O tempo passou, e um novo dia chegou. Apenas uma lâmpada estava acesa no quarto, emitindo uma luz laranja quente. A iluminação não era muito forte. Nesta noite escura, onde duas pessoas estavam profundamente envoltas pela penumbra, era o momento mais propício para que um tipo de afeto ambíguo surgisse e também o mais fácil para que um coração ficasse inquieto.
Pei Jin não sabia por quê, mas os olhos de He Xun estavam um pouco sombrios. Ela pressionou os lábios um contra o outro, esforçando-se para conter a inquietação em seu coração, e disse:
— Irmão Xun, vou me lavar. Vá dormir primeiro.
He Xun não disse nada, mas também não saiu. Pegou o celular das mãos de Pei Jin e começou a folhear as fotos tiradas há pouco. Pei Jin, atraída pelo que ele fazia, também inclinou a cabeça para olhar as imagens.
Na hora em que tiraram as fotos, a luz do quarto não estava muito boa. Mas, nessa penumbra, as imagens pareciam ainda mais impressionantes. Suas cabeças estavam próximas, e eles pareciam bem íntimos.
Ela, no entanto, parecia meio boba, com um sorriso ingênuo no rosto.
Usava óculos de armação grande, e seu cabelo curto, que parecia ter sido mastigado por um cachorro, havia crescido um pouco nos últimos dias. Estava um pouco mais apresentável, mas só um pouco. Ao lado de He Xun, que tinha um penteado bagunçado, mas estiloso, ela se sentia um pouco envergonhada.
Eles continuaram olhando as fotos, e as seguintes haviam sido tiradas depois que He Xun retirou seus óculos.
Nessas imagens, ela inclinava a cabeça e olhava para He Xun com os olhos bem abertos. Tinha uma expressão inocente, quase tola. Coincidentemente, He Xun também havia abaixado um pouco a cabeça e estava encarando-a firmemente.
Ela não sabia por quê, mas a única diferença entre as fotos era um par de óculos, e, ainda assim, essa imagem parecia deixá-los incrivelmente combinando. Os dois estavam igualmente bonitos, sem que um sobressaísse sobre o outro.
Ela continuava com o mesmo penteado, as mesmas roupas, e a mesma pessoa ao seu lado. Mas, sem a barreira dos óculos, parecia uma pessoa completamente diferente—sua presença se tornava radiante.
A única coisa ruim era que seus traços faciais eram muito suaves... O que faria se He Xun descobrisse?
He Xun parecia satisfeito com as fotos. Ele devolveu o celular para Pei Jin e disse:
— Peipei, me manda essas fotos.
— Ok.
Pei Jin abriu o WeChat, encontrou o contato de He Xun e enviou as mais de dez fotos que haviam tirado.
He Xun notou de imediato o apelido que Pei Jin tinha dado para ele.
— "Grande Demônio"?
As mãos de Pei Jin tremeram.
Isso mesmo! Como ela pôde esquecer que havia salvo o contato de He Xun com esse apelido?
Ela mordeu o lábio inferior. Chamá-lo de "Grande Demônio" já era uma coisa, mas deixar que ele visse isso? Que vergonha!
He Xun observou Pei Jin ficando cada vez mais sem jeito e tímida, então sorriu.
— Quer ver o apelido que eu coloquei para você?
Pei Jin arregalou os olhos de surpresa.
— Irmão Xun, você também colocou um apelido para mim?
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Claro.
— O que é?
He Xun pegou o celular, encontrou o contato de Pei Jin e mostrou a tela para ela sem hesitação.
Os cinco caracteres exibidos eram bem visíveis: "Peipei, meu docinho."
Assim que leu, Pei Jin sentiu o rosto esquentar na mesma hora!
Ela cobriu o rosto com as mãos.
— Irmão Xun, eu sou um "menino"!
He Xun respondeu calmamente:
— E daí?
Pei Jin apontou para o nome na tela do WeChat.
— Eu sou um menino! Então por que você me chamou de "docinho"?
He Xun sorriu e respondeu sem hesitar:
— Porque você é doce. Esse nome combina perfeitamente com você.
Pei Jin ficou atordoada com essas palavras e não soube o que dizer. Nervosa, apenas balbuciou:
— Irmão Xun, vou escovar os dentes e lavar o rosto primeiro!
