Capítulo 91: Matando Dois Coelhos com Uma Cajadada Só
A mente de Han Yan ficou em branco. Instintivamente, ela avançou, cravando o espinho de flor de ameixeira nas costas do homem. Ele estremeceu, e Han Yan aproveitou o momento para empurrar Zhuang Hanming para cima de uma carroça próxima. O homem ergueu a faca para atacá-la, mas Han Yan, agindo mais rápido do que conseguia pensar, subiu na carroça num salto. Com um movimento ágil, fincou o espinho fundo na parte traseira do cavalo.
O cavalo relinchou alto e disparou imediatamente. Han Yan foi sacudida violentamente dentro da carroça, e, por mais rápido que o homem fosse, não conseguiria competir com a velocidade de um cavalo desgovernado. No meio do caos da multidão, aquela carroça era um excelente disfarce. Passou por cima de sabe-se lá quantas pessoas, e Han Yan se preocupava com Ji Lan. Mas com o carro fora de controle, não havia como saber o que estava acontecendo do lado de fora.
Em meio à turbulência, Fu Yunxi instintivamente procurava por Han Yan, mas tudo o que via eram pessoas desesperadas fugindo em todas as direções. Han Yan era pequena e, no meio daquela confusão, era quase impossível de localizar. Nunca havia se sentido tão inseguro quanto agora, consciente de que havia muitos querendo fazer mal à Consorte Princesa. Se algo desse errado... ele não suportaria nem imaginar. Com isso em mente, disse friamente:
— Mu Feng, Mu Yan.
— Às ordens. — O guarda das sombras apareceu ao seu lado no instante seguinte.
— Enviem imediatamente alguém para proteger a Consorte Princesa de Xuanqing.
— Sim. — O guarda das sombras partiu para cumprir a ordem, e Fu Yunxi ergueu os olhos para a torre imperial, estreitando os olhos de fênix antes de partir em disparada.
— Ming Ge’er! — A carroça havia rompido a multidão e agora corria em direção às montanhas do leste da cidade, onde os penhascos eram íngremes e perigosos. Han Yan estava apavorada enquanto sacudia Zhuang Hanming e observava a paisagem do lado de fora. Era uma floresta densa, estranhamente silenciosa, mas esse silêncio só indicava ainda mais perigo. O espinho continuava cravado na traseira do cavalo, e ele estava descontrolado, arrastando a carroça sem rumo. Incapaz de pará-la, Han Yan entrou em desespero. Havia um penhasco à frente. Será que ela e Zhuang Hanming realmente morreriam ali?
O chão começava a descer de forma abrupta, sem tempo para reagir. Com uma mão segurando Zhuang Hanming, Han Yan cerrou os dentes e puxou a cortina da carroça, se preparando para saltar com ele.
Nesse momento, ouviu o som de cascos à frente, e o cavalo subitamente empinou, parando bruscamente à beira do penhasco. A carroça deu um tranco, e Han Yan e Zhuang Hanming se chocaram contra a parte de trás, quase cuspindo sangue. Depois de se estabilizar, Han Yan abriu a cortina para ver quem havia os salvado.
Diante da carroça havia um cavalo e uma pessoa. O cavalo parecia ferido, e a pessoa estava morta, com uma flecha cravada nas costas. Parecia que aquele homem cavalgara até ali num último esforço, assustando sem querer o cavalo de Han Yan e, assim, salvando sua vida. Justo quando se preparava para verificar o estado do homem, notou uma criança saindo debaixo do corpo. O menino estava coberto de sangue, mas suas roupas eram douradas e esplêndidas. Ao reconhecer seu rosto, Han Yan ficou boquiaberta:
— Sua Alteza!
O Príncipe Herdeiro havia sido perseguido naquele dia e, graças à proteção daquele guarda, escapara por pouco da morte. Mas agora, o guarda estava morto. Sendo tão jovem, ele nunca havia passado por uma situação de vida ou morte e já estava em estado de pânico. Mas, ao ver Han Yan, levou um susto.
— É você? — disse o Príncipe Herdeiro, desconfiado, antes de mudar rapidamente para um tom arrogante. — Ainda está viva?
O coração de Han Yan se agitou; as palavras do Príncipe pareciam implicar algo. Mas antes que pudesse responder, o som distante de cascos e vozes começou a se aproximar. A carroça agora estava parada, a roda quebrada, o cavalo ferido — não servia mais. Para sair dali, não podiam agir imprudentemente. Primeiro precisavam encontrar um esconderijo e esperar que os guardas de busca viessem ao resgate.
Sem pensar em mais nada, Han Yan não se importou com decoro naquele momento. Lançou um olhar feroz ao Príncipe Herdeiro, sustentando Zhuang Hanming com uma das mãos, e disse com severidade:
— Se quiser morrer, fique longe de mim.
Dito isso, começou a procurar um lugar para se esconder com o inconsciente Zhuang Hanming.
O Príncipe Herdeiro ficou atônito, quase ofendido, mas com os perseguidores se aproximando ao longe, um calafrio percorreu sua espinha e ele ficou sem saber o que fazer. Ao ver Han Yan se afastando, gritou com urgência:
— Você não pode me deixar aqui!
E correu atrás dela.
