Capítulo 30. O Soco


 Apesar do que disse, Song Shuling ainda olhava para Zhong Ruanxing com hesitação.

Zhong Ruanxing achava que sua irmã não devia ter nem um pingo de piedade por esse ex-namorado. Especialmente um ex que invadiu sua casa para roubar depois do término — ela devia tratá-lo como se já estivesse morto, certo?

Ela não disse nada, e com a aura dominante de CEO de Song JinXing sobreposta, sua expressão fria a deixava especialmente intimidadora.

Song Shuling mordeu o lábio e teve que dizer:

— Solta ele.

Zhong Ruanxing lançou-lhe um olhar e endireitou os punhos da camisa com tranquilidade, sentando-se no sofá:

— Ele invadiu para roubar. Você devia chamar a polícia.

O espírito rebelde de Song Shuling se inflamou de novo:

— Isso não é da sua conta!

— Sou seu irmão. Não vou ignorar seus assuntos — respondeu Zhong Ruanxing, com leveza.

O ex, ouvindo a conversa, não conseguiu se conter e disparou:

— Ele é o seu irmão frio e sem coração, que não reconhece a própria família?

Song Shuling: "..."

Zhong Ruanxing: "..."

Pelo visto, essa garota falava muita besteira sobre Song JinXing pelas costas.

Zhong Ruanxing sorriu e olhou para o ex:

— Já que sabe que sou cruel e impiedoso, por que não tenta adivinhar seu destino hoje?

O ex soltou um gemido e começou a chorar:

— Cunhadinho, eu errei! Só tô meio apertado de grana e queria pedir uma ajudinha pra Lingling. Me perdoa, eu ainda sou uma criança, não sei de nada!

Se não fosse por medo de sujar as mãos, Zhong Ruanxing já teria lhe dado um soco.

Felizmente, seu subordinado era esperto e fez isso por ela — um soco direto no rosto do ex, que sangrou pelo nariz na hora. Ele arregalou os olhos de pavor, mordeu os lábios com força e não ousou mais fazer barulho.

Song Shuling pareceu ficar paralisada de medo com a cena. Mesmo com seu espírito rebelde, ainda tinha medo desse irmão no fundo do coração, e sua voz saiu suavizada enquanto implorava:

— Deixa ele ir. Eu não quero mais ver ele. Vou trocar a senha.

Parecia com medo de que Song JinXing realmente espancasse o ex até a morte.

Zhong Ruanxing perguntou:

— Por que terminaram?

Song Shuling ficou em branco por um momento antes de responder:

— Ele me traiu.

Zhong Ruanxing soltou uma risada fria. Como esperado. Como que uma filha tão boa de uma família prestigiada ia encontrar um homem decente no meio do lixo?

Ela não hesitou mais em sujar as mãos e se aproximou do ex, levantando a perna para dar um chute. Como ele ainda estava amarrado, só conseguiu soltar um grito miserável enquanto caía no chão.

Ela se agachou e segurou o queixo dele com dois dedos, como se estivesse pegando o lixo.

O ex foi forçado a levantar o rosto e viu aquela expressão sinistra e furiosa. Empalideceu de medo ao ouvir a voz ameaçadora:

— Você ainda tem a audácia de achar que merece ela?

Song Shuling assistia a tudo, atônita.

Desde que começou a namorar Wen Fei, aquelas senhoritas da alta sociedade cochichavam pelas costas, dizendo que ela tinha se metido com um lixo.

Mas ela não ligava na época. Wen Fei a tratava tão bem! Se importava com cada detalhe, comprava café da manhã, trazia lanches à noite, levava remédio quando ela estava doente, buscava na chuva, cozinhava, lavava roupa, ficava com ela nas noites insones até o amanhecer.

Ela era viciada naquela sensação de ser mimada e protegida por ele.

Então, mesmo que Wen Fei tivesse uma origem comum e, às vezes, mostrasse valores bem diferentes dos dela, mesmo que gastasse seu dinheiro sem pensar, ela aceitava tudo de bom grado.

Contanto que ele a amasse de verdade, já estava bom.

Ela só queria ser amada de verdade.

A única coisa com que não podia ceder era traição. Ela o tratava tão bem, gastou pelo menos sete dígitos com ele, e mesmo assim ele não ficou satisfeito — saiu por aí flertando com outras pelas costas!

Depois da grande briga e do término, ninguém a consolou nem a defendeu — só zombaram dela.

