5 – Fuga (1)


 A cortina d’água voltou ao seu estado calmo.

Na areia macia da caverna, duas gotas de sangue haviam manchado o solo, formando pequenas crostas carmesim.

Zanxing, encostada à beirada da fenda na pedra, examinava sua mão ferida, com a aparência bastante desleixada.

O que poderia ser mais constrangedor do que sair cheia de confiança, planejando uma grande investida, apenas para ser severamente espancada por um monstro?

Levar um tapa direto no rosto foi doloroso — genuína e completamente doloroso.

Na história original, possuir a Pérola Xiao Yuan significava poder fazer praticamente qualquer coisa, certo? Então por que não estava funcionando com ela? Se não tivesse se esgueirado desesperadamente de volta para a fenda no momento crítico — onde Yu não podia entrar — talvez já estivesse morta.

Mas... isso não fazia sentido!

Momentos atrás, ela claramente havia tocado o corpo de Yu. Era difícil descrever aquela sensação. Era como esmagar algodão-doce que ainda não se formou — pegajoso e denso. Seu punho de fato despedaçou o corpo de Yu. No entanto, após aqueles pontos pretos se dispersarem como um enxame de formigas, eles rapidamente se reagruparam.

Aquela criatura era imortal.

Não importava quantas vezes ela tentasse golpear o monstro com os punhos, era inútil. Era incrivelmente frustrante.

Zanxing sentou-se contra a parede da caverna, percebendo que a história original não dava muitos detalhes sobre esse monstro. A maior parte da narrativa se concentrava no processo de cultivo do protagonista, deixando pouca informação sobre os pontos fracos da criatura.
Será que ela realmente não tinha nenhuma fraqueza?

Zanxing abaixou a cabeça, encarando o chão. Ali, sua sombra balançava levemente com a brisa que soprava da cortina d’água.

— Pelo menos minha sombra não aparece na água — murmurou para si mesma. Embora conseguisse desviar da areia cuspida pela boca do monstro, fazer sua sombra evitar com precisão também parecia difícil.

Espera aí… a sombra?

Aquela criatura gostava de atirar areia nas sombras das pessoas. Será que ela própria não tinha uma sombra?

Num lampejo de inspiração, Zanxing virou a cabeça e a pressionou contra a borda da fenda, espiando para fora. Debaixo d’água, a figura borrada do monstro passava ocasionalmente.

Antes, seria difícil enxergar com clareza. Mas talvez, graças à influência da Pérola Xiao Yuan, agora ela conseguia perceber até os menores detalhes. Foi então que notou uma pequena forma escura pendurada sob Yu, parecendo uma cauda.

Essa sombra era diferente do corpo de Yu. Era mais escura e parecia mais sólida. Tinha o tamanho aproximado de uma palma. À primeira vista, era fácil ignorá-la, mas ao olhar com atenção, a diferença se tornava clara.

Seria essa a sombra de Yu?

Se fosse, então aquele monstro era extremamente astuto. Seu corpo real parecia etéreo como uma sombra, enquanto sua sombra era bem mais concreta. Yu gostava de se esconder na água e atacar sombras. Se essa sombra fosse realmente seu ponto fraco, Zanxing se perguntava se poderia usá-la para derrotar a criatura.

Contudo, ela olhou para sua mão ferida. Se aquela sombra se comportasse da mesma forma que o corpo da criatura — desaparecendo ao contato e se recompondo depois — o que poderia fazer? Além disso, não havia armas ou objetos por perto.

Você simplesmente não poderia jogar areia, poderia?

O monstro jogava areia nela, e ela jogaria areia de volta. O que era aquilo, uma briguinha de criança?

No entanto, a areia dentro da caverna era bem mais adequada do que aquela gosma negra que Yu lançava. Não tinha aquele fedor repulsivo e parecia relativamente limpa e seca. Zanxing se agachou no chão, pegou um punhado de areia e observou os grãos escorrerem por entre os dedos. De repente, teve uma ideia.

A fenda estava logo à sua frente; o monstro, com seu corpo gigantesco e mutável, conseguia deslizar facilmente pela fenda vinda de fora. Porém, a caverna dentro da fenda e a cortina d’água do lado de fora eram dois reinos distintos. Inicialmente, ela acreditava que fosse obra da Pérola Xiao Yuan, mas durante o confronto com o monstro, ele não havia demonstrado nenhum sinal de medo. Se não fosse a Pérola, então a caverna só continha essas pedrinhas brancas.

Será que Yu hesitava em entrar por causa desses grãos de areia?

Ela deixou um pouco de areia sobre a ponta do dedo e se aproximou da fenda. Quando o monstro passou mais uma vez, ela lançou repentinamente os grãos em direção àquele pequeno ponto negro.

Durante a luta com o monstro, Zanxing havia percebido que seus olhos pareciam conseguir enxergar uma forma de qi emanando de seu corpo. Se quisesse, podia manipular esse qi.

Naquele instante, o qi transportando os grãos de areia voou diretamente em direção àquela pequena sombra negra, atingindo o centro com precisão.

Um grito áspero e desagradável ecoou, acompanhado por uma agitação violenta da criatura. A água espirrou em todas as direções, criando um redemoinho que quase derrubou Zanxing, que ainda estava agachada na frente da fenda.

Com a confiança renovada, ela cuspiu no chão, pegou um grande punhado de areia branca e o espremeu pela fenda. Como quem joga bolas de neve, arremessava blocos de areia contra o monstro — agora em aparente frenesi — mirando naquele pequeno ponto de sombra vital.

Num instante, uma enorme coluna de água disparou em direção ao céu, e o mundo submerso estremeceu violentamente.

……

À beira d’água, a superfície permanecia calma e imperturbável. Um pássaro melodioso cantou duas vezes do alto de uma árvore, lançando um olhar lateral para a pessoa agachada junto ao riacho.

A jovem criada ajoelhava-se junto à água, suas lágrimas caindo pesadas sobre o solo.

Atrás dela, o velho cocheiro suspirou e chamou:

— Hong Su, venha para cá. É perigoso.

— Mas a senhorita ainda não saiu — Hong Su enxugou os olhos, embaçados pelas lágrimas — eu não posso ir embora.

— A senhorita não vai sair — a expressão do cocheiro estava tomada de tristeza — Já se passaram seis dias. Mesmo que o monstro não a tenha matado, ela já teria…

Viver debaixo d’água por seis dias era impossível. A carruagem da família Wang já havia partido, restando apenas os dois criados da família Yang, teimosamente esperando. Mas todos sabiam que era uma esperança vã.

Hongsu não conseguiu conter as lágrimas e cobriu o rosto, chorando alto:

— Senhorita… nossa senhorita se foi!

Enquanto soluçava e chorava, de repente, uma voz familiar ecoou:

— Com licença, mas…

Hongsu parou, abaixou as mãos e viu uma jovem de roupas verdes à beira do riacho. Suas vestes estavam manchadas com grandes porções de lama preta, exalando um cheiro horrível. Um raio de sol incidia sobre ela — seus olhos ainda brilhavam como antes, e seus lábios levemente curvados expressavam uma mistura de curiosidade e preocupação.

Ela perguntou:

— Você não tem medo de ser pega por um monstro, sentada tão perto da água?


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