas uma admiração direta o agradava muito.

Como era de se esperar da filha do Ministro Yun — bela e eloquente!

— Ouvi dizer que, dias atrás, você disse àquele garotinho gorducho da família Liu que era filha de Zhen? — o Imperador gargalhou.

Mesmo que seu “feito” tivesse chegado aos ouvidos do Imperador, Fuyi não se abalou. Tinha a pele grossa e, a julgar pela expressão do soberano, ele não parecia incomodado. Baixou a cabeça, fingindo constrangimento:

— Esta filha súdita foi imprudente e se comportou como uma tola diante de Vossa Majestade.

Quem foi o linguarudo que espalhou isso para o Imperador?

— Não se preocupe, você estava certa. Todos os súditos são, de fato, meus filhos.

Após alguns comentários triviais, o Imperador abordou um assunto mais delicado: a queda de Fuyi do penhasco.

— Como sobreviveu àquele tombo há três anos?

Sobreviver a uma queda daquelas era o tipo de milagre que só acontecia com protagonistas de romances.

Imediatamente, a Imperatriz beliscou a cintura do marido. Por que relembrar o trauma da menina?!

O sorriso do Imperador vacilou. Não belisca! Não belisca! Não sou o único curioso!

— Na verdade, esta filha súdita não tem certeza. Após cair do penhasco, perdi a consciência — Fuyi não se incomodou em relatar o incidente. — Parecia que esta filha súdita estava num sonho longo, como se várias pessoas falassem ao meu redor, chamando meu nome. Depois, senti como se estivesse passando por um túnel escuro e vi muitas pessoas ajoelhadas e se prostrando.

— Ah, agora entendo — disse o Imperador com um olhar misterioso. — Talvez os ancestrais das famílias Yun e Liu estivessem se ajoelhando diante do senhor do submundo, implorando por sua vida.

— Majestade — disse a Imperatriz entre dentes —, isso se chama bênção ancestral.

— É tudo a mesma coisa — retrucou o Imperador com desdém. — Crianças abençoadas pelos ancestrais são verdadeiramente afortunadas.

Enquanto falava, esticou a mão para pegar um prato de doces — só para descobrir que não havia nada diante de si. Seus olhos se arregalaram — seu “filial” filho havia afastado todos os pratos!

E justo quando ia puxá-los de volta, o prato com seu doce favorito foi empurrado para frente de Yun Fuyi... por Sui Tingheng.

Que filho ingrato! O Imperador permaneceu em silêncio. Como soberano, certamente não podia disputar comida com uma jovem donzela. Mas isso não significava que não se sentia injustiçado!

— Ainda faltam uns trinta minutos para o almoço, senhorita Yun, então por favor, aceite estes docinhos para enganar a fome — disse Sui Tingheng, tirando um lenço para limpar as mãos, lançando um leve sorriso ao pai. — Pai, Vossa Majestade veio tão cedo porque não há assuntos urgentes de Estado ou já terminou de revisar os memoriais?

— Ah — o Imperador puxou um prato da frente do filho. — Apenas discuti com alguns velhos ministros. Zhen mal disse meia dúzia de palavras e eles já estavam ofegantes, agarrando o peito como se estivessem às portas da morte. Tive medo que desmaiassem no gabinete imperial, então resolvi vir para cá me esconder.

Os olhos de Fuyi se arregalaram.

...Isso é algo que eu realmente devia estar ouvindo?!

— Menininha da família Yun, diga a Zhen: os soldados da fronteira passam por tantas dificuldades — estou errado em lhes conceder uns taéis de prata extras por ano? — perguntou o Imperador.

— De forma alguma — Fuyi balançou a cabeça. A fronteira era um lugar árido e carente de recursos, e os soldados levavam uma vida dura protegendo as fronteiras.

— Até uma garota de dezoito anos entende isso, mas eles ficam insistindo nas regras ancestrais e dizendo que não devemos deixar os soldados desenvolverem hábitos extravagantes — resmungou o Imperador, tornando seu discurso mais áspero. — Eu digo que isso é tudo uma grande besteira!

Como é que três ou cinco taéis a mais poderiam levar alguém à extravagância?

