Capítulo 1 a 3


 He’an é uma cidade costeira, e as nuvens flamejantes do entardecer de verão são as mais deslumbrantes, como se um pincel gigante tivesse varrido o horizonte, tingindo o céu em uma magnífica pintura a óleo.

A delegacia estava silenciosa, com apenas Rao Shishi, a policial de plantão, apoiada sobre a mesa de atendimento. Ela ergueu as pálpebras para lançar um olhar às nuvens do lado de fora da janela. Sua mente vagava até o romance que havia lido na noite anterior, e não pôde deixar de resmungar em silêncio sobre a história em ritmo tão arrastado, perguntando-se se a atualização daquela noite finalmente revelaria o capítulo em que os protagonistas resolveriam seu mal-entendido.

— Com licença, meu pai está aqui? — uma vozinha doce e aguda de criança ecoou pelo vazio do saguão de atendimento.

Rao Shishi se endireitou, mas não viu ninguém. Inclinando-se, notou uma pequena figura diante do balcão, tão baixa que sequer alcançava o tampo. Não estava claro como a criança havia entrado sem fazer barulho.

— Pequena, o que você deseja?

As mãozinhas rechonchudas da criança agarraram a beira da mesa enquanto ela se apoiava na ponta dos pés.

— Estou procurando meu pai.

— Quem é seu pai? — Rao Shishi achou um pouco estranho que uma criança tão nova dissesse “pai” em vez de “papai”.

— Zhong Jin — respondeu a menina.

Rao Shishi piscou.

— Zhong Jin? Diretor Zhong… Seu pai é o Diretor Zhong Jin? — sua voz se elevou levemente, tingida de surpresa. O Diretor Zhong estava lotado em He’an havia um ano, mas ela jamais ouvira dizer que ele tinha uma filha.

A criança não respondeu, apenas encarou Rao Shishi com grandes olhos escuros e brilhantes.

Rao Shishi saiu rapidamente de trás da mesa. De pé, percebeu o quão pequena era a menina — mais baixa até que o golden retriever da loja de macarrão com frutos do mar. Devia ter apenas três ou quatro anos.

Mesmo que o Diretor Zhong tivesse uma filha, será que a deixaria vagar sozinha por aí?

Agachando-se, perguntou:

— Pequena, de onde você veio?

— Do Palácio Demoníaco.

Rao Shishi ficou sem palavras por um instante.

— …E qual é o seu nome?

— Zhong Yuntong.

— Zhong Yuntong, você se lembra do número de telefone da sua mãe ou do seu pai?

— O que é telefone?

Rao Shishi ficou atônita.

Comunicar-se com uma criança tão nova era praticamente impossível. Colocou a menina sentada em um banco do saguão, entregou alguns lanches que havia levado consigo e foi verificar as câmeras de segurança para descobrir de onde a criança tinha vindo.

As imagens não mostravam qualquer sinal da menina, e também não havia registro de desaparecimento infantil na delegacia.

Rao Shishi voltou até ela e se agachou outra vez.

— Vou perguntar de novo: quem é seu pai?

Chupando um pirulito, a garotinha baixou as pálpebras e balançou as perninhas curtas.

— Zhong Jin.

Rao Shishi pegou o celular, encontrou uma foto de identificação do Diretor Zhong e mostrou para a menina.

— É ele?

Zhong Yuntong tirou o pirulito da boca e declarou em alto e bom som:

— É sim.

Rao Shishi respirou fundo, abriu a câmera do celular e tirou uma foto da criança. Em seguida, enviou a imagem ao Diretor Zhong com uma mensagem cuidadosamente redigida:

[Diretor Zhong, esta criança afirma ser sua filha. No momento, ela está na delegacia. Por favor, oriente como devemos proceder.]

A foto e a mensagem foram enviadas, mas não houve resposta imediata, como se tivessem desaparecido no ar.

Rao Shishi afagou gentilmente os cabelos lisos da menina.

— O Diretor Zhong está em reunião na secretaria municipal hoje. Pode demorar um pouco para ele responder. Você consegue esperar com paciência?

