30 – Flores no Espelho e Lua na Água (2)


 A mulher permanecia em pé sobre a arena, e quando as cores ao redor se dissiparam, sua verdadeira aparência foi revelada. Sua túnica cinza estava manchada de sangue pelos golpes de chicote, os cabelos despenteados, parecendo ainda mais abatida do que a derrotada.

No entanto, seu olhar seguia calmo, sem qualquer sinal de hesitação.

Duan Xiangrao, que havia sido derrubada pelo bastão de Zanxing, lutava para se levantar. Após um tempo, foi amparada por discípulas companheiras, olhando para Zanxing com incredulidade.

— Como isso é possível…

Com sua cultivação já no estágio avançado da Fundação, como poderia ser derrotada por Yang Zanxing?

— A luta terminou — disse Zanxing, com firmeza. — Sou eu quem vai para a seita interna.

Essa competição já era injusta desde o princípio, e as regras não eram exatamente razoáveis. A sorte desempenhava um papel significativo no sorteio, e, teoricamente, alguém como Duan Xiangrao, com seu nível de cultivo, não teria dificuldade para entrar no grupo das trinta melhores. No entanto, acabou emparelhada com Zanxing. Quando dois cultivadores fortes se enfrentam, só pode haver um vencedor — deixando o outro com o gosto amargo do arrependimento.

No caminho da cultivação, além de cultivar o corpo e a mente, é preciso cultivar as oportunidades. Às vezes, é justamente uma pequena diferença que faz alguém perder a chance de se alinhar com o Dao.

Mesmo que Duan Xiangrao estivesse relutante, a avaliação havia chegado ao fim.

A lista dos trinta discípulos aprovados para a seita interna foi anunciada. Tian Fangfang veio ajudar Zanxing a descer do palco. Ao pisar fora da arena, Zanxing percebeu que suas costas estavam encharcadas de sangue.

Ziluo explicou os próximos passos, incluindo a realocação das acomodações. Dos 120 novos discípulos, apenas trinta se tornaram parte da seita interna. Os outros noventa precisariam desocupar as cabanas de madeira onde estavam alojados.

Ao retornar, Zanxing cruzou com Duan Xiangrao, que havia acabado de terminar de arrumar suas coisas e estava prestes a sair. Ao ver Zanxing mancando, não disse nada — apenas lançou um olhar cheio de rancor e frustração, passando direto por ela.

Duan Xiangrao havia feito de tudo para entrar no Portão Taiyan, com a esperança de romper seus limites na cultivação. Ser detida ali, naquele ponto, enchia seu coração de arrependimento. Mas Zanxing também não tivera escolha.

Tian Fangfang ajudou a encher a banheira com água quente, e Zanxing retirou as roupas, mergulhando o corpo por completo.

A água corrente da montanha era rica em energia espiritual. Embora não fosse um banho medicinal propriamente dito, ainda trazia benefícios para seu corpo recém-machucado. Zanxing jamais havia apanhado antes em toda a sua vida, e a dor dos golpes de chicote nas costas começava agora a se dissipar, fazendo com que ela respirasse fundo de alívio.

Com o quarto finalmente vazio, Zanxing apoiou os braços na borda da tina de madeira, soltando um longo suspiro.

Agora, ela havia se tornado uma variável no livro Nove Céus, e a obra original faria de tudo para apagá-la da existência. Mas… ao tocar a Pérola Xiao Yuan, que pertencia originalmente ao protagonista, aconchegada contra seu peito, ela sabia — instintivamente — que a pérola a protegeria.

Foi sob essa proteção que ela fez avanços consecutivos, encontrou o Bastão de Colheita de Flores Qing’e e até mesmo compreendeu rapidamente a técnica Flores no Espelho e Lua na Água, com a orientação dela.

A Pérola Xiao Yuan protegeria instintivamente seu dono — fosse ela Mu Cengxiao ou Yang Zanxing. E justamente por causa dessa proteção, a narrativa original se voltaria com mais força para erradicar sua existência.

Era um ciclo de morte sem solução.

Zanxing de repente se lembrou de algo e olhou para a palma da própria mão. Mais cedo, no refeitório, uma marca vermelha havia aparecido bem no centro, e agora, observando com atenção, ela parecia um pouco mais profunda.

