Capítulo 79 a 81


 Capítulo 79: Ensinar Você a Beijar

Han Yan se assustou. Antes que tivesse chance de dizer algo, viu a pessoa se virar. À luz da lua, como um fio de seda, através da névoa que subia da água quente, o rosto dele finalmente se revelou. Seu corpo, esguio e poderoso como jade branco, parecia exalar um fascínio sem fim. Seus traços eram tão delicados quanto uma pintura, e os olhos estreitos em forma de fênix brilhavam com uma névoa indescritível, ainda mais cativantes do que o habitual.

Havia nele um charme inexplicável naquele momento — os lábios, uma linha fina e vermelha, estavam pressionados com firmeza, enquanto os cabelos, como uma cascata de seda negra, flutuavam na água, pendendo atrás dele como cetim. O homem sempre composto e distante, agora sem o manto externo, meio reclinado na fonte termal à luz da lua, era surpreendentemente sedutor.

Era Fu Yunxi.

Foi como se toda a tensão que Han Yan vinha segurando em sua mente se desfizesse de repente. Sem perceber, ela se inclinou em sua direção. Naquele instante, tudo o que queria era se agarrar a ele — o desejo dentro dela suprimia qualquer razão.

Fu Yunxi franziu a testa, olhando para ela como se tentasse entender por que estava ali. Mas, ao ver a expressão confusa dela, permaneceu em silêncio enquanto Han Yan nadava em sua direção.

No momento em que suas peles se tocaram, foi como um alívio no calor do verão — Han Yan sentiu o fogo em seu corpo diminuir. A presença dele era um consolo indescritível. Seu desejo físico sobrepujava qualquer racionalidade, e sem pensar, Han Yan estendeu os braços, envolvendo o pescoço de Fu Yunxi, pressionando-se contra ele, roçando o rosto em seu peito.

Aquela fonte termal havia sido construída especialmente pelo imperador para Fu Yunxi. Ninguém mais podia entrar ali; qualquer intruso encontrava um destino trágico. Esse lugar era mais temido do que os portões do inferno. Mas, além do próprio imperador, ninguém sabia da existência dessa fonte.

Hoje era a primeira vez que Fu Yunxi tomava banho ali e alguém invadia o local. A princípio, ficou chocado, e até pensou em matar. Mas, ao ver quem era, seu corpo congelou.

Não esperava que fosse Han Yan. Ao vê-la se aproximar, notou que sua expressão estava estranha. Antes que pudesse falar, ela já o envolvera com os braços, esfregando-se contra ele.

Fu Yunxi, que tinha vinte e um anos naquele ano, sempre vira Han Yan como uma jovem — alguém que ainda não atingira a maioridade. Sempre fora calmo e contido, não se abalada com facilidade pela aproximação dela. No entanto, preocupava-se com o motivo daquele comportamento. Han Yan sempre fora prudente e calculista; ousada, às vezes, mas extremamente cautelosa quando se tratava de relações entre homem e mulher.

Mas agora, Han Yan havia perdido o controle. Além de agarrá-lo, também esfregava o rosto no dele, enroscando-se em seus braços.

Fu Yunxi ficou momentaneamente atônito. Colocou a mão nela e sentiu o calor intenso de seu rosto contra sua pele. Virou o rosto dela com delicadeza, apoiando a mão na nuca, e só então viu claramente seu semblante.

Sob a luz da lua, a garota que costumava manter um sorriso gentil e uma compostura fria, agora parecia desnorteada, como se tivesse perdido toda a racionalidade habitual.

Suas roupas, encharcadas, grudavam no corpo, delineando sua silhueta esguia — a cintura fina, as pernas longas — como uma flor de lótus recém-desabrochada, exalando uma beleza pura e inocente. Mas o olhar de Fu Yunxi se fixou na palma da mão dela, ainda sangrando.

Ela estava ferida? E, nesse estado... algo definitivamente havia acontecido. A preocupação tomou conta dele.

— Zhuang Han Yan — ele franziu ainda mais a testa e chamou seu nome, tentando despertá-la.

Han Yan não o ouviu, continuando a se esfregar nele, como um pequeno animal carente, sua habitual nitidez substituída por uma suavidade dependente que fez o coração de Fu Yunxi amolecer sem perceber. Mas logo ele percebeu que algo estava errado. Han Yan nunca havia agido assim com ele — sempre mantivera distância, educada e adequada, às vezes até um pouco irritada. Mas agora, parecia uma criança procurando conforto.

Ele sabia que algo estava muito errado. Aquilo não era dela.

Sem pensar duas vezes, Fu Yunxi a afastou de si, a voz firme e fria:

— Zhuang Han Yan.

Talvez seu tom tenha sido severo demais, pois Han Yan, ainda atordoada, abriu lentamente os olhos, a consciência voltando aos poucos. Cerrou os dentes e murmurou com dificuldade:

— Rápido... salve Ji Lan e as outras...

E, mais uma vez, contorceu-se de desconforto.

Fu Yunxi entendeu. Se fizessem barulho e chamassem atenção, haveria uma busca — e a situação fugiria ao controle. Sem dizer mais nada, bateu com leveza na parte de trás do pescoço dela. Han Yan imediatamente desmaiou, desabando em seus braços. Ele a puxou contra si, segurando-a com força, sem se importar com as roupas molhadas. Envolveu-a firmemente em seu manto branco de pele, apertando-a junto ao peito — o calor escaldante do corpo dela fazendo seu semblante endurecer.

Saindo da fonte termal, caminhou alguns passos até que Mu Feng e Mu Yan, que estavam esperando do lado de fora, apareceram. Ao verem Fu Yunxi carregando alguém, ficaram chocados. Haviam se mantido afastados durante o banho de Fu Yunxi e não tinham ideia de que Han Yan estava ali.

