Capítulo 93: Fuga Noturna
Sem perceber, Chu Xiang já estava na Cidade de Nanling há mais de três dias.
Ao sair da capital, trouxe consigo quarenta Guardas Sombrios. Para evitar chamar atenção, eles não se mostraram ao longo do caminho. Ao chegar, a maioria permaneceu fora da cidade, em prontidão. Apenas Liu Yin o acompanhou até a casa onde Yue Lingxi estava detida. Ao entrar na cidade, nem os guardas olharam duas vezes para ele, escondido sob uma máscara de couro. Bastou seu domínio fluente do idioma Yi para que fosse autorizado a entrar.
Quem imaginaria que o imperador de Chu — aquele que podia fazer chover com um gesto — apareceria em Nanling dessa forma, com apenas um acompanhante, bem debaixo do nariz dos inimigos?
Ainda assim, tanto Chu Xiang quanto Yue Lingxi mantinham-se em alerta, pois sabiam que aquele era apenas o silêncio antes da tempestade. Com a astúcia de Tuoba Jie, não demoraria para que tudo fosse descoberto.
Durante o dia, Chu Xiang enviava homens para monitorar de perto os movimentos na cidade. À noite, infiltrava-se na casa para ver Yue Lingxi, driblando os guardas e aproveitando cada segundo para planejar. Yue Lingxi também sabia que continuar adiando só tornaria tudo mais perigoso. Por isso, todos os dias se esforçava para se exercitar e tomar os remédios, e usava os breves momentos noturnos com Chu Xiang para discutir os detalhes da fuga.
Liu Yin e Shu Ning costumavam montar guarda na porta e esperar no cômodo externo, a poucos passos de distância, sem trocar palavras. Às vezes, quando Liu Yin voltava da vigia, via Shu Ning saindo do quarto após preparar chá. Seus olhares se cruzavam por um instante. Ela desviava rapidamente, virava de costas e começava a limpar os utensílios da mesa, sem levantar os olhos, mexendo nervosamente nas xícaras e pires.
Havia algo errado.
Normalmente, Liu Yin era rígido como madeira — nada o abalava. Mas naquele momento, estava inexplicavelmente sensível. Ficava em silêncio do lado de fora a noite inteira, até que sua mente deu um estalo. Antes de partir, perguntou discretamente a Yue Lingxi sobre o assunto. Depois de um tempo, saiu do quarto com os movimentos duros e contidos.
Desde então, Liu Yin não voltou a falar com Shu Ning espontaneamente.
Em meio à tensão do momento, ninguém parecia notar essa pequena mudança entre os dois. Yue Lingxi ainda estava muito fraca, e toda a energia que tinha era dedicada a estudar a rota de fuga. O restante do tempo era reservado ao repouso. Chu Xiang também estava no limite, preocupado com a saúde dela e com a situação externa. Só aguardava o momento certo para partir.
Yue Lingxi contou a Chu Xiang sobre o mapa falso. Com base na velocidade de avanço do exército de Chu, levaria algum tempo para Tuoba Jie distinguir o verdadeiro do falso. No entanto, ele era astuto e poderia ter infiltrado um espião do Yi Ocidental entre as tropas de Chu. Nesse caso, a situação de Yue Lingxi se tornaria extremamente perigosa. Após pesar os riscos, Chu Xiang marcou a partida para dali a dois dias, ao amanhecer.
Infelizmente, planos nunca acompanham as mudanças.
Naquela noite, justo quando Yue Lingxi se deitava, foi despertada pelo som de armaduras roçando nas paredes. Ao abrir os olhos, viu chamas subindo ao céu, iluminando metade da Cidade de Nanling. Sombras corriam pelos becos, diante do yamen e sob os salgueiros, misturadas aos gritos de mulheres, crianças e bebês.
O que estava acontecendo?
Yue Lingxi levantou-se rapidamente da cama, sem tempo sequer para calçar os sapatos. De repente, uma figura passou pela janela oeste e, num piscar de olhos, apareceu diante dela. As contas de vidro, agitadas pelo vento forte, balançavam sem parar, espalhando reflexos cintilantes pelo chão. Mas o corpo firme e imponente bloqueava toda a luz, protegendo sua visão por completo.
Ela se acalmou instantaneamente.
— O que está acontecendo lá fora?