— Consigo — suspirou a garotinha, antes de entregar um biscoito de arroz para que Rao Shishi o abrisse e colocasse em sua boca.

Rao Shishi observou a menina com mais atenção. Ela era muito bonita, com olhos brilhantes e cabelos negros reluzentes presos em adoráveis maria-chiquinhas com fitas. Usava uma jaqueta tradicional chinesa, lembrando uma boneca de pintura de Ano-Novo.

Mesmo que não fosse filha do Diretor Zhong, alguém certamente cuidava bem dela, provavelmente vinda de uma família abastada.

A menina também não era nada tímida. Depois de terminar o biscoito, entregou a Rao Shishi uma ameixa seca para abrir. A acidez fez seu rostinho redondo se contrair todo.

Vendo sua reação, Rao Shishi estendeu uma lixeira.

— Cuspa aqui.

A criança balançou a cabeça, as bochechas estufadas, mastigando e engolindo a ameixa com bravura.

— Pelo menos cuspa o caroço — suspirou Rao Shishi.

A menina a fitou com os olhos escuros.

— Eu já engoli.

Embora não tivesse muita experiência com crianças, Rao Shishi se lembrou de quando também engolira um caroço de ameixa na infância. Os adultos a haviam assustado, dizendo que uma árvore cresceria em sua cabeça, mas nada acontecera. Então, concluiu que a pequena também ficaria bem.

Ainda assim, confiscou o restante das ameixas secas.

Zhong Yuntong bebeu um iogurte, perguntando-se se seu pai, o Senhor Demônio, ainda se lembrava dela.

Ela havia sido, originalmente, um Cão Demoníaco da Nuvem Celestial criado pelo Senhor Demônio. Enquanto outras bestas espirituais lutavam ao lado de seus mestres — especialmente as da raça demoníaca, que muitas vezes empunhavam poderes sombrios imensos, misteriosos e formidáveis — Zhong Yuntong era o oposto.

Desde pequena, fora mimada por seu pai, crescendo forte e vistosa, mas sem grandes habilidades. Seu talento mais marcante era causar confusão no palácio, e ainda assim seu pai a elogiava como uma boa menina.

Ela vivera como encrenqueira no Palácio Demoníaco, sem saber que o mundo exterior havia mudado drasticamente. Seu pai, o grande Senhor Demônio, fora morto pela Raça Imortal. Quando a notícia chegou ao palácio, Zhong Yuntong caiu em prantos.

Espalhou suas enormes asas cinza-prateadas e voou para fora do Palácio Demoníaco, seguindo o cheiro até o mundo humano, acabando por localizar a Delegacia do Distrito de He’an, onde o aroma de seu pai era mais forte.

Mas seu pai havia renascido como humano e, por lógica, não tinha lembrança da vida anterior. Provavelmente nem se lembrava dela.

Ao pensar nisso, Zhong Yuntong sentiu uma pontada de tristeza. Seu amado pai talvez a tivesse esquecido.

Nesse momento, o celular de Rao Shishi tocou. Era o Diretor Zhong.

Ela atendeu, e a voz fria de Zhong Jin ecoou do outro lado:

— Essa criança está apenas inventando coisas. Faça o possível para encontrar os pais dela.

— Entendido, Diretor Zhong — respondeu Rao Shishi, instintivamente endireitando a postura e falando em voz clara e firme.

Ao ouvir isso, Zhong Yuntong imediatamente escorregou da cadeira e correu até o balcão de atendimento, ficando na ponta dos pés para perguntar em voz alta:

— Esse é o meu pai?

Depois que Zhong Jin desligou, Rao Shishi voltou a se agachar diante dela.

— O Diretor Zhong disse que não é seu pai. Quem são seus pais? Diga a verdade.

A criança, sem saber como explicar uma situação tão complicada, cerrou os punhos e repetiu em voz alta:

— Ele é o meu pai.


Naquela tarde, Rao Shishi revisou minuciosamente as gravações das câmeras próximas e ligou para seu colega Xiao Wang, que estava em patrulha, pedindo que ele ajudasse a contatar as delegacias vizinhas para verificar se havia algum registro de criança desaparecida.