Han Yan nunca teve a intenção de abandonar o Príncipe Herdeiro. Primeiro, porque a criança não havia feito nada de errado; segundo, se o Imperador descobrisse que ela negligenciou o Príncipe, sua vida não valeria nada. Além disso, aquele pequeno Príncipe era, afinal, sobrinho de Fu Yunxi; talvez valesse a pena estender a mão. Ainda assim, tê-lo por perto era uma variável incerta — melhor lidar com isso passo a passo.
O lugar era cercado por árvores retas e, embora parecesse denso, era aberto o bastante para se ver bem à frente. Costumava ser um belo local para apreciar a paisagem, mas naquele momento, Han Yan não tinha humor para isso. Não havia onde se esconder. Depois de correr um bom trecho com Zhuang Hanming, ficando cada vez mais aflita, ela finalmente avistou uma pequena entrada de caverna não muito longe dali, provavelmente uma antiga toca de animal selvagem, oculta por uma moita espessa. Han Yan arrastou Zhuang Hanming para dentro, e o pequeno Príncipe veio logo atrás. A caverna era funda, mas não muito grande, tornando o espaço apertado para três pessoas.
Finalmente sentindo algum alívio, Han Yan tirou um momento para organizar os pensamentos. Já havia pressentido que o dia seria movimentado, mas não imaginava que a situação se agravaria tanto. Afinal, matar alguém em plena luz do dia diante da família imperial era algo ousado demais. Isso claramente não era dirigido a ela. Olhou para o Príncipe, que costumava estar sempre bem vestido e alimentado, mas agora estava coberto de sangue. Ele tentava manter a compostura, mas os olhos denunciavam sua tensão.
Incluir o Príncipe nisso tudo... será mesmo coincidência?
Ela o encarou e perguntou:
— Sua Alteza, como veio parar aqui?
O jovem Príncipe já estava contrariado com a falta de respeito de Han Yan anteriormente. Agora que ela lhe fazia perguntas, assumiu um tom altivo na hora:
— Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?
Han Yan não se irritou; apenas sorriu e continuou a examinar os ferimentos de Zhuang Hanming.
Sentindo-se desprezado, o Príncipe esperou um bom tempo sem ouvir mais nada de Han Yan. Sua frustração aumentou, até que finalmente perguntou:
— Por que não faz mais perguntas?
Han Yan o encarou calmamente e respondeu:
— Se Sua Alteza quiser dizer algo, dirá. Se acha que meu status é inferior ao seu, então não precisa falar comigo. No momento, com os perseguidores se aproximando, tudo o que quero é descobrir algumas pistas.
O Príncipe Herdeiro ficou surpreso e a observou. Já ouvira muitos dizerem que essa Consorte Princesa de Xuanqing era excepcionalmente inteligente. Apesar de achá-la irritante, não pôde evitar perguntar:
— Você consegue mesmo encontrar alguma pista?
Han Yan deu de ombros e disse:
— Acredite se quiser, isso fica a seu critério.
O Príncipe Herdeiro pensou por um momento e finalmente tomou sua decisão:
— Tudo bem, eu conto.
Aconteceu que durante o festival da primavera daquele dia, sob a alta torre, o Sétimo Príncipe quis se misturar ao povo vestido como um plebeu. O Príncipe Herdeiro, sendo jovem e inquieto, observava da torre e achava que aquilo não era suficiente. Contudo, o Imperador foi firme em não permitir que ele se disfarçasse para entrar na multidão. Sentindo-se desanimado, o Sétimo Príncipe sugeriu que ele descesse às escondidas, contanto que o Imperador não descobrisse. Então, o Príncipe Herdeiro aproveitou a chance para trocar de roupa e planejou ir ver as festividades.
Inesperadamente, ao chegar na base da torre, sem sequer ter tido tempo de vestir o casaco simples dos plebeus, a multidão começou a se agitar. Ele foi empurrado e perdeu a noção de onde estava. Naquele instante, alguns plebeus próximos sacaram adagas. Felizmente, seus guardas lutaram ferozmente para protegê-lo, mas a multidão os afastava cada vez mais da torre, enquanto atacantes desconhecidos no alto começaram a disparar flechas. Em desespero, eles fugiram para a floresta, onde seus guardas acabaram mortos, levando-o a encontrar Han Yan e seus companheiros.
Han Yan baixou o olhar.
— O Sétimo Príncipe de novo. — pensou. — Se o caos de hoje foi armado para atingir o Príncipe Herdeiro, um plano tão elaborado fazia sentido. Sacrificar alguns plebeus por essa posição não parecia muito para ele. Mas... não estaria o Sétimo Príncipe sendo um pouco imprudente demais, impaciente demais?
O Príncipe Herdeiro olhou para ela e disse:
— Suspeito que alguém orquestrou esse motim.
A criança era bastante esperta, pensou Han Yan, esboçando um leve sorriso.
— E quem você suspeita?
O Príncipe Herdeiro fez uma pausa, virou o rosto e mordeu o lábio em silêncio.
Han Yan falou suavemente:
— Você suspeita do Sétimo Príncipe, não é?
Ela mencionou o nome casualmente, e o Príncipe Herdeiro a olhou chocado. Ela sorriu friamente:
— Se algo realmente tivesse acontecido com você hoje, ele estava na multidão enquanto você estava na torre; ninguém pensaria que ele estaria envolvido. Só ele sabia que você se misturou à multidão. Se o Sétimo Príncipe mantivesse silêncio, todos assumiriam que você simplesmente desapareceu da torre.