Yue Lingxi se inclinou para perguntar, mas foi subitamente puxada para os braços de Chu Xiang, que a carregou em posição horizontal. Justo quando se perguntava o motivo, ouviu sua voz baixa ao ouvido:
— Precisamos partir.
Seu rosto estava tenso, sinal de que algo grave havia ocorrido. Yue Lingxi não perguntou mais nada e apenas enterrou o rosto em seu ombro, sem se mover.
Ao chegarem ao pátio, Liu Yin e Shu Ning já os aguardavam. O portão, normalmente trancado, estava entreaberto, e alguns homens do Yi Ocidental jaziam espalhados na varanda. Não havia sinais de sangue ou ferimentos — mas já estavam mortos há algum tempo. Claramente, obra dos Guardas Sombrios.
Yue Lingxi espiou pela fresta da porta e viu vários Guardas Sombrios ocultos sob os beirais. Ao lado deles, uma carruagem extravagante com janelas enormes e penas exageradas — típicas dos ocidentais. Ao se aproximar, o emblema na roda chamou sua atenção.
Uma serpente prateada? Não é esse o símbolo da família Tuoba?
Yue Lingxi virou-se para Chu Xiang, com os olhos cheios de perguntas. Ele a abraçou e entrou diretamente na carruagem. Só quando as rodas começaram a girar, ele falou em voz baixa:
— O Oitavo Príncipe usurpou o trono. O Yi Ocidental está mudando.
— O quê?
Yue Lingxi ficou chocada, mas logo entendeu o que ele não disse.
Tuoba Jie governava a corte há anos, ocupando uma posição acima de todos. Mas o homem que lhe concedeu esse poder e honra havia sido morto pelo Oitavo Príncipe poucas horas antes. Como diz o ditado: “Quando o imperador muda, os cortesãos mudam também.” Como o novo soberano toleraria que um manipulador como Tuoba Jie continuasse vivo?
Ele havia visitado o Imperador do Reino Chu na capital e inspecionado as linhas de frente, negligenciando completamente a situação interna da corte. Agora, com o exército de Chu avançando cada vez mais e as derrotas se acumulando, estava sem alternativas. Por isso, quando os homens do Oitavo Príncipe incendiaram a cidade, foi pego de surpresa — e o caos se instaurou.
Dessa forma, a Cidade de Nanling já não era mais segura. Uma vez que o Oitavo Príncipe consolidasse o trono, haveria ainda mais artimanhas para lidar com ele. Só lhe restava fugir temporariamente e planejar seu futuro. Yue Lingxi guardava muitos segredos do Reino Chu. Se ele quisesse retornar ao poder, certamente precisaria dela — e por isso, não hesitaria em levá-la consigo.
Chu Xiang compreendia isso perfeitamente. Por isso, alterou o plano e partiu com Yue Lingxi naquela mesma noite.
As ruas largas da cidade estavam intransitáveis, tomadas por soldados e civis. Os becos ainda permitiam passagem, mas o fogo se espalhava rapidamente, e pedras e telhas quebradas caíam dos dois lados, tornando tudo perigoso. Às vezes, Liu Yin não conseguia controlar as curvas ao desviar, e até mesmo caminhar sobre a estrada de pedra era mais instável do que o normal. Como o ferimento na mão de Yue Lingxi ainda não havia cicatrizado, ela sofria bastante.
Chu Xiang segurava seu corpo delicado e frágil, protegendo-a com um braço e enxugando o suor de sua testa com o outro. Yue Lingxi ergueu o rosto e lhe deu um sorriso tranquilizador, depois tocou seu rosto e disse:
— Não estou acostumada com você usando essa máscara.
— Não se mexa — disse Chu Xiang, segurando sua mão com cuidado e sussurrando: — Assim que sairmos da cidade, teremos que cavalgar rápido. Aguente firme. Se conseguirmos despistá-los, estaremos seguros.
— Mm.
Yue Lingxi assentiu levemente, e seus olhos varreram involuntariamente a janela vermelha do lado de fora. De repente, lembrou-se de algo. Quando estava prestes a colocar o véu, Chu Xiang já o havia retirado do pacote e o colocou cuidadosamente sobre seu rosto. Depois, envolveu-a com um manto grosso para protegê-la do frio da noite.
