Capítulo 40


 Na manhã seguinte. Casa da família Jiang.

Chen Jinjiao acabara de tomar um gole de café quando levantou os olhos e viu Jiang Zheng entrando com olheiras profundas.

— Pensei que você não tinha voltado para casa ontem à noite.

Jiang Zheng ficou pasma:

— Por que eu não voltaria para casa à noite?

Chen Jinjiao deu uma olhada nas manchetes que se atualizavam rapidamente.

— Ji Muye foi ouvir seu show ontem à noite?

Jiang Zheng: “...”

— Ah, não — Chen Jinjiao riu — Ele foi mesmo ao show daquela garota bonita.

Jiang Zheng sentou-se no banquinho, apoiando o queixo na mesa, e disse sem ânimo:

— É.

Chen Jinjiao revirou os olhos. Essa garota estava com ciúmes?

Ufa, menos mal.

— Quando você vai convidar Ji Muye para vir jantar aqui em casa?

Jiang Zheng quase bateu o queixo na mesa, assustada:

— Por quê?

— Não.

Jiang Zheng: — “... Em que condição ele deveria vir jantar em casa?”

Chen Jinjiao pensou um pouco, sorriu e disse:

— Seu parceiro da combinação? — Esse sorriso tinha um significado especial.

Jiang Zheng: “...........”

Na noite anterior, ela sonhara com girassóis. Num momento, sonhou que estava em um campo de girassóis, depois sonhou com Ji Muye enchendo seus braços com girassóis.

A tia Chen Meiting entregou um copo de água morna e, depois que ela bebeu, disse:

— Zhengzheng, tia quer te perguntar uma coisa.

Jiang Zheng ergueu a cabeça.

— O que é?

Chen Meiting apontou com seriedade:

— O que? É chamado de CP? O que é fã de CP? Por que o CP de você e Ji Muye é chamado de ZhengYe?

Jiang Zheng não sabia se ria ou se chorava. Por que tanta animação logo cedo?

— Outro dia vi alguém postar um código QR, dizendo que era um grupo de fãs do CP ZhengYe. Eles compartilhavam fotos e vídeos. Finalmente aprendi a baixar arquivos, criei uma conta de novo e entrei no grupo da sociedade. Quando me apresentei, disse que tinha 50 anos — Chen Meiting ficou sem jeito — Eles insistiram que eu era fã de conta nova e me expulsaram do grupo...

Jiang Zheng: “...”

Nesse momento, seu irmão mais velho, Jiang Ran, apareceu.

— De quem você pegou carona ontem à noite?

Jiang Zheng piscou.

— Foi só com a equipe.

Jiang Ran olhou para ela desconfiado, mas confiando na irmã, não perguntou mais.

— Onde você estava? E Ji Muye? Por que ele está te cheirando feito um cachorro?

Jiang Zheng resmungou:

— Irmão, quando você vai arrumar uma cunhada pra mim?

Chen Jinjiao deu uma risadinha:

— Eu devia isso pra você. Qual garoto gostaria dele?

Jiang Ran bufou, pegou o café, virou-se e saiu.

Jiang Zheng apertou a ponte do nariz, tentando se lembrar.

— Teve alguém! Chamava-se Su, Su Xuan...

Jiang Ran parou e voltou correndo para o quarto.

Jiang Zheng lembrou que seu irmão já teve um relacionamento intenso. Até os 18 anos, eles eram tão próximos que quase se casavam. Mas ela nunca viu Su Xuan procurando por ele recentemente.

Chen Jinjiao deu uma risada fria.

— Seu irmão foi largado. Ficou sozinho todos esses anos, acho que ele ficou com medo.

Jiang Zheng não acreditava, como isso poderia acontecer com seu irmão?

“Terror City” era um programa semanal, transmitido ao vivo todo sábado às 9h da manhã. O fim variava conforme o tempo que os convidados demoravam para completar a tarefa. O primeiro episódio de “Wuyou City” terminou por volta das duas da tarde, durando cinco horas. Pelo tema raro e pelas grandes participações dos convidados, a audiência foi ótima e o retorno dos atores foi excelente.