Vendo a expressão alarmada do Príncipe Herdeiro, Han Yan achou aquilo divertido.
— Você não precisa ficar tão tenso. Os fatos são claros demais. O que pretende fazer a respeito dos eventos de hoje?
O Príncipe Herdeiro ficou surpreso, mas logo respondeu com raiva:
— Vou informar ao Pai, o Imperador, e deixá-lo ver claramente as ambições do Sétimo Príncipe.
Han Yan suspirou e balançou a cabeça.
Entre o Sétimo Príncipe e esse pequeno Príncipe Herdeiro, ela preferia o Príncipe Herdeiro. Não só porque o Sétimo Príncipe era seu inimigo, mas principalmente porque um governante deve possuir benevolência. Os métodos do Sétimo Príncipe eram cruéis demais; se ele governasse, seria um desastre para o país. Contudo, no coração de um Imperador, há sempre suspeita em relação a cada um de seus filhos. As palavras do Príncipe Herdeiro poderiam soar como calúnia aos ouvidos do Imperador, o que só beneficiaria o Sétimo Príncipe.
O Príncipe Herdeiro olhou para Han Yan, balançando a cabeça.
— Você acha que isso está errado?
Sem perceber, ele já havia começado a buscar a opinião dela com frequência. Talvez essa mulher irritante tivesse algo especial que o fizesse confiar nela.
Han Yan não queria dizer que era melhor evitar problemas quando se tratava de assuntos reais. Mas, olhando para o rosto manchado de sangue do Príncipe Herdeiro, não pôde deixar de lembrar de sua vida passada. Ser uma pessoa ignorante e feliz, alheia às durezas do mundo, talvez fosse mais fácil. Mas no fim da vida, entenderia o quanto aquilo era vazio. O Príncipe Herdeiro e seu eu do passado tinham muitas semelhanças, então por que não lhe oferecer algum conselho?
— Vossa Alteza, lembre-se: neste mundo, simplesmente falar tudo o que pensa não garante que os outros vão acreditar em você. A melhor abordagem é... — Ela olhou profundamente para o garoto à sua frente, como se visse através dos anos distantes seu eu outrora ingênuo — — não dizer nada e deixar que os outros vejam o que você quer que vejam.
O Príncipe Herdeiro assentiu, meio compreendendo.
Por um instante, sentiu que essa mulher diante dele era profundamente triste, como se tivesse sido tocada por alguma memória há muito esquecida. Essa sensação foi abruptamente interrompida pela pergunta dela:
— Por que você disse antes que eu ainda não estava morta?
O Príncipe Herdeiro olhou para cima, encontrando seu olhar travesso, porém cheio de conhecimento. A voz dela era leve e agradável:
— Não me diga que você falou errado.
Sentindo-se um pouco envergonhado, ele virou o rosto e disse baixinho:
— Ontem, algumas damas da família Zhang visitaram a Imperatriz Viúva. Ouvi uma delas mencionar que estavam preparando bons presentes para a esposa do Príncipe de Xuanqing, e ela disse... que Zhuang Hanming é sua fraqueza...
Ele não completou a frase, mas Han Yan entendeu tudo.
Estaria isso relacionado à família Zhou? Teriam as irmãs Zhou decidido dar uma lição nela? Ela franziu as sobrancelhas, lembrando que já desconfiava que a garota Yingzi fora enviada pela família Zhou. A conexão entre Yingzi e a vida passada de Zhuang Hanming na casa de entretenimento era estranha, e agora parecia que ela realmente fazia parte dos planos da família Zhou. Hoje, não estava claro qual papel Yingzi desempenhava, mas certamente arrastara Han Yan para dentro disso. Se não fosse pela adaga oculta em forma de flor de ameixeira em sua mão e seu salto desesperado para a carruagem, talvez ela já estivesse enfrentando a morte ao lado de Zhuang Hanming. Era esperado que as irmãs Zhou quisessem sua morte, mas o Príncipe Herdeiro ser perseguido não parecia coincidência. Isso indicava apenas uma possibilidade.
Que as irmãs Zhou estavam sendo usadas por alguém. Elas pensavam estar apenas mirando nela e em Zhuang Hanming, mas alguém virou o jogo, com o objetivo de eliminar também o Príncipe Herdeiro. Se isso viesse à tona depois, simplesmente culpariam as irmãs Zhou. Quem seria esse “alguém” — se o Sétimo Príncipe ou a Imperatriz Viúva — permanecia incerto.
Era o caso de matar dois coelhos com uma cajadada só, mas ela não esperava se envolver nos assuntos do Príncipe Herdeiro. Se aquelas pessoas realmente o caçavam, sua situação se tornaria ainda mais perigosa. Se o objetivo fosse matar o Príncipe Herdeiro, ela e Zhuang Hanming não teriam chance. Contudo... Han Yan lembrava vagamente que os homens armados com facas tinham tatuagens de padrões estranhos nos braços, parecidos com costumes das Regiões Ocidentais. Um calafrio percorreu seu corpo; poderiam ser da Região Ocidental?