— Esses oficiais devem ser muito frugais e seguir rigorosamente as leis ancestrais, então — disse Fuyi, piscando inocentemente. — Vossa Majestade deveria elogiá-los generosamente e fazer com que toda a capital soubesse de suas virtudes.

— Oh?! — Os olhos do Imperador se acenderam. É mesmo! Eles valorizam tanto a frugalidade, não é? Nesse caso, devem considerar o dinheiro algo desprezível e odiar o luxo!

— Não é à toa que Zhen sentiu que estávamos destinados a nos encontrar quando te vi anos atrás — disse o Imperador, batendo na coxa. — Fuyi, nós realmente somos almas gêmeas!

Que garota esperta! Exatamente do jeito que eu gosto!

— Amanhã, durante a corte, Zhen vai garantir que eles sejam muito bem elogiados.

— Vossa Majestade, talvez deva começar investigando os familiares deles, para ver quem leva o estilo de vida mais luxuoso — Fuyi sussurrou, se aproximando um pouco mais do Imperador. — Primeiro faz isso... depois aquilo...

— Ótimo, ótimo — o Imperador assentia com entusiasmo. — Então devemos começar pelos filhos e netos...

— Deixe isso comigo! — Fuyi deu um leve tapa no próprio peito. — Em pouco tempo, esta filha súdita garante que eles vão ter vergonha até de gastar uma única moeda.

Enquanto os sorrisos do Imperador e de Fuyi se abriam cada vez mais, a Imperatriz, inexplicavelmente, pensou em uma frase: diga-me com quem andas e te direi quem és. Virou-se para dividir o pensamento com Sui Tingheng, apenas para vê-lo, com seus modos sempre impecáveis, levantar-se e se juntar ao Imperador e a Fuyi.

— Senhorita Yun, esse plano é brilhante, mas creio que ainda falta um aliado.

O Imperador e Fuyi o encararam.

— Quem?

— Eu. — Sui Tingheng ergueu a barra da túnica e se sentou, o rosto sério e sincero. — Assim que o plano da senhorita Yun for colocado em prática, meu apoio aumentará suas chances de sucesso.

— Você vai mesmo fazer isso? — O Imperador lançou um olhar desconfiado ao filho. O caráter de Heng’er era diferente do seu. Embora às vezes agisse sem vergonha, Heng’er era elegante e comedido. Até aqueles velhos pedantes da corte o elogiavam.

— Se isso puder melhorar a vida dos soldados na fronteira, por que não? — Sui Tingheng se voltou para Fuyi com um leve sorriso. — O plano da senhorita Yun é realmente brilhante.

— Não, não, nem é tão bom assim — Fuyi tentou ser modesta, embora seus olhos se curvassem num sorriso. — Com Vossa Alteza Imperial à frente, tudo se tornará muito mais fácil.

— Fico aliviado que não me ache intrometido.

— Como poderia ser?! — Fuyi estendeu a mão e deu um tapinha no braço de Sui Tingheng. — Vossa Alteza Imperial é minha carta na manga.

Só depois do gesto percebeu que estava diante de um príncipe, não de seus velhos amigos. Imediatamente se repreendeu mentalmente: Perder o controle assim é o maior erro que uma desocupada pode cometer!

— Já que a senhorita Yun disse isso, então fico tranquilo — Sui Tingheng lançou um olhar ao próprio braço, e os cantos de seus lábios se ergueram levemente.

Fuyi lançou um olhar rápido.

Parece que... ele não ficou bravo?

Ainda incerta, espiou mais uma vez e viu que ele realmente não parecia incomodado. Sua hesitação desapareceu, e a admiração pelo caráter do Príncipe voltou a florescer em seu coração. Que príncipe gentil e magnânimo!

— Vossa Alteza Imperial, os Médicos Imperiais examinaram as duas jarras de vinho; não há nada de errado com elas — Mo Wen se aproximou, exalando um leve aroma alcoólico.

— Que vinho? — O Imperador ergueu as sobrancelhas, curioso.

— Pai, os assuntos de Estado são importantes, e o senhor deveria evitar beber — respondeu Sui Tingheng com evasivas. — Mãe Imperatriz, posso levar a senhorita Yun ao meu palácio para almoçarmos? Assim o Pai não será tentado pelo vinho.