Mas nada foi encontrado. A menina parecia ter surgido do nada.

Rao Shishi e Xiao Wang não tiveram escolha senão entrar em contato com o centro de perícia, pedindo que fizessem hora extra para coletar uma amostra de DNA da criança e compará-la.

Extrair DNA exigia coleta de sangue, mas Zhong Yuntong tinha pavor de agulhas. Assim que viu a seringa, disparou correndo — e, surpreendentemente, a garotinha era tão rápida que três adultos não conseguiram alcançá-la.

Rao Shishi então encontrou uma solução.

— Seu pai não a reconhece mais, não é? Se tirarmos seu sangue, poderemos provar que você é filha dele, e aí ele vai reconhecê-la.

Ao ouvir que isso a ajudaria a reencontrar o pai, Zhong Yuntong logo cedeu. Reunindo coragem, estendeu o bracinho para a moça de jaleco branco.

— Seja gentil, por favor.

— Claro, vou ser bem gentil. Não olhe, apenas conte até dez em voz alta e já terá acabado — tranquilizou a perita com paciência.

Zhong Yuntong ficou ainda mais nervosa.

— Mas eu não sei contar até dez.

A doutora sorriu com doçura.

— Ah, ainda não entrou na pré-escola? Você é muito corajosa, andando por aí sozinha tão pequena sem ter medo. É uma verdadeira aventureira.

Enquanto conversavam, a atenção de Zhong Yuntong foi desviada, e a coleta de sangue foi feita sem dificuldades.

O resultado do exame de DNA levaria dois dias. Rao Shishi não ousou incomodar Zhong Jin novamente, então ligou para a vice-diretora Mao Feixue para explicar a situação e perguntar como proceder quanto ao acolhimento da criança.

O departamento já havia lidado com casos parecidos, e Mao Feixue tinha alguma experiência.

— Há uma creche particular na Estrada Oeste da Orla chamada Creche Pequeno Sol. As professoras de lá são muito responsáveis. Vamos deixá-la lá por enquanto. As despesas ficam a cargo do departamento, e os pais reembolsam depois que forem encontrados.

Após desligar com Mao Feixue, Rao Shishi deu um tapinha no ombro de Xiao Wang.

— Vamos para a Estrada Oeste da Orla.

A menina, no colo de Xiao Wang, imitou o gesto de Rao Shishi e também deu tapinhas no ombro dele.

— Quero comer aquilo.

Seguindo o dedinho indicador de Zhong Yuntong, havia uma pequena barraca vendendo salsichas grelhadas, cercada por um grupo de crianças do primário tagarelando.

— Como você já está com fome de novo? — perguntou Rao Shishi.

— Deixa ela comer uma. Que criança resiste à tentação de uma salsicha de amido? — disse Xiao Wang.

— Você não faz ideia de quantos lanches ela já comeu hoje. Esvaziou minha caixa de petiscos inteira — resmungou Rao Shishi, mas, na verdade, acabou cedendo e caminhou até a barraca.

Quando Rao Shishi e Xiao Wang, ambos de uniforme, se aproximaram do carrinho, o vendedor achou que eram fiscais da prefeitura e imediatamente começou a empurrar o carrinho para fugir.

— Calma, estamos aqui só para comprar uma salsicha — disse Rao Shishi, interrompendo-o.

No fim, todos comeram salsichas grelhadas. Rao Shishi e Xiao Wang pegaram uma cada um, enquanto a pequena Zhong Yuntong ficou com duas, segurando uma em cada mão e alternando as mordidas.

Com receio de serem vistos de uniforme, Rao Shishi e Xiao Wang se esconderam atrás de um canteiro de flores com Zhong Yuntong para comer.

A garotinha enfiou a cabeça para fora.

— Não quero me esconder aqui.

Xiao Wang esticou a mão e empurrou suavemente a cabecinha dela de volta.

— Anda logo e come — apressou Rao Shishi. — O Diretor Zhong está em reunião na secretaria municipal hoje. Se ele nos pegar comendo salsicha em horário de serviço, estamos perdidos.

