Capítulo 51


 

Lin Xinghe agradeceu ao dono da barraca.

O vendedor de fritters e leite de soja a incentivou a comprar uma poção para participar do sorteio. Já o vendedor de poções mágicas sacudia a cabeça com insistência:
— Que tal... não fazer isso...

Lin Xinghe sorriu.
— Vou comprar algumas poções, sim.

O rosto do vendedor empalideceu de susto.

— Mas não para o sorteio. Vou usá-las como presentes.

Ela escolheu dez frascos diferentes e pediu ao vendedor que os embrulhasse com capricho.

Quando ele ouviu que era um “negócio importante”, seu rosto logo se transformou no de um profissional solícito.
— Para quando você precisa? E quer algum estilo específico na embalagem?

Lin Xinghe pretendia presentear Xie Wuan.

O chefe havia lhe dado bastante atenção — e também havia feito doações caríssimas em suas duas provas ao vivo. Sabia que o chefe não precisava de nada, e seria indelicado tentar conseguir informações sem oferecer algo em troca. Por isso, decidiu comprar algumas poções para ele.

— Pode me entregar assim que terminar. Me avise, que eu digo onde estou. Quanto ao estilo... — pensou por um momento e disse — faça algo marcante, mas que me faça parecer uma pessoa simpática e sincera.

O vendedor refletiu e respondeu:
— Entendi!

Eles trocaram contatos, e ela pediu que a notificasse assim que tudo estivesse pronto.

As aulas do Departamento Xianxia começavam no mesmo horário das do Departamento Moderno — às dez.

Lin Xinghe, despreocupada, voou em sua vassoura mágica para entregar os presentes a Gu Taoyao, e depois levou o xampu para Jiuge. A vassoura era mesmo um meio de transporte muito prático — as duas tarefas levaram menos de meia hora.

Mas, ao sair do dormitório de Jiuge, Lin Xinghe deu de cara com Xie Wuan.

Ela correu até ele em três passos.

Hesitou — não sabia exatamente como chamá-lo. Parecia desrespeitoso usar apenas o nome.

Xie Wuan tinha uma aura poderosa, de chefe supremo, e era um cultivador xianxia. Vestia seus habituais mantos brancos esvoaçantes, com uma aparência que parecia pertencer a outro mundo. Os demais alunos xianxia, ao ingressarem na Escola dos Vilões, logo se adaptavam: abandonavam seus sotaques, falavam o idioma comum, vestiam o uniforme escolar, e mesmo com os cabelos longos presos no alto da cabeça, se integravam ao ambiente em poucos dias.

Mas Xie Wuan era diferente.

Ele destoava do ambiente da escola. Diziam que já era aluno há muitos anos, mas seu estilo anterior ainda transbordava fortemente — único e inconfundível.

Quem ficava diante dele sentia, no fundo do coração, que estava diante de um imortal — frio e acima dos valores mundanos.

Antes que Lin Xinghe decidisse como chamá-lo, Xie Wuan girou sobre os calcanhares com um movimento gracioso de seus mantos brancos e a fitou.

Seus olhos a sondaram com intensidade.
— Há algum problema?

— Não, nenhum problema — respondeu ela. — Só queria agradecer por ter me apoiado durante as transmissões ao vivo… você gastou muitos pontos…

Na mesma hora, recebeu uma mensagem do vendedor das poções perguntando onde ela estava. Os embrulhos já estavam prontos, conforme o pedido.

Lin Xinghe enviou a localização.

E disse a Xie Wuan:
— Preparei um pequeno presente para agradecer pela Jinwudan* que me deu…

(*Jinwudan – pílula dourada de cultivo, que simboliza grande avanço ou favor em mundos xianxia.)

Antes que terminasse de falar, o vendedor das poções apareceu em sua vassoura mágica.

Ela acenou para ele.

O vendedor desmontou da vassoura e, ao ver que Xie Wuan estava ali também, ficou atônito. No íntimo, refletiu sobre aquele encontro entre dois chefões. Em seguida, tirou de um anel de armazenamento que havia pego em algum exame dez frascos de poções e os entregou a Lin Xinghe.

Ela estava ocupada conversando com Xie Wuan e não prestou atenção no que o vendedor estava fazendo.