— O que está insinuando? Acha que seu pai não tem autocontrole? — O Imperador se levantou. — Fique tranquilo, Zhen não vai desejar o seu vinho.

E de fato, durante o almoço, o Imperador demonstrou grande determinação e nem sequer deixou que colocassem uma taça de vinho diante dele.

— Essas taças não são adequadas — disse Sui Tingheng aos criados. — Tragam as de vidro.

— Sim, Vossa Alteza Imperial — Mo Wen ficou um tanto surpreso. O príncipe normalmente não gostava de ostentação, mas naquele dia havia pedido justamente o caríssimo conjunto de taças de vidro.

O vinho âmbar, Filha Vermelha, foi servido nas taças, cintilando como luz líquida da lua — inebriante antes mesmo do primeiro gole.

— À Vossa Alteza Imperial — brindou Fuyi, erguendo a taça e tomando o primeiro gole. Os anos de fermentação haviam aprofundado a doçura do vinho. Embora a pessoa com quem dividia aquele momento não fosse quem ela um dia imaginara, Fuyi realmente apreciava aquele instante.

Cinco anos atrás, ela era orgulhosa e ingênua, desconhecia a escuridão no coração das pessoas, incapaz de apreciar um vinho ou perceber a verdadeira natureza de certos indivíduos.

Agora, cinco anos depois, havia passado por provações e presenciado o sofrimento do povo. Ao seu lado estavam um monarca sábio, uma mãe gentil do mundo e um jovem herdeiro capaz ao trono.

— À Sua Majestade, Sua Majestade Imperial e Sua Alteza Imperial — Fuyi ergueu a segunda taça e a esvaziou de uma vez.

Quando enterrou aquelas duas jarras de vinho cinco anos atrás, jamais imaginou esse momento.

Yun Fuyi, pensou consigo, você realmente percorreu um longo caminho.

— À senhorita Yun — Sui Tingheng encheu a terceira taça, ergueu-a e a encostou levemente na de Fuyi.

Com o som límpido e agradável do cristal, o líquido ondulou suavemente. Mesmo os que ainda não haviam bebido pareciam embriagados.

O Imperador pegou seus hashis e enfiou carne na boca.

É só vinho; qual é a graça?

Heh, não estou interessado!

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Nota da autora:
O que o embriaga? Certamente não é o vinho~

O Imperador: Qual é o problema? Eu realmente não estou interessado. Honestamente, meu filho é um exibido…

Capítulo 20 Parte 1 – De Coração Aberto e Magnânimo (I)



O Imperador, ocupado com os assuntos do Estado, apressou-se em voltar ao trabalho logo após o almoço. Fuyi, sem querer atrapalhar o descanso da Imperatriz durante a tarde, levantou-se para se despedir.

— Daqui a alguns dias, as flores de pessegueiro estarão em plena floração. Você deve voltar ao palácio para conversar comigo — disse a Imperatriz, instruindo uma de suas damas de confiança a acompanhar Fuyi até o portão do palácio.

— Mãe Imperatriz, não há necessidade de incomodar suas atendentes para outra viagem. Eu estava justamente prestes a retornar aos meus estudos. Permita que eu acompanhe a senhorita Yun — disse Sui Tingheng.

— Muito bem — assentiu a Imperatriz.

Depois que Fuyi e Sui Tingheng partiram, a Imperatriz voltou-se para a criada ao seu lado e comentou:

— Heng’er nunca gostou de brincar com crianças da sua idade desde pequeno. Este Palácio costumava pensar que ele não conseguia encontrar amigos com quem se identificasse, mas pelo visto, ele aprecia mesmo é a companhia de pessoas vivas e expressivas.

Seu Heng’er sempre fora muito inteligente, mas o Palácio de Li Wang jamais teve o favor do antigo imperador. Enquanto os outros netos imperiais dispunham de diversos tutores para guiá-los, Heng’er carregava sozinho sua bolsa de livros até o Salão Chongwen¹, sem sequer um companheiro de estudos.

Ele não podia se destacar ou atrair atenção. Se sofresse bullying, suportava com gentileza, tão bem-comportado que partia o coração dos pais.