A secretaria de segurança pública e o centro de perícia ficavam logo do outro lado da rua, então o risco de serem flagrados era realmente alto.

— Isso mesmo, vamos comer rápido — concordou Xiao Wang imediatamente.

Xiao Wang tinha mais medo do Diretor Zhong do que de qualquer outra coisa. Na verdade, o diretor raramente se irritava e, em geral, era bastante acessível. Mas Xiao Wang não conseguia se livrar da sensação de que ele era profundo e calculista, diferente da vice-diretora Mao Feixue, que era muito mais fácil de lidar.

Xiao Wang terminou sua salsicha em poucas mordidas, pulou do canteiro e se preparou para carregar Zhong Yuntong. Mas, ao olhar para o lado, o espaço estava vazio.

— Cadê a menina?

Rao Shishi também entrou em pânico.

— Ela estava aqui agora mesmo. Para onde foi?

Os dois procuraram ao redor do canteiro e até perguntaram ao vendedor de lanches, mas Zhong Yuntong não estava em lugar nenhum — como se tivesse desaparecido no ar.

Zhong Yuntong agora tinha seguido o faro até o Departamento Municipal de Segurança Pública, confiando no cheiro do pai. Era meio embaraçoso, na verdade. Como um Cão Demônio das Nuvens Celestiais, Zhong Yuntong deveria ter um olfato incrivelmente aguçado. Mas essa pequena tinha passado tempo demais brincando durante o treinamento, o que resultou em suas habilidades de farejar serem bastante incertas — na maioria das vezes, falhando. Mesmo com o pai por perto, só quando Rao Shishi a lembrou é que ela se concentrou e conseguiu, com muita dificuldade, captar o cheiro dele.

Seguindo o cheiro pela rua, não teve muita dificuldade em entrar no prédio do Departamento de Segurança Pública. Uma vez lá dentro, o cheiro do pai ficou ainda mais forte. Zhong Yuntong, agarrando dois espetinhos de salsicha pela metade, subiu as escadas até o segundo andar ofegante. As pernas de uma criança humana eram tão curtas — subir escadas era um verdadeiro suplício. Quando ainda tinha quatro patas, escadas como essas não eram nada.

Ela avistou um policial fardado usando o mesmo tipo de boné que Rao Shishi e os outros, então chamou:

— Com licença, tem um Zhong Jin aqui?

O policial nem tinha notado a presença dela, mas ao ouvir a voz, virou-se e viu uma menininha parada ao lado da escada.

— Ué, como você entrou aqui?

Zhong Yuntong fixou seus grandes olhos escuros nele:

— Estou procurando por Zhong Jin.

— Ah, Zhong Jin? Ele está na sala de reuniões do terceiro andar. Por que você está procurando por ele?

Zhong Yuntong esticou os braços:

— Me leva até lá.

O policial ficou sem palavras.

Alguns minutos depois, o policial subia até o terceiro andar carregando Zhong Yuntong nos braços e bateu na porta da sala de reuniões.

A porta da pequena sala se abriu, e o policial entrou com a criança no colo. As três pessoas lá dentro se levantaram imediatamente e o cumprimentaram respeitosamente:

— Diretor Lu.

Zhu Qun, chefe do departamento de propaganda, lançou um olhar intrigado para a criança nos braços do diretor e perguntou:

— Diretor Lu, de quem é essa criança?

O Diretor Lu deu uma balançadinha na menina e riu:

— Vê se a pessoa que você está procurando está aqui.

— Me põe no chão — pediu Zhong Yuntong.

O Diretor Lu a colocou no chão, e a criança se virou, entregando-lhe os espetinhos de salsicha.

— Segura pra mim. Não come.

O Diretor Lu ficou sem reação.

Assim que as salsichas estavam em segurança nas mãos dele, Zhong Yuntong se virou e foi direto até Zhong Jin, diretor da Delegacia do Distrito de Haining. Abraçou a perna dele e caiu no choro:

— Papai!

Todos na sala ficaram atônitos. Zhong Jin, o homem em questão, estava completamente confuso.

— Espera aí, quem é você?