Logo, a carruagem chegou ao portão sul da cidade em meio ao caos. Como esperado, estava fortemente trancado, e ninguém podia entrar ou sair. Felizmente, a maioria dos soldados havia sido enviada para combater o incêndio, e os poucos guardas ali estavam mais preguiçosos que os demais, confiando apenas em trancas de ferro como barreira.
Liu Yin conduziu a carruagem lentamente até parar diante das lanças cruzadas e gritou alto:
— Abram o portão!
Alguns guardas, ao verem que ele era um estranho, tentaram barrar a carruagem e seus ocupantes. Mas ao perceberem sua postura imponente, hesitaram. Por fim, um guarda mais velho se aproximou e perguntou:
— Quem é você? Quem está na carruagem? A cidade está sob lei marcial. Ninguém pode sair!
— Como ousa!
O rosto de Liu Yin endureceu de repente, demonstrando raiva, e o guarda se assustou com sua presença. Quando estava prestes a chamar reforços, viu as tochas dos Guardas Sombrios balançarem levemente, iluminando o emblema na roda da carruagem. Ao olhar mais de perto, prendeu a respiração.
Era a carruagem da família Tuoba!
Enquanto os guardas se surpreendiam, uma voz feminina surgiu de dentro da carruagem, falando no dialeto local. Era doce como o canto de uma ave, mas também triste e comovente, amolecendo os ouvidos de quem ouvia:
— Senhor, o portão norte foi invadido pelos rebeldes. Quando poderemos sair daqui? Não tenho medo da morte, mas temo arruinar sua grande causa de mil anos!
Ao ouvir isso, o guarda ficou apavorado.
Seria... Tuoba Jie dentro da carruagem?
Gotas de suor escorreram por sua testa. Antes que pudesse pensar melhor, Liu Yin já estava diante dele, com olhos negros e penetrantes, cheios de frieza. O guarda estremeceu e instintivamente se afastou, justo quando a porta da carruagem se moveu, como se alguém fosse sair. Pensando que seria repreendido, apressou-se em se curvar:
— Boa viagem, senhor!
Ao ouvir isso, os guardas mais distantes, sem saber o que estava acontecendo, também começaram a se curvar. Em seguida, removeram os obstáculos e levantaram a tranca de aço, observando enquanto a carruagem deixava lentamente a Cidade de Nanling.
Sucesso.
Assim que saíram do campo de visão dos guardas, o cavalo disparou. Yue Lingxi, dentro da carruagem, olhou pela fresta e viu os muros da cidade se afastando. Respirou fundo e então perguntou:
— Quando Liu Yin aprendeu o idioma Yi?
— Ele não sabe. Eu só ensinei essas duas frases.
Chu Xiang respondeu com naturalidade, e Yue Lingxi arregalou os olhos.
Ele foi mesmo imprudente! E se alguém percebesse esse risco?
Chu Xiang olhou para Yue Lingxi e viu sua boca entreaberta, surpresa e sem palavras. Não resistiu e sorriu suavemente:
— Confie no seu marido.
— Claro que confio em você — respondeu Yue Lingxi, sem notar a escolha de palavras, aninhando-se em seus braços com um suspiro leve. — Provavelmente não há nada neste mundo que você não calcule corretamente.
— Há sim — disse Chu Xiang, abaixando o olhar, com os olhos cheios de emoção. — Você.
Yue Lingxi ficou em silêncio por um momento, depois escondeu o rosto em seu peito. Embora parecesse não reagir, entrelaçou os dedos nos dele, num gesto silencioso de afeto.
Chu Xiang sorriu com os lábios curvados.
Depois de um tempo, a carruagem entrou numa bifurcação e parou diante de uma floresta, onde os Guardas Sombrios restantes já aguardavam há muito. Após se reunirem, trocaram os cavalos imediatamente. Chu Xiang ergueu Yue Lingxi com cuidado, montou atrás dela e cavalgou à frente. Os demais seguiram um a um, até que restaram apenas Liu Yin e Shu Ning na estrada escura da floresta.
— Vou te ajudar a subir.
Liu Yin sabia que Shu Ning sabia cavalgar, mas era pequena demais para montar com facilidade. Quando viajaram para Jiangzhou, ele a erguia no cavalo e ela o provocava com brincadeiras. O breve contato físico passava sem constrangimentos. Mas agora, ao estender a mão, ela se afastou como se tivesse levado um choque.
— Eu... eu consigo sozinha.
