Capítulo 31


— Li Jun nunca havia passado por uma humilhação tão grande em toda a sua vida. Nem mesmo em sua vida anterior à novel, sua derrota fora tão humilhante!

Sua pressão sanguínea subiu vertiginosamente, e as veias de seu rosto estavam prestes a saltar.

Tomado de fúria, Li Jun não percebeu quando a passageira aproveitou a distração para se libertar do seu domínio e correu em direção à porta da cozinha. No entanto, antes que pudesse tocá-la, ouviu um estalo seguido de um “bang”. Um objeto negro com um odor desagradável de fumaça caiu à sua frente.

Era uma câmera de segurança.

Em seguida, o mesmo som se repetiu várias vezes, e as câmeras da cozinha começaram a cair uma após a outra.

Ela hesitou por apenas um segundo, e uma dor lancinante atravessou-lhe os pés, fazendo com que caísse de joelhos no chão involuntariamente. Seus pés estavam queimados, soltando fumaça, e o ar se encheu com o cheiro de pele carbonizada.

Passos ecoaram atrás dela.

Ela viu o homem, com ares de fera, fechar a porta da cozinha dos fundos e trancá-la.

Ele a fitava de cima com olhos cheios de ódio e raiva.

Ergueu a mão e deu-lhe um tapa com força.

O rosto dela avermelhou e inchou instantaneamente, e seu corpo tombou no chão com a força do golpe. Ele agarrou seu cabelo com uma das mãos e vociferou, furioso:

— Sua vadia sem vergonha! Vocês, mulheres, são todas iguais! Como ousa fugir deste senhor? Este senhor não permitirá isso! Você vai servir obedientemente a este senhor aqui mesmo…

Lágrimas brotaram dos olhos da mulher.

— Isso mesmo, chore. Mulheres devem chorar sob o corpo de um homem e sentir prazer. Este senhor gosta disso. Chore, chore mais alto, chore por este senhor. Sua vadia desgraçada, Lin Xinghe, este senhor ainda vai te matar um dia!

A NPC já havia passado por duas viagens naquele cruzeiro. Desespero e dor se acumulavam em seu coração junto com seu sofrimento.

Ela acreditava que um dia conseguiria escapar daquele navio — pensava que, se apenas persistisse, conseguiria sobreviver. Desta vez, evitou embarcar, correu para longe das pessoas e tentou reunir comida suficiente para se esconder por duas semanas. Mas, por algum motivo inexplicável, um grupo estranho a empurrou de volta para o navio, que partiu antes do horário habitual.

O cruzeiro já não tinha mais o ar animado e superficial das viagens anteriores — estava silencioso, sem nenhum funcionário à vista. Ela não teve tempo de pensar sobre isso, correndo direto para a cozinha dos fundos do restaurante mais próximo. Mas não esperava encontrar uma besta como ele.

Naquele momento, o desespero invadiu seu coração.

Não muito longe, facas de cozinha estavam dispostas lado a lado.

Li Jun percebeu seu olhar e riu com desprezo. Pegou uma das facas e resmungou friamente:

— Uma simples faca não pode me ferir…

Com força, puxou a mulher do chão pelo cabelo.

Seu couro cabeludo ardia.

Em seguida, ela foi empurrada contra a bancada da cozinha, e a faca foi colocada bem ao lado de seu rosto. A lâmina afiada refletia seu rosto pálido e desesperado.

Ela perdeu toda vontade de viver e nem percebeu quando Li Jun xingou e saiu.

Permaneceu deitada ali, humilhada, encarando seu reflexo na faca de cozinha.

As trevas e provações dos últimos quinze dias desfilavam em sua mente.

O mesmo som estalado e o odor pungente voltaram, como se dissessem que não havia escapatória — nem do cruzeiro aterrorizante, nem da humilhação.

Ela pegou a faca de cozinha e deslizou-a em direção ao pescoço.

Enquanto isso, Xiao Xue Ji esquivava-se dos ataques elétricos de Li Jun um após o outro, deixando-o cada vez mais enfurecido. No cruzeiro, ele não ousava lançar raios muito poderosos, com medo de rachar o navio ao meio.

Mas aquela cozinha apertada prejudicava ainda mais seu desempenho.