Agora eram seis convidados, e três deles transmitiam prelúdios no segundo episódio. A verdade ou mentira das fofocas não era conhecida, mas o assunto estava bombando, e todos esperavam o próximo episódio.

Na sexta-feira, os seis voaram juntos para uma cidade costeira na linha oeste, descansaram durante a noite e foram levados pela equipe para um quintal na manhã seguinte.

Os seis usavam vendas nos olhos como de costume e foram levados para uma lancha rápida pelos funcionários.

Quando abriram os olhos, estavam no mar infinito... A transmissão ao vivo foi inundada de comentários.

— Gente fina não fala coisas ruins, eu vim ver o show da irmã Zheng.

— Hahaha, só vim pra ver Liang Xiaoduan chorar.

— Ilha do horror?

— Ilha deserta? Fuga?

Claro que Liang Xiaoduan não decepcionou. Assim que tiraram a venda e ela viu o mar sem fim, seu rosto mudou, e ela perguntou com voz trêmula:

— Para onde estão nos levando?

Ke Cancan teve azar no último episódio. Foi capturada pelos NPCs e levada para a masmorra logo no começo, ficando como figurante o tempo todo. Poucas cenas e assunto, então estava segurando a respiração para se destacar agora.

— Esse tipo de lancha pode chegar a 100 milhas, dependendo do combustível. Estudei o mapa no hotel ontem à noite. Tem uma ilha desabitada a 80 milhas a oeste dessa cidade. Acho que estamos indo pra lá.

Obviamente, ela fez o dever de casa e alguém logo elogiou sua seriedade nos comentários.

Xiao Cheng continuou:

— Ilha desabitada? Qual o tamanho? Tem montanhas? A vegetação é densa?

Xiao Cheng fez várias perguntas seguidas. Ke Cancan gaguejou:

— Não consigo lembrar.

Todos: “...”

— Então a Ke Cancan estava mentindo?

— Hã? Notaram que Ji Muye e Jiang Zheng não falaram nada?

— Exato. Jiang Zheng só olhava para o mar, sem nem olhar para Ji Muye.

— Meu Deus! Será por causa da Liang Xiaoduan?

— Já explicamos tudo. Você não fala nada.

Os olhos de Ji Muye desviaram para Jiang Zheng com indiferença. Desde que tiraram a venda, ela só cumprimentou a todos de leve e entrou em silêncio.

Ao ver Jiang Zheng, seu coração dava altos e baixos. Teria sido melhor não ter descoberto nada antes, mas agora que sabia, mesmo tendo feito mil preparativos, não conseguia controlar o que sentia, como ela podia olhar para ele com aquele olhar selvagem?

He Xiao entregou uma garrafa e perguntou preocupado:

— Professora Jiang, você está um pouco enjoada do mar?

Jiang Zheng virou e ficou um pouco atônita:

— Um pouco. Obrigada.

Ela pegou a garrafa, tentou abrir a tampa uma vez sem sucesso.

Quando ia tentar pela segunda vez, de repente duas mãos apareceram na frente dela.

Uma era de He Xiao, a outra de Ji Muye.

— ???? Chegou a hora da batalha!

— Hã, tô tão dividida, fico atrás do Ye ou do He?

— Então não é um escândalo de três pessoas, é uma batalha de quatro? Que emoção!

Vendo isso, Liang Xiaoduan entregou a garrafa que tinha nas mãos para He Xiao.

— Irmão He, pode me ajudar?

Lá, Ji Muye pegou a garrafa da mão de Jiang Zheng, apertou a tampa com delicadeza e entregou para ela.

Jiang Zheng baixou a voz e agradeceu.

Ji Muye falou algo direto.

— O que houve? No episódio anterior Jiang Zheng falava e ria com Ji Muye, oferecia proteção. Por que agora está tão educada e fria?

— Sim. Ainda quero mais momentos fofos.

— Será que as orelhas da Jiang Zheng estão vermelhas??

— Com certeza. Famoso. Porra, estão vermelhas.

A lancha passou rápido, e o homem que pilotava não falou uma palavra o tempo todo. Os convidados olhavam ao redor, ansiosos.

