Jiang Zheng estava completamente imersa no canto de Lu Tianyi, incapaz de se libertar. Era preciso entender: sua disposição atual era como a de uma garota de 18 anos. Ao ver uma estrela que ela gostava há tantos anos (claro que Ji Muye ainda era o amor da sua vida), não conseguia evitar — girava, pulava, sentia-se animada e ousada.
E com Bai Xuan ao lado, ainda mais enlouquecida do que ela, servindo de referência, todo o resquício de contenção que Jiang Zheng tinha no início foi embora conforme o show ficava cada vez mais emocionante.
Jiang Ran e Ji Muye pareciam duas estátuas sagradas, sentados imóveis.
Um com as pernas cruzadas, o outro ereto como um pilar — dava até pra achar que estavam ali pra participar de uma reunião formal.
No palco, Lu Tianyi já suava pelas costas. O que poderia ser mais gratificante do que ver aquele estádio lotado de fãs? No passado, ele e mais quatro integrantes formaram a banda Qiang Qiang. Agora, era o único que restava.
Os gritos aumentavam cada vez mais, e todos cantavam juntos. A profundidade daquele momento se gravava com força em sua memória. Milhares de emoções se resumiam em uma frase: Não tenho arrependimentos nesta vida.
Após um encore, Lu Tianyi curvou-se repetidamente para agradecer. Acontecia apenas uma vez a cada dois anos — nem ele, nem os fãs conseguiam se despedir facilmente.
As luzes varriam o estádio, passando pela multidão de fãs eufóricos.
De repente, um grito perfurou seus ouvidos.
— Irmão Lu, mais uma!
A voz vinha de bem perto do palco, e um feixe de luz incidiu exatamente sobre a pessoa. Lu Tianyi olhou… e quase tropeçou.
Jiang Zheng acenava freneticamente pra ele, fazendo chifrinhos com as mãos e gritando:
— Encore! Encore!
Lu Tianyi: “!!!!”
A voz do diretor soou no fone de ouvido:
— Tianyi, Tianyi, você tá bem?
No monitor, ele viu Lu Tianyi cambalear como se tivesse levado um susto.
Lu Tianyi se recompos e respondeu com um sorriso brilhante:
— Tudo certo. Vou cantar a última de novo.
Assim que ele terminou de falar, todos se levantaram e gritaram:
— Lu Tianyi, eu te amo!
Incluindo Jiang Zheng e Bai Xuan.
Jiang Ran não conseguiu conter a empolgação de Bai Xuan, e Ji Muye também não tinha legitimidade pra puxar Jiang Zheng de volta.
Os dois se olharam… e logo desviaram os olhares.
A última música virou um grande coral. Era uma balada romântica, perfeita para deixar uma lembrança bonita de um encontro especial.
A voz de Jiang Zheng era única e se destacava entre a multidão que cantava.
Lu Tianyi era mesmo um mestre. Conseguiu controlar suas emoções e finalizar a apresentação perfeitamente, mesmo diante de tamanha surpresa.
No fim, ele ficou acenando e agradecendo sem parar.
Bai Xuan chorava de emoção. Finalmente havia realizado um sonho.
Jiang Zheng, tomada pelos sentimentos, soltou um longo suspiro. Estava satisfeita e feliz.
Lu Tianyi acenou, se curvou, e desapareceu do palco.
Assim que a câmera cortou, seu empresário correu:
— Tianyi, você foi parar nos trending topics!
Lu Tianyi tirou o fone, pegou um copo d’água do assistente e bebeu tudo antes de se acalmar.
— …Eu?
Seus shows sempre iam parar nos assuntos do momento, mas “aterrissar do nada” no topo? Isso era raro.
O empresário estava eufórico e mostrou o celular.
Lu Tianyi olhou:
#Jiang Zheng e Ji Muye em encontro público num show#
Lu Tianyi: … Ele só tinha notado Jiang Zheng mais cedo. No susto, nem percebera que havia um peso-pesado ao lado dela.
#Jiang Zheng é fã de Lu Tianyi também estava em décimo no ranking de buscas.
Lu Tianyi não sabia se ria ou chorava. Aqueles dois foram ao show dele pra namorar? Estava até grato! Duas celebridades de ponta, juntas, o empurrando de volta para os holofotes.
Mas o mais chocante de tudo era: Jiang Zheng era fã dele??
O empresário também se fixou nesse ponto. Antes, Jiang Zheng havia criticado Lu Tianyi dizendo que ele gemia como se estivesse doente, e por isso os dois nunca dividiram o mesmo palco — evitavam o constrangimento de um encontro duplo. Jiang Zheng era conhecida pelas críticas afiadas, mas seu talento era inegável, e ela era humilde ao receber prêmios. Se outro artista, menos famoso que Lu Tianyi, tivesse dito aquilo, já teria sido expulso da indústria. Mas Jiang Zheng tinha esse dom: as pessoas a odiavam… mas não conseguiam fazer nada contra ela.
Mas o que deu nela hoje? Foi ao show dele cheia de empolgação, gritou encore sem pudor, igualzinha a uma fã comum.