Um traço de pânico brilhou nos olhos de Shu Ning antes de ser rapidamente disfarçado. Liu Yin viu tudo com clareza, mas antes que pudesse se aproximar, ela já havia subido no cavalo com mãos e pés e disparado, chicoteando o animal com pressa e nervosismo.
A mão de Liu Yin ficou suspensa no ar por um tempo, até que ele apertou as rédeas com força. O padrão espiralado e áspero das cordas fez suas palmas doerem levemente. A dor não desapareceu quando ele a alcançou — ao contrário, intensificou-se e chegou ao coração.
Capítulo 94: Ataque Inimigo
Após vários dias de viagem apressada, Chu Xiang e Yue Lingxi finalmente se aproximavam da fronteira do Yi Ocidental. No entanto, não esperavam que as tropas de Tuoba Jie os perseguissem incansavelmente. Familiarizados com o terreno, avançavam quase duas vezes mais rápido. Se não fosse pelas armadilhas de distração que Chu Xiang espalhou ao longo do caminho, já teriam entrado em combate direto.
O centopeia morre, mas não cai — Tuoba Jie ainda tinha forças para alcançá-los mesmo em meio ao caos. Talvez por suas raízes profundas, mas o principal motivo era claro: ele já havia descoberto a presença de Chu Xiang. Por isso, não soltava o rastro. Os dois viajavam dia e noite, mas o caminho de volta parecia interminável.
Naquela noite.
A lua brilhava intensamente, pendurada no centro do céu cor de tinta. As montanhas ondulantes ao longe, antes apenas contornos borrados, agora estavam envoltas em prata — uma beleza serena. As árvores verdes por todo o vale pareciam cobertas de flores de pereira, e ao caminhar entre elas, o perfume era constante.
No vale, o som dos cascos foi diminuindo aos poucos.
Chu Xiang puxou as rédeas e parou diante de uma caverna coberta por trepadeiras. Os Guardas Sombrios atrás dele desmontaram com agilidade e entraram. As botas curtas pisavam em pedras soltas e galhos secos, produzindo estalos nítidos. Chu Xiang não se distraiu — olhava diretamente para Yue Lingxi em seus braços.
— Vamos descansar aqui um pouco.
Yue Lingxi ergueu a cabeça, com expressão abatida. À luz da tocha, seu rosto simples estava coberto de suor, os lábios pálidos. Não falou por um bom tempo. Ao ver isso, Chu Xiang franziu ainda mais o cenho. Sem esperar resposta, a ergueu do cavalo e entrou na caverna.
Os Guardas Sombrios agiram rápido. Em pouco tempo, limparam um espaço e espalharam palha seca e almofadas macias e confortáveis. Yue Lingxi havia cavalgado a noite inteira, o corpo rígido, e assim que se deitou, ficou imóvel. Chu Xiang enfiou a mão em sua manga e sentiu umidade antes mesmo de procurar com cuidado.
O ferimento havia reaberto.
Chu Xiang virou o rosto e olhou. Os guardas imediatamente se viraram e formaram uma parede humana, bloqueando todas as frestas. Ao mesmo tempo, Shu Ning entregou o unguento que carregava. Chu Xiang o pegou e reaplicou o remédio sob a luz do fogo.
O clima estava quente e úmido, e Yue Lingxi usava apenas uma camisa fina de seda roxa, com mangas largas como asas de borboleta, fáceis de enrolar até os ombros. Mas o interior das mangas já estava manchado de sangue. O coração de Chu Xiang afundou, e seus movimentos tornaram-se ainda mais delicados.
Yue Lingxi pareceu sentir sua tensão e abriu os olhos lentamente:
— Sua Majestade, já chegamos à Floresta Cangye, ao sul de Wuzhou?
Chu Xiang respondeu com um som breve e continuou a desenrolar as ataduras do braço dela. Não desviou o olhar nem por um segundo — as feridas, antes cicatrizadas, voltavam a sangrar, apertando seu coração.
Ela nunca permitiu que um médico examinasse sua mão. Se continuasse assim...
Chu Xiang não quis pensar mais. Silenciosamente tratou os ferimentos, depois beijou sua testa suada. Ouviu-a murmurar:
— Aqui não é seguro. Vamos seguir viagem.
— Durma.
Chu Xiang disse apenas uma palavra e, com firmeza e cuidado, a empurrou de volta para a almofada. Ordenou que os guardas apagassem a tocha, mostrando que estava decidido a descansar ali. Yue Lingxi nunca foi boa com palavras, e com os ferimentos, não podia resistir. Só lhe restava fechar os olhos obedientemente.
