Capítulo 76 a 78


 Capítulo 76: Ruptura entre Irmãos

Han Yan se assustou no início, virando-se com a expressão gradualmente se apagando:

— O estimado Príncipe da Região Oeste desenvolveu interesse por escutar conversas alheias desde quando?

Diante dela estava Zhuo Qi, vestindo uma longa túnica azul-escura. Comparado aos encontros anteriores, ele já não parecia mais desalinhado. No entanto, sua entrada despreocupada na mansão ainda irritava Han Yan.

Zhuo Qi sorriu com grande satisfação:

— Apenas saí para tomar um ar fresco e, por acaso, ouvi a declaração apaixonada da Princesa Consorte ao Príncipe. Ah, eu realmente invejo o Príncipe Xuanqing por ter uma belezinha tão devotada como você. Se fosse comigo...

— O Mestre Zhuo realmente tem interesses curiosos, arriscando-se tanto só para conversar sobre isso — respondeu Han Yan, com frieza.

Zhuo Qi deu um passo à frente:

— Por você, eu arriscaria qualquer coisa.

Han Yan o encarou com firmeza; aquele Príncipe da Região Oeste era uma pessoa muito perigosa. Ele havia fugido para Da Zhong para escapar da perseguição de Tu’er Mu, mas parecia estar envolvido em algum tipo de conspiração. De qualquer forma, ele não era alguém alinhado aos seus interesses, e o melhor era manter uma distância respeitosa de pessoas como ele. Contudo, naquele momento, ela não podia agir com imprudência.

Han Yan sorriu levemente:

— Se pudesse prometer nunca mais vir à mansão por minha causa, eu seria ainda mais cruel.

Zhuo Qi a fitou:

— Você é mesmo impiedosa, garotinha.

Então deu um passo para trás e, num piscar de olhos, saltou para o beiral do telhado, sorrindo para Han Yan no pátio:

— Na verdade, eu só estava de passagem hoje, mas ainda prefiro o seu maridinho Príncipe ao jovem mestre Wei.

Acenou com a mão para Han Yan:

— Fique longe daquele jovem mestre, garotinha.

Depois de dizer isso, desapareceu num instante.

Han Yan permaneceu no pátio, sentindo-se ao mesmo tempo irritada e divertida. A atitude daquele homem era tão imprevisível que ela não conseguia discernir se ele era amigo ou inimigo. No entanto, manteve-se extremamente vigilante com relação a ele — sabia que não podia baixar a guarda com Zhuo Qi.

Enquanto isso, o aniversário da Consorte Chen se aproximava. Dessa vez, um convite fora enviado a Zhuang Shiyang, que o recebeu como um sinal de esperança para sua promoção — um desejo prestes a se concretizar. O convite indicava que as duas filhas de Zhuang Shiyang deveriam comparecer. Agora, Han Yan já era esposa do Príncipe Xuanqing, e Zhuang Yushan era consorte secundária do herdeiro da família Wei, restando apenas Zhuang Qin, que ainda passava seus dias no salão budista com a antiga concubina, sendo cada vez menos vista.

Certo dia, enquanto Han Yan passeava pelo jardim da mansão, avistou Zhuang Hanming seguido por uma garota de cerca de onze ou doze anos. Han Yan percebeu que a menina lhe era desconhecida e não parecia ser uma das criadas da casa. Curiosa, chamou Zhuang Hanming.

Zhuang Hanming a notou e chamou:

— Jiejie — aproximando-se dela.

O olhar de Han Yan recaiu sobre a menininha atrás dele.

A garota era muito delicada, com traços nítidos e adoráveis, indicando que se tornaria uma bela jovem. Embora estivesse vestida como uma criada da mansão, sua expressão era tímida e reservada; não ousava levantar os olhos para Han Yan, escondendo-se atrás de Zhuang Hanming, com um ar de pena.

Han Yan comentou:

— Essa garota parece alguém que eu nunca vi antes.

Zhuang Hanming sorriu e lançou um olhar compassivo para a menininha:

— O nome dela é Yingzi. Salvei ela de algumas pessoas ruins no caminho de volta da Academia Imperial, da última vez.

Han Yan franziu a testa:

— Como assim você a salvou dessas pessoas ruins?

Vendo a expressão séria da irmã, Zhuang Hanming apressou-se em explicar:

— O homem mau queria vender a Yingzi para um bordel. Eu não suportei aquilo, então o afugentei.

O tom de Han Yan se tornou muito sério:

— Qualquer um que venda os filhos dos outros só pode ser cruel até o âmago. Você ainda é tão jovem... como conseguiu afugentar alguém assim?

— Eu já tenho habilidades marciais! — Zhuang Hanming riu. — Ele não aguentou meus socos.

Han Yan percebeu um traço de orgulho na expressão do irmão e não pôde deixar de balançar a cabeça. Afinal, Zhuang Hanming ainda era jovem e ingênuo, alheio às realidades cruéis do mundo. Acreditava que possuir alguma habilidade o tornava superior, sem perceber que sempre haveria pessoas mais ardilosas do que ele. Aqueles que se envolviam nesse tipo de negócio não seriam facilmente intimidados por uma simples criança.

Após refletir um pouco, ela voltou sua atenção para a menininha silenciosa:

— Yingzi, me conte sobre seus pais. Como você acabou sendo vendida para um bordel?

Yingzi rapidamente se ajoelhou, curvando a cabeça diante de Han Yan, com a voz trêmula:

— Respondendo à Jovem Senhorita, os pais de Yingzi já faleceram há muito tempo. Ela vivia com a tia, mas a tia morreu recentemente. A irmã de Yingzi se vendeu voluntariamente a um bordel para comprar um caixão para a tia. Yingzi queria encontrar a irmã, mas foi capturada por aquelas pessoas...

Enquanto falava, lágrimas escorriam por seu rostinho, despertando compaixão em quem a visse.

No entanto, Han Yan não pestanejou e continuou a perguntar:

— Diga-me, onde seus pais moravam e onde sua tia foi enterrada?

Yingzi ficou surpresa, e uma expressão de dor e raiva surgiu em seu rosto:

— Jovem Senhorita, a senhora não acredita em mim? Yingzi preferia morrer a ter sua honra questionada!

Dito isso, ela se levantou de súbito, correndo na direção de uma viga com a intenção de se chocar contra ela. Seu gesto foi tão desesperado que Zhuang Hanming avançou rapidamente, agarrando-a e puxando-a de volta, gritando:

— O que você está fazendo?!

Embora estivesse bravo, seu tom revelava uma profunda preocupação. O coração de Han Yan afundou. De fato, Zhuang Hanming se virou para ela e disse:

— Jie, Yingzi já é tão miserável... por que você precisa pressioná-la assim?