O que é isso?

Esfregou com força, mas a marca não saía. De alguma forma, ela lhe causava uma inquietação difícil de explicar.

Nesse momento, bateram à porta. Zanxing se levantou, vestiu algumas roupas às pressas e foi atender. Do lado de fora, Ziluo entrou carregando uma pilha de roupas.

— Irmã Júnior Zanxing — disse Ziluo, colocando as roupas sobre a mesa e sorrindo —, agora que você é discípula da seita interna, não precisa mais usar a túnica cinza da seita externa. Aqui estão algumas roupas. Se não gostar, pode usar pedras espirituais para comprar outros modelos na Cidade Pingyang, aos pés da montanha. As aulas também mudam. Esses são os cronogramas comuns para discípulos da seita interna. Quando tiver tempo, dê uma olhada.

Zanxing agradeceu e perguntou:

— Irmã Sênior Ziluo, sobre o ferimento no meu rosto…

— Perguntei ao Mestre — explicou Ziluo. — A energia demoníaca do “Yu” é especialmente densa, bem mais do que em outras bestas demoníacas. Medicamentos espirituais comuns, mesmo os de grau elevado, talvez não sejam eficazes. Mas não se preocupe, vim justamente hoje para falar disso. Troque de roupa e venha comigo — vamos ver alguém.

— Está bem — respondeu Zanxing.

As vestes da seita interna eram realmente diferentes das da seita externa. A túnica cinza original já era bastante suave, mas essa nova parecia não pesar nada. O tecido era mais fino, e a cor, um tom elegante de sálvia com um toque acinzentado sobre o verde-claro, transmitia uma sensação etérea e onírica.

No geral, o estilo era minimalista.

A túnica ainda trazia o bordado de uma fênix, e a faixa de cabelo da mesma cor era adornada com algumas pérolas pequenas, adicionando um toque de delicadeza.

Depois de se trocar, Zanxing partiu com Ziluo.

A brisa fria da noite de outono envolvia as duas enquanto caminhavam pela trilha da montanha, coberta por névoa. O aroma de canela preenchia o ar, tornando cada passo um deleite — mesmo que não estivessem em um retiro espiritual.

Enquanto andavam, Ziluo explicava:

— Na nossa Seita Taiyan, o mestre tem sete discípulos. Então, temos sete Tios Marciais. O Irmão Sênior Yueguang, que você viu antes, é um deles. Você verá os outros durante as aulas. O que vamos encontrar agora é o Quarto Tio Marcial.

Passando por um pátio externo, chegaram a um pequeno templo.

O templo não parecia grande, com um grande caractere vermelho “丹” (dan) escrito na placa acima da porta. Dois pequenos incensários estavam colocados na entrada, com chamas tremeluzentes embaixo. Assim que entraram no pátio, o ar estava visivelmente mais quente do que do lado de fora.

Uma criança pequena, usando um gorro, avistou Ziluo na porta e gritou:

— Mestre, a Irmã Ziluo chegou!

— Entrem — respondeu uma voz levemente rouca vinda de dentro.

Zanxing e Ziluo adentraram o salão. O ambiente era pouco mobiliado, sem sequer uma mesa ou cadeira, transmitindo simplicidade e austeridade. No centro do salão havia um enorme forno alquímico, com cerca da altura de uma pessoa, de onde saía fumaça, com fogo crepitando embaixo.

Sentado diante do forno estava um homem usando túnica amarela e um chapéu com véu preto, bordado com um símbolo redondo de Taichi¹ no centro. Seu rosto era marcado por manchas negras e roxas, como se tivesse sido queimado pelo fogo. Parecia ter entre quarenta e cinquenta anos, com os cabelos grisalhos amarrados em pequenas tranças na parte de trás da cabeça. Um fio de capim pendia da sua boca, enquanto ele jogava casualmente frutas espirituais dentro do forno, cantarolando e balançando o corpo com tanto entusiasmo que parecia prestes a cair no fogo a qualquer momento.

— Esse é o Quarto Tio Marcial Li — explicou Ziluo.

Era Li Danshu, o quarto discípulo do Mestre Shaoyang Zhenren, especialista em alquimia.


¹ Símbolo circular preto e branco do yin-yang.


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