A brisa suave entrava no vale, roçando folhas e galhos, trazendo uma atmosfera tranquila e pacífica, com o som leve da areia.
Por tantos dias, evitavam cidades, comiam rações secas e dormiam em casas de camponeses ou templos simples — muito distante da vida luxuosa do palácio. Mas Chu Xiang não demonstrava qualquer desconforto. Pelo contrário, oferecia a Yue Lingxi o cuidado mais completo possível. Sempre que pensava nisso, o coração dela se apertava levemente.
Ele era o imperador que detinha o poder do mundo. Se não fosse por ela, por que sofreria tanto?
Yue Lingxi se aproximou de Chu Xiang e segurou sua mão esquerda. Embora o gesto fosse suave como uma carícia, Chu Xiang sorriu com o carinho espontâneo.
— O que foi?
— Você não tem dormido bem esses dias. Descanse um pouco.
Dizendo isso, Yue Lingxi tentou cobri-lo com seu manto, mas Chu Xiang a impediu, temendo que ela agravasse o ferimento. Puxou o manto sobre si e depois a envolveu em seus braços.
— Durma primeiro. Não se preocupe comigo.
Yue Lingxi ficou em silêncio por um tempo, mas não o obedeceu. Em vez disso, virou-se e chamou:
— Shu Ning, traga os papéis.
Shu Ning respondeu suavemente, tirou alguns pedaços quadrados de papel de bordas ásperas da bolsa e os entregou a Chu Xiang. Ele liberou uma das mãos e virou o primeiro. A caligrafia infantil saltava da página, mas os traços eram feitos com extremo cuidado. Colinas, árvores e rochas estavam todos claramente desenhados, dispostos em padrão regular.
— Isso é...
— É o remanescente que mencionei antes — disse Yue Lingxi, com voz fraca e exausta, mas cada palavra era precisa. — Segundo os livros antigos, há cem anos, quando a tribo Yi e os Nan Yue estavam em guerra, o chefe montou um labirinto gigantesco na Floresta Cangye, baseado nos princípios dos Cinco Elementos e Oito Trigramas. Ele matou oitenta mil soldados de elite de Nan Yue. Mais tarde, a situação saiu do controle e acabou ferindo seus próprios homens, então o chefe fugiu com seus soldados, deixando esse remanescente enterrado até hoje.
Chu Xiang entendeu imediatamente o que ela queria dizer:
— Você quer usar isso para lidar com os homens de Tuoba Jie?
Yue Lingxi assentiu e continuou:
— Desenhei esse mapa com base na memória. Ele mostra apenas uma parte da formação, mas é suficiente para lidar com eles. Observei cuidadosamente o caminho que percorremos e só precisamos mover algumas pedras nesses pontos para ativar o labirinto.
Assim que terminou de falar, Chu Xiang fez algumas marcações no papel e o entregou diretamente aos Guardas Sombrios. Vários vultos escuros desapareceram da caverna em direção aos locais indicados.
— Agora podemos descansar tranquilos, certo?
Chu Xiang lançou um olhar oblíquo para Yue Lingxi, com um leve brilho de alegria nos olhos, como se estivesse provocando. Ao ver isso, Yue Lingxi se recostou calmamente em seu peito e suspirou suavemente:
— Não é que eu não confie em você, só não quero que fique tão cansado.
Ele já havia se preocupado demais ao longo do caminho, e ela queria dividir um pouco do fardo.
— Se você se recuperar logo, já será um grande alívio para mim.
Yue Lingxi ficou ligeiramente surpresa, mas logo envolveu o pescoço de Chu Xiang. Seu corpo parecia se encaixar no dele, inseparáveis. Sob o toque gentil dele, ela logo mergulhou num sono profundo e doce.
A lua subia sobre a montanha fria, projetando sombras longas e espaçadas. Se não estivessem em terra estrangeira, teria sido uma noite perfeita.
Yue Lingxi não sabia quanto tempo havia dormido, mas ouviu o som de roupas se roçando, como se Chu Xiang tivesse se levantado e ido a algum lugar. A corda em seu coração foi repentinamente puxada, dissipando toda a sonolência. Num instante, acordou e olhou à frente com os olhos enevoados.