"Tá vendo? A gente avisou que ele não prestava. Você insistiu em ficar com ele, agora toma o amargo dessa escolha."

Claro que ela sabia que tinha julgado mal.

Mas por que todos tinham que colocar a culpa nela justo naquela hora, chutando quem já estava no chão? Não deveriam estar criticando o canalha traidor em vez disso?

Ela nunca esperava que, tanto tempo depois do término, a primeira pessoa a se levantar por ela seria... o irmão de quem sempre fugiu.

Aquele Wen Fei, que antes parecia onipotente e firme, agora tremia feito um pintinho nas mãos do irmão:

— Eu não vou fazer de novo...

Zhong Ruanxing soltou o queixo e se levantou, limpando os dedos. Fez um gesto para que seu subordinado o desamarrasse. Wen Fei finalmente se soltou, mas ainda assim não ousou se mexer — encolheu-se no chão, cobrindo a cabeça com os braços, com medo de apanhar de novo.

Zhong Ruanxing disse com frieza:

— Cai fora.

Só então ele saiu engatinhando, sem nem se atrever a olhar para trás.

Song Shuling ainda estava atordoada. Zhong Ruanxing disse:

— Vai trocar a senha.

Dessa vez, ela não contestou o irmão. Foi até a porta e apagou a senha antiga, configurando uma nova. Quando terminou, Zhong Ruanxing acrescentou:

— Vai até a administração do condomínio e apaga o reconhecimento facial dele.

Song Shuling teve um estalo — é mesmo, ainda tinha o controle de acesso. Também precisava deletar os dados de Wen Fei para que ele nunca mais conseguisse entrar.

Zhong Ruanxing a acompanhou. As duas seguiram em silêncio o caminho todo. Depois de explicarem o motivo da visita, o pessoal da administração se desculpou imediatamente pela falha — afinal, condomínios de luxo funcionam em padrão mordomo cinco estrelas. Não só apagaram os dados de reconhecimento facial de Wen Fei, como também adicionaram a foto dele à lista negra, a pedido de Zhong Ruanxing, proibindo completamente sua entrada no futuro.

Na saída, a administração ainda entregou um saco de arroz como pedido de desculpas.

Até a administração de condomínio de gente rica oferecia presentes práticos e humildes.

Song Shuling quis recusar:

— Eu não...

Mas Zhong Ruanxing já tinha aceitado, então só pôde acompanhar.

Enquanto voltavam, ela olhou de canto para o homem alto ao seu lado carregando o saco de arroz. A cena parecia completamente deslocada, mas uma sensação estranha crescia em seu coração — ela parecia... não se incomodar com a interferência dele na vida dela.

As memórias antes dos três anos de idade já estavam completamente apagadas. O que ela lembrava desse irmão se resumia às ligações frias com palavras protocolares do outro lado da linha.

Ela odiava essas ligações, como se fossem de um parente distante que ela nunca veria. Os cumprimentos de alguém de fora só irritavam uma adolescente. Então, depois de um tempo, nem as ligações vieram mais.

O nome Song JinXing virou só uma figura que seus primos comentavam de vez em quando — como um estranho.

A avó a tratava bem, a Quarta Tia também. Ela cresceu com tudo do bom e do melhor, mas no fundo do coração sempre faltou algo — o tipo de afeto que só pais de sangue podem dar.

Quando soube que esse irmão de sangue voltaria ao país, Song Shuling secretamente criou expectativas.

"Será que ele vai ser como o papai? Será que vai me trazer um presente quando nos encontrarmos? O que será que ele vai dizer primeiro ao me ver? Será que a gente se parece? Todo mundo diz que puxei a mamãe... e meu irmão?"

Ela esperou em silêncio por muito tempo, até que ele finalmente voltou.

Ela viu o irmão que não via há vinte anos no banquete de boas-vindas que o avô organizou para ele.

Mas ele não disse uma única palavra para ela.

Sentou-se lá, frio e distante, sem sequer lhe lançar um olhar.

Depois, quando assumiu a empresa do avô, virou uma figura lendária que todos comentavam. O nome dele ecoava por todo canto, cercado por admiração e temor, mas ela nunca teve coragem de dizer que aquele era seu irmão.

Mais tarde, ouviu os primos criticando ele, dizendo que não reconhecia a própria família, que era frio e sem coração.

Song Shuling olhou para o perfil do WeChat que não mandou nenhuma mensagem desde o banquete e concordou em silêncio.


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