Capítulo 51 – E se eu não quiser ir embora? (2)
Quanta força esse pirralho usou para ferir uma criança tão pequena como ela?
— Por quê? — Ye Li zombou. — Só porque você feriu sua irmã mais nova e, como irmão mais velho, não sabe como ser cortês... você não deveria tê-la atingido — disse com firmeza.
— Mas... ela também me machucou! — Incapaz de aceitar as palavras do pai, Ye Tian se levantou segurando o ombro, com expressão assustada. Seus olhos estavam ficando vermelhos de tanta indignação. — Ela é só uma camponesa, uma bastarda desprezível nascida de uma criada! Que direito você tem de me punir por causa dela?!
— Por quê! — Ye Li repetiu as palavras do filho e pronunciou cada sílaba com clareza: — Porque, acima de tudo o que você disse, sou eu quem manda nesta família!
Seus traços rudes relaxaram lentamente, mas os olhos continuavam sombrios como os de um lobo, cheios de sarcasmo enquanto zombava do filho:
— Se eu quiser fazer isso, eu faço. Você será punido. E se tiver alguma reclamação, eu vou te punir até que obedeça!
Assim que terminou de falar, acenou com a mão, e alguém executou a punição em Ye Tian.
— Dez chicotadas, para servir de exemplo!
— Não! — Ye Tian gritou. — Pai! Você não pode fazer isso comigo! — Ele continuou se debatendo no chão, mas era inútil, pois Ye Li já havia se levantado e saído, sem sequer lhe lançar um olhar.
A dor do chicote rasgando sua carne parecia atingir diretamente sua alma! A humilhação e a raiva que enchiam o coração de Ye Tian se transformaram em ódio infinito!
— Ye Mu... Ye Mu! Nós somos irreconciliáveis!
Seus gritos angustiados de dor e amargura encheram o ar, fazendo com que aqueles ao redor que ouviam não conseguissem evitar um arrepio.
Ye Mu espirrou levemente e esfregou o nariz, então disse a Mo Linyuan, que estava enxugando seu rosto:
— Pode deixar isso com minha criada. E antes de dormir, você devia ler mais do Sutra do Coração Supremo; termine o quanto antes!
Ela não podia ser culpada por estar tão apreensiva. Hoje, tinha ofendido completamente Wen Ru e seu filho, e certamente aquele conflito não teria fim. Por isso, era melhor mandar Mo Linyuan embora o quanto antes, para que ele não acabasse se envolvendo nos problemas dela.
Mo Linyuan fez uma breve pausa antes de sussurrar:
— Eu já memorizei tudo.
— Já terminou de memorizar?! O quê?! Tão rápido assim?! — Os olhos de Ye Mu se arregalaram em surpresa e admiração. Então, rapidamente esboçou um sorriso e disse:
— Ótimo! Isso é ótimo! Vou providenciar sua partida imediatamente!
Ao ouvir isso, Mo Linyuan ficou ainda mais silencioso. Em seguida, olhou para ela e, de repente, disse:
— E se eu não quiser ir embora?
Ye Mu ficou atônita. Diante da sua figura imóvel, Mo Linyuan voltou a enxugar o rosto dela com um lenço úmido — só então ela reagiu.
— P-por que você não quer ir embora? — gaguejou, completamente sem saber o que fazer.
Após dizer isso, e sem esperar a resposta de Mo Linyuan, ela franziu a testa e falou com impaciência:
— Você não quer recuperar tudo o que era seu? Não quer vingar seu pai imperial ou sua mãe... ou sei lá... — murmurou, com a voz se apagando no fim, percebendo que estava falando demais.
No entanto, Mo Linyuan não se abalou.
— Senhorita — chamou de repente.
— Sim? — Ye Mu respondeu por reflexo. Então viu Mo Linyuan se agachar à sua frente. Depois de torcer o lenço, ele continuou a limpar suas mãos.
Ele segurou os dedos dela em sua palma. Eram pequenos, delicados e brancos — mas quem poderia imaginar? Que ela seria capaz de cortar um pedaço da própria carne sem hesitar?
Mo Linyuan limpava os dedos dela com cuidado. Sua voz era muito suave e gentil:
— O motivo de eu não querer ir embora é bem simples. Se eu for, quem vai trocar seu curativo? Se eu for, quem vai ficar com você? Quem vai ficar ao seu lado? — Ele disse isso como se estivesse falando com uma criança teimosa.