Depois disso, fugiu para o banheiro.
Pei Jin olhou para seu próprio reflexo no espelho, com as bochechas coradas, e jogou água fria no rosto com irritação. Diante de He Xun, por que ela corava tão fácil assim?
Ai...
No dia seguinte, sexta-feira, Pei Jin aguardava ansiosamente o fim da última aula, pois o final de semana de dois dias se aproximava.
Quase no final do período de autoestudo, o celular de Pei Jin vibrou no bolso. Ela pensou que alguém a procurava e, então, o pegou para verificar.
Ao abrir a tela, viu que Zhang Chen havia enviado várias mensagens.
[Céu Cheio de Estrelas]: Você é um pervertido! Por que ainda está na sala?
[Céu Cheio de Estrelas]: Fique longe de A Xun!
[Céu Cheio de Estrelas]: Dê o fora!
[Céu Cheio de Estrelas]: Não quero mais ver você!
Pei Jin nunca imaginou que um garoto pudesse ser tão cruel. Sempre teve o cuidado de manter sua identidade discreta, mas, no final, ainda foi insultada e chamada de pervertida.
Ela jamais esperava que Zhang Chen tivesse tanto rancor por ela. Embora nunca tivessem sido amigos, essas palavras maldosas ainda a entristeceram.
Naquele momento, Fatty passava por ela para buscar água quente. Ao ver a expressão atônita de Pei Jin, pensou que ela estivesse vendo algo indecente e, curioso, enfiou seu rosto rechonchudo ao lado dela para espiar.
Ele ainda tinha um sorriso bobo no rosto, mas, ao ver a tela, sua expressão lentamente mudou.
Nesse instante, o sinal anunciando o fim da aula soou.
Depois que a turma se dispersou, Fatty apontou para o celular dela e perguntou, incrédulo:
— Isso foi o Zhang Chen que mandou?
O nome e a foto de perfil de Zhang Chen eram extremamente familiares para Fatty.
Pei Jin não respondeu.
O dedo de Fatty ainda apontava para a tela.
— Ele… O que ele está fazendo? Por que está fazendo isso?
Pei Jin lentamente guardou o celular, sua voz saindo baixa:
— Não sei… Talvez ele me odeie.
Fatty coçou a cabeça, confuso. Nesse momento, o celular de Pei Jin tocou.
Era uma ligação de seu pai.
Depois de uma breve conversa, Pei Jin desligou e se aproximou de He Xun.
— Irmão Xun, meu pai mandou o motorista vir me buscar.
He Xun franziu o cenho.
— Você vai para casa de novo essa semana?
Pei Jin assentiu.
— Irmão Xun, vá para casa também, se puder.
Ele se levantou e bagunçou o cabelo dela.
— Vai lá, mas volte cedo para me fazer companhia.
Pei Jin piscou e sorriu, concordando.
Quando entrou no carro, viu que seu pai também estava lá, lendo alguns documentos.
Sem tirar os olhos dos papéis, ele disse:
— O processo de transferência foi concluído. Você começa na 12ª Escola na semana que vem.
Pei Jin quase pulou do banco.
— Como assim tão rápido? Não ia demorar pelo menos uma semana? Não ia?!
Seu pai a encarou por um instante e voltou ao trabalho.
— Isso só prova que seu pai é eficiente. Não gostou?
Pei Jin abaixou a cabeça, desanimada.
— Não sei…
— Já se despediu dos amigos?
Ela balançou a cabeça.
— Ainda não.
— Sem problema. Hoje em dia, tem mensagem para isso.
Pei Jin arregalou os olhos.
— Pai, quer dizer que eu nem vou mais para a escola na semana que vem?
— Não. Segunda-feira, direto para a 12ª Escola.
Pei Jin mordeu o lábio.
— E minhas coisas? Meus livros, minhas roupas?
— A gente manda alguém buscar. É muita coisa e muito pesado para você carregar.
— Mas…
— Mas o quê?
Pei Jin não sabia como expressar, mas sentia que tudo estava uma bagunça.