Hoje, todos o elogiam por sua autodisciplina e comportamento exemplar, mas o que ela desejava era que ele pudesse ser um pouco mais voluntarioso. Os oficiais civis e censores, sempre tagarelando sobre decoro e virtude, desejam que ele seja um sábio impecável. Mas ela era apenas uma mãe aflita por seu filho.

Hmph, só quem ama o Heng’er sente pena dele! Esses aí nunca criaram um neto santo e vivem julgando meu menino!

— Saudações, Vossa Majestade — Mo Wen entrou no salão e fez uma reverência, interrompendo os pensamentos da Imperatriz.

— Heng’er lhe pediu algo? — a Imperatriz ficou um tanto curiosa ao vê-lo voltar.

— Sim, Vossa Majestade. Este servo veio buscar um pouco de vinho em nome de Sua Alteza Imperial.

— Que vinho? — disse a Imperatriz, com desinteresse. — Pode ir.

— Agradeço, Vossa Majestade. — Mo Wen rapidamente pegou as duas jarras de vinho inacabadas sobre a mesa, segurando uma em cada braço, e partiu.

— Hã? — A Imperatriz ficou tão confusa que até esqueceu a irritação de antes. — Por que Heng’er mandou Mo Wen buscar jarras de vinho pela metade? São realmente tão bons assim?

A criada respondeu com cautela:

— Vossa Majestade, talvez… Sua Alteza apenas goste desses vinhos?

— Bobagem, ele mal bebeu vinho desde pequeno. O que ele entende disso? — brincou a Imperatriz. — Mal tomou algumas taças hoje e já ficou com o rosto corado. Se levar esse vinho de volta, vai durar de três a cinco meses.

A criada: “…”

O que isso tem a ver com tolerância ao álcool? Talvez tenha mais a ver com quem era dona do vinho…

Mas dado o caráter reservado de Sua Alteza Imperial e a fama de frivolidade de Fuyi Junjun, nem mesmo Sua Majestade pensara nessa possibilidade. Talvez… eu esteja pensando demais?

Fuyi lançou um olhar para Sui Tingheng, que caminhava um passo à frente dela. Sua pele era clara, e, por conta do vinho, suas orelhas e pescoço estavam levemente avermelhados.

— Senhorita Yun? — Percebendo o olhar dela, Sui Tingheng parou e se virou para olhá-la, os olhos ternos e persistentes, tão intensos que até as pedras à beira do caminho poderiam se apaixonar por aquele olhar afetuoso.

— Vossa Alteza Imperial não parece muito experiente com bebidas — Fuyi desviou o olhar, sem ousar encará-lo diretamente, esforçando-se ao máximo para se acalmar. Não, não… não vou cair nesse olhar!

— De fato, raramente bebo — respondeu Sui Tingheng, entrelaçando as mãos atrás das costas. — Talvez eu jamais experimente a alegria de me tornar um sábio do vinho.

— Excesso de álcool faz mal à saúde, então não beber é um bom hábito — Fuyi sorriu. — Para um cavalheiro como Vossa Alteza Imperial, ficar completamente bêbado seria um tanto… impróprio.

— Senhorita Yun, já ficou bêbada alguma vez?

— Vossa Alteza nunca ouviu falar da minha reputação? — Fuyi riu. — Esta filha súdita começou a aprender a beber aos doze anos. Uma vez, fiquei bêbada e causei um escândalo no palácio. Mamãe me puniu fazendo-me ajoelhar por três horas.

— Acho que até briguei com alguém naquele dia — Fuyi se virou para perguntar a Xiayu e Qiushuang, que vinham atrás dela: — Com quem foi que briguei naquela noite?

Xiayu fez sinais desesperados com os olhos. Senhorita, por favor, pare de falar! Seus oponentes foram os filhos dos qinwangs rebeldes que cometeram traição — quem ousaria mencionar esses nomes hoje em dia?

Fuyi logo percebeu que aquele era um assunto proibido.

— Já que não consigo lembrar quem foram, é porque não eram importantes — pigarreou. — Vossa Alteza Imperial, agradeço por me acompanhar até aqui. O portão do palácio já está logo ali, permita-me tomar meu rumo.

Sui Tingheng desacelerou. Fitou o portão ao longe, as pálpebras baixando levemente.

— Muito bem.

Fuyi sinalizou para Qiushuang e Xiayu: Rápido, rápido, vamos embora!

