Capítulo 27: O Ovo de Dragão e a Aventura Perigosa das Duas Donzelas


 Conforme Gu Fuyou crescia, chorava cada vez menos. Exceto diante do pai, onde ainda se emocionava como uma criança. Diante dos outros, quanto mais abalada estivesse, menos disposta ficava a derramar lágrimas.

No entanto, na presença de Zhong Michu, uma onda inesperada de tristeza rompeu suas defesas, fazendo-a chorar sem reservas.

Ela chorou durante toda a noite e, só perto do amanhecer, caiu num sono inquieto, lembrando apenas que havia encharcado a manga de Zhong Michu com suas lágrimas.

Quando se levantou no dia seguinte, o sol já estava alto no céu — era meio-dia.

Gu Fuyou sentia-se muito mais tranquila, como se toda a confusão acumulada em seu coração tivesse sido varrida. Estava leve e com a mente clara.

Embora se sentisse envergonhada ao lembrar do estado em que estivera no dia anterior, pensou que já havia perdido a compostura diante de Zhong Michu mais de uma vez, então não havia imagem a preservar.

Além disso, estava ansiosa para vê-la, empurrando qualquer resquício de vergonha para o fundo da mente.

Com as mãos cruzadas atrás das costas e um leve gingado no andar, Gu Fuyou se dirigiu até a porta de Zhong Michu e bateu.

— A porta não está trancada.

Gu Fuyou empurrou a porta, ficando com metade do corpo inclinado na entrada, um sorriso radiante no rosto, e chamou suavemente:

— Irmã sênior~

A verdade era que Gu Fuyou não tinha nenhum assunto específico com Zhong Michu; apenas queria vê-la.

Acordara muito feliz, como se algo bom estivesse por vir. Mas, ao pensar bem, não havia nenhuma boa notícia — era só o fato de poder ver Zhong Michu imediatamente.

— Entre.

Gu Fuyou entrou no quarto. Zhong Michu estava meditando em cima da cama. Ao vê-la se aproximar, interrompeu a meditação e se levantou.

Pensando na batalha do dia anterior contra Yu Dongsheng, mesmo que tivessem vencido graças à estratégia, havia sido uma luta difícil.

Claro, difícil para Gu Fuyou. Como seus ferimentos ainda não haviam se curado completamente, as duas haviam combinado de descansar por dois dias antes de irem ao mercado.

Gu Fuyou se aproximou da cama e viu uma caixa de brocado sobre o armário de madeira ao lado. A tampa estava aberta, e a pedra coberta de musgo que haviam conquistado no dia anterior repousava dentro dela.

Ela pegou a pedra, examinando-a com atenção, e perguntou:

— Irmã Sênior Zhong, você disse que tem algo dentro desta pedra que vale um milhão de pedras espirituais. O que exatamente tem aqui dentro?

Zhong Michu olhou para ela surpresa, aparentemente admirada por ela ter se recuperado tão rápido — como se a pessoa que chorou descontroladamente na noite anterior não fosse ela.

Após uma longa pausa, Zhong Michu disse:

— É um ovo de Dragão Dourado.

— O quê?! — Gu Fuyou quase deixou a pedra cair de susto.

Ela tocou a pedra com o dedo e enviou um traço de seu espírito para dentro, mas não conseguiu discernir nada.

Embora achasse difícil acreditar que aquela pedra escura em suas mãos fosse mesmo um ovo de dragão, pensou que Zhong Michu, com seu vasto conhecimento em domesticação de bestas e algum estudo sobre a raça dracônica, devia ter notado algo especial naquela pedra. E Zhong Michu não mentiria sobre algo assim.

Dividida entre a empolgação crescente e o receio cauteloso de estar esperando demais, Gu Fuyou sussurrou:

— É mesmo um ovo de dragão?

Se fosse, valia muito mais que um milhão de pedras espirituais; era um tesouro inestimável!