Xiao Cheng brincou:

— Espera um pouco, um tubarão vai aparecer na superfície, e nós poucos vamos conseguir espremê-lo.

Ke Cancan nem prestou atenção, quando de repente viu uma ilha à frente, já com chão firme, e logo se assustou:

— Ilha, ilha!

Todos olharam para cima e viram uma ilha não muito longe. O pico de uma montanha alta estava levemente escondido nas nuvens, e como estava distante, os detalhes não podiam ser vistos claramente. Então, não se sabia se havia pessoas morando na ilha.

A lancha acelerou e, em 15 minutos, aproximou-se da periferia da ilha.

Não era uma ilha desabitada. Muitas pessoas andavam e brincavam na praia de areia branca. Na praia havia uma fileira de prédios parecidos com vilas, e esses edifícios organizados tinham cinco ou seis andares.

O que mais chamava a atenção em toda a ilha era um edifício circular localizado no núcleo da ilha, com colunas romanas, cúpulas, belíssimas janelas de vidro colorido. Parecia uma igreja cristã, mas não tinha cruz pendurada.

A lancha parou no cais, e os seis desembarcaram um a um.

Pisando na passarela de madeira, as pessoas na praia abaixo os cumprimentaram de forma muito receptiva. Se não soubessem que ali era o local das filmagens do segundo episódio de “Terror City”, teriam pensado que era uma ilha de férias no leste asiático.

Os seis caminharam pela passarela meio atônitos.

No final da passarela, havia uma placa de madeira com seis caracteres escritos: Bem-vindos à Ilha do Paraíso.

Liang Xiaoduan sentou e disse:

— Ilha do Paraíso? Não parece muito auspicioso!

Jiang Zheng deu um passo à frente e olhou atentamente o mapa na placa.

Desta vez, a equipe do programa não colocou obstáculos no mapa; pelo contrário, mostraram tudo.

— Seguir as informações na placa indicativa?

Essa Ilha do Paraíso não tinha só os prédios da igreja, as vilas e as piscinas que viram, mas também hospitais, cinemas, ruas comerciais e até uma usina de energia em grande escala. Tinha uma infraestrutura completa e serviços que qualquer sociedade exigiria.

As pessoas dali poderiam suprir quase todas as necessidades sem sair da ilha.

A rua principal começava na igreja, e toda a cidade era simétrica.

De repente, um jovem vestido para a praia correu até eles, e se curvou pedindo desculpas:

— Desculpem, desculpem, me atrasei.

Ele se apresentou como Mo Ji, o guia da Ilha do Paraíso. Todas as pessoas que chegavam ali pela primeira vez eram recebidas por ele, que explicava todo o processo.

— Bem-vindos à Ilha do Paraíso — disse Mo Ji com um brilho saudável, sua aparência era simples e sincera — Como podem ver, nossa Ilha do Paraíso faz jus ao nome. Não há preocupações, dores ou crimes. Todos vivem em harmonia, os relacionamentos são pacíficos e tudo é cheio de brilho...

Mo Ji? Tinta? O diretor podia se envolver um pouco mais na escolha dos nomes?

Então o tema desse episódio de Terror City é Cidade Utopia?

Parece tão falso. Quem vai acreditar?

Mo Ji continuou:

— Tudo aqui é grátis. Alimentação, hospedagem, transporte, compras e entretenimento são organizados pela comunidade. Vocês só precisam ter coração aberto e sol no peito para aproveitar a vida ao máximo aqui.

Jiang Zheng franziu a testa, olhando instintivamente para Ji Muye. No episódio anterior, em Wuyou City, os dois cooperaram silenciosamente e desvendaram a conspiração da terceira senhora num só golpe. Neste episódio... ela percebeu que Ji Muye também a olhava.

Os olhos dos dois se tocaram levemente no ar, entendendo imediatamente o significado um no outro.

Esse tal Mo Ji parecia honesto, mas era super enganador.

Jiang Zheng de repente percebeu algo e rapidamente desviou o olhar.