— Você ainda é tão jovem e vive se machucando. Meu coração não consegue ficar em paz se eu não estiver por perto.
Ao ouvir aquele jovem falar com uma voz calma e refinada, Ye Mu de repente sentiu um calor brotar no peito.
Será que ele está me tratando como uma irmãzinha? A sensação de ser cuidada com tanto carinho... era realmente boa!
Capítulo 52 – Na Hora Mais Sombria (1)
Seus lábios se curvaram em um sorriso, e seus olhos redondos brilharam sob a luz tênue da vela, refletindo claramente o olhar aflito e confuso de alguém.
— Você não percebeu que eu sou muito poderosa? Então, não precisa se preocupar comigo; eu com certeza vou cuidar bem de mim mesma. E, além disso, vou te procurar no futuro, sem dúvida nenhuma! — garantiu Ye Mu com um largo sorriso.
Mo Linyuan parou por um instante, os dedos que limpavam o sangue de seu rosto ficaram imóveis. Então, ele ergueu levemente os olhos de fênix e disse:
— Sim... você é muito poderosa.
Às vezes, ele sentia que ela estava em um nível muito acima do dele, o que o fazia se sentir envergonhado, mesmo sem querer. Antes de conhecê-la, acreditava que já era bem maduro para sua idade — alguém que liderava os outros.
Mas, ao encontrá-la, ele inesperadamente passou a ser o protegido.
Isso o fazia querer se tornar mais forte, melhor, por causa dela. Estava ansioso para conquistar tudo o que sempre quis, mas nenhum grande poder surge sem acúmulo lento e autopreservação. No entanto, quanto mais se esforçava, mais pressão sentia e, consequentemente, mais inquieto ficava. Isso o fazia se recolher ainda mais no silêncio, buscando tranquilidade, enquanto sua personalidade mudava sutilmente.
Contudo, naquele momento, nenhum dos dois percebia essa mudança em curso.
— Por isso, preciso me esforçar ainda mais... — murmurou Mo Linyuan.
Ye Mu pensou que ele estava falando de seus próprios objetivos, então ergueu o queixo e disse:
— Fique tranquilo! Você com certeza será famoso no futuro!
— E você?
Mo Linyuan apertou de leve os dedos dela por cima do cobertor. Com um sorriso e olhos de fênix brincalhões, perguntou:
— Você disse que com certeza vai me procurar no futuro. Por quê?
Ye Mu, deitada na cama, não conseguiu evitar prender a respiração diante daquele olhar hipnotizante. Depois de um longo silêncio, finalmente respondeu com um tom sério:
— Porque... porque eu sinto que você vai ser uma pessoa de grande importância no futuro. Eu definitivamente vou querer me agarrar às suas coxas!
— Se agarrar às minhas coxas? — Mo Linyuan arqueou as sobrancelhas. Continuava com a sensação de que essa expressão combinava perfeitamente com o jeito carente e adorável dela.
Que jeito interessante de pensar!, pensou.
Ye Mu assentiu com convicção:
— Sim! Só você vai conseguir o que os outros não conseguem, e fazer o que ninguém mais pode. Por isso, eu tenho que te acompanhar!
Dúvidas silenciosas passaram pela mente de Mo Linyuan: Você tem tanta certeza assim de que vou ser forte? Mas, com um leve balançar de cabeça, ele afastou esses pensamentos.
Seu humor estava incomparavelmente leve e feliz, e não havia por que estragá-lo com preocupações. Esse tipo de alegria o fez estender a mão e beliscar as bochechas de Ye Mu repetidamente, sem qualquer vergonha.
Sua voz, embora baixa, soava excepcionalmente clara na noite silenciosa, e suas palavras vinham carregadas de um tom afetuoso:
— Já que você acredita que eu vou ser forte no futuro, como poderia te decepcionar agora?
Sim, ele não precisava mais esperar — protegeria ela desde já.
Infelizmente, Ye Mu não captou o significado por trás das palavras e achou que ele apenas estava se motivando...
Alguns dias depois, quando seu corpo já estava um pouco melhor, ela finalmente conseguiu sair da cama. E imediatamente começou a preparar a partida de Mo Linyuan.