Havia registros sobre a raça dos dragões nos “Arquivos do Imperador Celeste”, mas ela não se lembrava dos detalhes. Só recordava que os chifres, escamas, tendões, sangue, carne e ossos de um dragão eram todos excelentes para forjar armas, refinar pílulas ou auxiliar na cultivação. Em resumo, cada parte de um dragão era um tesouro.

Ao ver Zhong Michu assentir com a cabeça, Gu Fuyou quase gritou de alegria.

Existem três ramos da linhagem da Fênix Azul. Entre os Dragões, há dois ramos principais: o Dragão Divino de Cinco Garras e o Dragão Dourado de Nove Garras.

Essas duas raças de bestas místicas foram adoradas como divindades pelos mortais na antiguidade e detinham um poder imenso.

Contudo, há dezenas de milhares de anos, surgiu um conflito entre as duas raças, que acabou evoluindo para uma guerra.

Na batalha final, quase todos os membros da linhagem da Fênix Azul foram exterminados, restando, segundo relatos, apenas três sobreviventes. Já a linhagem do Dragão Dourado sofreu grandes perdas, sem que nenhum membro do sangue real sobrevivesse.

Essa guerra enfraqueceu drasticamente ambas as raças, reduzindo consideravelmente seu poder e dando espaço ao surgimento das seitas imortais humanas. Esse foi um dos principais motivos pelos quais as seitas humanas conseguiram gradualmente tomar o controle dos outros quatro continentes da Fênix Azul.

Apesar das perdas, ambas as raças permaneceram como forças dominantes, devido ao poder absoluto que detinham e à reverência — ou temor — que inspiravam nos humanos. Mesmo as Quatro Grandes Seitas Imortais evitavam provocar a linhagem da Fênix Azul e a raça dos Dragões.

Isso também explicava por que, apesar do enorme valor de seus corpos, ninguém ousava caçá-los. Escamas de dragão e penas de fênix eram extremamente raras e inestimáveis, só obtidas como presentes dos próprios clãs ou negociadas entre eles.

Os olhos de Gu Fuyou brilharam de expectativa:

— Irmã sênior, você tem algum jeito de chocar esse ovo?

Zhong Michu balançou a cabeça.

— O dragãozinho dentro está em dormência, dormiu por tempo demais e perdeu o período de incubação. Despertá-lo não é fácil, e chocá-lo é impossível.

— O dragãozinho dentro está em hibernação, dormiu tempo demais e perdeu a janela de eclosão. Acordá-lo é difícil; chocá-lo, impossível.

O rosto de Gu Fuyou caiu, decepcionado:

— Ah? Então é basicamente um ovo morto?

Mesmo sendo um ovo de dragão, mesmo um “morto”, continuava um tesouro sem preço, mas inútil para elas.

Não podiam usá-lo para forjar nem arriscar danificá-lo.

O clã dos dragões era ferozmente protetor. Especialmente agora, com o declínio dos Dragões Dourados, se descobrissem que alguém havia obtido um ovo de Dragão Dourado e o estragado, não se sabia se despedaçariam essa pessoa ou a triturariam até virar pó.

Se o ovo de Dragão Dourado ainda estivesse vivo e pudesse ser chocado, a situação seria diferente.

Ela e Zhong Michu poderiam criar o pequeno dragão dourado juntas, talvez até furtar um bigode de dragão ou algo assim. Mesmo que no fim ele tivesse que voltar aos Quatro Mares, elas teriam se esforçado muito, quem sabe até feito algo meritório. Presumivelmente, o clã dos dragões não só as recompensaria com escamas, mas também com alguns tesouros raros do mar.

Que pena.

Parecia um tesouro, mas na prática, tinha pouco uso.

Gu Fuyou tocou o ovo de dragão e, de repente, sentiu uma pontada dolorosa na mão. A dor a fez chiar, e ela puxou a mão como se tivesse levado um choque.

— O que houve?

Surpresa, Gu Fuyou virou o ovo e percebeu que o círculo de pedra áspera ao redor não era liso.

No lugar onde tocara havia uma fenda, e a borda da pedra na fenda era muito afiada, como a lâmina de uma espada. Ao tocar, cortou o dedo, e sangue fresco escorreu da ponta, pingando na fenda e infiltrando-se.