— Adeus, Vossa Alteza Imperial! — Qiushuang e Xiayu fizeram uma reverência em uníssono e correram atrás de Fuyi.

— Eu realmente briguei com os filhos dos qinwangs rebeldes naquela noite?

— Sim, senhorita, a senhorita foi incrível. Enfrentou quatro deles sozinha — nem um boi teria sua força.

— Qiushuang, olha a Xiayu sendo sarcástica comigo de novo.

— Senhorita, não culpe a Xiayu. Naquela noite, ela teve que segurá-la no chão e ainda recolher os sapatos que a senhorita jogou, passando vergonha diante das outras criadas.

— Mas por que eu briguei com eles? — Fuyi insistiu. — Sou uma moça tão sensata. Se levantei a mão contra alguém, eles é que deviam estar errados!

— Naquela hora, a senhorita havia mandado esta criada buscar seu manto. Quando voltei, já estava com eles no chão — Xiayu balançou a cabeça. — Mais tarde, quando Ning Wang interrogou os filhos dos qinwangs sobre o ocorrido, eles gaguejaram, sem coragem de contar, então o assunto foi abafado.

Ao ouvirem o nome de Ning Wang, Qiushuang e Xiayu ficaram em silêncio. Naquela época, de fato, Ning Wang protegera sua senhorita.

Fuyi logo desviou os pensamentos dos acontecimentos do passado e se concentrou nas caixas de vestidos e acessórios que trouxera do palácio. Seu rosto se iluminou de alegria.

Embora Sua Majestade seja um tanto pão-duro, Sua Majestade Imperial é realmente generosa!

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Notas:

[1] Salão Chongwen: Um dos institutos acadêmicos reais. É um local onde as crianças imperiais e seus companheiros de estudo recebem educação.

Capítulo 20 Parte 2 – De Coração Aberto e Magnânimo (II)

— Vossa Alteza Imperial. — Ao ver Sui Tingheng retornar, Mo Wen se apressou para saudá-lo. — Lorde Du e Lorde Lu estão à sua espera.

— Peça aos dois senhores que aguardem um momento. Irei trocar de roupa e já os recebo. — Sui Tingheng esfregou a testa e seguiu em direção aos seus aposentos.

— Este velho súdito saúda Vossa Alteza Imperial. — O ancião de cabelos brancos, Grande Preceptor Du, e o Grande Tutor Lu saíram para receber Sui Tingheng. Ao notarem o rubor em seu rosto e o leve aroma de vinho, seus semblantes se tornaram sérios.

— Vossa Alteza Imperial, o álcool prejudica o espírito e a mente. Por favor, beba com moderação — advertiu um deles.

— Entendo. Agradeço a ambos pelo lembrete. — Sui Tingheng sorriu e assentiu. — Por favor, vão até o salão interior e tomem um chá. Eu me juntarei a vocês em breve.

Após retornar aos seus aposentos e se lavar rapidamente, Sui Tingheng voltou com aparência impecável, sem vestígios do álcool anterior. Seus dois mestres, ao perceberem seu estado revigorado, sentiram-se consideravelmente mais animados. Após testá-lo sobre os estudos, sua satisfação só aumentou.

— Vossa Alteza Imperial é de fato talentoso e instruído. Já não temos mais o que lhe ensinar — disseram, cheios de orgulho.

— Agradeço pelos elogios, senhores. — Sui Tingheng pousou calmamente o pincel e aguardou, sereno, as próximas palavras.

— Ouvimos dizer que Vossa Alteza tem se relacionado com alguns ociosos ultimamente? — iniciou o Grande Tutor Lu. — Com todo o respeito, Vossa Alteza se dedicou aos estudos desde pequeno e pode não conhecer bem a reputação deles. Aqueles jovens são conhecidos por serem descompromissados, desperdiçando seu tempo com frivolidades em vez de se empenharem no aperfeiçoamento pessoal. Não seria prudente se associar a pessoas assim.

— Posso saber de quem o senhor está falando, mestre? — Sui Tingheng levantou o olhar para o Grande Tutor Lu. Embora sorrisse, sua expressão era indecifrável.

