Capítulo 19 — Socorro


 Song JinXing ficou momentaneamente sem palavras para descrever seu estado de espírito. Se tivesse que usar um emoji para expressá-lo, provavelmente seria 【Chocou minha família inteira·JPG】.

Diante do olhar incrédulo dele, Zhong Ruanxing, que até agora há pouco estava tímida, foi se justificando aos poucos:

— Se eu tivesse dado um chute e ferido as partes vitais dele, com certeza ele me processaria por agressão. Mas queimar os pelos pubianos? Isso ele não ia sair por aí contando pra todo mundo, né? Consegui me proteger e ainda ensinei uma lição inesquecível pra ele. Dois coelhos com uma cajadada só.

Ela parecia bastante orgulhosa de si mesma.

Song Lecheng, de fato, aprendeu a lição. Por quase seis meses, as fofocas envolvendo seu nome diminuíram bastante. Ficou tão traumatizado com o episódio que quase ficou impotente pro resto da vida.

Não era à toa que ele guardava tanto rancor de Zhong Ruanxing.

Song JinXing imaginou a cena e não teve coragem de encarar mentalmente. Estava entre o riso e a revolta, sem saber o que dizer.

Depois de se gabar do próprio feito, Zhong Ruanxing suspirou:

— Mas eu também paguei um preço alto. Minha carreira já não tava lá essas coisas, e depois de bater de frente com ele, ficou ainda mais difícil. — Ela falou séria. — Então toma cuidado daqui pra frente. Ele vai tentar te prejudicar pelas sombras!

Song JinXing assentiu:

— Entendido.

Depois de comer, Zhong Ruanxing se ofereceu pra limpar a louça. Song JinXing pegou o celular dela e foi até a varanda enviar algumas mensagens. Para facilitar o trabalho, eles haviam trocado os celulares e salvo alguns contatos que poderiam ser úteis depois.

Quando terminou, já passava das dez da noite. Zhong Ruanxing falou, meio preguiçosa:

— Não vou voltar hoje. Vou dormir aqui mesmo.

Song JinXing assentiu:

— Tudo bem. Se cuida.

Zhong Ruanxing acenou:

— Tchau. Ah, você veio dirigindo?

— Vim.

Ela se animou:

— Meu carro é bom de dirigir, né?

Ao lembrar do minicarro cor-de-rosa, Song JinXing ficou em silêncio por um momento:

— ...É razoável.

Zhong Ruanxing comentou:

— Se não gosta de rosa, arranca o adesivo. Mas o Zhong You vai chorar se fizer isso.

Ela tinha se apaixonado pelo carro novo e já estava de saco cheio do antigo.

Ele se dirigiu até a porta:

— Tô indo. Dorme cedo.

Atrás dele, Zhong Ruanxing soltou um bocejão.

Depois que ele saiu, com o fim do som das teclas do teclado, o ambiente ficou silencioso. A vista noturna do lado de fora era deslumbrante, o horizonte era aberto, e os itens do dia a dia comprados pela equipe da Anli claramente foram escolhidos pensando no gosto feminino. O lugar todo exalava um estilo nórdico leve e confortável, muito mais agradável que a casa fria de Song JinXing.

Zhong Ruanxing correu até a varanda, abriu os braços e respirou fundo. O vento da noite de verão trazia o cheiro quente da estação, vibrante e cheio de cor, fazendo o coração se sentir leve e feliz.

De tão animada, ela arrastou a almofada do sofá até a varanda e fez cem abdominais ali mesmo.

Seu corpo estava bem condicionado. O treino de core foi tranquilo, e o treino suspenso que tinha feito na academia de casa na noite anterior parecia até fácil agora. A força que preenchia esse corpo lhe dava uma segurança que ela jamais tinha experimentado antes.

Depois do exercício, ela acariciou os próprios “gominhos” com satisfação e foi tomar banho.

Zhong Ruanxing gostava de ouvir música enquanto se lavava. Mas, logo depois de enxaguar o cabelo, a música parou de repente e foi substituída pelo toque do celular.

Ela enxugou o rosto com a mão, deu uma espiada e viu o nome na tela: Song Wenyin.

Song Wenyin? Quem mesmo?

Zhong Ruanxing pensou por um tempo até se lembrar: era filha de Song Rusi, prima de Song JinXing. O marido de Song Rusi havia se casado entrando na família, por isso a filha também usava o sobrenome Song.