Lu Tianyi:
— Mas que diabos!
No estacionamento subterrâneo.
Jiang Ran segurava a mão de Bai Xuan. Jiang Zheng e Ji Muye vinham logo atrás, e os quatro se dirigiam para o estacionamento VIP.
Ji Muye apertou os lábios e chamou:
— Irmão Ran.
Jiang Ran revirou os olhos e se virou.
Ji Muye, com o sorriso mais sincero da sua vida, disse:
— Irmão Ran, eu te julguei mal da última vez. Me perdoe, por favor.
Antes que Jiang Ran pudesse responder, Jiang Zheng se apressou:
— Professor Ji, não foi culpa sua. A culpa foi minha por não ter explicado a relação com meu irmão.
Jiang Ran: … Ainda nem estamos juntos e o cotovelo já virou pro lado de fora[1]!
Ji Muye soltou um suspiro de alívio e continuou:
— Acho que eu e o Irmão Ran temos muito em comum. Será que um dia posso te pedir conselhos?
Jiang Zheng olhou para a expressão humilde de Ji Muye e ficou com o coração apertado. O Irmão Mu deve estar sob muita pressão. Tá até abaixando a cabeça nobre por causa do trabalho. Ai!
Jiang Ran riu com desdém:
— Ah, é? Temos coisas em comum? Que eu saiba, não.
Ji Muye: …
Jiang Zheng revirou os olhos pro irmão e se apressou:
— Claro que sim! Os dois gostam de jogar golfe e tomar chá. E, mesmo que não escutem música pop, os dois amam jazz.
Ji Muye sorriu calorosamente para Jiang Zheng.
Jiang Ran manteve a cara fechada:
— Você fala demais.
Jiang Zheng deu uma risadinha:
— Só tô dizendo a verdade.
Bai Xuan, que estava calada até então, entrou na conversa:
— O Sr. Ji é uma raridade entre os jovens atores da nova geração. Já assisti “Reino de Dongnu” cinco vezes. Toda vez me emociono com a história de amor.
Jiang Ran: … É o amor do personagem.
Bai Xuan piscou para Jiang Zheng:
— Sr. Ji, não trouxe nada hoje, mas… será que posso te pedir uma foto autografada outro dia?
Ji Muye aceitaria isso mais do que de bom grado. Esperava, inclusive, que a futura cunhada soprasse bons ventos sobre ele no travesseiro.
Jiang Zheng suspirou:
— Ninguém resiste ao charme do Irmão Mu depois que o conhece.
Jiang Ran: … Esse sujeito colocou alguma coisa na bebida dessas mulheres?
Ele falou num tom decidido:
— Vocês duas não precisam dormir pra manter a beleza? Vão logo pra casa.
Dito isso, empurrou Jiang Zheng e Bai Xuan para dentro do carro.
Ji Muye ficou ali parado, meio abobalhado.
Irmão Mu…
Essas duas palavras pareciam átomos presos, colidindo dentro de sua mente. Por mais que tentasse esconder, os lábios erguidos e o rabinho invisível abanando entregavam sua felicidade.
Suas orelhas ficaram imediatamente vermelhas. Zhengzheng é tão fofa. Até essas três palavrinhas soaram tão suaves… como uma brisa de primavera num salgueiro, como a chuva de verão sobre uma lagoa de lótus, como o vento de outono batendo em uma folha seca, como a neve de inverno caindo sobre um campo… Os símiles brotavam descontroladamente em sua mente.
Ji Muye tossiu duas vezes e puxou a própria orelha, vermelha como uma pedra preciosa.
Já sentado no carro, ele pensou: Então é verdade que o amor transforma a gente em poeta.
Jiang Ran observava, pelo retrovisor, as duas mulheres animadas no banco de trás comentando o show. Se desse papel e caneta pra elas agora, provavelmente escreveriam cinco mil palavras de resenha na hora.
O carro logo chegou à mansão da família Jiang. Jiang Zheng desceu primeiro e se despediu de Bai Xuan com um sorriso.
Bai Xuan pigarreou duas vezes, virou-se e viu Jiang Ran ainda sentado ao volante, calmo, sem nenhuma intenção de sair.
Ela franziu a testa:
— Já está na porta de casa e ainda vai voltar?
Jiang Ran respondeu sério:
— Não consigo dormir na minha cama. Só quero dormir no seu sofá.
Bai Xuan: … Cínico.
Jiang Zheng não aguentou mais e comentou com Bai Xuan:
— Onde você comprou esse sofá? Vou trocar a cama do quarto do meu irmão.
Bai Xuan puxou o celular para procurar o registro da compra. Na hora, o rosto de Jiang Ran ficou sombrio e ele mandou Jiang Zheng voltar logo pra dormir.
Depois de deixar os arranjos musicais da irmã organizados, Jiang Ran pisou fundo no acelerador — foi deixar Bai Xuan em casa… e aproveitou pra passar a noite lá.
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[1] Expressão chinesa: “virar o cotovelo pra fora” significa favorecer os de fora em vez da própria família ou lado.
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