Liang Xiaoduan murmurou:

— Tudo bem se não tiver zumbis. Eu tenho medo de coisas sangrentas.

He Xiao foi direto:

— Você tem medo de mais que zumbis. Não chorou há pouco?

Liang Xiaoduan: “...”

Jiang Zheng encarou Mo Ji:

— Há quantos anos você está aqui?

Mo Ji mostrou arrependimento:

— Só estou aqui há três anos. Muitas pessoas vieram bem antes de mim. Quem escolheria o modo difícil? Quem não gostaria de viver no paraíso enquanto vivo?

Ji Muye perguntou em seguida:

— Onde está sua família?

Mo Ji respondeu calmamente:

— Minha casa é aqui, e todos aqui são minha família.

Será que ele foi lavado cerebral por alguém?

Parecia especialmente um tipo de organização de propaganda e marketing.

Liang Xiaoduan estava certa: o horror invisível é mais assustador que o sangue visível.

Depois, Mo Ji virou guia turístico e levou os seis para um passeio pela Ilha do Paraíso.

Segundo ele, essa ilha foi descoberta e construída há 30 anos por um homem chamado Ming Dongfang. Com um coração cheio de bondade, essa pessoa dedicou a vida inteira para construir um paraíso aqui, para que aqueles que sofrem no mundo secular, os doentes graves e os idosos pudessem vir morar.

Andando pela estrada de terra, a paisagem dos dois lados não era diferente da de cidades comuns.

Pessoas conversavam em grupos de três e quatro nos cafés da rua, jovens caminhavam juntos sob as árvores, e crianças corriam e brincavam umas com as outras. Tudo o que viam eram imagens belas e harmoniosas. Ninguém precisava trabalhar ou estudar.

Os seis convidados ficaram ainda mais nervosos.

De repente, um sino distante tocou, e Mo Ji mostrou alegria:

— Vocês tiveram sorte hoje. Nosso sacerdote está pregando na igreja, lançando feitiços para os fiéis afastarem doenças. Vamos, ou não vai ter lugar lá dentro.

Claro que todos na rua correram na direção da igreja.

Os seis não tiveram tempo de reagir e foram cercados pela multidão ao entrarem na igreja.

Todos estavam respeitosos e andavam em silêncio.

— Certo, aguardem.

Mo Ji os levou até a primeira fila.

Depois de esperar cinco minutos, um homem vestido de branco entrou lentamente. Esse devia ser o sacerdote que Mo Ji mencionou.

Todos aplaudiram vigorosamente para recebê-lo.

Jiang Zheng olhou para ele silenciosamente: cabelos brancos, sobrancelhas brancas, mas o rosto incrivelmente rosado, sem nenhuma ruga, gentil como um pedaço de massa, com olhos extraordinariamente compassivos.

Mo Ji estava cheio de emoção, tremia de excitação.

Os olhos do sacerdote passaram pelos seis, e então pararam em Jiang Zheng.

Ela de repente sentiu insatisfação.

Nesse momento, o sacerdote se aproximou devagar e parou à sua frente.

Ele lentamente...

Mo Ji falou baixo:

— Sacerdote, por favor, ore pelas bênçãos. Você teve sorte de encontrar essa pessoa na sua primeira visita.

Jiang Zheng não acreditou naquela conversa. Quando o homem ia alcançá-la, ela se inclinou para trás e desviou.

Os outros ficaram boquiabertos, sem entender por que alguém rejeitaria o sacerdote.

Jiang Zheng sorriu, encarou o sacerdote e disse humanamente:

— Você já lavou as mãos?

O rosto do sacerdote congelou.

— Que sejamos unidos, que nos compreendamos com bondade, e que a confiança nos abrace.

Sua mão tentou tocar de novo... De repente, alguém agarrou seu pulso, torceu, empurrou, e ele cambaleou dois passos, grunhindo de dor.

Mo Ji e os outros fiéis ficaram boquiabertos, incapazes de acreditar que alguém trataria o sacerdote assim.

O “vilão” Ji Muye se levantou sorrindo e ficou na frente de Jiang Zheng.

— Sacerdote, estou com dor.


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