Mas Song JinXing era bem afastado desses parentes, mal falava com eles uma vez por ano. Por que essa prima ligaria pra ele do nada?

Zhong Ruanxing desligou o chuveiro, se secou por alto com a toalha e atendeu a ligação.

Assim que atendeu, no meio do barulho de fundo, ouviu-se um grito desesperado de garota:

— Irmão, levaram a Shuling! A gente tá no Bar WOLF! Irmão——!

A ligação caiu.

Shuling. Song Shuling.

A irmã de Song JinXing.

Zhong Ruanxing não teve nem tempo de se secar direito. Se vestiu correndo, pegou a chave do carro e saiu.

O motorista já tinha terminado o expediente. Zhong Ruanxing entrou decidida no elevador e usou o celular pra abrir o mapa e navegar até o Bar WOLF. Ainda bem que dormiu ali hoje — o lugar ficava só a uns quatro ou cinco quilômetros de distância, dava pra chegar em poucos minutos.

Depois de traçar a rota, abriu a lista de contatos e estava prestes a ligar pro Song JinXing, mas parou com o dedo no botão. Pensando melhor, ligou pro Ling.

O assistente atendeu na hora:

— Chefe?

A voz de Zhong Ruanxing estava firme:

— Traga alguns seguranças e vá pro Bar WOLF o mais rápido possível.

Ling respondeu sem hesitar:

— Entendido!

Ele era um ótimo assistente, nunca perguntava o porquê.

O elevador chegou ao subsolo. Zhong Ruanxing saiu a passos largos. Logo, o rugido de um motor ecoou pelo estacionamento. Um Bentley preto saiu em disparada.

Já passava da meia-noite e o trânsito estava livre. Zhong Ruanxing levou menos de dez minutos pra chegar ao Bar WOLF. Era uma área de bares sofisticados onde ela já tinha ido algumas vezes com amigos, então conhecia razoavelmente bem.

A chegada do Bentley atraiu os olhares dos homens e mulheres estilosos do lado de fora. Ao ver um homem alto e bonito descer do carro, os olhos se iluminaram e trocaram olhares silenciosos. Algumas moças vestidas de forma deslumbrante até se aproximaram com charme. Mas o homem caminhou direto, sem nem olhar pro lado, claramente com um objetivo em mente.

As moças foram embora desapontadas.

Depois de duas tentativas, Song Wenyin finalmente atendeu o telefone. Zhong Ruanxing perguntou:

— Onde vocês estão?

Havia sons de respiração ofegante do outro lado, e logo alguém gritou de dentro de um beco colorido ali ao lado:

— Irmão! Terceiro irmão! Eu tô aqui!

Zhong Ruanxing se virou e viu uma garota de vestido branco saindo correndo do beco cheio de luzes de néon. Com sua boa memória, reconheceu na hora.

Era a mesma garota que a tinha cumprimentado no dia do banquete da família Song, quando ela trocou de corpo com Song JinXing.

Então essa era a Song Wenyin.

Zhong Ruanxing se aproximou:

— Onde está a Shuling?

Os olhos de Song Wenyin estavam vermelhos de tanto chorar, ansiosa e assustada:

— Eles a levaram pra dentro. — Apontou para a próxima esquina e chorou de novo. — Eu tentei impedir, mas não consegui. A Shuling também não quis vir comigo. O que eu faço, irmão?

Zhong Ruanxing disse apenas:

— Me leva até lá.

Song Wenyin disparou na frente.

Por entre vielas sinuosas, cheias de luzes de néon e decadência, graças à memória de Song Wenyin, Zhong Ruanxing finalmente encontrou o grupo de que ela falava.

Quatro ou cinco rapazes com cara de marginais estavam agachados nos degraus, rindo alto com os celulares na mão, tentando tirar fotos de todos os ângulos. Estendida nos degraus havia uma garota de vestido vermelho, com os cabelos longos cobrindo metade do rosto inconsciente.

Um deles, com uma tatuagem no pescoço, estava prestes a levantar a saia da garota com um sorriso nojento. Zhong Ruanxing se aproximou com passos decididos, deu um chute que o fez rolar no chão e pisou com força no pulso dele.

O sujeito tatuado soltou um grito que parecia um porco sendo degolado.


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