Ao ouvir isso, Zhong Yuntong percebeu que seu pior medo tinha se tornado realidade — o pai não a reconhecia. Ela chorou ainda mais alto, encharcando a calça do uniforme de Zhong Jin com lágrimas. Estava tão desesperada que quase escorregou até o chão, mas suas mãozinhas se agarravam firmemente à perna dele.

Incomodado com o choro, Zhong Jin ralhou:

— Para de chorar! Se explica primeiro.

Sem nenhuma experiência com crianças, instintivamente usou o mesmo tom que usaria com um suspeito.

O Diretor Lu, ainda segurando as duas salsichas, interveio:

— Por que está gritando com ela? Nessa idade até ir ao banheiro merece elogio. Pra que ser tão duro?

Os braços de Zhong Jin ficaram rígidos.

— Então o que é que eu faço?

Sendo pai, o Diretor Lu tinha mais experiência com crianças.

— Primeiro, pega ela no colo e acalma. Depois que parar de chorar, você pergunta o que está acontecendo.

Zhong Jin não gostava de crianças. Ao ver a menininha com o rosto todo sujo de lágrimas e ranho, só de imaginar segurá-la já ficava incomodado. Relutante, pousou as mãos sobre os ombros dela, afastando-a um pouco, e se agachou até ficar na altura de seus olhos.

— Olha bem. Eu não sou seu pai.

A criança gritou de volta:

— É sim! Você é Zhong Jin. Eu sou Zhong Yuntong, sua filhinha!

Zhong Jin ficou mortificado.

Os outros oficiais do departamento observavam a cena com diversão.

— Eu não sou o pai dela — insistiu Zhong Jin, com as orelhas ficando vermelhas de vergonha.

O Diretor Lu riu e concordou:

— Crianças são assim. Confundem pessoas parecidas. O pai dela deve ser tão bonito quanto o nosso Diretor Zhong.

Zhong Yuntong gritou novamente:

— Eu não confundi! Ele é meu pai!

Foi só então que Zhong Jin se lembrou da mensagem que Rao Shishi havia enviado mais cedo — uma criança tinha ido à delegacia atrás dele, insistindo que era seu pai, até com foto. Zhong Jin nem tinha aberto a foto, e não tinha ligado os pontos de que aquela pequena chorona era a mesma da mensagem. Pegou o celular e discou o número de Rao Shishi.

Naquele momento, Rao Shishi e o Pequeno Wang estavam vasculhando as ruas à procura da criança desaparecida. Pequeno Wang até se debruçava sobre a grade de um bueiro.

Rao Shishi revirou os olhos:

— Ela não ia entrar aí. Não é um rato.

Nesse instante, o celular de Rao Shishi tocou. Ao ver que era Zhong Jin, um mau pressentimento lhe atravessou. Fez um gesto para o Pequeno Wang, sussurrando:

— É o Diretor Zhong.

E atendeu a ligação.

Antes que Zhong Jin pudesse dizer qualquer coisa, Rao Shishi ouviu uma voz alta e decidida do outro lado da linha:

— Você é meu pai!

Rao Shishi ficou sem palavras.


Rao Shishi e Pequeno Wang esperaram do lado de fora do departamento por um tempo, até que viram uma figura alta e magra sair a passos firmes. Era ninguém menos que o Diretor Zhong — só que hoje ele vinha com um “apêndice” nos braços.

O tal apêndice sorriu para eles:

— Viram? Meu papai.

Estava orgulhosa de si mesma por ter encontrado o pai sozinha.

O rosto do Diretor Zhong escureceu.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Pequeno Wang se apressou em explicar:

— Diretor Zhong, estávamos levando essa criança para coletar DNA, mas ela escapou quando a gente se distraiu.

Rao Shishi acrescentou com um sorriso constrangido:

— Pois é, essa menina é que nem cachorro — se você solta por um segundo, já desaparece.

O Diretor Zhong permaneceu em silêncio, com a expressão fechada.

Rao Shishi tentou amenizar:

— Ainda bem que ela correu justamente pro senhor, Diretor Zhong. Se tivesse se perdido de verdade, ia ser bem mais problemático. Haha...