Com o manto branco envolvendo os dois, Fu Yunxi parecia frio como gelo. Seu olhar era gélido, carregado de intenção assassina. Mu Feng e Mu Yan, que o acompanhavam há anos, entenderam de imediato que aquilo era um sinal de sua fúria. No entanto, como Fu Yunxi geralmente era calmo e indiferente, nenhum dos dois sabia o que havia acontecido.

—Vão investigar o que aconteceu no palácio hoje —disse Fu Yunxi friamente. Seu rosto estava sério, e toda a sua postura exalava um ar de perigo iminente.

Mu Feng e Mu Yan trocaram um olhar. Eles entenderam que a situação era grave. Endireitaram-se e disseram:

—Sim!

—Esperem —Fu Yunxi lançou um olhar para Han Yan, que ainda carregava nos braços—. A criada ao lado da Princesa Consorte está em perigo. Mandem alguém procurá-la e resgatá-la.

Mu Feng e Mu Yan se entreolharam novamente, confusos.

—A criada da Princesa Consorte? Seria possível que... a moça nos braços de Sua Alteza seja a própria Princesa Consorte?

Fu Yunxi jogou uma placa de jade para Mu Yan.

—Se alguém atrapalhar, diga que é uma ordem minha —disse, antes de sair caminhando sem olhar para trás.

Mu Feng tocou o nariz.

—O mestre está com raiva. Alguém vai se dar mal.

Mu Yan, no entanto, pensava na criada jovem e calma que sempre os acompanhava.

—Vamos.

Enquanto isso, Fu Yunxi levou Han Yan de volta ao Palácio da Princesa Xuanqing e imediatamente mandou chamar o médico imperial. Depois, dispensou todos os servos e carregou Han Yan até seus próprios aposentos.

Uma criada trouxe água quente, e Fu Yunxi se sentou à beira da cama. Mesmo após selar o ponto de acupuntura de Han Yan para mantê-la adormecida, ela ainda transpirava bastante, com as bochechas anormalmente coradas. Fu Yunxi molhou um lenço de seda e começou a limpar as gotas de suor em sua testa.

Assim que sua mão tocou sua cabeça, Han Yan agarrou seu pulso e, antes que ele pudesse reagir, abriu os olhos levemente, encarando-o com um olhar enevoado.

O coração de Fu Yunxi apertou. Os efeitos do veneno primaveril estão mais fortes do que eu imaginei! Enquanto ainda refletia, Han Yan puxou sua manga e o arrastou para cima dela.

Fu Yunxi, pego de surpresa, quase caiu. Poderia tê-la afastado, mas temia machucá-la no processo, então permitiu ser puxado, apoiando as mãos no colchão acima dela. Seu olhar frio se fixou nela.

A voz de Han Yan era uma mistura estranha de dor e prazer:

—Yunxi... —O final do chamado se alongou, doce e sedutor, com um tom rouco, completamente diferente de sua voz clara de sempre.

Fu Yunxi congelou por um momento. Han Yan nunca o havia chamado pelo nome —ela sempre o tratava como “Sua Alteza” e, quando irritada, dizia apenas “você”. Era a primeira vez que pronunciava seu nome com um tom tão... íntimo. Seu coração estremeceu, como se algo pequeno e suave tivesse lhe tocado por dentro. Era doce e desconcertante. Quase não notou a mão dela que começava a explorar seu peito, tentando abrir sua roupa.

A cabeça de Fu Yunxi girava. Jamais imaginara que essa garota, tão inteligente e composta, agiria de forma tão ousada. Estava acostumado à sua ousadia, mas não esperava tamanha imprudência. Lutou contra o impulso, segurando seus pulsos com um dos braços. Pensou em golpeá-la novamente para fazê-la desmaiar, mas sabia que o ponto de acupuntura usado antes já não surtia mais efeito. E se deixasse o veneno se espalhar, o corpo dela poderia não aguentar.

—Ugh... —Han Yan soltou um gemido baixo. O desejo reprimido por tanto tempo chegara ao limite, e ela sentia que não conseguiria mais se conter. Seus movimentos eram puramente instintivos. Estava tomada por um misto de aflição e tristeza, e começou a chorar baixinho.

O coração de Fu Yunxi amoleceu inesperadamente. Por um momento, viu a imagem daquela menina feia que chorava sem parar sete anos atrás. Estendeu a mão, acariciando suavemente seus cabelos, os olhos escuros preenchidos com uma emoção difícil de nomear —talvez piedade.

Mas Han Yan não percebeu. Passou a chorar mais alto, os soluços descontrolados.

Fu Yunxi suspirou baixinho, sentindo-se impotente. Quando Han Yan havia retornado à mansão, ele mandara uma criada trocar suas roupas, mas agora, depois de tanta agitação, suas vestes estavam completamente desfeitas. Até sua roupa de baixo vermelha estava visível. Sua pele alva contrastava com a cena desordenada, criando uma beleza estranhamente cativante. Os cabelos de Han Yan estavam espalhados no travesseiro, e seu rosto, normalmente juvenil, agora exalava um leve charme sedutor. Ela se apertava contra ele, o corpo tão próximo que seria impossível para outro homem resistir. Se fosse qualquer outro, já teria se aproveitado da situação.

Fu Yunxi semicerrava os olhos. Não era um santo, mas, para ele, Han Yan era como uma criança que precisava de proteção. Pelo menos agora, não poderia abrigar pensamentos impróprios. O que mais o perturbava era que, como sua Princesa Consorte, ele não conseguira poupá-la de um sofrimento tão cruel. Seus sentimentos estavam em conflito. Essa garota ousada e destemida parecia despertar nele emoções que mal podia controlar. No fim das contas, ela tinha apenas treze anos —ainda nem havia atingido a maioridade.