Han Yan ficou momentaneamente atônita, e seu sorriso desapareceu por completo. Ela fitou Zhuang Hanming com frieza, a voz gélida como gelo:

— Estou apenas perguntando sobre a situação familiar dela. É errado investigar aqueles que entram nesta casa? Em uma família tão grande e complexa como a dos Zhuang, se alguém mal-intencionado entrasse e cometesse um crime, quem seria responsabilizado?

Ela normalmente mantinha um semblante sorridente e raramente demonstrava raiva, tratando Zhuang Hanming com carinho e ternura. Nunca havia sido tão fria com ele. Zhuang Hanming a olhou com decepção:

— Eu achava que minha irmã era alguém de bom coração, mas agora, suas ações são cada vez mais incompreensíveis. Você desconfia até de uma pobre criada. Yingzi é diferente das outras criadas. Se algo acontecer, eu assumirei a responsabilidade!

— Então vai ficar do lado dela contra mim? — Han Yan cravou o olhar nos olhos de Zhuang Hanming. Aquele irmão era a primeira pessoa que ela quis proteger nesta nova vida, e agora ele a estava questionando por causa de uma estranha.

Zhuang Hanming estava furioso. Jamais imaginou que a obediente e miserável Yingzi fosse tratada daquele jeito por Han Yan. Yingzi, que perdera a mãe ainda pequena e dependia da irmã para sobreviver, fazia-o lembrar de sua própria situação, despertando nele uma dor compartilhada. Trazer Yingzi para a mansão tinha como objetivo garantir que ela pudesse viver com saúde. Mas agora, as atitudes de Han Yan o deixavam desconcertado.

— Você está sendo simplesmente irracional! — Zhuang Hanming puxou Yingzi para perto, protegendo-a atrás de si, e encarou Han Yan com raiva: — Você tem tantos esquemas... não pense que todos são tão vis como você imagina!

Han Yan cambaleou levemente, e quando recuperou a compostura, Zhuang Hanming já havia se virado e saído, levando Yingzi consigo. Shu Hong a amparou:

— Jovem Senhorita...

A discussão entre o jovem mestre e a Jovem Senhorita deixou a criada sem palavras.

Han Yan sorriu, um tanto triste, sentindo em si uma profunda sinceridade em relação ao irmão, mas percebendo que, aos olhos dele, ela era apenas alguém cheia de artimanhas e suspeitas. Não tinha a intenção de tratar Yingzi mal, mas a simples menção ao bordel fez com que ela se tornasse automaticamente cautelosa. O fato de Yingzi ter estado em um bordel já a deixava desconfiada. Ao ouvir sobre suas dificuldades, era claro que ela vinha de uma origem muito pobre. No entanto, Han Yan havia observado suas mãos — delicadas e alvas, sem nenhum sinal de trabalho pesado.

Isso não contradizia o que ela afirmava?

Estaria Yingzi mentindo?

Quando Han Yan a pressionou, a reação da menina pareceu apenas destacar sua tentativa de encobrir a verdade. Por que, se aquilo podia ser explicado com algumas palavras simples, ela precisava fazer uma cena tão dramática?

Durante a discussão entre Zhuang Hanming e Han Yan, Yingzi apenas pareceu confusa e não tentou intervir. Se fosse uma criada comum, ao ver seu mestre discutindo com a irmã por sua causa, teria feito o possível para acalmar a situação.

Isso não era, no mínimo, estranho?

Han Yan olhou para as flores à sua frente e murmurou:

— Será que eu sou mesmo... tão insuportável assim?

Shu Hong balançou a cabeça rapidamente, dizendo:

— Jovem Senhorita, não diga isso. O jovem mestre ainda é novo e não compreende as dificuldades que a senhora enfrenta.

Ao ver a expressão desanimada de Han Yan, não pôde deixar de sentir pena.

— Nós, servas, vemos tudo o que a senhora faz pelo jovem mestre. Se for misericordiosa com seus inimigos, acabará sendo cruel consigo mesma. A situação atual é caótica; tanto no Jardim Gongtong quanto no Jardim Furong, as coisas não estão bem do lado de seu pai. A senhora também foi forçada a agir assim. Quem, entre as pessoas comuns, desejaria uma vida cheia de intrigas? Quem quer ficar tramando e calculando, senão por medo de que alguém as derrube assim que baixarem a guarda?

Shu Hong normalmente era comedida e raramente falava tanto, mas, ao ver Han Yan tão abatida, não conseguiu conter a preocupação e começou a oferecer seu apoio.

Han Yan sorriu levemente.

— Obrigada, Shu Hong.

De fato, quem não gostaria de viver uma vida simples e pura, apreciando flores e tocando música todos os dias, sem ter que enfrentar as traições dos outros, sem medo de ser enganado ou traído?

Mas ela conhecia dolorosamente as realidades da vida; não queria reviver o fim trágico de sua existência anterior. Mesmo que Ming Ge’er a odiasse e a visse como imperdoável, ela teria que aceitar.

— Shu Hong, fique de olho naquela Yingzi.

Alguém capaz de fazer o obediente Zhuang Hanming se voltar contra ela certamente não era uma pessoa comum.

No entanto, ao baixar o olhar, Han Yan percebeu que havia muitos problemas. Zhuang Hanming estava crescendo a cada dia, e ela não pretendia contar a ele sobre sua reencarnação, desejando que ele não precisasse passar pela mesma dor que ela enfrentara. Desejava que ele mantivesse para sempre seu coração inocente, que fosse uma pessoa decente e justa. Mas isso também significava que ele permaneceria alheio ao fato de que, enquanto vivesse na casa dos Zhuang, os jogos de intriga jamais cessariam.

Ela queria arrancar as máscaras hipócritas das pessoas daquela família, queria que Zhuang Hanming enxergasse com clareza e compreendesse que, num lugar como aquele, a bondade era a qualidade menos necessária.

Mas... isso era realmente o certo a se fazer?

Pela primeira vez, Han Yan começou a hesitar quanto à sua decisão.