Quando parecia que iam escapar da bronca, o Diretor Lu saiu correndo do prédio, segurando duas salsichas mordidas pela metade.

Os olhinhos brilhantes de Zhong Yuntong se iluminaram, e ela esticou os braços em direção a ele:

— Minha carne!

Os olhos de Rao Shishi se moveram rapidamente, e ela disse depressa:

— Ah, é mesmo. Essa pestinha ficou pedindo linguiça mais cedo, então o Pequeno Wang comprou duas pra ela.

Pequeno Wang lançou um olhar fulminante. Traidora.

A troca entre os dois não escapou do olhar de Zhong Jin, mas ele não estava com paciência para lidar com esse tipo de bobagem. Entregou a criança para Rao Shishi:

— Leve-a de volta.

Zhong Yuntong, que estava feliz da vida mordendo a linguiça, entrou em pânico ao pensar que seria abandonada de novo. Imediatamente agarrou o pescoço de Zhong Jin com mais força. Para piorar, ainda segurava a linguiça, e a gordura estava prestes a sujar a roupa dele.

Zhong Jin, que tinha verdadeira aversão a sujeira, acabou cedendo rápido:

— Tá bom, tá bom. Você vem comigo.

Zhong Yuntong entrou toda contente no SUV de Zhong Jin, ainda mordiscando sua linguiça. Generosa, ofereceu:

— Quer um pedaço?

Zhong Jin a encarou com frieza:

— Termina logo isso.

Assim que acabou, Zhong Jin jogou o espeto no lixo e limpou as mãos dela com um lenço umedecido do carro. Só então ligou o motor e saiu dirigindo.

Os grandes olhos redondos de Zhong Yuntong examinaram o interior do carro:

— Carrão novo?

— Passageira não fala com o motorista.

Zhong Yuntong se calou. O sono já batia, mas ela não ousava fechar os olhos, com medo de que seu pai sumisse se adormecesse. Segurava as pálpebras com as mãozinhas para se manter acordada.

Seguindo o endereço que Rao Shishi havia mandado, Zhong Jin dirigiu até a Creche Pequeno Sol, na Estrada Oeste da Orla. Por sorte, a creche funcionava 24 horas. A professora, assustada no começo ao ver o uniforme de Zhong Jin, logo os recebeu calorosamente depois de ouvir a situação.

Zhong Yuntong prestou atenção na conversa e percebeu que o pai estava prestes a deixá-la lá de novo. Imediatamente começou mais um escândalo de choro — o que desencadeou um efeito dominó nas dezenas de crianças da creche. O barulho era ensurdecedor, e Zhong Jin sentiu que seus tímpanos iam explodir.

Depois de um impasse que durou mais de dez minutos, Zhong Jin finalmente desistiu e levou a criança de volta com ele.


Zhong Jin morava no Conjunto Residencial Fuding, um arranha-céu no centro da cidade. Seu apartamento ficava na cobertura: três quartos, dois banheiros, com acabamento moderno padrão da construtora. O lugar parecia novo, mas era quase vazio, com poucos móveis.

Zhong Yuntong andava pelo apartamento com as mãos para trás, refletindo: Esse palácio é tão vazio… A vida do meu papai é tão triste.

Zhong Jin sentou-se no sofá, ficou em silêncio por um tempo e então chamou a garotinha descalça:

— Qual é o seu nome?

— Zhong Yuntong.

— Qual é o nome do seu pai?

— Zhong Jin.

— …E o da sua mãe?

— Senhora.

Zhong Jin ficou em silêncio por alguns segundos.

— Você sabe onde mora?

— Palácio do Deus Demônio.

Zhong Jin acenou com a mão, impaciente:

— Vai brincar.

Zhong Yuntong, ainda com as mãos para trás e descalça, continuou explorando. Espiou a cozinha, não achou nada interessante e entrou no quarto. Virou-se e perguntou:

— Posso dormir?

Zhong Jin lançou-lhe um olhar cansado:

— Não, tem que tomar banho primeiro.