Naquele momento, ela não conseguia juntar todas as conexões. O Príncipe Herdeiro lançou-lhe um olhar, depois voltou-se para o inconsciente Zhuang Hanming e disse com um tom estranho:
— Você é bastante gentil com ele.
Na primeira vez que conhecera Han Yan, parecia que ela também protegia esse irmão, o que despertou algo incomum no Príncipe Herdeiro. Nas famílias reais, os sentimentos eram frios; ele não podia imaginar que existisse um vínculo tão profundo entre irmãos. Mas, como aquela fora a primeira vez que alguém ousou desafiá-lo e ameaçá-lo, Han Yan entrou para a lista das “pessoas mais odiadas” do Príncipe Herdeiro. Mais tarde, ao ouvir que essa mulher odiada seria a esposa do Príncipe de Xuanqing, ele não acreditou. Fu Yunxi era a pessoa que mais respeitava, até mais que seu próprio pai. Em seu coração, Fu Yunxi era o mais talentoso e bonito, merecedor de uma esposa igualmente excepcional. Mas ele escolhera uma filha de um funcionário de quinta patente, audaciosa e indomável, astuta como uma raposa. Incapaz de conter a curiosidade, foi perguntar a Fu Yunxi por que escolhera tal mulher.
Ele ainda lembra da resposta de Fu Yunxi. Viu seu tio, geralmente frio e distante, sorrir levemente, com uma ternura como o primeiro derretimento do gelo, e simplesmente dizer três palavras:
— Ela é muito boa.
Fu Yunxi raramente elogia alguém. Essa frase, “Ela é muito boa,” embora nada específica, carregava um profundo sentimento de indulgência. Naquela época, o Príncipe Herdeiro pensou que seu tio etéreo tinha sido enfeitiçado, mas, depois de toda essa confusão hoje, parecia entender um pouco mais.
Pelo menos, desde o começo até agora, Han Yan não havia chorado nem uma vez. Toda sua postura era calma e tranquila. Em todos os anos no palácio, o Príncipe Herdeiro tinha visto mulheres manifestarem mais emoções através das lágrimas — lágrimas sedutoras, lágrimas de queixa, lágrimas de ressentimento, lágrimas de pena — mas nunca vira lágrimas no rosto de Han Yan. Em qualquer situação assim, qualquer outra mulher provavelmente entraria em pânico. Mas ela nada fez, calmamente encontrou um lugar para se esconder, e parecia que só a presença dela o fazia sentir mais firme e seguro.
Ele não pôde deixar de olhar para Han Yan. Seu cabelo estava bagunçado na multidão, parecendo despenteado e quase cômico, mas seu rosto era claro e, ao olhar de perto, bastante jovem. Por que uma garota aparentemente imatura tinha olhos tão profundos e brilhantes, como pedras preciosas de um mistério insondável? Mesmo na sujeira e no desconforto de se esconder numa caverna, sua expressão emanava uma nobreza inata. Era como se ela fosse uma princesa natural — calma, decidida, orgulhosa e marcante.
O Príncipe Herdeiro não sabia o que dizer; por um momento, seu olhar ficou vago. Aquela mulher, que ele nunca havia observado de perto antes, agora parecia muito com seu tio — igualmente intocável, igualmente desdenhoso de todos, igualmente imperturbável diante da vida, da morte e de todo tipo de perigo.
De repente, Han Yan se virou para ele e fez um gesto de “shhh”, encostando a orelha na entrada da caverna, escutando atentamente os sons lá fora.
Havia... cascos e conversas, mas o conteúdo fez o coração de Han Yan disparar.
Capítulo 92: Lutando Sozinha
— Se encontrarmos o Príncipe Herdeiro de Da Zong, uma grande recompensa nos espera — disse a voz de um homem de meia-idade.
— Quem sabe para onde ele fugiu? A carruagem estava bem aqui — respondeu outro, com impaciência.
Han Yan não sabia quantas pessoas havia lá fora; apenas sentia que os passos eram caóticos, porém seguiam um ritmo peculiar, indicando que eram bem treinados. A ansiedade apertava seu coração, e o Príncipe Herdeiro prendia a respiração, sem ousar fazer barulho. Os passos se aproximavam, quase na entrada da caverna. Nervoso, o Príncipe esbarrou em Zhuang Hanming, que, já ferido e sendo chacoalhado, não pôde evitar um gemido. No silêncio repentino, o som destoou nitidamente, apertando o coração de Han Yan. O Príncipe virou a cabeça, os olhos cheios de pânico. A caverna estreita parecia ainda mais apertada. Após uma breve pausa, os passos avançaram diretamente até eles.
— Foram descobertos — foi o único pensamento que passou pela mente de Han Yan. Se caíssem nas mãos daqueles homens, nenhum deles sobreviveria. O alvo era o Príncipe, e Han Yan não queria ser o sacrifício. Mas naquele momento, a decisão não estava em suas mãos; se fossem encontrados... se fossem encontrados... Rangendo os dentes, ela virou-se de repente, arrancou o manto externo do Príncipe e o cobriu com ele. O Príncipe ficou atônito, sem reação, até captar um olhar profundo e suplicante dela — estaria ela pedindo que cuidasse de Zhuang Hanming? Havia desamparo, mas acima de tudo, havia determinação. Então, Han Yan disparou para fora.