Capítulo 77: O Banquete de Hongmen
 (Banquete de Hongmen refere-se a um evento histórico ocorrido no final da Dinastia Qin na China antiga. No uso moderno, Hongmen simboliza perigo ou uma situação em que alguém está em risco.)
Alguns dias depois, chegou o momento da celebração de aniversário da Consorte Chen no palácio. O Imperador, muito afeiçoado a ela, organizou um banquete especialmente em sua homenagem. O evento era voltado principalmente às parentes mulheres, e tanto Han Yan quanto Zhuang Yushan estavam entre as convidadas.
Chen Mama levantou-se cedo para ajudar Han Yan a escolher suas roupas.
— Jovem Senhorita, seu status agora é outro. Como Princesa Consorte de Xuanqing, essas roupas simples de antes já não combinam mais com você. É melhor escolher algo mais chamativo. — Depois de passar a manhã inteira escolhendo e ainda não estar satisfeita, lamentou: — Se eu soubesse, teria mandado fazer algumas peças novas...
Han Yan sorriu e disse:
— Escolha qualquer uma. Vamos apenas desejar feliz aniversário e nada mais. Contanto que seja algo digno e que não nos envergonhe, está bom o suficiente.
Chen Mama balançou a cabeça, desaprovando.
— Jovem Senhorita, você só pensa na praticidade, mas o Príncipe não enxerga as coisas assim. Agora, você é o rosto do Príncipe. Se você demonstra dignidade, o Príncipe também a terá.
Han Yan quase caiu na risada ao pensar em ser o “rosto” de Fu Yunxi. Suspirou por dentro, recordando os traços delicados e belos de Fu Yunxi. Aquele homem, mesmo parado no meio de todos, já ofuscaria qualquer outro. Como eu poderia dar alguma dignidade a ele? Talvez os outros estivessem certos — eu, Zhuang Han Yan, realmente subi num galho alto demais.
Depois que Chen Mama a vestiu, e as donzelas Ji Lan e Shu Hong arrumaram seus cabelos e maquiagem, Han Yan finalmente se levantou e se espreguiçou. Cada ida ao palácio ou a um banquete era como uma batalha árdua, mas à medida que se acostumava com aquela vida, tudo ia se tornando menos penoso.
No entanto, hoje era o aniversário da Consorte Chen. Como mãe do Sétimo Príncipe, ela havia feito questão de incluir o nome de Han Yan no convite. Isso já revelava que suas intenções não eram boas.
Han Yan tirou de seu estojo a adaga de flor de ameixa, avaliou o peso na mão e a escondeu na manga antes de dizer a Ji Lan e às outras:
— Vamos.
No palácio, o lugar mais suntuoso era, sem dúvida, o Salão Caifeng, com paredes de jade branca, tijolos dourados no chão, coral e pedras preciosas por todos os lados. Os tesouros eram incontáveis, e mantas de caxemira persa desciam pelos degraus, macias e reluzentes. Um grou de bronze exalava incenso de sândalo, e mesmo no inverno, as bandejas de cristal sobre as mesas estavam repletas de frutas de verão.
De um lado, as damas estavam sentadas ao redor do banquete, saboreando docinhos delicados e vinhos refinados, conversando animadamente. A Consorte Chen, deslumbrante em sua posição de aniversariante, estava sentada ao lado da Imperatriz. Esta, por sua vez, sorria enquanto conversava com a esposa de um general. Foi então que uma voz um pouco mais alta se fez ouvir:
— Ouvi dizer que a Princesa Consorte de Xuanqing virá hoje. Que surpresa!
Uma mulher vestida com esmero cobriu a boca, rindo ao ouvir isso:
— Vamos finalmente ver como é a Princesa Consorte de Xuanqing.
Fu Yunxi era jovem, bonito e nobre, oriundo de uma família imensamente rica. Era o par ideal sonhado por incontáveis moças da nobreza. Quando a notícia de seu noivado com a Princesa Consorte de Xuanqing se espalhou, muitas jovens choraram em seus travesseiros durante várias noites. No banquete de aniversário de hoje, havia várias dessas jovens que haviam fantasiado um dia ocupar o lugar de princesa. Já alimentavam certo ressentimento pela Princesa Consorte e agora estavam ansiosas para vê-la com os próprios olhos.
— A Quarta Irmã provavelmente só chegará mais tarde — disse Zhuang Yushan, que claramente havia se arrumado com esmero para a ocasião, radiante em sua aparência. Já não ostentava mais a beleza juvenil, mas sim um charme diferente de mulher casada. Seus gestos eram graciosos, atraindo olhares invejosos de várias jovens presentes. Embora fosse filha de uma concubina, casar-se com o herdeiro do trono de Wei, mesmo como esposa secundária, ainda era uma posição elevada. Algumas mulheres que nunca haviam visto Han Yan passaram a imaginar que, sendo ela irmã de Zhuang Yushan, também devia ser uma mulher sedutora, o que fez com que já desenvolvessem certa antipatia pela Princesa Consorte antes mesmo de vê-la.
— Ouvi dizer que a Princesa Consorte de Xuanqing é extremamente ciumenta e não permite que o Príncipe tome concubinas ou esposas secundárias — comentou uma dama nobre.
Zhuang Yushan riu e disse:
— A Quarta Irmã sempre acreditou em um amor para a vida inteira entre duas pessoas. Até quando nosso pai tomou uma concubina, ela foi contra. Ela tem pensamentos bem peculiares.
À primeira vista, isso soava como se estivesse elogiando a lealdade de Han Yan. Mas para as outras presentes, soou de forma bem diferente.
Como era de se esperar, uma mulher logo rebateu com raiva:
— Como filhos, não devemos nos intrometer nos assuntos dos pais. Ouvi dizer que a Princesa Consorte de Xuanqing ainda nem atingiu a maioridade, mas já quer se intrometer nos assuntos da família — isso é falta de piedade filial. Pensamentos únicos de uma mulher? Eu diria que é apenas ignorância e falta de decoro!
As palavras dela receberam concordância imediata ao redor. Neste mundo, qualquer um que alcança uma posição elevada inevitavelmente atrai olhares invejosos, e quando há inveja, há murmúrios. Entre as presentes estava Deng Chan, que inicialmente quis refutar as palavras de Zhuang Yushan em voz alta, acreditando que ela estava difamando Han Yan na sua ausência. No entanto, sua mãe puxou sua manga discretamente. Deng Chan olhou para cima e viu a mãe lhe lançando um olhar de advertência. Contrariada, mas com receio de provocar a ira da mãe, só conseguiu lançar um olhar feroz a Zhuang Yushan, sentindo-se confusa.
Algumas das damas presentes conheciam Han Yan desde antes e sabiam que ela certamente não era como Zhuang Yushan a descrevia. No entanto, não só deixaram de defendê-la como também preferiram assistir ao espetáculo e até concordaram com as palavras de Zhuang Yushan. Deng Chan sentia uma indignação silenciosa por Han Yan.