Naquele momento, ela não conseguiu evitar sentir-se ansiosa. Ye Tian, que sempre guardou rancor dela, havia sido preso. No entanto, Wen Ru, por outro lado, tinha sido solta. Ouviu dizer que foi a influente família de Wen Ru que pressionou seu pai para libertá-la.
Isso era realmente irritante.
Enquanto isso, em um lugar onde Ye Mu não fazia ideia, Mo Linyuan estava cada vez mais ocupado com seus próprios assuntos. Tarde da noite, ele apareceu no escritório de Ye Li.
Ao olhar para o bilhete que Mo Linyuan havia lhe entregue, Ye Li arqueou ligeiramente as sobrancelhas.
— Então, garoto, finalmente admite que sabe ler?
Na verdade, Ye Li já suspeitava disso fazia tempo. Se Mo Linyuan não soubesse ler, como teria dito a ele, durante o banquete, que tinha algo a mostrar — e o ameaçado com o Selo Imperial de Jade?
Diante do olhar penetrante de Ye Li, Mo Linyuan sabia, no fundo, que Ye Li não o mataria diretamente naquele momento, então admitiu por conta própria.
Ye Li lançou um olhar para a caligrafia elegante no pedaço de papel e disse em voz baixa:
— Por que está propondo que os forasteiros fiquem em silêncio sobre o caso da droga? Está com medo de morrer?
Mo Linyuan estava em pé diante da escrivaninha. Usava uma túnica verde simples e limpa, feita de um tecido barato, mas mesmo assim conseguia lhe dar uma aparência respeitável.
Ouvindo as palavras de Ye Li, ele também escreveu algumas palavras em resposta:
“Não tenho medo da morte. Mas, ao mesmo tempo, tenho medo de morrer porque ainda não completei minha missão.”
Capítulo 53 – Na Hora Mais Sombria (2)
Esse tipo de espírito indomável e determinação fez até mesmo Ye Li, com seu coração de pedra, se sentir um pouco comovido. Todos sabiam as consequências que recairiam sobre um jovem bonito ao ser enviado para a imunda residência do Oficial Liu. Sem mencionar que ele já havia escapado por pouco da morte nas mãos daquele mesmo homem.
Ele teria que suportar uma humilhação que pessoas comuns não conseguiriam aguentar!
No entanto, aquele pequeno escravo não demonstrava medo algum e ainda agia como se estivesse ansioso para se lançar ao infortúnio.
— Por quê? — Ye Li perguntou, um pouco confuso quanto à motivação real dele. Tamborilando os dedos sobre a mesa, acrescentou: — Essa missão provavelmente é impossível para você completar. Por que ainda assim... por que se esforçar tanto a ponto de menosprezar sua própria vida?
Se o Oficial Liu fosse fácil de enganar, Ye Li já teria conseguido ultrapassar aquele impasse e obtido o projeto da Guarda Imperial em pouco tempo. Por isso, sentia que, para um escravo tão insignificante, as chances de sucesso eram mínimas.
Ao ouvir a pergunta, Mo Linyuan relaxou o corpo tenso. Pensou em algo, e os cantos dos lábios se curvaram ligeiramente. Com os olhos amendoados semicerrados, ele escreveu algumas palavras no papel:
“Se ele não o fizesse, ela morreria. Se ela morresse, ele não poderia voltar para o lado dela.”
Ye Li encarou aquelas poucas palavras em silêncio por um longo tempo. De repente, sentiu que perder um garoto tão leal seria, sem dúvidas, um grande desperdício. Especialmente aquele — não apenas corajoso e meticuloso, mas também bastante astuto.
Diante de tanto esforço claramente demonstrado, sentiu que também deveria estender-lhe uma mão.
Ye Li ponderou por um instante antes de dizer em voz alta:
— Muito bem! Eu lhe darei tudo o que for necessário. Só precisa se lembrar da sua determinação de cumprir a missão e voltar com vida!
Mo Linyuan ergueu a cabeça rapidamente, fitando-o com firmeza antes de fazer uma breve reverência.
Do outro lado, Ye Mu ainda estava preocupada com Mo Linyuan.
Ela sabia que ele ainda tinha alguns subordinados leais no país de Yue, mas não podia deixar a Mansão do General para procurá-los. Além disso, depois de tanto tempo como cativo, aqueles homens também não o encontrariam. Ainda mais considerando que a residência do general era mais rigorosa até mesmo que o palácio imperial de Yue.
