37 – Saindo da Montanha (1)


 No salão principal da Seita Taiyan, vários discípulos seniores estavam reunidos.

Ziluo bateu o pé ansiosamente.

— Discípulos seniores, precisamos pensar em uma solução—

— Que solução existiria? — o Quarto Tio Sênior, Li Danshu, ajeitou seu véu com calma. — Vocês sabem o quão terrível é o Monte Gufeng à noite. Há mais de vinte anos, um grupo de novos discípulos entrou na montanha. Um deles, confiando em seu alto nível de cultivo, alimentava a ganância no coração. Mesmo após o pôr do sol, ele permaneceu na floresta. Quando o Mestre da Seita liderou uma equipe para resgatá-lo, não só seu cultivo foi destruído, como também perdeu um braço. Nunca mais pôde cultivar.

Do outro lado, o Terceiro Tio Sênior, Cui Yufu, perito em talismãs, bufou com desprezo.

— Isso ainda é sorte. Mais de uma década atrás, um discípulo quis colher frutos espirituais para alquimia. Aproveitando-se da distração dos outros, ele entrou sorrateiramente na montanha e assustou a fera feroz, o Garfo Medicinal de Duas Cabeças. Foi dilacerado ao meio, seu qi foi devorado, restando apenas um monte de ossos. Depois desse incidente, o Mestre da Seita proibiu a entrada no Monte Gufeng após o pôr do sol.

— A irmã júnior Zanxing não é uma pessoa gananciosa — explicou Ziluo. — Ela deve ter encontrado algum problema lá dentro. Tio Sênior — olhou para Li Danshu — se não fosse pela busca pelo Ramo da Videira Noturna, a irmã júnior Zanxing não estaria em perigo. Eu não me importo, vocês têm que pensar numa solução!

Li Danshu pigarreou.

— Como eu saberia... cof, Ziluo, eu também quero ir resgatá-la, mas não posso revogar a proibição do Mestre da Seita!

— De fato — suspirou o Daoísta Yueguang. — Ziluo, não complique para o seu tio sênior.

— Está dizendo que ninguém pode revogar a proibição do Mestre da Seita? — retrucou Ziluo. — Se o Mestre da Seita se fecha para o mundo e um discípulo está em perigo, a Seita Taiyan simplesmente vai ficar de braços cruzados, recusando ajuda?

— Se o Sétimo Irmão  Júnior estivesse aqui, talvez houvesse chance — o Daoísta Yueguang balançou a cabeça — mas...

Ele já havia saído da seita há um ano, e ninguém sabia quando retornaria.

— Por enquanto, só podemos esperar que a garota seja esperta o suficiente para sobreviver à noite — disse o Daoísta Yueguang. — Quando amanhecer e a proibição for suspensa, entraremos juntos na montanha para procurá-la.

Cui Yufu derramou água fria sobre suas palavras, sem emoção.

— Quando chegar a manhã, provavelmente essa garota será só um monte de ossos. Em todos esses anos, exceto o Mestre da Seita e o Sétimo Irmão Júnior, ninguém passou a noite no Monte Gufeng sem sofrer dano algum.

Ziluo estava fervendo de impaciência, mas se sentia impotente.


A geada formada por poeira tornou-se orvalho branco, escorrendo pelas largas folhas das árvores e pingando na ponta do nariz de alguém.

O nariz da mulher se mexeu levemente, e de repente um espirro ecoou por toda a manhã:

— Ah-choo!

Zanxing abriu os olhos e olhou para o horizonte distante.

À medida que a luz das estrelas desaparecia junto com a noite, ela foi saudada pela névoa branca que envolvia o Monte Gufeng, e pela estátua gigante de dragão ao fim dos picos, símbolo da Seita Taiyan.

Ela levantou a cabeça, enxugou o rosto, levantou-se, sentindo-se levemente surpresa. Sem perceber, a noite tinha passado.

Na noite anterior, havia caminhado com o ovo dourado e, de alguma forma, se perdido. Pretendia descansar sob uma árvore, mas nem sabia quando havia adormecido. Ah, sim, o ovo. Zanxing baixou o olhar para o ovo firmemente agarrado em seus braços. À luz do dia, o ovo dourado havia perdido muito do brilho e já não estava quente. Parecia agora um simples ovo decorativo.

Mas graças a esse ovo, ela não congelou nem ficou doente na noite passada.

Zanxing olhou ao redor e, à luz do dia, o Monte Gufeng retornara à sua beleza habitual, como um paraíso banhado pelo brilho da manhã. Ziluo havia mencionado que o Monte Gufeng era muito perigoso à noite, com feras rondando. Ainda assim, apesar de ter caminhado por muito tempo na noite anterior e dormido sob uma árvore, ela permanecera ilesa.

Será que a Pérola Xiao Yuan estava secretamente protegendo-a?

Bem, não importava. Ela tinha passado a noite em segurança e, agora que era dia, reuniria coragem para deixar o Monte Gufeng. Quando voltasse para a Seita Taiyan, com certeza faria Hua Yue pagar por suas ações desprezíveis.


Na hora do Dragão, o galo pousou em um galho e começou a cantar com precisão.

A lua minguante se escondeu atrás das nuvens, e um raio de sol surgiu lentamente entre os picos, lançando um brilho flamejante.

O sol nasceu e as nuvens fervilhavam em cores.

Ziluo, que estivera cochilando, despertou sobressaltada e se levantou rapidamente para acordar os que dormiam ao redor:

— Tios seniores, amanheceu! A proibição foi suspensa!

— Já foi suspensa? — Li Danshu esfregou os olhos e olhou pela janela. O sol o cegou e ele disse:

— Ah, já está tão tarde.

— Apresse-se — Ziluo puxou a manga de Li Danshu, levantando-o do chão — A irmã junior Zanxing ainda está na montanha, vá salvá-la...

— Salvar quem? — Uma voz surgiu atrás dele, com uma risada provocativa:

— Ziluo, por que tanta pressa? Para onde vai?

Ziluo virou-se surpresa. Um homem de meia-idade entrou. Vestia uma túnica marrom de linho grosseiro, sobrancelhas e olhos claros e elegantes, cabelos longos presos com uma presilha da mesma cor, e uma barba pontuda no queixo, conferindo-lhe um ar travesso. À primeira vista, parecia um estudioso ou contador de histórias.

— Quinto tio? — Ziluo ficou pasma — Você não foi viajar com o Sétimo tio? Por que voltou? — Seu coração vacilou — Será que...

— O quê? — Uma voz jovem e clara veio de fora, com um tom arrogante: — Você só o recebe bem, mas não a mim?

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