Justo quando se perdia nesses pensamentos, uma voz carregada de malícia soou atrás dele:

—Garoto da família Fu, parece que está se divertindo bastante, hein?

(Garoto da família Fu — Fu Jia Xiao Zi — forma coloquial e provocativa de se referir a um jovem, algo como “moleque” ou “garoto”)

Fu Yunxi, ainda meio tombado sobre Han Yan por causa do puxão, se deu conta de que, para um observador externo, a cena devia parecer bastante sugestiva. Virou-se e respondeu com frieza:

—Você chegou.

Um homem de meia-idade, com trajes oficiais, cerca de quarenta anos, um pequeno cavanhaque e um sorriso travesso, deu alguns passos à frente.

—Me chamou a esta hora... não foi pra assistir você mimando uma mulher, foi?

—Ela é minha Princesa Consorte —disse Fu Yunxi com indiferença, mas havia um claro aviso em seu tom.

O homem gaguejou:

—Ah, então é a Princesa Consorte, entendi... Bom, garoto da família Fu, você é mesmo apressado... ela nem se casou ainda...

Ele parou imediatamente ao perceber o olhar assassino que Fu Yunxi lhe lançou.

—O que aconteceu?

Fu Yunxi afastou rudemente a mão de Han Yan e a sentou.

—Ela foi envenenada com veneno primaveril.

—Pfft! —O homem de meia-idade arregalou os olhos, quase engasgando. Saltou de pé.

—Eu sou um respeitável médico imperial! Quer que eu trate veneno primaveril?

—Você pode escolher não tratar —respondeu Fu Yunxi, sem nem levantar os olhos enquanto abotoava cuidadosamente as roupas de Han Yan—. Você conhece meu temperamento, Doutor Wu.

O homem engoliu as palavras e resmungou:

—Tá bom, tá bom, vou dar uma olhada...

Aproximou-se, mas notou que Fu Yunxi já cobria Han Yan com uma manta fina, ocultando completamente seu corpo. Estava claro que ele não queria que o médico a visse naquele estado.

O Doutor Wu entendeu imediatamente a situação. Forçando um sorriso, aproximou-se com cautela.

—Vou examinar... ah, a Princesa Consorte é realmente muito bonita...

Fu Yunxi lançou-lhe um olhar gélido, segurando firmemente a mão inquieta de Han Yan.

—Se não for necessário falar, então cale-se.

O Doutor Wu riu sem jeito:

—Só estava elogiando, só isso. Bem, deixe-me tomar o pulso dela...

Ele tocou o pulso de Han Yan, mas, depois de alguns instantes, a expressão habitual e jovial sumiu de seu rosto. Tocou a testa dela, então se levantou bruscamente, recuou alguns passos e fez uma profunda reverência a Fu Yunxi.

—Vossa Alteza, perdoe-me. Estou impotente diante disso.

Fu Yunxi o encarou friamente, em silêncio.

—O veneno vem de um lugar frequentado por mulheres, onde se usam fogos artificiais, chamado Xian Hua Mei. É extremamente caro e muito potente. Quando alguém é envenenado, o calor interno se eleva descontroladamente, e é preciso acasalar com outra pessoa para dissipar o veneno, caso contrário...

O Doutor Wu enxugou o suor frio, observando a expressão inalterada de Fu Yunxi. Hesitou por um instante antes de continuar:

—Realmente, não há nada que eu possa fazer. A Princesa Consorte é sua esposa, talvez... talvez Vossa Alteza...

Fu Yunxi fitou Han Yan, deitada na cama. Ela tinha apenas treze anos, ainda não havia atingido a maioridade, enquanto ele já tinha vinte e um. Para ele, ela ainda era uma criança. Fazer algo com ela seria ultrapassar um limite que nem mesmo ele se permitiria cruzar. Sabia que Han Yan era alguém carente de segurança, que confiava nele. Se seguisse o conselho do Doutor Wu, tudo o que havia construído com ela poderia desmoronar. Aos olhos dela, ele se tornaria alguém em quem não se podia confiar.

Ele olhou para o Doutor Wu e perguntou em voz baixa:

—Não existe nenhuma cura?

O Doutor Wu hesitou por um momento, então assentiu.

—E... quanto ao meu sangue? —a voz de Fu Yunxi estava fria. Seu olhar baixou, e os longos cílios, à luz bruxuleante da vela, projetavam sombras suaves, quase como um suspiro. Seu rosto, embora belo, parecia etéreo, como um mito intocado pelo tempo. Era frio até os ossos, mas seus olhos, fixos em Han Yan, estavam incrivelmente gentis.

Ele repetiu:

—E... quanto ao meu sangue?

—Garoto da família Fu! —exclamou o Doutor Wu, levantando-se de súbito, a voz repleta de alarme—. Você não pode! Você sabe que não pode...

—Não é apenas uma questão de equilibrar yin e yang? O fogo interno dela está excessivamente forte. Meu sangue... deveria ser capaz de neutralizá-lo, não?

O Doutor Wu estava à beira do desespero, mas conhecia bem aquele homem. Quando Fu Yunxi tomava uma decisão, ninguém o fazia mudar de ideia. No entanto, isso era algo que ele simplesmente não podia permitir.

—Não arrisque, Yunxi —sua voz tornou-se aflita, quase como a de um ancião preocupado com um jovem sob sua tutela—. Isso... é perigoso demais.

—Chega —interrompeu Fu Yunxi—. Preciso deixar algo para trás.

O Doutor Wu abriu a boca, mas, no fim, não disse nada. A tristeza em seus olhos era tão intensa que tocaria o coração de qualquer um.