Entre aquelas que se mantiveram neutras diante das palavras de Zhuang Yushan estava Li Jia Qi. Quando Zhuang Yushan lhe disse, tempos atrás, que Han Yan talvez se tornasse a Princesa Consorte do Príncipe de Wei, Li Jia Qi se opôs a Han Yan com firmeza. No entanto, ao testemunhar pessoalmente Zhuang Yushan seduzindo Wei Ru Feng e o encontro íntimo dos dois na mansão Zhuang, sua aversão por Zhuang Yushan só aumentou. Agora que Han Yan se tornara a Princesa Consorte de Xuanqing, ela não teria mais qualquer ligação com Wei Ru Feng. Por outro lado, Zhuang Yushan havia se tornado concubina secundária do Príncipe de Wei e, em breve, Li Jia Qi entraria na mansão como consorte legítima de Wei Ru Feng. Embora isso a deixasse naturalmente feliz — afinal, estava se casando com quem gostava —, o fato de ele ter aceitado Zhuang Yushan como concubina era como uma farpa em sua garganta, difícil de engolir. Ao ver Zhuang Yushan ainda denegrindo Han Yan, sentiu apenas desprezo. Deliberadamente, ergueu a voz e declarou:
— E o que pode ser feito? O Príncipe Xuanqing a ama! Ele mesmo prometeu fidelidade eterna diante do Imperador!
Diante disso, as que antes zombavam e criticavam Han Yan silenciaram. De fato, as ações do Príncipe Xuanqing deixavam claro que teria apenas Han Yan como consorte por toda a vida. Para que uma mulher fosse alvo de inveja, era preciso antes reconhecer que ela era digna disso. O maior orgulho de uma mulher é ser valorizada por um homem extraordinário — e Han Yan, sem dúvida, havia alcançado isso.
Deng Chan lançou um olhar surpreso para Li Jia Qi, completamente confusa por ver alguém que antes fora inimiga declarada de Han Yan agora defendê-la. Parece que o sol nasceu do oeste...
Zhuang Yushan ficou furiosa. As palavras de Li Jia Qi insinuavam que seu casamento com Wei Ru Feng não era legítimo, já que tinham tido intimidade antes das núpcias — o que a colocava numa posição embaraçosa, como se Wei Ru Feng tivesse sido forçado a aceitá-la. Apesar disso, ela não ousava enfrentar Li Jia Qi. Por isso, apenas jurou em silêncio que, quando Li Jia Qi entrasse na mansão e não conseguisse conquistar o coração de Wei Ru Feng, ela, Zhuang Yushan, se tornaria a favorita e então cuidaria da rival como bem entendesse. Assim, forçou um sorriso amigável e disse:
— Tem razão, a Quarta Irmã é realmente afortunada.
A imperatriz continuava sua conversa indiferente com a esposa do general, como se nada tivesse ouvido — ou, talvez, tendo ouvido tudo, fingisse não ter escutado. Consorte Chen sorria calorosamente ao servir chá para a Imperatriz Viúva, ambas observando silenciosamente a agitação lá embaixo. Embora não dissessem nada, seus sorrisos eram formais, e o brilho nos olhos escondia significados insondáveis.
Logo após as damas terminarem de falar sobre Han Yan, um eunuco anunciou:
— A Princesa Consorte de Xuanqing chegou...
Momentos depois, Han Yan entrou, acompanhada de duas criadas.
A jovem, agora crescida, ainda guardava certa inocência juvenil no semblante, mas seu porte era gracioso e sereno, sem o menor traço de nervosismo ou timidez. Era como se uma princesa de nobre nascimento tivesse acabado de adentrar o salão, caminhando com tranquilidade e segurança. À primeira vista, era difícil acreditar que uma garota de apenas treze anos pudesse demonstrar tamanha compostura.
Conforme ela se aproximava, todos puderam vê-la com mais clareza: uma jovem encantadora, de traços delicados, embora não tão deslumbrantes quanto os de Zhuang Yushan. Era como uma nascente cristalina, refrescante e serena. Vestia uma jaqueta de cetim roxo-rosado com bordados intricados, a gola adornada com pérolas e pedras preciosas, por cima de uma túnica externa com bordas douradas. Uma saia longa de seda, em tons suaves de rosa, descia de sua cintura. Trazia ao pescoço um colar de pérolas, e seus cabelos estavam presos num penteado primaveril — ao mesmo tempo digno e jovial. Os lábios curvavam-se num leve sorriso, os olhos brilhavam, doces e gentis. E, ainda assim, por trás daquela doçura, havia uma frieza sutil, tornando-a parecida com uma estranha ao ambiente, alguém que observava tudo de fora, com um toque de desprezo silencioso — inabalável diante do caos, alheia às lágrimas ou intrigas.
Essa garota, embora não tivesse uma beleza marcante, possuía certo magnetismo; como se todo o seu brilho estivesse contido na nitidez de seu olhar, despertando nos outros uma sensação inexplicável de inquietação.
Era um completo contraste com a imagem que Zhuang Yushan havia pintado — de uma mulher ciumenta, voluntariosa, desrespeitosa e cruel, tão mal falada na capital.
Han Yan fez uma reverência diante das figuras mais altas do salão:
— Han Yan saúda a Imperatriz Viúva, a Imperatriz e Consorte Chen.
A Imperatriz Viúva acenou com a mão.
— Pode se levantar.
Han Yan agradeceu, inclinando-se levemente.
No entanto, Consorte Chen não lhe permitiu retornar ao assento. Em vez disso, observou Han Yan e disse:
— Agora que você é a Princesa Consorte de Xuanqing, deve agir com ainda mais prudência.
Então chamou:
— Yu’er.
Zhuang Yushan avançou imediatamente:
— Alteza.
Consorte Chen fez um gesto para que se aproximasse e segurou sua mão com um sorriso afável.
— Sempre vi que o Jovem Mestre é um homem talentoso e promissor. Agora que você é uma concubina secundária, admiro sua conduta recatada — isso me agrada imensamente.
Dizendo isso, tirou um grampo de cabelo da própria cabeça e o prendeu nos cabelos de Zhuang Yushan.
— Não tenho outro presente. Fique com este grampo.
Zhuang Yushan ficou surpresa com o gesto e recusou, abalada:
— Alteza, isso é demais... não fiz nada que justifique tal honra...
— Aceite como estou dizendo — respondeu Consorte Chen com um leve tom de impaciência. — Estou dando porque gosto de você.
Zhuang Yushan agradeceu apressadamente, rindo e conversando animadamente com Consorte Chen.
Enquanto as duas trocavam palavras afetuosas, Han Yan permaneceu ao lado de Consorte Chen, sem poder se mover. Consorte Chen não a convidou para se sentar; em vez disso, continuou a conversar com Zhuang Yushan, deixando Han Yan claramente de lado. A Imperatriz Viúva apenas abaixou a cabeça para tomar chá, sem demonstrar intenção alguma de intervir. A Imperatriz lançou-lhe alguns olhares, mas logo voltou a conversar com a esposa do general, demonstrando também não querer se envolver.