Vestida com roupas douradas, os cabelos despenteados escondendo suas feições e uma estatura semelhante à do Príncipe, quando a viram, imediatamente a confundiram com ele e começaram a persegui-la.
Dentro da caverna, o Príncipe Herdeiro ficou imóvel, com Zhuang Hanming inconsciente ao seu lado. Mordeu o lábio, tentando não chorar, sentindo uma tristeza inexplicável.
Nas montanhas a leste da cidade, onde Han Yan costumava brincar e conhecia cada grama e árvore, ela tinha uma vantagem natural no terreno. Não sabia se aqueles homens eram desconhecedores da região ou estrangeiros, mas conseguiu levá-los numa perseguição alucinante, escolhendo intencionalmente cantos e áreas rochosas para ganhar tempo.
Então, ela passou por uma área de grama baixa e plana, e os homens armados correram para frente, quase a alcançando, mas Han Yan desviou habilmente. Ao mesmo tempo, sentiu seu corpo afundar; percebendo o perigo, tentou puxar-se para trás, mas estava presa.
Era um pântano.
Han Yan virou a cabeça, e os homens, em pânico, olharam para ela. Frente a esse pântano, a força humana era limitada; eles nunca tinham enfrentado algo assim. Os longos cabelos de Han Yan escondiam seu rosto, e tudo que viam era o queixo claro, levemente erguido, com um sorriso frio e zombeteiro no canto da boca. Aquele jovem Príncipe Herdeiro de Da Zong parecia muito mais formidável do que imaginavam.
Logo, outro grupo de homens apareceu atrás dela. Han Yan correu à frente, sabendo que aquilo era apenas uma tática temporária. Ao chegar à beira de um penhasco, parou.
Atrás dela, um abismo; sem possibilidade de recuo. Lentamente, ela se virou, segurando o último espinho de flor de ameixeira que restava.
Naquele instante, viu claramente que os homens à sua frente não eram do Centro das Planícies; provavelmente eram da Região Ocidental, os Rong Ocidentais. Eles não reconheciam o jovem Príncipe Herdeiro, mas, vendo Han Yan vestida com as roupas douradas do Príncipe e sem conseguir ver seu rosto direito, a confundiram com ele.
Han Yan ficou imóvel, sem fugir ou implorar por misericórdia; lentamente, levantou um sorriso. Era como uma fera solitária encurralada, preparando o golpe final.
Essa postura fez os homens hesitarem. O jovem Príncipe era astuto demais; já haviam sofrido bastante no pântano. Com aquele sorriso, quem sabia quais planos tramava? Eles estavam cautelosos e ansiosos, mas nenhum ousava avançar.
Sozinha contra sete, Han Yan calculava silenciosamente. Sabia que não tinha chance de vencer, mas aqueles homens certamente não a deixariam escapar.
Naquele momento, um dos grandes homens perdeu o controle. Com um rugido, investiu contra Han Yan. Ela foi pega desprevenida e agarrada. O homem apertou seu pescoço com uma mão e segurou seu braço com a outra. Han Yan não conseguiu desviar, presa como um pintinho indefeso.
— O Príncipe Herdeiro de Da Zong não é nada demais! — exclamou ele, surpreso por dominá-la facilmente, e riu vitorioso. Han Yan abaixou a cabeça, os braços finos pendendo frouxamente.
— Ha ha, olha só esse Príncipe Herdeiro real — tão delicado e macio. Este bracinho é até mais branco que o das nossas mulheres Rong! — Depois de dizer isso, afastou os cabelos despenteados de Han Yan. Quando viu seu rosto, congelou, engoliu em seco. — Essa criança parece mesmo uma jovem garota. Que pena morrer assim... melhor eu me divertir um pouco... — E a jogou no chão, começando a desfazer o cinto.
Os outros soltaram um suspiro de alívio ao ver o companheiro capturar Han Yan. Estavam um pouco cansados da viagem, e um deles brincou:
— Não podemos ficar com tudo para nós; vamos deixar os irmãos experimentarem depois.
Na cultura dos Rong Ocidentais, os costumes eram liberais, e não era incomum manter garotos jovens. Naquele momento, todos supunham que Han Yan era um belo garoto e começaram a alimentar pensamentos lascivos, pensando que, já que ele estava prestes a morrer, por que não se divertir um pouco? O homem grande que segurava Han Yan estava um pouco afastado dos outros; em sua mente, Han Yan agora era uma presa sem forças para resistir. Sem qualquer cautela, ele se agachou, olhando com lascívia enquanto tentava despir Han Yan, que estava aterrorizado e recuava sem parar. Vendo aquilo, o homem grande ficou ainda mais animado; enquanto Han Yan cambaleava para trás, os outros pareciam muito interessados na cena. O homem grande riu alto, ansioso para brincar de gato e rato, e o perseguiu despreocupadamente.
Han Yan ofegava pesadamente, e o homem grande achava que já estava na hora de terminar o jogo. Ele sorriu com malícia e avançou para rasgar as roupas de Han Yan. Mas, inesperadamente, viu os olhos escuros do jovem pálido brilharem com um lampejo de frieza e, no instante seguinte, sentiu uma dor aguda no olho esquerdo, com sangue jorrando.
— Ah... — O grito estridente assustou os pássaros na floresta, e os outros ficaram chocados com a reviravolta súbita, só para ver Han Yan segurando um espinho de flor de ameixeira manchado de sangue, o olhar gelado.