—Você tem razão. Seu sangue pode salvá-la.

Com um gesto preciso, Fu Yunxi passou a lâmina pelo dorso da mão. O sangue escorreu de seus dedos para uma tigela de porcelana verde —uma gota, duas, três— até que o recipiente ficou cheio. Seu rosto empalideceu.

O Doutor Wu rapidamente enfaixou o ferimento, suspirando profundamente:

—Por que ir tão longe...

Fu Yunxi o ignorou, ergueu a tigela.

—Pode ir agora.

—Você... —o Doutor Wu, dispensado sem cerimônia, não se ofendeu. Em vez disso, lançou um olhar significativo a Fu Yunxi, pegou sua maleta e saiu do quarto.

Fu Yunxi sentou-se ao lado de Han Yan e tentou ajeitá-la. Ela estava fraca demais para resistir, o rosto cada vez mais vermelho, frágil e vulnerável.

Ele se abaixou e tomou um gole do sangue na tigela. Era espesso, com gosto metálico, ainda quente de seu próprio corpo. Com uma das mãos, segurou a nuca de Han Yan, puxando-a suavemente para si. Inclinou-se e encostou os lábios nos dela.

O sangue passou de sua boca para a dela. Han Yan começou a se acalmar, deixando de se debater. Talvez o sangue realmente estivesse surtindo efeito. Fu Yunxi podia senti-la, surpreendentemente dócil em seus braços. Continuou a alimentá-la, seus lábios nos dela, cada gole um beijo —uma intimidade que jamais haviam compartilhado antes.

Quando a última gota foi consumida, Fu Yunxi estava prestes a se afastar, mas de repente, a língua de Han Yan se entrelaçou na dele, pegando-o de surpresa. Ele congelou por um instante enquanto ela se agarrava ao seu pescoço, puxando-o para mais perto.

Talvez ainda fosse efeito residual do veneno. Seu beijo era desajeitado, mas quente e úmido, a língua traçando círculos suaves, explorando com timidez. Fu Yunxi, atônito por um momento, esqueceu-se de impedi-la, permitindo que ela conduzisse. Em meio ao calor de suas bocas unidas, uma dor aguda atravessou sua língua. Han Yan, inexperiente, havia o mordido sem querer.

Um leve gosto de sangue permaneceu em sua boca, misturado a uma doçura estranhamente embriagante. Fu Yunxi olhou para a jovem em seus braços —seus olhos entreabertos, como uma criatura rara que ele havia descoberto por acaso. Depois de tê-la ao seu lado por tanto tempo, ele havia compreendido o laço que os unia —um elo inquebrável, como se o destino os tivesse entrelaçado desde o princípio.

Aos poucos, um calor preencheu seu olhar.

—Boba —murmurou suavemente, a voz grave carregada de carinho e um leve tom provocativo—. Não é assim que se beija.

E então, inclinou-se novamente, pressionando os lábios com delicadeza sobre os dela.