Mas quando ele lhe passou os frascos, Lin Xinghe lançou um olhar de canto e… congelou por completo.

… Não que o embrulho estivesse mal feito.

Ela havia pedido algo “marcante” à primeira vista — e de fato era impossível não notar. Também queria parecer “sincera” — e sem dúvida, parecia bastante sincera.

O problema era que o vendedor havia embrulhado os dez frascos coloridos como flores, envoltos em várias camadas de papel floral — parecendo um buquê de flores bem no colo.

Mas o presente já estava entregue. Não podia voltar atrás.

Lin Xinghe pensou que talvez Xie Wuan, um cultivador viril, não entenderia o significado especial de oferecer flores a alguém.

Reuniu a coragem e estendeu o “buquê de poções”.

— É só um pequeno presente. Por favor, aceite.

Xie Wuan lançou-lhe um olhar, recebeu o buquê florido de poções e respondeu com uma voz firme e clara:
— Mn.

O vendedor ficou boquiaberto.

Nunca imaginou que Lin Xinghe realmente daria suas poções para Xie Wuan. A maioria das pessoas jamais ousaria fazer isso! E agora, Xie Wuan havia aceitado! Teria ele perdido algum escândalo bombástico?

Mas ao ver que Xie Wuan mantinha a expressão habitual — solene e inalterada — Lin Xinghe sentiu-se mais tranquila. Pensou que talvez os imortais não ligassem para essas coisas seculares, e sentiu-se bem mais confiante do que antes.

Como o que ela queria perguntar não era algo público, não podia ir direto ao assunto. Refletiu por um instante e perguntou:
— Já tomou café da manhã?

Logo depois se lembrou que ele era um cultivador.
— Você já pratica inédia*?

(*Inédia – prática taoista de abandonar alimentação mundana.)

— Comer é permitido — respondeu Xie Wuan.

— Quer tomar café comigo?

— Aceitável.

Lin Xinghe achou que o chefe não era tão difícil de lidar quanto os rumores diziam. Um encontro para o café da manhã: sucesso!

Segue a tradução do trecho:


— No refeitório? — perguntou Lin Xinghe.

— Aceitável.

A área dos dormitórios não ficava longe do refeitório. Lin Xinghe planejava ir a pé, mas, ao lançar um olhar para a espada na mão de Xie Wuan, começou a dizer:

— Vamos…

Antes que pudesse completar com “voar”, viu Xie Wuan embainhar a espada e fazer um gesto com a mão:

— Caminhemos.

Ele seguiu em frente com passos largos.

Lin Xinghe, em silêncio, guardou sua vassoura mágica e o acompanhou.

Dono da barraca de poções mágicas: … Ai, ai.

Havia uma brisa suave e agradável naquela manhã na escola, tornando prazeroso o passeio pelos caminhos de pedra.

Faltava quase uma hora para o início das aulas, então muitos estudantes andavam pelas vias ou voavam pelos céus.

Em geral, os caminhos aéreos e terrestres não costumavam estar tão cheios, mas aquele dia estava diferente. Espadas voadoras, vassouras mágicas e montarias aéreas congestionavam o céu, projetando uma grande sombra sobre o chão.

— Não é o Xie Wuan? Por que ele está segurando um buquê?

— Quem é a garota ao lado dele? Parece familiar…

— É a Lin Xinghe do departamento moderno, né?

— Lembrei! O Xie Wuan gastou quase 1.500 pontos nas duas transmissões ao vivo da Lin Xinghe!

— A Lin Xinghe está apaixonada pelo Xie Wuan?

A velocidade com que fofocas sobre figuras influentes se espalhavam na escola era impressionante.

Lin Xinghe e Xie Wuan mal haviam caminhado por trinta segundos, e já circulava o boato: Lin Xinghe tinha uma queda por Xie Wuan e se declarou com um buquê de flores. Xie Wuan aceitou, e agora os dois caminhavam de mãos dadas pelo campus.

Lin Xinghe estava um pouco envergonhada a princípio, mas, ao ver a calma e indiferença de Xie Wuan, sua vergonha se dissipou. Ergueu a cabeça com firmeza e o seguiu até o refeitório.