Ao encarar aquele olhar profundo, o Grande Tutor Lu se lembrou subitamente de que alguns desses supostos ociosos haviam sido recompensados recentemente por salvarem a Imperatriz, e que gozavam de seu apreço. Percebendo que suas palavras haviam sido impróprias, lançou um olhar ao colega, buscando que ele aliviasse a situação.

— As palavras do Grande Tutor Lu talvez tenham sido um pouco severas. Aqueles jovens podem ser travessos, mas não são maus por natureza — falou o Grande Preceptor Du, com um sorriso conciliador. — Contudo, costumam ser impulsivos e se envolvem em confusões. O mestre Lu apenas teme que o convívio com eles possa trazer problemas desnecessários para Vossa Alteza.

— Entendo. Quase achei que meus mestres tinham objeções pessoais contra eles — respondeu Sui Tingheng, escrevendo algo em um pedaço de papel e entregando a Mo Wen, que o acompanhava. — Mas é compreensível que se preocupem. Amanhã, pedirei ao Pai Imperador que emita um edito convocando-os ao Salão Chongwen, para que possam receber os ensinamentos de ambos.

— Com seu vasto conhecimento, ensinar alguns jovens travessos não será nenhum desafio.

Grande Preceptor Du: “…”

Grande Tutor Lu: “…”

Não, não… só queríamos que o senhor se afastasse deles, não que nos matasse de raiva!

— A natureza da juventude não deve ser julgada com tanta dureza — disse o Grande Preceptor Du, que por ser mais velho, tinha a pele mais grossa. — Além disso, estou velho e já não tenho energia para ensinar tantas crianças.

— E quanto ao senhor Lu… — Sui Tingheng voltou-se para o Grande Tutor Lu.

— Perdoe-me, Vossa Alteza Imperial. Este súdito tem obrigações no Ministério dos Ritos e realmente não pode dispor de tempo.

A relação entre mestre e pupilo construída ao longo dos últimos dois anos… no fim, serviu de nada.

— Que pena — suspirou Sui Tingheng. — Eu havia pensado que, com o vasto conhecimento e caráter nobre de meus mestres, poderiam guiar esses jovens desgarrados e ajudá-los a mudar de rumo…

Ele não terminou a frase, mas seu olhar estava cheio de consideração.

— Este pupilo compreende suas preocupações, senhores. Em comparação com eles, vocês dois são muito mais importantes para mim. Não tocarei mais nesse assunto.

O Grande Preceptor Du e o Grande Tutor Lu saíram do palácio do príncipe com o coração pesado, sentindo vergonha por sua visão estreita. Tudo o que temiam era que, ao se aproximar do grupo de Fuyi, Sua Alteza acabasse se alinhando mais aos círculos aristocráticos ou militares, afastando-se dos oficiais civis. No entanto, Sua Alteza, levando suas palavras a sério, desejava guiar aqueles jovens para o caminho correto.

Diante da magnanimidade e do coração generoso de Sua Alteza, sentiram-se profundamente envergonhados.

Fuyi, mais uma vez convidada pela Imperatriz, caminhava entre os pessegueiros em flor, afastando as pétalas dos ombros.

— Agradeço a Vossa Majestade por ter convidado esta filha súdita ao palácio hoje. Sem sua gentileza, eu não teria presenciado uma cena tão bela.

— As flores são lindas, mas você é ainda mais. Uma pena que Este Palácio não saiba pintar, mas… — a Imperatriz virou-se para suas atendentes. — Preparem os materiais de pintura e chamem Heng’er para vir.

— Vossa Majestade está convidando Sua Alteza Imperial para apreciar as flores?

— Pouco importa se ele as aprecia ou não. O que eu quero mesmo é que ele pinte para nós — respondeu a Imperatriz com agilidade nas instruções. — As habilidades de pintura de Heng’er ainda são aceitáveis.

— Não é necessário me convocar, Mãe Imperatriz. Este filho veio sem ser convidado.

Fuyi virou-se na direção da voz e viu Sui Tingheng, vestido com uma túnica vermelha bordada em dourado, caminhando por entre as flores. Sua presença era tão marcante que parecia ofuscar até mesmo o mar de pessegueiros ao redor.

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Nota da autora:

Sui Tingheng: “Sou de coração aberto e magnânimo.”

Seus dois mestres: “Estamos profundamente envergonhados por nossa visão estreita!”





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