Capítulo 80: Caos no Harém
A luz da manhã atravessava as janelas entalhadas, lançando um brilho morno pelo quarto. Quando Han Yan abriu os olhos, sua cabeça ainda estava um pouco tonta. Percebeu que estava deitada em uma cama grande e desconhecida, e suas roupas não eram mais as mesmas do dia anterior. Uma lembrança vaga persistia em sua mente — lembrava-se de ter bebido a taça de vinho oferecida pela Imperatriz Viúva no palácio, e então sentiu seu corpo esquentar... Ela havia sido envenenada com veneno da primavera, e depois de fugir com Ji Lan e Shu Hong, o que tinha acontecido depois?
Seu coração apertou. Onde estariam Ji Lan e Shu Hong agora? Onde ela própria estava?
Enquanto mergulhava nesses pensamentos, ouviu o crec da porta se abrindo e alguém entrou. A figura era alta e esguia, vestida apenas com uma roupa de baixo branca e simples. Os longos cabelos negros não estavam presos com um grampo, mas caíam soltos pelas costas, exalando uma aura de nobreza despreocupada.
Era Fu Yunxi.
Ele caminhou lentamente até a cama e, contra a luz, seus traços eram difíceis de distinguir. Mas, ao perceber que era ele, Han Yan soltou um suspiro de alívio. Não sabia explicar o porquê, mas ao vê-lo, uma sensação de segurança a envolveu. Sabia que não sofreria nenhum mal.
De fato, Fu Yunxi se posicionou ao lado dela e estendeu a mão, pressionando suavemente a testa dela.
— Está se sentindo melhor?
O frescor da mão dele sobre sua testa trouxe alívio a Han Yan, mas ela não esqueceu de perguntar:
— Onde estão Ji Lan e Shu Hong?
— Elas se feriram, então chamei um médico. Estão descansando agora —respondeu Fu Yunxi.— O que aconteceu ontem?
Han Yan hesitou por um momento.
— O vinho da Imperatriz Viúva.
Após dizer isso, ergueu o olhar para ele. A Imperatriz Viúva era mãe de Fu Yunxi, e suas palavras podiam ser facilmente interpretadas como uma tentativa de semear discórdia. Mas, com base no comportamento da Imperatriz Viúva no dia anterior, era evidente que ela tentara prejudicar Fu Yunxi. Seria possível que mãe e filho estivessem apenas fingindo se dar bem? Ela precisava confirmar algumas coisas. Depois de dizer aquilo, ficou esperando para ver a reação de Fu Yunxi.
Mas Fu Yunxi não pareceu nem zangado nem surpreso. Apenas respondeu com um leve:
— Hmm.
Sem demonstrar nenhuma emoção. Han Yan se sentiu um pouco desanimada, mas não disse mais nada. Subitamente, lembrou-se de algo e hesitou antes de perguntar novamente:
— Então... o que aconteceu depois?
Ela havia perdido os sentidos devido ao veneno da primavera e talvez tivesse feito algo impróprio diante de Fu Yunxi. Em sua mente, havia apenas algumas imagens vagas, que não pareciam muito claras — como se ela não soubesse dizer se eram reais ou apenas sonhos. Mas temia ter se envergonhado terrivelmente diante dele.
— Você tirou minhas roupas —disse Fu Yunxi lentamente.
Han Yan ficou paralisada por um instante, o rosto instantaneamente tingido de vermelho vivo. Olhou para Fu Yunxi, incrédula, mas sabia que ele não teria motivo algum para mentir sobre algo assim. Sentiu-se tomada por uma mistura de vergonha e raiva. Seria possível que eu estivesse tão desesperada... a ponto de realmente tirar as roupas dele? Queria se enfiar num buraco e desaparecer. Como podia ter sido tão ousada? Mesmo que estivessem destinados a se casar, ainda não eram oficialmente marido e mulher, e ela ainda não conseguia vê-lo como tal. O modo calmo como ele falava sobre aquilo a fazia se sentir como uma criança que foi pega em flagrante fazendo algo errado.
Desconcertada, murmurou:
— Teve... mais alguma coisa?
— Você se jogou nos meus braços —respondeu ele.
O rosto de Han Yan ficou ainda mais vermelho. Gaguejando, disse:
— Eu... eu fiz isso? Não me lembro...
Fu Yunxi se inclinou ligeiramente, encarando-a com olhos nos quais pareciam girar correntes escuras. Seus lábios finos se moveram com uma voz suave:
— Ontem à noite, eu estava me banhando no Lago da Lótus Cristalina, e você invadiu, tentando se aproveitar de mim.
Han Yan afundou ainda mais a cabeça no travesseiro, sem coragem de encará-lo.
— Você sabe que eu estava envenenada com o veneno da primavera...
No entanto, ao se levantar, verificara seu próprio corpo e não encontrou ferimentos. Parecia que Fu Yunxi não havia feito nada com ela na noite anterior. Pensar nisso a fazia se sentir grata, mas ainda assim perguntou:
— Então... como o veneno foi curado?
Fu Yunxi se endireitou e desviou o olhar.
— Naturalmente, um médico real tratou você.
Han Yan achou as palavras dele estranhas, mas não conseguia apontar exatamente o que havia de errado. Tinha apenas uma sensação no fundo do peito de que ele estava mentindo. Estava prestes a expressar sua gratidão, quando notou o curativo na palma da mão dele e perguntou:
— Você está ferido?
Fu Yunxi virou-se.
— É apenas um pequeno machucado.
— Isso tem a ver comigo?
Por alguma razão, Han Yan sentia que aquele ferimento estava relacionado a ela. Então, ouviu a voz calma de Fu Yunxi:
— Não tem nada a ver com você.
Han Yan ergueu os olhos e notou que o rosto dele estava mais pálido que o normal. Comparado ao costumeiro ar frio e impenetrável, havia nele agora certa suavidade e fragilidade. Embora não tivesse certeza, disse gentilmente:
— Sua aparência não está boa. Se estiver se sentindo mal, talvez devesse consultar um médico.
— Não é necessário.
Fu Yunxi parecia não querer continuar com aquele assunto e lançou-lhe mais um olhar.
— Você deve descansar aqui.
Han Yan ficou surpresa. Já havia passado um dia e uma noite no Palácio Xuanqing. Originalmente, estava no palácio com a Consorte Chen, e agora temia que surgissem boatos. Pensou em se levantar.
— Talvez não seja apropriado...