É claro que, mesmo que a Imperatriz quisesse me ajudar, não se atreveria a ofender a Imperatriz Viúva por minha causa... Han Yan suspirou por dentro. Todos sabem que a pessoa que o Imperador mais respeita é a Imperatriz Viúva.
Naquele momento, ela compreendia tudo com clareza: a Imperatriz Viúva estava, evidentemente, alinhada com Consorte Chen. Um sentimento inexplicável de repulsa surgiu em seu coração. Ela achava aquela mulher insondável.
No salão, exceto por Deng Chan, os demais assistiam com satisfação ao constrangimento de Han Yan diante da frieza de Consorte Chen. Zhuang Yushan se sentia vitoriosa; estava próxima de Consorte Chen e, agora, com o respaldo da Imperatriz Viúva, quem se importava se era apenas uma concubina secundária? Até mesmo Li Jia Qi teria que lhe mostrar respeito.
Depois de um longo tempo, Consorte Chen olhou em direção ao assento de Han Yan e a viu ainda de pé, com um sorriso tranquilo, sem demonstrar nem descontentamento nem impaciência — apenas aguardando calmamente ao lado. Consorte Chen havia planejado desestabilizá-la, mas aquela garota de treze anos era surpreendentemente firme, sem causar escândalo ou se mostrar ressentida. Estava inabalável. Para quem observava, parecia cada vez mais que era Consorte Chen quem estava sendo deliberadamente hostil. Incomodada com tamanha compostura, Consorte Chen finalmente acenou com a mão e disse:
— Pode voltar ao seu lugar.
Han Yan agradeceu a Consorte Chen, notou Deng Chan acenando discretamente para ela, sorriu e caminhou até se sentar ao lado da amiga.
Assim que se acomodou, Deng Chan agarrou sua mão com entusiasmo e sussurrou em seu ouvido:
— O que você fez para ofender a Consorte Chen? Por que ela está implicando com você?
Han Yan deu de ombros, indicando que não sabia o motivo. No entanto, em seu coração, compreendia perfeitamente que o comportamento da Consorte Chen provavelmente tinha relação com o Sétimo Príncipe. Na última vez, Fu Yunxi mencionara que, ao se opor ao Príncipe Wei e a Zhuang Shiyang, ela estaria, na verdade, enfrentando também o Sétimo Príncipe. Agora, tendo frustrado repetidamente os planos de Wei Ru Feng e provocado a rebaixamento de Zhuang Shiyang, era natural que o Sétimo Príncipe desejasse vê-la eliminada. O que ela não esperava era que ele usaria a Consorte Chen e a própria Imperatriz Viúva para isso. Han Yan hesitou. Será que isso significa que a Imperatriz Viúva está aliada ao Sétimo Príncipe?
Aquilo parecia preocupante. Com o apoio da Imperatriz Viúva, o Sétimo Príncipe tinha grandes chances de obter também o respaldo do Imperador. E se o Imperador o apoiasse como Príncipe Herdeiro, uma vez no poder, Wei Ru Feng também se beneficiaria. Considerando que Zhuang Shiyang e Wei Ru Feng a detestavam, quando esse dia chegasse... as consequências para ela seriam terríveis.
Han Yan apertou os punhos. Por que a Imperatriz Viúva favorece tanto o Sétimo Príncipe?
Enquanto ela ponderava, o banquete teve início. Conversava e ria com Deng Chan, aparentando grande tranquilidade. As irmãs Zhou não estavam presentes naquela ocasião; a Concubina Zhou ainda se recuperava e não podia participar dos eventos no palácio. Quanto à Senhorita Zhou, o motivo de sua ausência era incerto. Outro fator era o recente incidente na residência Zhuang envolvendo assassinos — um episódio que abalou toda a capital. Sabia-se também que a mãe e a filha Zhou haviam sido detidas por alguns dias por atrapalharem as investigações. Agora que Zhuang Yushan se tornara concubina secundária de Wei Ru Feng, ninguém se atrevia a comentar abertamente, mas a Concubina Zhou, sendo apenas uma concubina menor de Zhuang Shiyang, tornara-se um alvo fácil de fofocas.
A ausência da Concubina Zhou podia muito bem ser por medo de ser comentada. Pensando na expressão enfurecida daquela mulher, Han Yan não conteve uma risada suave.
Deng Chan comentou:
— Você realmente atrai confusão. Uma vai embora, outra aparece.
Depois, acrescentou:
— Mas agora você está bem. Tornou-se a Princesa Consorte de Xuanqing.
Ela olhou para Han Yan com inveja.
— Você disse uma vez que não gostava dele, e agora esse homem incrível é seu marido — e será para sempre. Estou com inveja de verdade!
Han Yan a provocou:
— Acho que quem quer se casar é você. Gosta tanto do Fu Yunxi... por que não se casa com ele? Você poderia ser a Princesa Consorte de Xuanqing!
Deng Chan arregalou os olhos e empurrou Han Yan de leve, brincando:
— Para com isso! Eu não gosto dele, ele é tão frio. Prefiro o General...
Percebendo que havia dito demais, interrompeu-se imediatamente, lançando um olhar nervoso para Han Yan.
Han Yan prolongou de propósito:
— General... Cheng?
Deng Chan entrou em pânico, olhando ao redor para se certificar de que ninguém tinha ouvido, e então deu um tapinha em Han Yan:
— Para de falar bobagem!
Han Yan, verdadeiramente feliz, aconselhou:
— Só não diga nada. Se você realmente gosta dele, seja corajosa e se declare. Se ele também gostar de você, então é um par perfeito.
Han Yan aprendera com sua vida passada que esconder sentimentos e apenas observar de longe não bastava. A verdadeira natureza de uma pessoa muitas vezes não correspondia ao que o mundo via. Para evitar arrependimentos, era melhor investigar tudo a fundo antes que um relacionamento começasse.
Deng Chan apoiou o queixo na mão, com um olhar sonhador:
— Mas eu não sei o que ele sente...
Claramente apaixonada, parecia uma jovem perdida em devaneios. Han Yan não soube como confortá-la e apenas suspirou, preferindo ficar em silêncio.
No meio do banquete, uma criada do palácio fez sinal para que todos se calassem. Assim que Han Yan pousou a xícara de chá, ouviu a voz da Imperatriz Viúva chamando:
— Princesa Consorte de Xuanqing.
Assustada, Han Yan se levantou rapidamente e sorriu:
— Em que posso servi-la, Vossa Majestade?
— Venha até mim — ordenou a Imperatriz Viúva.
Embora hesitasse, Han Yan não podia demonstrar. Manteve o sorriso e caminhou até a Imperatriz Viúva. Antes que pudesse reagir, a soberana acenou, e uma criada vestida com um traje rosa do palácio avançou, carregando uma bandeja.
Han Yan lançou um olhar e viu que sobre a bandeja de prata repousavam um pequeno bule de vinho de jade, um pano macio e uma pequena taça redonda de vinho.
Sua mente foi invadida por lembranças de sua vida passada — o dia de grande alegria, o quarto enfeitado com vermelho vibrante, e a imagem aterradora daquela taça de veneno. Tudo voltou à tona num piscar de olhos.