Parecia que tinha sido mordido.

Ela ficou desapontada e ainda saiu machucada.

Gu Fuyou apertou o dedo ferido, jogou o ovo de volta na caixa e murmurou:

— É realmente o clã dos dragões, ferozes até na hibernação.

Zhong Michu, que estava arrumando a caixa de brocado, virou-se e perguntou:

— Dragões são assim tão ferozes?

Gu Fuyou mostrou o corte:

— Isso não é prova?

Zhong Michu: “…”

A decepção de Gu Fuyou não durou muito, e logo ela se animou novamente.

Afinal, esse ovo de dragão a ajudou indiretamente a ganhar dez milhões de pedras espirituais. Além disso, o ovo originalmente era de Zhong Michu, então a decisão sobre ele era dela. Melhor fingir que não sabia que era um ovo de dragão.

Com esse pensamento, ela deixou o assunto para trás.

Depois de um dia de descanso, as duas passaram vários dias fazendo compras. Com muito dinheiro para gastar, Gu Fuyou queria comprar tudo o que via.

Considerando que Zhong Michu encontrou um ovo de dragão no primeiro dia, Gu Fuyou não só confiava no seu faro, como achava que tinham muita sorte. Arrastou-a de volta para as barracas de pedras brutas.

Como Gu Fuyou esperava, Zhong Michu tinha um talento impecável para escolher.

Embora não fossem itens extremamente raros ou preciosos, podiam ser vendidos por dezenas de milhares, até centenas de milhares de pedras espirituais.

Encontraram dois artefatos espirituais. Um era uma Pedra de Trovão, um tesouro espiritual com atributo trovão. Após absorvê-la, era possível não só melhorar a cultivação, como também refinar o poder do trovão, convocando um estrondo capaz de sacudir o céu e despedaçar inimigos — perfeito para quem tinha raiz espiritual de trovão. O outro era um núcleo de besta espiritual no estágio de Alma Nascente, uma Pílula Espiritual de Fogo muito pura.

Quando esses artefatos foram exibidos, não só o dono da barraca quis comprá-los de volta, como cultivadores que passavam fizeram ofertas altas.

Gu Fuyou recusou-se a vender.

Ela não estava mais precisando de dinheiro.

Dos dois tesouros espirituais, deu um para Ah Fu e planejava guardar o outro para Si Miao.

Com Zhong Michu ao lado, Gu Fuyou passou dias nas barracas de pedras brutas. Tanto ela quanto os donos das barracas enlouqueceram — ela de alegria pelo faro de Zhong Michu, eles de horror ao ver a dupla, optando por fugir.

Passaram vários dias no mercado até chegar a época da corrida do desfiladeiro.

Dessa vez, a corrida seria no Grande Desfiladeiro Yunduan, fora da Cidade Leste, começando pelo Passo da Saída da Lua.

Os dois, junto com Ah Fu, seguiram para o Passo da Saída da Lua, cuja geografia única já era evidente logo na entrada.

A entrada do Passo da Saída da Lua era um pavilhão, situado nas falésias de ambos os lados, ligando as duas extremidades, com um vale oco embaixo.

Havia guardas na frente do pavilhão, e dentro havia uma mesa onde um guia estava sentado, pronto para responder qualquer dúvida sobre a corrida para os visitantes.

Gu Fuyou olhou para ele e perguntou curiosa:

— Não costumava ser o Senhor Qu quem cuidava disso nos anos anteriores?

O guia, um homem de roupas azuis e barba longa, respondeu:

— O Senhor Qu está doente, então estou substituindo ele.

Gu Fuyou não deu muita atenção e entregou os tokens de entrada. O homem de azul os pegou, conferiu e perguntou:

— O que querem saber?

— As regras da corrida deste ano?

— As mesmas dos anos anteriores.

— É corrida no chão ou no ar?

— No chão.

Gu Fuyou entregou algumas centenas de pedras espirituais, dizendo:

— Obrigada.

O homem sorriu levemente:

— Boa viagem para ambas.