Zhong Yuntong inclinou a cabeça e respondeu séria:

— Eu não tomo banho.

Zhong Jin a encarou em silêncio e suspirou. As coisas estavam saindo do controle. De algum jeito, tinha acabado trazendo aquela criança encrenqueira pra casa e agora não sabia como se livrar dela.

A encrenqueira, totalmente alheia à aflição do pai, acrescentou:

— Tô com fome.

Ela não sentia cheiro de comida nenhuma na casa, o que a deixou insegura. Será que meu papai é tão pobre que nem comida tem?

Zhong Jin a encarou por alguns segundos, levantou-se e foi para o quarto, batendo a porta atrás de si.

Zhong Yuntong correu até lá e tentou empurrar a porta, mas estava trancada. Encostou o rostinho na madeira e sentiu, pela fresta, o leve cheiro do pai. Isso a tranquilizou, e ela esperou quietinha do lado de fora.

Algum tempo depois, Zhong Jin saiu já em roupas casuais e levou Zhong Yuntong com ele.

No pequeno restaurante perto da entrada do Conjunto Fuding, Zhong Jin pediu alguns pratos caseiros. Zhong Yuntong mergulhou de cabeça na comida. Seus hábitos eram peculiares: primeiro cheirava o prato; se fosse carne, pegava com a colher e comia, mas se fosse verdura, também pegava — só que para jogar de lado.

Zhong Jin não tinha energia para corrigir aquele paladar seletivo. Afinal, só planejava ficar com ela alguns dias, até sair o resultado do exame de DNA. Talvez nem isso — quem sabe já no dia seguinte alguém aparecesse registrando uma criança desaparecida.

Ainda assim, algo estava estranho. Pela aparência e pelas roupas de Zhong Yuntong, ficava claro que vinha de uma família rica. Era de se esperar que os pais estivessem desesperados. Mas já se passaram horas e não havia sequer um boletim de ocorrência. Algo não fazia sentido.

Depois do jantar, Zhong Jin levou Zhong Yuntong a um banho público ali perto. Ele mesmo não tinha como dar banho na menina, então não teve escolha.

O lugar oferecia serviço de esfregar, e Zhong Jin pagou por um. Contratou uma mulher mais velha para lavar Zhong Yuntong:

— Não esfrega forte, só passa o sabonete — orientou, lembrando de um caso em que um funcionário de banho público esfregou um cliente até ferir a pele, o que acabou virando briga e registro na polícia.

Zhong Jin sentou-se num banco de madeira do lado de fora, braços cruzados, enquanto ouvia os gritos e choros de Zhong Yuntong lá dentro. Essa menina tem a pele tão delicada… vai sofrer agora.

Mal pensou nisso, a mulher saiu correndo da área feminina, pedindo ajuda:

— Preciso de alguém pra me ajudar a segurar essa menina! Ela tem força de boi e tá tentando me morder!


Afinal, o corpo atual era apenas o de uma criança de três anos. Por mais forte que Zhong Yuntong fosse, não conseguiria vencer duas funcionárias robustas do balneário.

Zhong Jin esperou do lado de fora por menos de uma hora antes que Zhong Yuntong, agora limpa, fosse trazida pelas atendentes. Seu cabelo comprido e úmido estava preso em um coque no alto da cabeça, e suas bochechas estavam coradas de um tom suave de rosa por causa do vapor, fazendo-a parecer ainda mais uma bolinha fofa de massa.

Ao sair do balneário, Zhong Jin levou Zhong Yuntong para uma breve caminhada pela rua. Ao avistar uma loja de roupas infantis, ele a puxou pelo colarinho e arrastou a criança curiosa para dentro.

Do lado direito da loja havia uma fileira de roupas em promoção, com uma placa pendurada no cabideiro: “50% off, liquidação especial.”

Zhong Jin pegou sem muita atenção um conjunto de camiseta e shorts da arara de desconto, estampados com um abacate em desenho animado.

Enquanto passava no caixa, reparou em uma fileira de roupas íntimas pendurada atrás da atendente e apontou para uma com estampa de coelhinho rosa.