Estava se sentindo especialmente azarado naquele dia, e nem sabia de onde tinha surgido aquele leão que invadiu a cozinha e esquivou de todos os seus relâmpagos. Sua pressão voltou a subir, e ele não se importava mais com as consequências. De tão irritado, decidiu que, se fosse afundar, levaria o navio junto e invocou de imediato um grande raio, lançando-o contra o enorme leão.

Assim que o raio caiu, as panelas e frigideiras ao redor ficaram queimadas e enegrecidas.

Mas o leão havia desaparecido.

Li Jun ficou levemente surpreso.

Nesse momento, ouviu um som leve como o zumbido de um mosquito e, num piscar de olhos, uma cobra verde caiu do teto e se enrolou em seu corpo. As pupilas de Li Jun se contraíram, e ele lançou mais um raio.

Para evitar o raio, a cobra soltou seu corpo.

Foi então que Li Jun viu outra cobra verde saindo do armário.

Ele reconhecia aquela cobra — era a montaria de Fu Zhou, do departamento de xianxia.

Li Jun não queria se envolver com Fu Zhou nem com sua montaria. Ao virar-se, percebeu que a bela mulher havia morrido sobre a bancada.

Era um presságio nefasto. Parou de lutar com Xiao Xue Ji, cuspiu no chão e saiu da cozinha.

A cozinha levava ao salão de refeições do lado de fora.

Era originalmente um restaurante ocidental, com uma decoração semelhante ao restante do cruzeiro. As mesas e cadeiras vazias tornavam o ambiente desolado.

Li Jun sentiu um calafrio repentino.

O restaurante era fechado em todas as quatro paredes, mas ele sentia um vento gelado soprando de todos os lados. Olhou em volta e não conseguiu identificar de onde vinha aquele vento.

Inesperadamente, uma xícara sobre a mesa caiu em seu sapato. A porcelana rachou com o impacto e rolou para o lado.

Li Jun, irritado, virou a mesa.

Ele olhou para uma das câmeras de segurança e praguejou:

— Lin Xinghe, é melhor rezar para não cair nas minhas mãos, ou eu juro que vou te matar!

Inicialmente, ele queria ir até a sala do capitão para encontrar Lin Xinghe, mas ao se lembrar que Rudolph, aquele viadinho, também estava lá, recuou. Aquele frouxo não sabia fazer nada além de criar crisálidas — e, mesmo assim, eram crisálidas inquebráveis, sem que ninguém soubesse como lidar com elas.

Mas Li Jun não acreditava que aquele baitola conseguiria proteger Lin Xinghe pelo resto da vida — um dia, ela estaria sozinha.

As palavras de Li Jun foram ouvidas por várias pessoas que assistiam à vigilância.

Jiuge lançou um olhar para Lin Xinghe e a viu parada, encarando o monitor com uma expressão estranha e ausente.

Jiuge percebeu aquela expressão.

Fu Zhou, atento à reação de Jiuge, comentou com uma voz fria:

— Jiuge, em vez de se preocupar com ela, preocupe-se com o mascote dela. As câmeras de segurança estão quebradas, ninguém sabe o que aconteceu lá dentro. O mascote dela também não é grande coisa — mesmo depois de comer o Jinwudan do Xie Wuan, no máximo virou um camaleão forte. Se encontrou um tipo fantasia tão poderoso, não bastaria um, dez mascotes como ele seriam derrotados.

Fu Zhou acrescentou:

— Foi um desperdício deixar um Jinwudan ser devorado por um gato de estimação. Se tivesse sido o meu Leiting¹, talvez ele já fosse o rei dos espíritos². Mas, bem, em consideração ao Jiuge, que valoriza tanto você, se precisar da minha proteção, eu aceito... com relutância.

Lin Xinghe parecia não ter ouvido nada do que disseram.

Ela continuava encarando a tela da vigilância.

A parede estava repleta de monitores de segurança. Jiuge ficou ao lado dela, acompanhando sua linha de visão. Ele não sabia exatamente qual tela ela estava olhando, mas ela observava com tanta intensidade que parecia ter se desligado do mundo ao redor.

Não era só Jiuge que não sabia — o público assistindo à transmissão ao vivo também não fazia ideia. Sabiam apenas que Lin Xinghe estava ali, parada diante das telas.