— Já mandei alguém entregar uma mensagem na residência Zhuang —disse Fu Yunxi, com um tom levemente frio, quase imperceptível.— Não precisa se preocupar por estar no palácio. Você é a esposa do Príncipe; o Palácio Xuanqing é sua casa.
Uma simples afirmação preencheu Han Yan com um calor indescritível, como se algo que ela buscava há muito tempo estivesse bem ali, diante dela. Para ela, a residência Zhuang era um lugar cheio de intrigas e disputas, onde enfrentara memórias horríveis de sua vida passada. Em um mundo tão vasto, ela já havia perdido a noção do que significava "lar" —e, no entanto, aquele homem belo e frio acabara de dizer que aquele lugar era seu lar.
Ela curvou os lábios num leve sorriso.
— Obrigada, Vossa Alteza.
Fu Yunxi ergueu uma sobrancelha.
— Você não me chamou assim ontem à noite.
Han Yan ficou atônita.
— O quê?
Ele sorriu de canto, sua expressão geralmente fria assumindo de repente um tom brincalhão.
— Quando você me beijou à força ontem à noite, me chamou de... Yunxi.
Como era de se esperar, as palavras de Fu Yunxi deixaram Han Yan completamente atônita. Suas bochechas coraram, e ela ficou sem saber o que dizer.
Ela está cada vez mais parecida com um ganso tolo, pensou Fu Yunxi ao observar sua reação, antes de se virar para pegar uma tigela de remédio vazia sobre a mesa e sair do quarto.
Do lado de fora, ele caminhou alguns passos pelo corredor leste e parou no pátio. Várias cenas lhe passaram diante dos olhos.
Na noite anterior, quando o efeito do veneno da primavera em Han Yan começou a passar e ela adormeceu gradualmente, ele se sentou ao lado da cama para vigiá-la. Notou que sua testa suava cada vez mais, sua expressão se tornava temerosa e furiosa, e ela balançava a cabeça como se estivesse presa em um pesadelo.
Aproximou-se da cama, querendo consolá-la, mas viu seus lábios se movendo como se murmurassem algo indistinto. Inclinando-se mais, ouviu-a repetir um nome: Wei Ru Feng.
O aroma do remédio ainda pairava na tigela em sua mão enquanto ele permanecia de pé sob uma árvore no pátio. Wei Ru Feng?
Naquela noite, o pesadelo de Han Yan, ao chamar por Wei Ru Feng, estava cheio de terror e raiva, seu tom impregnado de desespero e ódio. Que tipo de rancor ela teria contra Wei Ru Feng?
Um traço de contemplação cruzou os olhos de Fu Yunxi. Desde o início, Han Yan tratava Wei Ru Feng com extrema frieza. Era estranho — Wei Ru Feng tinha excelente reputação na capital: um cavalheiro elegante, de origem distinta, gentil e atencioso. Era exatamente o tipo que uma jovem como Han Yan deveria admirar. Ela não era alguém que tratava os outros com frieza; mesmo com seus inimigos, costumava manter um sorriso no rosto, e raramente deixava transparecer suas emoções diante de quem não conhecia bem.
Han Yan era extremamente cortês com Cheng Lei, He Lian Yu e Jiang Yulou, mas sempre demonstrava frieza e cautela em relação a Wei Ru Feng. Parecia que, desde o primeiro encontro no banquete do palácio, ela já o evitava. Embora ele estivesse sentado longe, Han Yan se esforçava para esconder seus sentimentos, mas ainda assim um traço de ressentimento podia ser visto em seus olhos.
Ninguém odeia outra pessoa sem motivo, a menos que Han Yan já soubesse algo sobre o verdadeiro caráter de Wei Ru Feng. No entanto, Fu Yunxi havia investigado: o primeiro encontro dos dois de fato ocorreu no banquete do palácio. Como uma jovem criada reclusa, com pouca interação com homens, ela poderia ter conhecimento prévio sobre alguém?
Ao lembrar do comportamento estranho dela diante de Yi Lin Na, parecia que Han Yan era mesmo uma figura cheia de mistérios. Havia muitas perguntas sem resposta sobre ela. Mas não havia pressa — como consorte do príncipe de Xuanqing, ele tinha tempo de sobra para descobrir tudo.
— Mestre. — Mu Feng apareceu ao seu lado. — Tudo no palácio já foi resolvido.
— Onde está Mu Yan? — Fu Yunxi franziu ligeiramente a testa.
Mu Feng coçou a cabeça e sorriu de forma travessa.
— Está cuidando das duas criadas que atendem a Princesa Consorte.
Fu Yunxi não comentou mais nada.
— Fique no palácio para vigiar.
— Sim! — respondeu Mu Feng em voz alta, desaparecendo em seguida. A raiva de seu mestre era realmente assustadora, mas quem mandou aquelas mulheres provocarem a Wangfei? O palácio provavelmente acabaria em caos.
Fu Yunxi permaneceu em silêncio, o vento agitando sua túnica branca. Sua figura alta parecia a de um imortal prestes a cavalgar o vento. No entanto, sob aquela aparência fria, havia uma intenção assassina que ninguém conhecia.
Aqueles que ousaram me ferir, naturalmente terão que pagar o preço.
No Salão Caifeng.
Consorte Chen estava sentada ao lado da Imperatriz Viúva, rangendo os dentes.
— Aquela Zhuang Han Yan é realmente afortunada; conseguiu escapar mesmo depois de tudo o que aconteceu ontem!
— Yunxi a protege bastante — comentou a Imperatriz Viúva, lançando um olhar para a Consorte Chen, que estava visivelmente agitada. — Tente conter essa expressão. Foi apenas um deslize. Não precisa deixar tão óbvio que qualquer um pode adivinhar seus pensamentos!
Consorte Chen fervia de raiva.
— Aquilo que o Sétimo Jovem Mestre me confiou não pode mais ser realizado. Como mãe, nem sequer consigo ajudar meu próprio filho...
Apesar de suas palavras, sua expressão suavizou um pouco.
— Hmph, não precisa se preocupar com o Sétimo Jovem Mestre. Pelo que vejo, Yunxi não vai deixar isso passar tão fácil. Nos próximos dias, mantenha um perfil discreto — disse a Imperatriz Viúva, levando uma xícara de chá à boca. Porém, logo cuspiu o conteúdo. — Tragam outra xícara. Esta está com gosto estranho.
Consorte Chen prontamente respondeu:
— Claro. É só uma pena que eu tenha gasto mil taéis naquela “Yan Hua Mei”...
A Imperatriz Viúva sequer levantou os olhos.
— Que preocupação mesquinha. Mil taéis, e você ainda acha que vale a pena se incomodar com isso?