Seu plano era dar uma grande quantia em dinheiro para ajudar na fuga de Mo Linyuan, mas, na realidade, ela não tinha nem uma moeda. Então, o que poderia fazer?
Ah… Ye Mu, que sempre teve dinheiro de sobra e jamais havia sentido uma crise financeira, agora se sentia um pouco desanimada. Segurava a caneta e já sentia uma dor de cabeça se formando.
— Senhorita? — Ye Xiaolang entrou com um petisco delicioso nas mãos. Ao ver os diversos remédios espalhados e roupas desorganizadas na cama de Ye Mu, achou tudo um tanto estranho. — Senhorita, o que está fazendo?
Ye Mu franziu o cenho.
— Aji vai para longe. Estou preparando algo para sua partida.
— Aji vai embora?! — Ye Xiaolang ficou paralisado. — Senhorita, você... não quer mais ele ao seu lado?
Ye Mu suspirou.
— Não... enfim, o mundo é assim mesmo, muda a todo momento. Não se preocupe — se treinar bem suas artes marciais, você o encontrará de novo no futuro!
Ao ouvir isso, Ye Xiaolang teve mais um golpe profundo em sua visão de mundo!
Por que é sempre o Aji quem sai machucado?
— Não, eu tenho que ir atrás dele! — declarou com firmeza. Então, largou o prato com expressão solene e saiu correndo do quarto. Ye Mu sorriu e o deixou ir. No fundo, não queria que Ye Xiaolang carregasse tanto peso nos ombros tão jovem.
No entanto, as coisas raramente saem como desejamos.
Assim que Ye Xiaolang virou a esquina, alguém o puxou repentinamente! Quando estava prestes a gritar em alarme, sua boca foi tampada. Ainda assim, ele pôde sentir nitidamente o aroma medicinal vindo do corpo da pessoa.
Aquele perfume familiar só vinha de uma pessoa.
— Aji? — perguntou, surpreso, ainda carregando um vestígio da descrença da conversa que tivera com Ye Mu.
Mo Linyuan o soltou com cuidado. No instante em que Ye Xiaolang se virou, recebeu um olhar indecifrável.
Depois de passar tanto tempo com ele, Ye Xiaolang naturalmente já sabia entender suas intenções com apenas um olhar.
— Aji, você vai mesmo embora. — Seus olhos verdes sobre o rosto moreno o encaravam com seriedade.
Mo Linyuan assentiu e, em silêncio, o guiou para algum lugar.
Ye Xiaolang não entendeu suas intenções, mas o seguiu mesmo assim. Por fim, chegaram a um jardim situado bem próximo ao pátio principal.
— Este lugar... onde estamos?
Assim que Ye Xiaolang perguntou, Mo Linyuan cobriu sua boca. Os dois se esconderam atrás de uma falsa montanha de pedra no jardim. Com a mão livre, Mo Linyuan apontou discretamente para uma direção.
Sentada casualmente no pavilhão, tomando chá, estava Wen Ru, a primeira esposa — recém-libertada do confinamento.
Capítulo 54 – Wen Ru, a Bruxa (1)
Seis guardas estavam posicionados do lado de fora do pavilhão, e dentro dele havia oito criadas servindo Wen Ru; a segurança era rígida.
Mo Linyuan lançou um olhar para Xiaolang e usou o dedo para escrever algo no chão: “Seus ouvidos são afiados. Ouça o que ela está dizendo.”
Esse era um dos motivos pelos quais Mo Linyuan quis trazer Ye Xiaolang consigo. Por ter crescido nas matas, junto com lobos, os cinco sentidos de Ye Xiaolang eram muito mais aguçados do que os de uma pessoa comum.
Ao ver o quão sério Mo Linyuan estava com aquele pedido, Ye Xiaolang assentiu com firmeza e fechou os olhos, concentrando-se para captar os fragmentos de voz que conseguia distinguir...
Dentro do pavilhão, Wen Ru estava sentada em frente a um homem. Ela mesma serviu-lhe uma xícara de chá.
— Oficial Yu, ainda bem que o senhor veio... caso contrário, como eu poderia continuar vivendo?
Enquanto falava, seu rosto carregava uma expressão cheia de charme, provocando ao exibir discretamente o interior do pulso enquanto manuseava o bule. Qualquer pessoa com um mínimo de discernimento perceberia o que haviam acabado de fazer, mas infelizmente, ela estava muito bem protegida.