Depois que se sentaram, Lin Xinghe perguntou:

— Tem alguma comida que você não pode comer?

— Não.

Lin Xinghe foi até o buffet e comprou uma porção variada de alimentos. Escolheu um pouco de cada coisa, não por medo de não agradar o gosto de Xie Wuan, mas porque Xiao Xue Ji havia comido o Jinwudan, e ela sentia que lhe devia um favor.

Depois de se sentar, Lin Xinghe disse novamente:

— Antes, meu mascote entrou no seu espaço portátil, sinto muito por isso. E ela também comeu seu Jinwudan, então, em retribuição, se você precisar de ajuda no futuro, estou disposta a enfrentar o que for necessário para lhe retribuir.

Xie Wuan respondeu com tranquilidade:

— Foi o destino, não há necessidade de desculpas.

Lin Xinghe disse:

— Destino é destino, mas ainda assim era um tesouro que você conquistou com tanto esforço…

Xie Wuan a encarou com seriedade.

Lin Xinghe ia continuar com palavras formais, mas, sob aquele olhar penetrante, simplesmente se esqueceu do que ia dizer.

Ela se recompôs e continuou:

— Obrigada por me apoiar nas provas.

Ela achava que Xie Wuan diria que tudo se devia aos próprios esforços dela e ao destino, mas ele esboçou um leve sorriso e corrigiu:

— Não foi apoio.

Lin Xinghe ficou ligeiramente surpresa.

Xie Wuan perguntou:

— Você viu as estatuetas no meu espaço infinito?

Lin Xinghe assentiu.

Xie Wuan continuou:

— Acha que são bonitas?

— … São bem impressionantes — respondeu ela.

— Desde a primeira vez que a vi, achei que você combinava com a minha coleção. — E acrescentou, com naturalidade: — Dei-lhe o Jinwudan e os pontos porque duvidava que fosse conseguir completar a prova.

Ele a observou com aquele olhar profundo e sereno e acrescentou:

— Espero que nos encontremos na próxima prova. Estou realmente ansioso para vê-la em exibição no meu espaço.

Ele não tocou em nenhum alimento da mesa.

Xie Wuan se levantou, ergueu o buquê de poções e disse:

— Aceito isto. Adeus.

O refeitório estava lotado.

Xie Wuan, que sempre foi uma figura solitária, de repente aparecia tomando café da manhã com alguém. Junte-se isso aos rumores anteriores, e era natural que todos ficassem curiosos sobre a relação entre os dois. Mas então, ouviram aquela conversa explosiva.

Logo, os boatos mudaram novamente: Lin Xinghe estava apaixonada por Xie Wuan, ele aceitou feliz e planejava transformar sua admiradora em uma estatueta do amor.

Assim que Xie Wuan foi embora, os que tinham ouvido a conversa no refeitório passaram a olhar para Lin Xinghe com um toque de pena.

Mas Lin Xinghe não se importou. Na verdade, até se sentiu mais aliviada. Tinha receio de que Xie Wuan fosse gentil demais com ela e não soubesse como retribuir. Agora que sabia das intenções dele — ainda que ele quisesse transformá-la numa estatueta —, os benefícios que recebera dele até então podiam ser vistos como investimentos na futura "figura decorativa". Pensando assim, ela sentiu que não devia mais nada a ele.

… Só foi uma pena que, mesmo tomando café da manhã juntos, não conseguiu perguntar nada sobre Xilin.

Mas Lin Xinghe não se sentiu muito decepcionada. Ela ainda ficaria muito tempo naquela escola. Se não conseguisse descobrir com os outros, poderia investigar sozinha. Com o temperamento de Xie Wuan, agora ela finalmente entendia por que os outros estudantes o chamavam de grande pervertido.

A melhor forma de lidar com esse tipo de pervertido… era usando as próprias armas contra ele.

Xie Wuan podia ser um chefe poderoso, mas, com o tempo, ela também se tornaria uma chefe poderosa. E então, quem faria de quem uma estatueta?

Pensando nisso, Lin Xinghe se animou.

… Transformar Xie Wuan num arranhador de gato e colocá-lo no dormitório — por mais que pensasse, parecia algo super irado.

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