No dia da entrada na montanha, o tempo estava excepcionalmente bom.
Trinta discípulos receberam cada um uma pequena bolsa de brocado branco bordada com fênixes. Ziluo sorriu e disse:
— Esta é uma Bolsa Qiankun¹, mas é uma bem comum. Só pode guardar até dez itens no total, e uma vez que você colocar algo dentro, não poderá tirar até o retorno. Então, a menos que tenha algo precioso, não coloque nada nela. Senão, vai desperdiçar espaço e não poderá culpar ninguém além de si mesmo.
Zanxing apertou a Bolsa Qiankun e a examinou de todos os ângulos. A bolsa tinha o tamanho de uma palma, era macia ao toque. Ela tentou enfiar os dedos, sentindo uma leve sensação fria e vazia por dentro, e rapidamente os retirou.
— O Monte Gufeng está cheio de feras. Essas feras geralmente dormem durante o dia, então lembrem-se de andar devagar. Saibam que devem sair antes do pôr do sol. Caso contrário, quando a lua subir e as feras despertarem, a montanha ficará muito perigosa — Ziluo disse, olhando para a entrada da floresta densa à frente. Com um movimento de suas longas mangas, ondulações surgiram ali, como se alguma restrição tivesse sido removida.
— Podem ir. Lembrem-se: devem voltar antes do pôr do sol.
Zanxing arrumou sua Bolsa Qiankun e seguiu os outros para dentro da floresta fechada.
O Monte Gufeng era extremamente perigoso.
Talvez porque poucos leigos se aventurassem ali, exceto os discípulos da seita, até as trilhas eram temporariamente improvisadas. Um teleférico de madeira pendia entre dois penhascos, e os discípulos subiam um a um. O teleférico balançava e rangia. Ao olhar para baixo, tudo que se via era névoa e nuvens rodopiando sem fim, sem fundo à vista.
Zanxing pensou:
Ainda bem que não tenho medo de altura.
As estações ali também eram estranhas. Pouco antes, haviam passado por um lugar onde flores brilhavam intensamente, mas no instante seguinte, os degraus de pedra estavam cobertos de neve, parecendo jade frio e esparso. Na encosta, cresciam árvores e cipós estranhos, além de rochas ásperas, tudo refletindo-se mutuamente.
De repente, ouviram o grito de um pássaro, e todos olharam para cima para ver uma sombra longa passando pelos picos, vindo de longe. Tinha o tamanho de um grou cinzento, penas negras e olhos surpreendentemente vermelhos. A grande ave pairou diante de todos por um momento, bateu as asas e voou para longe.
— O que é aquilo? — Tian Fangfang se perguntou. — Não parece um pássaro comum.
Um discípulo respondeu:
— O Compêndio Ilustrado dos Mil Itens do Monte Gufeng diz: Na terra de Taiyin, onde se acumula o gás de cadáveres, ele se transforma num Pássaro Rakshasa, capaz de mudar de forma e devorar olhos humanos. Pelo que está na ilustração, deve ser o Pássaro Rakshasa.
Os outros discípulos, ao ouvirem, apertaram o cabo de suas armas, dizendo:
— Há muitas feras nesta montanha. Melhor não nos separarmos. Vamos ficar juntos, assim pelo menos um vigia o outro.
Em terreno desconhecido, estar em grupo dá certo conforto, e Zanxing pensou o mesmo inicialmente. Até que viu o grupo começar a colher ervas medicinais.
O Compêndio Ilustrado dos Mil Itens do Monte Gufeng documentava milhares de espécies da flora e fauna. Era impossível memorizar tudo, mas pessoas modernas educadas tinham alguma facilidade para resumir. Geralmente, quanto mais colorido fosse algo, mais venenoso tendia a ser; quanto mais única a aparência, mais perigosa poderia ser.
Mas esses novos discípulos pareciam preferir colher as coisas mais chamativas. Zanxing tentou alertá-los, mas não adiantou. Todos queriam achar algo diferente para guardar nas Bolsas Qiankun. Desprezavam as ervas comuns, mas eficazes.
E assim, um garoto recém-chegado foi mordido por uma cobra logo ao colher uma planta.
Um grupo se juntou em volta do garoto, causando alvoroço. A cobra foi morta; sua aparência era exuberante, claramente não uma cobra comum.