【Ah, o que será que a líder da seita está olhando?】

【Já estão parados aí faz quase vinte minutos.】

【Tá um tédio. Vou pra outra sala de transmissão.】

【Me leva junto, quero ver os outros candidatos!】

【Se quiser ir, vá quieto. Não precisa anunciar, ninguém se importa se você fica ou sai.】

【Espera... espera aí! Devo mandar um superchat?】

【Porra! Venham ver a live dos candidatos no convés!】

Ao mesmo tempo, o capitão, que navegava silenciosamente o cruzeiro, soltou um grito estranho, e os dois co-capitães que estavam amarrados pelos cabelos de Jiuge se libertaram e flutuaram ao lado dele.

Seus corpos mudaram. De espíritos leves e etéreos, passaram a ser formas grandes e corpulentas, como se alguma força os tivesse inflado. A garrafa térmica sobre a mesa voou contra Lin Xinghe e explodiu com um estrondo, espalhando estilhaços para todos os lados.

Jiuge reagiu rápido.

Antes que a térmica explodisse, usou seus cabelos para tecer um escudo na frente de Lin Xinghe.

Fu Zhou exclamou:

— Jiuge, você mudou! Tecendo um escudo de amor para Lin Xinghe e não pra mim! Meu rosto quase ficou desfigurado!

Apesar da provocação, Fu Zhou ergueu calmamente uma barreira mágica à sua frente.

Os capitães sabiam que Lin Xinghe era a mais fraca, por isso o mais forte atacou diretamente ela, enquanto os outros dois distraíam Jiuge e Fu Zhou.

Jiuge estava tão sobrecarregado que não conseguia prender os capitães com seus cabelos.

Os ligui³ pareciam prever seus movimentos. Cada vez que Jiuge estendia um fio, os ligui bloqueavam todas as tentativas dele de proteger Lin Xinghe.

Fu Zhou posicionou um encantamento diante de si e travou um duelo de olhares com outro ligui.

Mas ele não ficou satisfeito e começou a arremessar objetos contra a barreira de Fu Zhou.

Foi nesse momento que Fu Zhou percebeu como aquilo era injusto.

Ligui podiam controlar objetos tridimensionais, mas os estudantes não podiam controlar coisas bidimensionais, então só lhes restava se defender.

No entanto, a barreira à frente de Fu Zhou permaneceu firme, e isso lhe deu tempo para observar Lin Xinghe.

Seus olhos se arregalaram.

Lin Xinghe parecia ter algum tipo de buff de esquiva no corpo. Não importava o que o capitão arremessasse, ela sempre desviava com precisão. Mesmo quando os ataques vinham como uma “chuva de pétalas” de uma deusa, ela encontrava um jeito de escapar e se reerguer. Ainda zombou do capitão com um sorriso:

— De novo, mais uma vez!

Quase não restava mais nada para lançar na sala. O ligui percebeu que não conseguiria lidar com Jiuge e Fu Zhou ao mesmo tempo, e soltou um grito estranho. Os dois vice-capitães pararam ao mesmo tempo e os três atravessaram o vidro, flutuando para fora.

Antes, para permitir que o capitão navegasse, Jiuge havia removido o escudo de cabelo da janela.

Fu Zhou, chocado, perguntou:

— Você também sabe kung fu?

— Não — respondeu Lin Xinghe.

— Então como consegue desviar tão bem?

— Eu só penso que eles não vão me acertar. Aí, desvio com confiança.

Fu Zhou: ? ? ? ?

Lin Xinghe não tinha tempo para continuar conversando com Fu Zhou. Lançou um olhar para o céu lá fora — faltava cerca de uma hora para o pôr do sol, e os capitães já haviam se transformado em ligui.

Ela voltou a olhar para a tela da vigilância.

Sob o ataque dos ligui, vários dos monitores já haviam quebrado.

Ainda assim, nas poucas câmeras que restavam, cenas caóticas podiam ser vistas. Ligui perseguindo os candidatos — o mesmo em cada tela.

Todos os candidatos enfrentavam o mesmo problema que Fu Zhou havia mencionado.

Os ligui podiam atacá-los.

Mas eles... só podiam se defender.

◑ ━━━━━ ▣ ━━━━━ ◐



Notas:

  1. Leiting: nome da cobra de Fu Zhou. Literalmente, “relâmpago”.

  2. Rei dos espíritos: termo xianxia que se refere a uma forma superior de besta espiritual, extremamente poderosa e dotada de inteligência e poder espiritual.

  3. Ligui (厉鬼): espírito maligno vingativo na mitologia chinesa, geralmente uma alma que morreu com ódio ou rancor. São perigosos e difíceis de exorcizar.

Postar um comentário

0 Comentários