O homem grande apertou o olho esquerdo, com o sangue escorrendo entre os dedos. Não podia acreditar que aquele jovem aparentemente indefeso teria atacado com tanta força, cegando-o. Sem dar tempo para ele se recuperar, Han Yan virou de lado e deu um chute, fazendo o homem gritar enquanto caía em um abismo sem fundo.
Poucos instantes antes, ela o havia conduzido cuidadosamente até a beira do penhasco, certificando-se de que não haveria erro. Como Chai Jing dizia, matar não importa por quais meios; o que importa é a certeza da morte.
Ela guardou o espinho ensanguentado na manga, abaixou-se para pegar a grande faca que o homem deixara cair e encarou friamente as pessoas à sua frente.
Mesmo que morresse, levaria alguns deles consigo. Seu olhar era gelado; o sangue havia respingado em suas roupas, até no rosto, mas isso só tornava sua pele ainda mais pálida — o vermelho intenso contrastando com o branco puro, criando uma imagem chocante. No limite do penhasco, ela ficou sozinha, segurando a grande faca, o vento bagunçando seus cabelos, mas a jovem permaneceu imóvel, sem fugir ou gritar, como um espírito vingativo do inferno.
Por um momento, ninguém ousou se mover.
Talvez uma pessoa tenha percebido de repente:
— Isso é uma mulher!
Os outros olharam atentamente, cheios de incerteza. Se era uma mulher, então ela não podia ser o Príncipe Herdeiro. Quem seria essa mulher?
— Quem é você? — perguntou um deles.
Han Yan inclinou a cabeça para trás e riu. Foi a risada mais arrogante que já soltara na vida, sabendo que, mesmo que descobrissem que ela não era o Príncipe Herdeiro, não a poupariam. Provavelmente a capturariam para exigir o paradeiro do Príncipe. Ela certamente não revelaria nenhuma informação — nem pelo Príncipe, nem por Zhuang Hanming. Já que hoje não escaparia da morte, qual o sentido de ser educada com aquelas pessoas?
— Eu sou o Príncipe Herdeiro — declarou.
Suas ações foram calmas e controladas, sem pressa. Mesmo aqueles homens desesperados, que já haviam vivido metade da vida, nunca tinham encontrado uma mulher como ela. Claramente parecendo uma jovem menina, tão pequena, mas com a postura de quem já conheceu o mundo, astuta e implacável. Contudo, também havia uma aura nobre, que a fazia parecer intocável.
Quem era ela?
Eles começaram a acreditar que aquela garota não era de status comum, que talvez fosse de sangue real. Pensando que haviam sido enganados por aquela pequena e que perderam vários companheiros no processo, a raiva deles explodiu, e um gritou:
— Então preparem-se para morrer!
Com isso, investiu contra ela com a faca.
Enquanto isso, o Príncipe Herdeiro na caverna tremia nervoso, e ouvia passos do lado de fora, parecendo mais numerosos do que antes. Ele olhou para o inconsciente Zhuang Hanming, incerto se conseguiriam escapar daquele perigo. Zhuang Han Yan havia sacrificado a vida para abrir caminho, mas aquele caminho parecia longe de ser tranquilo. Pensar em Zhuang Han Yan apertava seu peito; o tio certamente ficaria arrasado se soubesse.
Perdido em pensamentos, os passos se aproximaram, e o Príncipe cerrou os dentes, os olhos cheios de desespero.
Uma mão afastou as ervas na entrada da caverna.
O céu pareceu escurecer, e um vento frio soprou pela abertura, fazendo o Príncipe sentir frio até os ossos, com os dentes batendo. Então, veio uma voz junto com o vento:
— Sou eu.
De repente, o ambiente se encheu de calor.
Capítulo 93: Clareza Súbita de Intenção
Como se tivesse agarrado a um fio de vida, o Príncipe Herdeiro sentiu seu coração pesado se aliviar instantaneamente.
— Tio!
Fu Yunxi lhe deu um tapinha reconfortante nas costas, seus olhos pousando em Zhuang Hanming antes de falar, com um tom frio como gelo:
— Onde ela está?
“Aquela” era claramente Zhuang Han Yan. Cerrando os dentes, o Príncipe finalmente levantou a cabeça e apontou, trêmulo, em uma direção.
— Ela foi por ali.
Sem dizer mais nada, Fu Yunxi ordenou que vários guardas protegessem o Príncipe Herdeiro e rapidamente montou em seu cavalo.
— Tio! — o Príncipe chamou de trás, hesitante, os olhos cheios de esperança — Ela ainda vai estar viva, não é?
Fu Yunxi permaneceu em silêncio, dando um leve estalo nas rédeas, e o cavalo disparou. O homem de branco sobre o cavalo tinha uma expressão calma, mas os lábios apertados denunciavam sua emoção.
Zhuang Han Yan, você precisa sobreviver.
Na beira do penhasco, o ar estava impregnado com o fedor de sangue. Dois dos sete homens já haviam morrido, e um brutamontes de mais de dois metros havia sido derrubado por aquela garota que ainda nem havia amadurecido. Parecia exagero chamá-la de garota; quando seu manto externo foi descartado, seu corpo magro a denunciava como uma criança. Mas como uma criança poderia ter um olhar tão sedento de sangue, como se todos fossem meros cadáveres para ela?