Vendo que ela não disse mais nada, o pai de Pei falou diretamente:
— É isso. Nos próximos dias, cuide de si mesma, compre algumas roupas bonitas e arrume o cabelo. Olhe para você, seu cabelo está uma bagunça. Você tem dezoito anos e deveria se vestir melhor. Corte um pouco do cabelo. Arrume-se. Você precisa estar com boa aparência quando for para a nova escola. Já tem dezoito anos, está na hora de ser mais sensata.
Pei Jin apertou os lábios, e uma sensação de tristeza e perda tomou conta de seu coração sem motivo. He Xun também havia dito antes que ela deveria voltar para a escola mais cedo para ficar com ele, mas ela…
— Entendi, pai.
— Zhou Qingqing deve estar livre esses dias, você pode sair para fazer compras com ela.
— Qingqing? — Pei Jin perguntou automaticamente, surpresa.
O pai de Pei a olhou sem entender:
— Sim, vocês não são melhores amigas? Ou vai sair para fazer compras sozinha?
Qingqing era a melhor amiga da dona original daquele corpo, mas não dela, então Pei Jin já tinha planejado ir às compras sozinha.
Ao chegar em casa, ela tomou um banho quente e trocou-se para um belo vestidinho feminino.
Havia, na verdade, muitas roupas e vestidos no guarda-roupa, algumas ainda com as etiquetas.
Para falar a verdade, Pei Jin não estava tão interessada em comprar roupas, só queria dar um jeito no cabelo no dia seguinte.
Ela se olhou no espelho da penteadeira e ficou um pouco atordoada.
O rosto refletido era inegavelmente bonito, com olhos brilhantes e dentes perfeitos, irradiando vivacidade. Comparado às roupas que usava antes, o vestido rosa lhe caía muito melhor. Quando vestiu o modelito, sua cintura pareceu ainda mais fina e delicada, e suas pernas, mais retas e esbeltas.
Será que He Xun a reconheceria assim?
Deitada na cama, Pei Jin pegou o celular, abriu o WeChat e procurou o contato de He Xun. Ela queria dizer algo para ele.
Mas, ao ver a foto de perfil de He Xun, ficou surpresa.
Ele havia trocado a imagem para uma foto dos dois juntos.
Sob uma luz suave, eles se olhavam fixamente. A iluminação era quente, e a atmosfera, ainda mais. As pontas de seus narizes se tocavam, como se estivessem prestes a se beijar no segundo seguinte.
Irmão Xun…
Ela suspirou, colocou o celular de lado e se enfiou no cobertor.
No dia seguinte, Pei Jin não chamou ninguém para acompanhá-la e saiu sozinha para fazer compras.
Ela encontrou um salão de beleza grande e aparentemente confiável, decidida a dar um jeito em seu cabelo curto, que parecia ter sido mastigado por um cachorro.
O cabeleireiro que a atendeu parecia experiente. Ele tocou o próprio queixo e sugeriu:
— Garotinha, você ficaria muito melhor com cabelo comprido.
Pei Jin não disse nada. Na verdade, ela também pensava assim, mas agora que seu cabelo estava curto, só podia esperar que crescesse.
O cabeleireiro sorriu de leve:
— Você pode colocar alongamento capilar.
— Hã?
— Cabelo longo por apenas três mil yuans. Confie no meu trabalho, eu garanto que vai parecer natural e ficar lindo.
Três mil yuans por isso… Antes, esse valor seria uma fortuna para Pei Jin, mas agora não significava nada.
Afinal, no dia anterior, seu pai lhe dera mais vinte mil yuans como mesada. Para falar a verdade, ela ainda nem tinha gasto os cinquenta mil yuans que ele havia lhe dado antes.
Como dinheiro não era problema, gastar três mil yuans para melhorar o visual do cabelo parecia uma boa ideia.
No início, Pei Jin não esperava grande coisa, mas depois de algumas horas de trabalho do cabeleireiro, ela se surpreendeu.
Tinha que admitir, aquele profissional lhe deu um belo presente.
No espelho, seus longos cabelos negros iam até a cintura, fazendo-a parecer ainda mais delicada e encantadora, quase como uma pintura.
O penteado fazia uma diferença enorme. Com um corte que combinava com seu rosto, sua beleza parecia ter se multiplicado.
Pei Jin mordeu o lábio e olhou para sua versão renovada no espelho, pensando que He Xun talvez realmente não a reconhecesse.

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