Portanto, mesmo que Mo Linyuan entendesse as entrelinhas, não teria oportunidade de reunir provas contra ela.
Ao ouvir isso, o homem sorriu e abaixou a voz:
— Tudo bem. De agora em diante, estarei sempre ao lado da Madame. Madame... este oficial se esforçou muito para assumir a tarefa de protegê-la. No futuro, a senhora precisa me recompensar bem!
Os dois trocaram olhares lascivos, e embora as criadas ao redor tivessem visto, nenhuma ousava comentar. Afinal, a madame era extremamente cuidadosa em seus planos. Apesar das palavras sugestivas e ambíguas, ninguém ousava ultrapassar seus limites.
Mo Linyuan naturalmente sabia quem era aquele homem. Chamava-se Zhao Yu, alguém que a família de Wen Ru havia enviado recentemente para protegê-la. Quanto ao motivo de enviarem outra pessoa, era porque Wen Ru havia, anteriormente, designado o guarda anterior para proteger seu filho.
No entanto, especialistas em artes marciais internas eram difíceis de encontrar. Embora as habilidades de Zhao Yu fossem razoáveis, ele ainda era centenas — milhares — de vezes inferior a Yan Xu. E homens como Yan Xu não se encontravam facilmente, então ela teve que se contentar com aquilo.
— Não se preocupe... — Wen Ru respondeu com um sorriso. Mas então, pensou em algo, e seus olhos se tornaram excepcionalmente frios e cruéis. Ela abaixou a voz e perguntou em tom sutil:
— Ah, é mesmo. Eu me lembrei agora... meu pai já respondeu? Aquela pirralha da Ye Mu feriu gravemente o Tian’er. Eu com certeza não vou deixar isso barato!
Ao ouvir isso, Zhao Yu sorriu e, orgulhoso, retirou de suas mangas um pequeno embrulho.
— Pode ficar tranquila, Madame. A entrega chegou esta tarde. Essa substância é extraordinária — basta que a garota a consuma por um mês, e ela morrerá em silêncio! Ninguém jamais descobrirá nada!
— Asqueroso! Você ainda se recusa a me entregar isso... — Wen Ru lançou-lhe um olhar furioso e tentou tomar o item de suas mãos, mas Zhao Yu agarrou sua mão sorrateiramente. A criada ao lado tossiu discretamente, e Wen Ru rapidamente puxou a mão de volta, lançando um olhar de reprovação a Zhao Yu.
— Madame, não se apresse tanto — disse Zhao Yu com um sorriso lascivo. — Enquanto eu estiver aqui, a senhora não precisa mover um dedo. Eu mesmo farei com que aquela garota morra de forma miserável, sem sequer um túmulo para descansar!
O homem sorriu de forma cruel, e só então Wen Ru pareceu satisfeita. Após essa conversa, os dois mudaram de assunto e passaram a falar de outras coisas.
Enquanto isso, do outro lado, ao ouvir que aquela mulher pretendia envenenar Ye Mu novamente, Ye Xiaolang ficou imediatamente furioso!
— Essa mulher é cruel demais! Quer envenenar a senhorita dessa vez?! Vamos agora mesmo contar isso ao general!
Mo Linyuan sinalizou para que ele se acalmasse. Os dois recuaram silenciosamente da cena, sem deixar rastros da espionagem.
Mas, antes de partir, os lábios de Mo Linyuan se curvaram, e seus olhos se encheram de uma luz gélida. Lançando um último olhar ao pavilhão, ele zombou friamente.
Quer machucá-la? Só passando por cima do meu cadáver.
Capítulo 55 – Wen Ru, a Bruxa (2)
— Droga! Isso é bárbaro demais! Passou de todos os limites! — Assim que chegaram a um lugar deserto, Ye Xiaolang não conseguiu mais se conter e explodiu em indignação. — Aquela mulher realmente quer envenenar a jovem senhorita! — Então se virou para seu parceiro silencioso ao lado. — Aji, a gente tem que encontrar um jeito de impedi-la!
Depois de contar a Mo Linyuan tudo o que tinha ouvido da conversa entre Wen Ru e Zhao Yu, Ye Xiaolang, com sua inocência natural, ainda não compreendia as camadas mais profundas por trás das palavras de ambos. Ele só conseguia se enfurecer com o veneno.