Capítulo 81: Ruptura Completa
Consorte Chen não disse nada, mas seu coração batia acelerado. Ela possuía uma boa quantia em prata, e o imperador também já lhe concedera diversas recompensas. No entanto, os gastos do Sétimo Príncipe eram imensos, e suas economias, já há muito tempo, haviam se esgotado. Aqueles mil taéis de prata representavam uma redução significativa, e mesmo assim acabaram não servindo de nada ao Sétimo Príncipe — dinheiro jogado fora. Embora a Imperatriz Viúva tivesse dito aquilo, jamais oferecera qualquer subsídio a Chen; era evidente que se tratava de uma pessoa extremamente mesquinha. Depois de xingá-la mentalmente algumas vezes, Chen decidiu em segredo que encontraria uma maneira de conseguir mais fundos.
— Sou mesquinha, Mãe Imperial. Por favor, não leve isso a mal — disse ela.
A Imperatriz Viúva baixou os olhos, aparentando certo cansaço.
— Pode se retirar. Estou um pouco fatigada.
Consorte Chen se levantou apressadamente para se despedir. Assim que saiu, uma criada do palácio rapidamente cobriu a Imperatriz Viúva com um manto, mas esta permanecia completamente desperta, sem qualquer sinal de cansaço.
— Abandonar a carruagem para proteger o líder — murmurou.
Ao retornar para seus aposentos, Consorte Chen teve um acesso de fúria, varrendo com violência os objetos sobre a mesa, que caíram no chão com estrondo. As criadas ao redor mal ousavam respirar, com medo de provocarem a concubina instável.
— Zhuang Han Yan — ela rosnou entre os dentes, furiosa por ela ter escapado. Aquela velha bruxa da Imperatriz Viúva não passava de uma farsante e não soltava um único centavo. Tudo o que lhe importava era que o Sétimo Príncipe se tornasse imperador... Contanto que ele se tornasse imperador!
A expressão de Consorte Chen aos poucos suavizou, sendo substituída por uma sensação de superioridade inata. Sentou-se, sentindo-se como a mulher mais respeitável do mundo, e lançou um olhar feroz à criada ao seu lado.
— Está esperando o quê? Sirva meu chá!
A jovem criada correu rapidamente para servi-la. O chá de Agulha de Prata de Junshan recém-preparado exalava um aroma delicado, e, ao beber, ela se recordou de que apenas dois potes tinham sido enviados como tributo — um para o imperador e outro para ela, deixando a imperatriz de fora. E daí se ela é a chefe dos Seis Palácios? A favorita do imperador ainda sou eu, Consorte Chen.
Pensando nisso, declarou:
— Encontre alguém para avisar o imperador: hoje à noite, eu mesma vou preparar alguns bons pratos para Sua Majestade.
Estava tão acostumada a ser favorecida que se comportava com arrogância, desconsiderando as normas da corte. A criada prontamente assentiu e se retirou. Após beber mais alguns goles de chá, Consorte Chen pousou a xícara.
— Preparem água quente. Quero tomar banho.
No Palácio Xuanqing.
Quando Zhuang Hanming chegou, Han Yan tomava sol no pátio.
Depois de toda a confusão do dia anterior, ela se sentia completamente exausta. Fu Yunxi instruíra as criadas a cuidarem bem dela, mas Han Yan não conseguia ficar parada e estava preocupada com Ji Lan e Shu Hong, por isso saiu de casa.
Os criados da residência a tratavam com grande respeito, chamando-a constantemente de “Wangfei” (Princesa Consorte). Han Yan se sentia um pouco desconfortável; o modo como olhavam para ela a fazia parecer a verdadeira senhora do Palácio Xuanqing. Ji Lan e Shu Hong haviam sofrido apenas ferimentos leves e, felizmente, não tinham se machucado gravemente. Depois que Han Yan partiu no dia anterior, as duas tinham saído às pressas, sem prestar socorro a Ji Lan, e mais tarde foram encontradas pelos guardas do Palácio Xuanqing e trazidas de volta.
— Senhorita, seu marido é realmente impressionante — disse Ji Lan. — Ontem, naquela situação, a Imperatriz Viúva e os outros no início não deixaram os guardas nos levarem, dizendo que éramos figuras suspeitas. Mas os guardas do seu marido só mostraram um pingente de jade, e aquelas pessoas não ousaram dizer uma palavra.
Ji Lan, sendo esperta, havia pensado que poderiam acabar mortas no palácio, depois de toda aquela busca e da fúria da Imperatriz Viúva. Se ela ousasse agir contra Han Yan, certamente não pouparia as duas criadas. Raríssimas pessoas ousariam enfrentar alguém como a Imperatriz Viúva por causa de duas servas. Mas os guardas declararam: por ordem do Príncipe, nenhum fio de cabelo das pessoas da Princesa Consorte poderia ser tocado; tinham que ser trazidas de volta em segurança. O Palácio Xuanqing não era lugar para intrometidos.
O rosto da Imperatriz Viúva ficou azul de raiva, mas ela nada pôde fazer ao ver Han Yan e Shu Hong sendo levadas de volta pelas pessoas do Palácio Xuanqing. Ji Lan não sentia apenas gratidão por Fu Yunxi tê-las salvado, mas também alívio ao ver como os que estavam ao redor de Han Yan eram bem tratados. O Príncipe Xuanqing certamente era protetor; com ele, Han Yan não precisaria mais temer ser injustiçada no futuro.
Han Yan bateu de leve na testa de Ji Lan.
— Você só está falando assim porque está se recuperando. Você e Shu Hong ainda devem repousar um pouco mais.
Depois dos acontecimentos da noite passada, Han Yan ainda se sentia inquieta. Se aquelas pessoas realmente quisessem atingir os que estavam ao seu redor, ela não teria como se defender. O Palácio Xuanqing era de fato um lugar muito seguro, e Han Yan não conseguia aceitar a ideia de perder novamente as pessoas que amava nesta vida.
— Jovem Mestre? — chamou Shu Hong suavemente ao lado.
Han Yan se virou e viu Zhuang Hanming se aproximando com uma expressão preocupada. Ao vê-la, ele exclamou:
— Jiejie! — Os olhos logo se encheram de lágrimas.
Han Yan suspirou em silêncio. Não deveria haver rancores entre familiares. Embora Zhuang Hanming tivesse discutido com ela dias atrás, a mágoa e a tristeza já haviam se dissipado com o tempo. Não havia necessidade de guardar ressentimentos por causa de um mal-entendido. Ela estendeu a mão e afagou suavemente os cabelos dele, perguntando em voz baixa:
— O que está fazendo aqui?
Zhuang Hanming não conseguiu mais conter as lágrimas.
— Eu soube do que aconteceu ontem à noite pelo Cunhado. Jie, aquela Imperatriz Viúva do palácio é detestável. Você tem que tomar muito cuidado agora, eu... eu fiquei com tanto medo...
Ele ainda era apenas uma criança, e Han Yan sentia uma mistura de emoções. Levantou a mão para enxugar-lhe as lágrimas.
— Estou bem.
Mas então notou Yingzi atrás de Zhuang Hanming. Yingzi acabava de erguer os olhos para dar uma espiada nela, mas os abaixou imediatamente, encarando os próprios dedos dos pés ao cruzar o olhar com Han Yan.
Zhuang Hanming também percebeu a atenção de Han Yan em Yingzi e, de forma sutil, se posicionou para bloqueá-la de vista. Han Yan não pôde deixar de sorrir internamente. Yingzi realmente não era uma personagem simples; Zhuang Hanming confiava nela profundamente, a ponto de tê-la trazido até o Palácio Xuanqing. No entanto, Han Yan não queria brigar com Zhuang Hanming por causa de Yingzi, então mudou de assunto.
Percebendo que Zhuang Hanming estava tenso e temendo que Han Yan confrontasse Yingzi, ele rapidamente tentou manter a conversa fluindo. Nesse momento, a criada de Fu Yunxi entrou com chá, e Han Yan mandou que o colocasse sobre a mesa. Ji Lan começou a servir o chá para Han Yan, enquanto Yingzi deu um passo à frente, aparentemente com a intenção de servir chá a Zhuang Hanming.
De repente, ouviu-se um som de surpresa. Han Yan se virou e viu que a parte da frente da roupa de Yingzi estava encharcada; suas mãos estavam vermelhas e soltavam vapor — claramente tinham sido escaldadas pela água do chá derramado. Antes que Han Yan pudesse dizer qualquer coisa, Zhuang Hanming se levantou.
— Você está bem?
E então se virou para Ji Lan e a repreendeu:
— O que há de errado com você? Que desastrada! Para que serve nessa mansão? É melhor mandar você embora!
Ji Lan ficou pasma, sem esperar tamanha reação. Sempre respeitara Zhuang Hanming.
— Jovem Mestre... não fui eu...
Yingzi apressou-se em dizer:
— Não tem problema com a Irmã Ji Lan, foi descuido meu...
Seus olhos se encheram de lágrimas, expressando medo e impotência. Baixou a cabeça, parecendo temer que a situação fugisse do controle. Para qualquer observador, ela parecia ter sofrido uma enorme injustiça e não ousava se defender.
Han Yan riu em silêncio. Embora Zhuang Hanming não tivesse visto, ela tinha visto — a verdade era clara. Yingzi claramente beliscara Ji Lan, fazendo com que esta derramasse o chá em si mesma de dor. Táticas tão grosseiras só enganariam uma criança como Zhuang Hanming.
— Ming Ge'er — disse Han Yan lentamente —, nem sequer apuramos o ocorrido, e você já está mandando os outros embora?
Naquele momento, Ji Lan reagiu. Por ser naturalmente explosiva, não permitiria ser acusada sem reagir. Imediatamente gritou:
— Ela me beliscou, por isso derramei o chá!
— Que absurdo! — Zhuang Hanming ficou furioso. — Por que Yingzi te beliscaria sem motivo? Está dizendo que ela se queimou de propósito?
— Se não foi um beliscão, Ming Ge'er, basta olhar para a mão da Ji Lan e verá — disse Han Yan. Seu corpo ainda estava fraco, não se levantou, mas o olhar era gélido e a voz, firme como aço.
— Isso mesmo! — Ao ouvir Han Yan, Ji Lan rapidamente estendeu a mão esquerda, revelando uma marca vermelha brilhante no dorso, uma clara marca de unha.
— Não fui eu, eu juro que não fui eu... — Yingzi, em pânico, caiu de joelhos, curvando-se repetidamente diante de Han Yan. — Jovem Senhorita, eu realmente não fiz isso...
Zhuang Hanming, tomado pela dúvida, disse:
— Essa garota claramente está tentando te incriminar. Quão difícil seria ela se machucar e pôr a culpa em Yingzi?
Então ficou esperto, hein? — pensou Han Yan, encarando seu irmão, agora tão estranho. Era como se, de uma noite para outra, uma enorme distância tivesse surgido entre eles. Ela falou lentamente:
— Então você não acredita mais na Ji Lan?
Da última vez que Zhuang Hanming discutira com ela, Ji Lan não estivera presente, não sabia daquele assunto nem conhecia Yingzi. Agora, ver Zhuang Hanming não acreditar nela nem em Han Yan por causa de uma estranha, deixou Ji Lan tomada de raiva e mágoa. Ela até esqueceu os próprios ferimentos e avançou contra Yingzi:
— Sua mentirosa! Eu claramente não derramei seu chá de propósito; qual é a sua verdadeira intenção?
Embora pequena de estatura, Ji Lan era esperta e tinha certa força. Quando avançou, Yingzi tropeçou e caiu. Han Yan não teve tempo de impedir; antes que Ji Lan pudesse reagir, Zhuang Hanming se adiantou e desferiu um chute. A força de um homem é naturalmente maior do que a de uma mulher. A pobre Ji Lan, já machucada desde o dia anterior, foi arremessada para trás por um metro e cuspiu sangue.
Zhuang Hanming não parou; num movimento rápido, desferiu um golpe com a palma. A até então silenciosa Shu Hong, ao ver aquilo, empurrou Ji Lan para o lado e recebeu o golpe no lugar dela, caindo ao chão.
Tudo aconteceu rápido demais para Han Yan deter. Ao ver Ji Lan e Shu Hong gravemente feridas por Zhuang Hanming, sentiu um gosto metálico subir pela garganta e provou o sabor do próprio sangue.

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