Eles, junto com a besta, passaram pela entrada do Passo da Saída da Lua.

O Grande Desfiladeiro Yunduan se estendia por milhares de milhas, parecendo que uma espada vinda do céu havia cortado a terra ao meio. Observando o desfiladeiro do meio do ar, em uma espada voadora, a cena era extraordinariamente majestosa.

O Passo da Saída da Lua ficava na parte central do Grande Desfiladeiro Yunduan, com picos peculiares elevando-se dos dois lados, envoltos em névoa, alcançando as nuvens.

A corrida só começaria no dia seguinte, então as duas encontraram uma pousada para passar a noite.

A pousada era única, construída na encosta, esculpida na montanha para criar quartos individuais de pedra.

Subindo pela estreita trilha feita pelo homem na montanha, podiam ver vagamente luzes abaixo. Esse lado da montanha tinha muitos “quartos” para cima e para baixo.

O jovem guia levou as duas para um desses quartos. Embora espaçoso, o interior — com cama de pedra, mesa de pedra e bancos de pedra — parecia frio e duro.

O jovem disse orgulhoso:

— Convidadas, este é o melhor quarto da nossa pousada.

— O melhor? — Gu Fuyou perguntou, um pouco cética.

Com um gesto grandioso para fora, o rapaz explicou:

— Claro, este é o melhor quarto da pousada com vista para a montanha. A vista é excelente. À esquerda, dá para ver o traiçoeiro caminho sinuoso do dragão no Grande Desfiladeiro Yunduan, e à direita, a paisagem verdejante do verão no Pico Cuiyun. Ao longe...

O quarto tinha uma grande entrada quadrada que não obstruía a vista. Porém, havia uma barreira que permitia quem estivesse dentro ver para fora, mas impedia quem estivesse fora de olhar para dentro.

— Tá, tá, entendi — disse Gu Fuyou, entregando algumas pedras espirituais como pagamento e dispensando o rapaz.

Gu Fuyou sentou-se na cama de pedra e tirou um saco de pedras espirituais para dar a Ah Fu como lanche.

Ah Fu mastigava barulhento. Gu Fuyou apertou a bochecha dele e falou:

— Ah Fu, a corrida é contigo amanhã. Não espero que você termine em primeiro, mas também não fique em último.

Ah Fu respondeu com um “woof” de entendimento.

Gu Fuyou sentiu-se orgulhosa e até um pouco com ciúmes. A cultivação de Ah Fu crescia rápido, já havia atingido o pico do Qi Praticante, alcançando ela.

Além disso, Ah Fu estava maior, forte como um touro.

Gu Fuyou acrescentou:

— Ainda bem que é uma corrida no chão. Você pode me carregar. Se fosse no ar, com sua cultivação, não conseguiria voar. Ia ter que me preocupar em arranjar outra besta espiritual.

Virando-se para Zhong Michu, enquanto abraçava Ah Fu e esfregava o rosto no peito fofo dele, Gu Fuyou perguntou:

— Irmã sênior Zhong, você vai participar da corrida amanhã? Nunca vi sua besta espiritual.

Zhong Michu estava ao lado da parede rochosa, parecendo admirar a vista da montanha. A brisa montanhosa fazia seu vestido esvoaçar e seus cabelos dançarem no vento.

Vendo isso, Gu Fuyou sorriu, percebendo que Zhong Michu devia ter se apaixonado pelo lugar.

No Grande Desfiladeiro Yunduan, era possível sentir melhor a imensidão do mundo.

Zhong Michu finalmente respondeu:

— Eu não tenho besta espiritual.

Surpresa, Gu Fuyou perguntou:

— Você ainda não a convocou?

Zhong Michu balançou a cabeça, dizendo:

— Não consigo convocar.

Gu Fuyou presumiu que ela quis dizer que tentou, mas não conseguiu. De fato, havia casos em que, apesar das habilidades, não se obtinha resposta no ritual de convocação. Essas pessoas não eram incomuns.

Em silêncio, Gu Fuyou refletiu:

— Então, a irmã sênior Zhong também tem suas limitações.


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