Capítulo 78: Envenenada com Veneno da Primavera
(Veneno da Primavera – afrodisíaco)
A Imperatriz Viúva sorriu e disse:
— Yunxi é meu filho mais amado. Agora que você se tornou sua Princesa Consorte, preparei especialmente para você uma taça de vinho fino.
A criada deu um passo à frente, pegou cuidadosamente a taça, e outra serviu o vinho até a borda antes de apresentá-la a Han Yan.
O sorriso de Han Yan ficou um tanto rígido ao encarar a taça diante de si. Era como se, através daquele vinho, ela enxergasse o trágico fim de sua vida passada. A intenção da Imperatriz Viúva era maliciosa — disso não havia dúvidas — e aquele vinho certamente continha mais do que aparentava. Ela não podia beber aquilo!
Ao notar a hesitação de Han Yan, a expressão da Imperatriz Viúva tornou-se ligeiramente incisiva.
— Senhorita Zhuang, por que ainda não aceitou esta taça de vinho?
Como ela poderia aceitar isso? Naquele instante, Han Yan sentiu-se dividida em duas: uma parte sua, pressionada pela presença da Imperatriz Viúva, hesitava sem saber como agir; a outra, fria e consciente, observava tudo ao redor com calma e clareza.
Consorte Chen interveio:
— Se a Senhorita Zhuang não aceitar esta taça, poderá parecer desrespeito com Sua Majestade. É raro a Imperatriz Viúva demonstrar tanto apreço por alguém; não seja ingrata.
As palavras soaram duras, e a atmosfera antes calorosa tornou-se instantaneamente tensa. Até mesmo a despreocupada Deng Chan percebeu que algo estava errado. Embora não compreendesse por que Han Yan relutava em aceitar o presente da Imperatriz Viúva, podia perceber o tom agressivo de Consorte Chen. Isso a fez sentir-se ao mesmo tempo preocupada com Han Yan e incomodada com a consorte. Enquanto isso, Zhuang Yushan exibia um sorriso excessivamente radiante, claramente fora de lugar.
A Imperatriz falou com calma:
— Irmã, por que dizer tais coisas? É provável que a Senhorita Zhuang esteja apenas assustada, por ser jovem.
Ela tinha certa simpatia por Han Yan; da última vez, a jovem a deixara muito feliz. Hoje, percebia que a Imperatriz Viúva e Consorte Chen estavam mirando em Han Yan. O palácio já era cheio de intrigas, e ela não queria se envolver nessas águas turvas. Contudo, aquelas ações estavam passando dos limites. O Imperador prezava muito o irmão mais novo, Fu Yunxi, e parecia que Fu Yunxi pretendia se casar com Han Yan diante de todos, no Salão Jin Luan — o que indicava sentimentos reais. Se algo acontecesse com aquela garota no palácio, como chefe do harém, ela inevitavelmente seria envolvida. Por isso, tentou suavizar a situação:
— A Senhorita Zhuang se assustou? Então beba logo este vinho; seria uma pena decepcionar a boa intenção da Imperatriz Viúva.
Han Yan sabia que de modo algum podia beber aquilo. O instante em que vira a taça já havia despertado nela memórias dolorosas do destino trágico da vida anterior. Reprimindo o pânico, lançou um olhar ao redor do salão — apenas para perceber, com tristeza, que não havia uma única pessoa ali capaz de salvá-la!
Ji Lan e Shu Hong morderam os lábios com força. Como criadas pessoais de Han Yan, sabiam que aquele vinho era perigoso, mas não podiam agir por impulso. Se cometessem qualquer erro, a Imperatriz Viúva e Consorte Chen se aproveitariam disso para arruinar Han Yan.
Han Yan estendeu a mão em direção à taça, sem apressar-se a beber. Em vez disso, encarou o líquido translúcido e permitiu que seus pensamentos se acalmassem.
A Imperatriz Viúva e Consorte Chen claramente tinham algum propósito oculto, mas não ousariam agir de maneira tão aberta a ponto de prejudicá-la diante de tantas damas nobres e da própria Imperatriz. Afinal, se houvesse muitas testemunhas e a notícia se espalhasse, o escândalo seria grande. Ainda assim... havia algo naquele vinho.
Ela abaixou a cabeça para examinar melhor. O que exatamente foi colocado aqui?
Só porque não se permitia correr riscos naquele instante, não significava que não estivesse em perigo depois. O que quer que estivesse naquela taça poderia não agir de imediato, mas se surtisse efeito mais tarde, quem responsabilizaria a Imperatriz Viúva? Afinal, oficialmente, ela não tinha motivos para odiar Han Yan. Quem acreditaria nela? Aquela substância, aparentemente inofensiva agora, poderia ser justamente o que a levaria à morte no futuro.
Ela teria que beber. Caso contrário, seria acusada de desobedecer uma ordem direta da Imperatriz Viúva. Mas se bebesse... talvez ainda houvesse uma chance de sobreviver.
Na verdade, não havia escolha real, não era?
Que seja, pensou. Nesta vida, fui agraciada com o renascimento, e não busco glória ou status. Só quero que as dívidas de sangue sejam pagas com sangue. Se eu morrer... se eu morrer...
Ela ergueu o rosto e sorriu docemente para a Imperatriz Viúva e Consorte Chen:
— Espero que Vossa Majestade me perdoe; estava apenas refletindo que, com tanta bondade sendo dirigida a mim, devo retribuir com um presente igualmente valioso no futuro.
As palavras soaram sinceras, mas o olhar dela era como uma corrente gelada, infiltrando-se no fundo do coração das duas:
— Quando esse dia chegar, espero que Vossa Majestade não o despreze.
A ameaça velada e o aviso sutil fizeram com que ambas sentissem um calafrio na espinha. A Imperatriz Viúva sorriu gentilmente:
— Que bons sentimentos você tem; isso me alegra.
Depois, sinalizou para que Han Yan bebesse logo o vinho.
Só então Han Yan abaixou a cabeça e levou a taça aos lábios. O vinho frio escorreu por sua garganta, ardendo em sua passagem. Um amargor lhe encheu o peito. Na vida, tantas vezes somos impotentes... O mais difícil é saber que o que se bebe é veneno, e ainda assim ter de aceitá-lo com um sorriso, como se fosse um presente nobre.
Após terminar o vinho, com o sabor amargo ainda persistindo na boca, Han Yan sorriu radiante, colocou a taça de volta sobre a bandeja e pegou um pano macio para limpar os lábios, antes de retornar ao seu assento.
A Imperatriz Viúva, ao vê-la, assentiu satisfeita e trocou um olhar cúmplice com Consorte Chen. A Imperatriz, por sua vez, teve uma leve sensação de desconforto, como se algo estivesse errado — mas, sem conseguir identificar o motivo, acabou descartando o pensamento como paranoia e deixou o assunto de lado.
Assim que Han Yan se sentou, Deng Chan se inclinou para ela e sussurrou:
— Eu fiquei tão assustada agora há pouco! Pelo jeito que você olhou, achei que ia recusar o vinho da Imperatriz Viúva!
Han Yan sorriu amargamente. Ela realmente não queria beber aquele vinho. Mas diante de todos, como poderia recusá-lo? Não podia simplesmente dizer que suspeitava que a Imperatriz Viúva estava tentando envenená-la. Aquilo seria considerado calúnia contra a família imperial — um crime punível com a morte.
Han Yan não tinha desejo algum de perder a cabeça, então realmente... não havia como escolher. Precisava beber.
Zhuang Yushan observou a expressão de Han Yan e cobriu os lábios, rindo:
— A Quarta Irmã é mesmo afortunada por receber tanta atenção especial da Imperatriz Viúva. Fiquei realmente assustada agora há pouco, achando que você fosse desobedecer o Imperador. Haha.
Ela olhou para Han Yan com um tom ambíguo:
— Fiquei curiosa para saber... qual é o sabor do vinho da Imperatriz Viúva?
Han Yan respondeu com um sorriso:
— Irmã Yushan, você está curiosa sobre o vinho da Imperatriz Viúva?
Antes que Zhuang Yushan pudesse responder, ela continuou:
— Não se preocupe, com certeza terá muitas oportunidades de prová-lo no futuro.
A expressão de Zhuang Yushan mudou várias vezes, lançando um olhar ressentido para Han Yan enquanto murmurava:
— Não fique tão satisfeita consigo mesma; vai chegar o dia em que vai se arrepender!
Han Yan permaneceu indiferente. Ji Lan e Shu Hong estavam atrás dela, observando atentamente cada movimento, ansiosas por qualquer sinal de mal-estar. Haviam acabado de ver Han Yan beber o vinho, plenamente conscientes do perigo, mas completamente impotentes. No momento, só podiam agir com cautela. Se algo acontecesse com Han Yan, temiam não ter mais lugar no mundo.
Deng Chan, alheia às tensões que cercavam Han Yan, achava que tudo não passava de um pequeno incidente e continuou a brincar com ela. Com o fim do banquete se aproximando, prepararam-se para os fogos de artifício que dariam um toque festivo à noite. As damas começaram a sair do Salão da Fênix, guiadas pelas criadas do palácio até o Jardim Imperial para assistir aos fogos coloridos.
Han Yan não tinha o menor interesse em ver fogos de artifício. Na verdade, já começava a perceber uma mudança em seu corpo desde os instantes finais do banquete. A alteração foi sutil no início; ela não notou de imediato. Mas, com o passar do tempo, sentia-se cada vez mais quente, como se um fogo estranho estivesse se acendendo dentro de si, incontrolável. Logo, uma sensação de vazio sem precedentes tomou conta dela.
Ela não entendia o que estava acontecendo. À medida que o calor aumentava, sua cabeça começou a ficar turva — o que não era um bom sinal. Em seu estado confuso, os momentos de lucidez se alternavam com lapsos de inconsciência, e ela já pressentia que havia algo errado. Quando estava prestes a se juntar às outras para assistir aos fogos, Deng Chan notou suas bochechas avermelhadas e perguntou:
— Por que seu rosto está tão vermelho?
Han Yan balançou a cabeça, tentando conter a excitação estranha que se acumulava dentro dela, e sorriu:
— Acho que estou com um pouco de calor demais.
Deng Chan não pensou muito sobre isso e respondeu alegremente:
— Vamos logo ver os fogos!
Ela segurou a mão de Han Yan e a puxou para fora do salão.
Assim que saíram, uma brisa fresca soprou contra o rosto de Han Yan, ajudando a aliviar um pouco a inquietação inexplicável e trazendo certa clareza à sua mente. Foi como se, de repente, ela se lembrasse de onde estava. Refletindo sobre seus comportamentos estranhos anteriores, foi tomada por uma realização súbita: não era calor... ela havia sido envenenada com veneno da primavera!
A revelação caiu sobre ela como um raio. Nesta vida, jamais imaginou que seria vítima de um veneno como aquele. Quem seria tão cruel a ponto de recorrer a um método tão vil contra uma jovem donzela solteira? Não importava o quão impiedoso alguém fosse, lançar mão de algo tão imoral só poderia trazer desgraça.
A Imperatriz Viúva e Consorte Chen caminhavam à frente, enquanto Zhuang Yushan notava a aparência suada e avermelhada de Han Yan e perguntava, com um tom aparentemente preocupado:
— Quarta irmã, o que houve? Você está suando muito.
Ao ouvir isso, a Imperatriz se virou e viu a expressão estranha de Han Yan. Perguntou:
— O que está acontecendo? Devemos chamar um médico?
Mas foi a Imperatriz Viúva quem respondeu:
— Hoje é o aniversário da Consorte Chen. Que história é essa de chamar médico? Não traga mau agouro!
Ela lançou um olhar de desaprovação à Imperatriz.
A Imperatriz abaixou a cabeça rapidamente e respondeu:
— A senhora tem razão, mãe — e não fez mais perguntas sobre o estado de Han Yan.
Han Yan cerrou os dentes. Nesse momento, chegaram ao Jardim Imperial e os fogos começaram a colorir o céu noturno, explodindo um a um em uma beleza estonteante. Todos ficaram ali parados, admirando o espetáculo. Han Yan, no entanto, apertava os lábios, tentando não emitir nenhum som, mas o calor dentro de seu corpo só aumentava. Ela não podia acreditar que a Imperatriz Viúva havia lhe dado veneno da primavera. Mesmo a mulher mais reverenciada do império recorreria a métodos tão sujos?
Han Yan sabia que não aguentaria por muito tempo. Se ficasse ali, talvez perdesse o controle de si mesma e fizesse algo imperdoável. Então, aproveitando a escuridão da noite e o fato de ninguém estar prestando atenção, ela discretamente se escondeu atrás de uma grande figueira do jardim imperial. Ji Lan e Shu Hong, percebendo o movimento, a seguiram às pressas. Han Yan não hesitou: abaixou-se e se esgueirou para longe dos olhares até encontrar um canto mais isolado.
Ji Lan e Shu Hong estavam confusas, sem entender por que Han Yan agia daquela forma. Quando a viram à luz fraca, ficaram chocadas. Han Yan estava encharcada de suor, os cabelos grudados na testa, o corpo tremendo de calor. Suas bochechas estavam ruborizadas, os olhos desfocados, e a expressão vaga, perdida.
— Senhorita... — Ji Lan chamou, aflita, temendo que Han Yan tivesse sido envenenada. — O que está acontecendo?
Han Yan balançou a cabeça, sentindo o desejo dentro de si crescer descontroladamente. Ofegante, disse com dificuldade:
— Água... procurem água... fui envenenada com veneno da primavera...
— Veneno da primavera?! — Shu Hong exclamou, chocada. — Como isso é possível?