Naquela tensão sufocante, Han Yan já estava coberta de feridas. Um dos homens grandes a acertou fortemente pelas costas quando percebeu seu cansaço. Era como se seu coração tremesse. Han Yan caiu pesadamente, sangue espirrando como névoa. Tentando se levantar, foi recebida com outro chute no joelho. Suas pernas fraquejaram e ela caiu no chão. Levantou a cabeça, o rosto manchado de sangue, não mais parecendo a menina obediente que fora.
Neste mundo, a vida é a coisa mais imprevisível. Um sorriso sarcástico se formou no canto da boca de Han Yan; ela andava com cuidado, mas ainda assim não escaparia de uma morte certa. Parecia que os céus estavam contra ela — por que dar a ela uma chance de renascer? Ela odiava a injustiça do destino, odiava aqueles que a feriram. Mas agora, seria mesmo seu fim? Com os poucos truques que Chai Jing lhe ensinara e uma feroz determinação para lutar, conseguira matar dois homens, mas não mostrava misericórdia.
Ela riu alto:
— Um contra três, tô lucrando.
De repente, um golpe pesado atingiu a parte de trás da sua cabeça, seguido pelo brilho da lâmina vindo direto para seu pescoço. Ela fechou os olhos, sabendo que dessa vez não havia escapatória. Bem, talvez fosse o melhor.
Três pés de brisa suave, a cabeça caiu no chão, e sangue quente respingou na grama.
Mas quem caiu não foi ela.
O homem corpulento nem teve tempo de ver quem era antes que sua cabeça fosse decepada do corpo. Os outros tentaram avançar, mas só viram um clarão branco de um cavalo galopando, rápido como um relâmpago. Só ouviram alguns sussurros cortantes, e então o silêncio tomou conta.
Han Yan abriu os olhos lentamente e viu Fu Yunxi montado no cavalo, olhando para ela de cima para baixo. Seu olhar ainda carregava a intenção assassina que não tivera tempo de esconder, como um imortal caído manchado pelo pecado, consumido por demônios internos. Seu habitual semblante calmo fora substituído por uma profunda preocupação.
A espada em sua mão continuava pingando sangue. Han Yan forçou um sorriso, talvez tentando confortá-lo, mas não sabia o que dizer. Então estendeu a mão, dizendo:
— Estou bem.
Mas assim que falou, tudo escureceu, e ela perdeu a consciência.
Fu Yunxi saltou do cavalo e a pegou no colo, retornando à sela. Ele viu a mulher normalmente composta naquele estado desfeito, mas sentiu um alívio no peito, puxando-a para mais perto.
Graças a Deus, ela ainda estava viva.
Parecia um sonho longo e arrastado, cheio de muito sangue. Incontáveis pessoas com facas avançavam contra ela, seus sussurros agudos enchendo seus ouvidos. Olhando para cima, viu o rosto sombrio da família Zhou de Zhuang Yushan se aproximando, sua mãe deitada na cama, arfando. O Sétimo Príncipe acenava a mão, aparentemente prestes a ordenar a execução de Zhuang Hanming. Hanming estava ajoelhado no chão. Han Yan sentia que podia flutuar; ninguém podia vê-la. Tentou agarrar algo, mas os dedos passaram pelo tecido do vazio. Estaria morta? Por que estava presenciando uma cena tão dilacerante, com nada restando, um vazio desesperador que a gelava até os ossos?
Se estava morta, então, de fato, não restaria nada. Aquelas amores, aqueles ódios, não deixariam vestígios. O próprio tempo pareceria que ela nunca existiu. Cobriu o rosto e chorou em agonia.
Mas então sentiu-se envolvida por um abraço quente. Quem era essa voz que trazia tanta paz, como se tivesse o poder mágico de dissipar todo medo? Quem a chamava suavemente pelo nome, repetidas vezes, com ternura e firmeza:
— Zhuang Han Yan.
Fu Yunxi olhou para a garota agarrada à sua manga, sem saber com o que ela sonhara. Lágrimas escorriam pelo rosto dela, e ele nunca havia visto tamanha vulnerabilidade em Han Yan antes. Uma mistura de emoções complexas tomou seu coração, mas, principalmente, era alegria por tê-la de volta. Lembrou-se do Príncipe Herdeiro dizendo que Han Yan talvez já estivesse morta. Diante dos acontecimentos daquele dia, era fácil supor que alguém havia armado contra eles, visando o Príncipe e querendo destruir os irmãos Han no processo. Mas Han Yan saiu correndo para proteger o Príncipe, caindo nas mãos dos bárbaros ocidentais, e ele temia o pior para ela.
Naquele momento, seu coração doía intensamente, o jovem normalmente calmo e sereno experimentando o medo pela primeira vez. Ele estava aterrorizado com a ideia de perdê-la; se não pudesse mais ver aquele rosto jovem, se não pudesse mais ouvir seu chamado sincero, “Vossa Alteza,” em sua voz suave, a vida se tornaria tão sem graça sem essa enigmática garota. Aos olhos de Fu Yunxi, tudo no mundo se dividia em três categorias: coisas que ele não queria, coisas que eram suas, e então havia Han Yan. As coisas que ele queria naturalmente vinham até ele com vontade, e as que ele não queria, ele nem tocava. Mas querer Han Yan não era tão simples.