— Não se preocupe, Irmão Júnior — disse um sênior bem intencionado — vou sugar o veneno da cobra para você. — Ele levantou a calça do garoto e estava prestes a se inclinar.
Zanxing: “…”
Essa era realmente uma história de realização de desejos, ao ponto de faltar lógica e senso médico, além do preparo ser tão superficial. Zanxing não suportou e gritou:
— Esperem!
Todos a olharam confusos.
— Não se suga veneno de cobra — disse Zanxing, pegando um pedaço de corda do sênior próximo e entregando. — Amarrem isto firmemente em volta do ferimento.
Se eles demorassem para colher as ervas, toda a seita já estaria jantando quando retornassem.
— Que bobagem é essa que você está dizendo? — um discípulo falou. — Se não sugar o veneno, o que faremos se ele morrer?
Hua Yue, observando a situação, interrompeu com indiferença:
— Yang Zanxing, já sabia que você não era só feia, mas também maliciosa. Este irmão júnior não tem nada contra você, e mesmo assim quer prejudicá-lo.
— Verdade, a aparência de alguém reflete seu caráter interior!
Zanxing: “?”
Como ela virou maliciosa? E por que isso virou discussão sobre aparência? Esse ódio parecia meio forçado.
Enquanto pensava nisso, outra voz veio por trás:
— Nem precisa sugar, essa é uma Cobra Dourada de Manchas de Jade, não é venenosa, conforme o manual.
Zanxing virou-se, e Mu Cengxiao os observava, dizendo:
— Imagino que o sangramento já tenha parado.
O jovem olhou para baixo ao ouvir isso, e realmente, o ferimento da mordida já estava coagulado numa linha clara, quase formando crosta. Coçou a cabeça, envergonhado:
— Ah, acho que julguei rápido demais. Obrigado, Irmão Sênior.
Zanxing olhou para Mu Cengxiao. Não esperava que ele falasse justamente naquele momento para ajudá-la.
Desde que transmigrara para cá, não passara de dez frases ditas ao protagonista original — e todas iniciadas por ela. Será que Mu Cengxiao estava mostrando alguma boa vontade agora? Será que… a trama original não podia suprimi-la, então resolveram promovê-la a protagonista feminina?
Zanxing sentiu um arrepio. Ela não queria ser a nona esposa de Mu Cengxiao.
Vendo Zanxing encarando-o direto, Mu Cengxiao franziu a testa e virou o rosto. Parecia não querer desenvolver nada romântico com ela. Zanxing ficou um pouco aliviada.
Cada um escolheu algumas ervas para si. O apetite aumentava: uns queriam colher frutos espirituais para nutrir qi e sangue, outros buscavam ervas para ajudar em avanços, e alguns estavam ansiosos para experimentar certa flor, tida como equivalente a um elixir de terceiro grau. Todos tinham desejos diferentes e temiam ser prejudicados pelos outros, então os discípulos que tinham prometido ficar juntos de repente se dispersaram.
Zanxing e Tian Fangfang estavam juntos no começo. Depois de alguns passos, Tian Fangfang parou, coçou a cabeça, um pouco embaraçado, e disse para Zanxing:
— Irmã Júnior, estive analisando os diagramas esses dias e marquei as dez ervas mais valiosas. Pretendo colher elas e vender no Pavilhão Dourado... Essas ervas ficam numa direção diferente da sua Ramo da Videira Noturna, então...
Zanxing entendeu:
— Vá em frente.
— Não se preocupe, quando eu colher as minhas, vou procurar você na hora — Tian Fangfang garantiu. — Não vai demorar muito!
— Tudo bem — Zanxing respondeu — Posso me virar sozinha.
Depois de explicar mais algumas coisas para Zanxing, Tian Fangfang partiu. Zanxing olhou para os diagramas em sua mão e suspirou baixinho.
Os Ramos da Videira Noturna crescem na beira do Pântano Negro, onde há muita miasma, dificultando o crescimento de plantas comuns. Outros discípulos não iriam para aquela direção procurar ervas. Então, estava destinado que ela fosse sozinha.
¹ A Bolsa Qiankun é um item mágico que pode armazenar muitos objetos num espaço pequeno.
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