Han Yan afastou as mãos com um gesto fraco.
— Não há tempo...
Shu Hong assentiu rapidamente.
— Agora já deve ser tarde para procurar água. Lembro que, da última vez, vi um pequeno lago na parte leste do jardim imperial. Senhorita, se formos até lá...
Han Yan concordou com a cabeça:
— Vamos.
Mas, após poucos passos, sentiu o corpo fraquejar. O desejo estranho dentro de si não podia mais ser contido, e um suspiro fraco escapou de seus lábios. Sua mente parecia um emaranhado confuso — estava envergonhada e, ao mesmo tempo, impotente. Foi então que uma brisa fria soprou, e ela viu dois homens altos se aproximando. Han Yan se assustou, e um deles imediatamente agarrou sua mão de forma brusca, como se quisesse arrastá-la para algum lugar. Ela ficou atônita, mas logo percebeu que estavam tentando levá-la. No entanto, assim que a pele dela entrou em contato com a dele, Han Yan sentiu um impulso estranho de se encostar naquele homem, e precisou reunir forças para conter a vontade.
Nesse instante, Ji Lan correu até eles e mordeu com força a mão do homem. Shu Hong também se lançou sobre o outro. O homem mordido por Ji Lan não esperava tal reação. Com dor, soltou a mão de Han Yan, permitindo que ela se libertasse.
Ji Lan olhou para Han Yan, que estava fraca, com lágrimas nos olhos.
— Senhorita, corra!
Han Yan viu a determinação nos olhos de Ji Lan, que se agarrava ao braço do homem com os dentes cravados, sem largar. O homem reagiu brutalmente, desferindo um tapa violento na cabeça de Ji Lan. O corpo dela tremeu, mas mesmo assim não o soltou. Shu Hong fazia o mesmo. Han Yan cerrou os dentes. Ela não podia abandonar Ji Lan e Shu Hong, mas se fosse capturada por aqueles homens, o que quer que acontecesse com ela também as envolveria.
— Senhorita, somos apenas criadas. Eles não vão fazer nada conosco. Senhorita, corra! — gritou Shu Hong, com os cabelos em desordem, mas mantendo a calma ao falar.
As duas criadas haviam seguido Han Yan desde a vida passada até esta, sempre leais. Han Yan nunca as tratou como simples servas, mas como pessoas que um dia lhe ofereceram calor e, agora, como pessoas que ela esperava que vivessem bem neste mundo. Ver que estavam dispostas a sacrificar a própria vida por ela partia seu coração. Fraca e sem forças, Han Yan sabia que Ji Lan e Shu Hong estavam ganhando tempo para ela. Desesperadamente, puxou uma agulha de flor de ameixeira da manga e a enfiou fundo na palma da mão. A dor aguda percorreu seu corpo — e embora a agonia fosse insuportável, dissipou parte da névoa em sua mente. Ela se levantou, lançou um último olhar para Ji Lan e Shu Hong, que ainda lutavam contra os dois homens, e disse entre dentes cerrados:
— Não morram!
Cambaleando, avançou sem ousar olhar para trás diante da cena trágica. Ainda que não pudesse ouvir seus gritos, os gemidos abafados e o baque surdo de corpos sendo jogados ao chão atingiam Han Yan como marteladas no coração. Em toda sua vida, jamais se sentira tão impotente. Agora, sua única preocupação era que a vida de Ji Lan e Shu Hong era incerta, enquanto ela era caçada. Mas sabia que não podia cair nas mãos daqueles homens. Neste momento, Han Yan compreendia o esquema da Imperatriz Viúva. Mas se fosse desonrada, também seria um insulto a Fu Yunxi, que se tornaria alvo de chacota por toda a capital. Se a Imperatriz Viúva simplesmente não queria que ela se casasse com Fu Yunxi, por que iria tão longe a ponto de machucá-la? Haveria algum rancor antigo entre a Imperatriz Viúva e Fu Yunxi?
Han Yan não tinha o luxo de refletir sobre isso agora. Talvez porque vinha fortalecendo o corpo com a ajuda de Chai Jing, os efeitos do veneno primaveril só agora estavam se manifestando com força. Embora conseguisse manter a consciência, sabia que não aguentaria por muito mais tempo. Sem saber aonde ia, correu sem rumo, sob o luar tão claro quanto a água, e tudo ao redor parecia assustadoramente silencioso, como se não houvesse mais ninguém por perto. Um calafrio percorreu sua espinha, e embora seu corpo estivesse em chamas, o vento gelado ajudava a clarear sua mente. Ela estremeceu e mordeu a língua para não desmaiar.
Enquanto corria, Han Yan não sentia muito, mas assim que parou, percebeu o calor em seu corpo subir vertiginosamente. Suas forças a abandonavam, suas bochechas estavam coradas, e a estranha sensação de vazio retornava com força. Apesar de ter vivido duas vidas e não ser ignorante quanto aos assuntos entre homens e mulheres, ela não fazia ideia de como lidar com os efeitos do veneno primaveril que corria em suas veias. Nunca passara por algo assim, e até mesmo a sempre calma Han Yan não sabia o que fazer.
Sentia apenas um desejo crescente, insuportável, como se, quanto mais o veneno agia, mais intensa se tornava a urgência. Sentia o corpo em chamas, querendo arrancar as roupas e se agarrar a alguém. Han Yan ficou horrorizada. Seria esse o efeito do veneno primaveril? Me transformar em algo tão vil?
A ideia de perder sua castidade e virar alvo de fofocas na capital era um destino pior que a morte. Han Yan correu mais alguns passos e, à luz fraca do luar, viu o que parecia ser uma superfície d’água cintilante. Pensou que fosse um lago. Ela sabia nadar e, em seu estado atual, estava desesperada para se resfriar. Sem hesitar, mergulhou na água, mas assim que seu corpo foi envolvido pelo líquido, percebeu o erro. A água cristalina não era um lago — era uma fonte termal!
No coração do palácio imperial, havia mesmo uma fonte termal!
A mente de Han Yan não conseguia processar aquilo. Sentia apenas a água envolvendo seu corpo, e cada centímetro de pele em contato com aquela água quente a fazia estremecer incontrolavelmente. Para uma pessoa comum, uma fonte termal seria um alívio, mas para alguém envenenada com veneno primaveril como Han Yan, era como jogar óleo no fogo. O calor interno aumentava ainda mais, e ela não pôde conter um gemido suave.
Foi então que, com um splash, uma figura alta emergiu da água. Han Yan, semiconsciente e mal conseguindo abrir os olhos, não conseguiu distinguir o rosto da pessoa, mas aquela silhueta lhe pareceu familiar. Mesmo vendo apenas suas costas, a elegância e imponência eram inconfundíveis.
Uma voz baixa e magnética, fria como gelo, perguntou:
— Quem está aí?

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