Era muito fácil para Wen Ru fazer qualquer coisa contra Ye Mu. Desde que o fizesse com perfeição, ninguém conseguiria acusá-la de nada. Por isso, se quisessem derrubá-la, precisavam de provas.
Mo Linyuan escreveu algumas palavras na palma da mão de Ye Xiaolang:
“É inevitável que Wen Ru volte a fazer o mal. Não fique bravo.”
Ye Xiaolang arregalou os olhos ao ver isso.
— Você já sabia desde o começo que ela ia fazer algo ruim? Então por que não avisou a jovem senhorita pra ficar atenta? — Ele agarrou o braço de Mo Linyuan, apressado para ir embora. — Por que você me trouxe aqui, então?
Ele realmente achava que Aji estava sendo irresponsável; se já sabia de algo tão importante, deveria ter contado antes!
Mo Linyuan apenas balançou a cabeça. Mas lembrou-se de que logo partiria daquele lugar. E ao lado de Ye Mu, só restaria Ye Xiaolang para acompanhá-la. Então, escreveu:
“Trouxe você aqui para te dizer que o coração das pessoas pode ser mau. Quando estiver com a jovem senhorita, além de protegê-la, você também deve eliminar o perigo ainda no berço.”
Ye Xiaolang coçou a cabeça, confuso.
— O que você quer dizer com ‘eliminar o perigo ainda no berço’?
Mo Linyuan lhe deu um tapinha no ombro e sorriu de leve. Escreveu de forma enigmática:
“Você vai entender em alguns dias.”
Ye Xiaolang olhou para a palma da mão e perguntou, com um pouco de tristeza na voz:
— Então, você me mostrou tudo isso porque está indo embora... e quer que eu proteja melhor a jovem senhorita daqui pra frente?
Seus olhos estavam um pouco vermelhos, e ele agarrou a manga de Mo Linyuan.
— Aji, pra onde você vai? O que é? Está fugindo de algum perigo?
Mo Linyuan encarou o garoto à sua frente. Apesar de terem o mesmo porte, Xiaolang sempre quis cuidar dele. Diante daquele sentimento genuíno, seu coração se aqueceu.
Ele apertou os lábios num leve sorriso e escreveu na palma da mão:
“Eu vou voltar. Mas não conte a ela ainda.”
Alguns dias se passaram em um piscar de olhos, até que o dia marcado para a partida finalmente se aproximava...
Ao anoitecer, Ye Mu observava Mo Linyuan, que havia retornado muito tarde.
— Ultimamente, você e Xiaolang saem cedo e só voltam à noite. O que vocês andam fazendo? — Ela perguntou, sentindo algo estranho.
Vendo que não havia ninguém por perto, Mo Linyuan explicou em voz baixa:
— Nestes últimos dias, Ye Li tem me chamado constantemente para ajudá-lo nos banquetes. Como os criados não dão conta, Xiaolang e eu vamos ajudar. Ele racha lenha, eu fervo água.
Ye Mu apenas assentiu. Achava uma pena, por causa de seus ferimentos, ter deixado as lições dos dois de lado. Felizmente, essas duas crianças eram independentes e continuavam estudando por conta própria, mesmo sem sua orientação.
Ye Mu então tirou o pacote que havia preparado dias antes e o entregou a ele.
— Aqui está! Já deixei tudo pronto. Agora me conte qual é seu plano de fuga!
Ela esticou a mãozinha curta e puxou um grande mapa de trás, espalhando-o sobre a cama. Com o dedo delicado, apontou para uma direção e disse:
— Aqui é a Mansão do General, onde estamos agora. E aqui... é a residência do Oficial Liu.
Ela deslizou o dedo pela estrada oficial:
— Perguntei quais eventos acontecerão no dia em que eu te mandar para a casa do Oficial Liu. Por sorte, é o dia em que um alto funcionário vai tomar uma concubina! Nesse dia, com certeza vai haver muita gente na estrada principal. Nesse momento, assim que você—
Mas, antes que pudesse concluir seu plano meticuloso, Mo Linyuan a interrompeu de repente.
— Você não precisa se preocupar com isso. Na verdade, tenho alguns subordinados antigos do país de Zhao que ainda estão me procurando ativamente. Assim que eu sair da mansão do general, consigo entrar em contato com eles — então você não precisa se preocupar comigo.
Ele se endireitou e falou com seriedade:
— Já que você me pediu para partir, vou garantir que estarei seguro e intacto.
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