A caverna estava escura e silenciosa, como sempre. No entanto, lampejos de luz atravessavam as frestas das trepadeiras. Chu Xiang estava não muito longe, firme e sereno como uma rocha.
— Sua Majestade...
As duas palavras, leves como uma pluma, estavam prestes a sair de seus lábios. De repente, uma luz fria atravessou as trepadeiras, carregando uma força poderosa e indo direto em direção a Chu Xiang. Ele foi pego de surpresa ao se virar para olhar Yue Lingxi, que havia aberto a porta dos fundos da caverna. O rosto dela mudou subitamente, e antes que pudesse gritar um aviso, Chu Xiang se moveu meio passo e girou rapidamente, agarrando a flecha de aço reluzente!
Foi um susto.
Atrás de Yue Lingxi, uma onda de calor a envolveu, sem se dissipar por muito tempo. Ela parecia paralisada, incapaz de se mover. Chu Xiang lançou a flecha ao chão e voltou para ela. O som metálico ecoou pela caverna. Ele já havia se agachado e limpava o suor frio de sua testa.
— Não tenha medo.
A flecha quase o perfurou — como ela não teria medo?
Yue Lingxi respirou fundo, e sua mente clareou instantaneamente. O som de armas se chocando do lado de fora tornava-se cada vez mais agudo, como se pudesse romper a montanha e alcançá-los a qualquer momento. Pensou que os assassinos deviam estar entre os que os perseguiam, mas como ainda não haviam atacado diretamente, significava que o labirinto estava funcionando.
Chu Xiang parecia entender o que ela pensava e a confortou em voz baixa:
— Não se preocupe. Os Guardas Sombrios cuidarão do resto.
Yue Lingxi assentiu e se levantou da almofada. De repente, uma ideia lhe ocorreu e ela se virou para perguntar:
— Liu Yin não está aqui?
Ela se lembrava vagamente de não ter visto Liu Yin desde que entraram no vale, mas estava tonta na hora e não prestou atenção. Agora percebia que ele não teria partido sem motivo. Devia ter sido enviado por Chu Xiang para alguma missão.
Não era à toa que ele lhe pedira para descansar tranquila. Ela deveria ter entendido antes — sabendo que o inimigo estava atrás, como ele não tomaria precauções?
Chu Xiang segurou sua cintura, os lábios finos se curvaram:
— Ele ainda está em Fancheng.
Era a cidade que haviam atravessado três dias atrás. Neste momento, Liu Yin estava emboscado com uma dúzia de Guardas Sombrios na estrada obrigatória para quem seguia rumo ao sul.
Num momento tão crítico, era arriscado enviar um terço dos homens para outra missão — mas Chu Xiang fez isso mesmo assim. Tuoba Jie continuava enviando perseguidores, como ervas daninhas que não se queimam. Só cortando sua rede de rastreamento poderiam eliminar o perigo futuro.
Por isso, Liu Yin contornou o grupo mais próximo e esperava o próximo em Fancheng. Se a emboscada fosse bem-sucedida, os que chegassem nos dias seguintes perderiam completamente o contato com eles — e não poderiam mais rastrear Chu Xiang.
Plano traçado, só aguardando o vento leste.
Os Guardas Sombrios já eram elite entre os melhores, capazes de enfrentar dez inimigos sozinhos. Além disso, estavam bem preparados. Quando dezenas de assassinos da Torre Mingyue avançaram pela estrada oficial, foram imediatamente cercados e atacados.
— Emboscada!
O líder gritou, sacou a espada e apontou para o céu. Os demais avançaram com ferocidade, atacando os Guardas Sombrios, que os cercavam como uma fortaleza. O ímpeto era feroz, e os Guardas Sombrios igualmente hábeis, brandindo suas espadas com agilidade extrema. A cada golpe, sangue escorria e flores vermelhas se espalhavam.
Os dois lados lutavam intensamente, e por um tempo era impossível prever o vencedor. Liu Yin, que comandava de um ponto elevado, virou-se e viu uma faca especial de nove argolas nas mãos do líder dos assassinos. Sempre que atacava, os anéis prateados embutidos na lâmina tilintavam — como um espírito maligno vindo cobrar uma alma.
Ele reconhecia aquela arma.
A expressão de Liu Yin ficou fria. Sacou sua espada longa e avançou para o combate, exalando uma intenção de matar que não podia ser contida.
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