Pouco a pouco, ele havia desmontado suas defesas, avançando em seu coração, acreditando poder controlar tudo, sem perceber quem seria o verdadeiro a cair.
Em sonhos, Han Yan agarrava sua manga, a expressão dependente e frágil. Ele se lembrou do momento em que a viu pela primeira vez: a garota ensanguentada ajoelhada no chão, uma mão apoiando uma grande faca reluzente. Mais brilhantes que a lâmina eram seus olhos. O sangue manchava ao redor dela, e a cena trágica era nítida; seus lábios se curvavam em um sorriso, mas seu olhar era de tristeza e desespero.
Era difícil imaginar que uma garota pudesse ter olhos assim, como se tivesse suportado todos os sofrimentos do mundo, restando apenas um sentimento de desprezo pelas trivialidades da vida. Ele sentiu uma dor profunda no peito, querendo irracionalmente matar pela primeira vez. Sabia que deveria deixar um sobrevivente para interrogar o mandante, mas não queria fazer isso. Primeiro, porque já sabia quem estava por trás disso, e mais importante, ninguém podia feri-la.
Machucaram ela, então não poderiam viver.
Fu Yunxi estendeu a mão para segurar a dela, macia. Desde o momento em que se interessou por ela até querer protegê-la do mal, e agora ficando tenso com cada pequeno detalhe sobre Han Yan, estava claro que ele tinha desenvolvido sentimentos por essa garota. Para pessoas comuns, a palavra “gostar” poderia significar pouco, mas para Fu Yunxi, depois de tantos anos de sentimentos por uma mulher, fora Zhuang Han Yan a primeira, fora sua mãe.
Ele inclinou-se, seus lábios frios roçando suavemente sua testa. A testa de Han Yan relaxou ligeiramente, e ele ficou quieto, observando enquanto um calor suave brilhava em seus olhos.
Ela não sabia quanto tempo havia dormido, mas quando acordou, já era a manhã seguinte. Ji Lan dormia profundamente ao seu lado, e quando Han Yan se mexeu, Shu Hong, que torcia um pano, exclamou surpresa:
— Senhorita!
Han Yan franziu o cenho.
— Por que você está acordada? — A lesão de Shu Hong ainda não havia cicatrizado; ela não deveria estar se mexendo para servir aos outros.
Ji Lan também acordou, e ao ver Han Yan consciente, lágrimas imediatamente escorreram por seu rosto, seguidas de um sorriso.
— Senhorita, finalmente acordou.
Shu Hong se aproximou e segurou a mão de Han Yan, dizendo:
— Senhorita, por favor, não nos assuste assim de novo. Foi tão perigoso; e se algo tivesse acontecido...? — Shu Hong, normalmente tão composta, agora estava com os olhos marejados. Quem não ficaria preocupado? Ontem, tudo parecia estar bem, e então, de repente, ela ouviu as empregadas no pátio dizendo que houve um incidente durante o Festival da Primavera. Sentiu-se inquieta, e depois Ji Lan foi trazida de volta, trazendo a notícia de que Han Yan havia desaparecido. As duas empregadas ficaram em pânico, mas receberam ordens para permanecer na residência naquele momento crítico, e Ji Lan até teve uma grande discussão com o guarda pessoal do Príncipe. Mais tarde, quando o Príncipe Xuanqing retornou a cavalo, carregando Han Yan ensanguentada e imediatamente chamando o Doutor Wu, todos ficaram aterrorizados. Ji Lan e Shu Hong ficaram apavoradas; nunca tinham visto Han Yan perder tanto sangue, o corpo coberto de feridas, inconsciente nos braços do Príncipe Xuanqing, como se jamais fosse despertar.
O médico chegou rapidamente para enfaixar as feridas de Han Yan e recomendou que ela descansasse adequadamente. Ji Lan e Shu Hong ficaram preocupadas até a doença e, depois de implorar muito, finalmente foram autorizadas a ficar ao lado de Han Yan para cuidar dela.
Han Yan sorriu:
— Agora está tudo bem. Onde está o Príncipe?
Na noite passada, Han Yan sentira vagamente que Fu Yunxi estava ao seu lado, mas ao acordar e não vê-lo, sentiu-se um pouco perdida no coração.
Ji Lan, com as lágrimas ainda no rosto, sorriu e disse:
— Senhorita, não se preocupe. O Príncipe esteve ao seu lado a noite toda, não saiu nem por um momento. Mesmo quando buscava água ou cuidava de seus ferimentos, era ele quem fazia pessoalmente. O Príncipe tem sentimentos genuínos por você, mas saiu cedo esta manhã para a corte, para informar ao Imperador sobre a tentativa de assassinato de ontem.
Ao ouvir que Fu Yunxi estivera ao seu lado sem sair, Han Yan não soube bem o que sentir; apenas pensava em como, toda vez que estava em perigo, Fu Yunxi vinha ao seu resgate. Seria mentira dizer que ela não ficou tocada, mas no momento em que achou que ia morrer, sua mente surpreendentemente vagou para: “A Princesa Consorte de Xuanqing talvez precise ser substituída.” O pensamento a incomodou profundamente, como se algo que lhe pertencia tivesse sido tomado por outra pessoa.
0 Comentários