— Me dá uma dessas também.

Zhong Yuntong não demonstrou qualquer interesse pelas novas roupas que Zhong Jin havia escolhido. Na verdade, ela não se importava com nenhuma das peças da loja. As roupas que costumava usar eram feitas de tecidos brilhantes, adornadas com bordados delicados e pedras preciosas. Até as criadas que a serviam vestiam trajes mais luxuosos que aqueles.

Depois de pagar, Zhong Jin entregou a sacola de papel para Zhong Yuntong.

— Carregue você mesma.

A menina não pegou a sacola e estendeu os braços.

— Me carrega.

— Anda sozinha — respondeu Zhong Jin, nada disposto a mimar crianças.

Zhong Yuntong então se agarrou firme à barra da calça dele, envolvendo a panturrilha com força como um polvo.

Quando Zhong Jin tentou andar, ela foi sendo arrastada junto. Andar daquele jeito pela rua era embaraçoso demais. Sem opção, ele a ergueu nos braços e a levou para casa.

Com os braços ao redor do pescoço dele, Zhong Yuntong encostou a cabeça no ombro de Zhong Jin e logo adormeceu. Sua respiração ficou pesada, mas os bracinhos continuaram firmes em volta do pescoço dele.

Zhong Jin já havia carregado crianças antes. Em um caso de tráfico humano, ele e outros policiais resgataram mais de uma dúzia de crianças, transportando-as de volta por milhares de quilômetros através de províncias.

Mas carregar Zhong Yuntong era diferente. Havia uma estranha sensação quente em seu peito, algo que ele não conseguia explicar.

No elevador, Zhong Jin se viu refletido nas paredes espelhadas e notou que seu ombro estava encharcado de baba da criança.

……

Zhong Jin fechou os olhos e suspirou. Ele realmente queria saber quem eram os pais de Zhong Yuntong. Pessoas capazes de criar uma criança como aquela certamente não eram comuns.

De volta ao apartamento, Zhong Jin colocou Zhong Yuntong no sofá, jogou um cobertor por cima dela de qualquer jeito e foi tomar um banho.

Enquanto se lavava, jogou suas roupas e o novo conjunto da menina na máquina de lavar, planejando secá-los depois.

Após o banho, Zhong Jin saiu vestindo uma camiseta preta de algodão e calças largas também de algodão. Alto e esguio, sua silhueta se destacava na iluminação suave do cômodo. Ele enxugava os cabelos ainda úmidos com a toalha enquanto se aproximava do sofá, disposto a acordar Zhong Yuntong e vesti-la com o pijama.

Mas o sofá estava vazio. O cobertor, amassado de lado, e a criança havia sumido.

Zhong Jin olhou ao redor da sala e percebeu que a porta do quarto estava aberta — um detalhe estranho, já que ele sempre tinha o hábito de fechá-la.

Entrando no quarto, encontrou Zhong Yuntong estirada na cama, a bochecha amassada contra o cobertor, achatando o rostinho rechonchudo. Os braços e pernas estavam abertos como uma estrela-do-mar, e o cabelo comprido e úmido se espalhava desordenado pelo colchão, deixando uma mancha escura no lençol.

Crianças são criaturas tão trabalhosas.

Zhong Jin se aproximou, sacudiu Zhong Yuntong para acordá-la e levou a menina sonolenta até o banheiro para secar seus cabelos com o secador.

A pequena encrenqueira era baixinha, mas seus longos fios negros demoraram uma eternidade para secar.

Com os olhos fechados, Zhong Yuntong abanava a mão de forma impaciente, pronta para voltar a dormir. Mas Zhong Jin a interrompeu, puxando as roupas dela da secadora.

— Consegue se vestir sozinha?

Meio adormecida, a menina apenas balançou a cabeça redondinha, o corpo mole como um macarrão cozido.

Zhong Jin suspirou. Tudo bem, deixaria que ela dormisse assim mesmo. Arrumaria a cama depois que ela fosse embora.

Assim que Zhong Yuntong voltou para a cama, ela se enfiou debaixo do cobertor e caiu em sono profundo.

Zhong Jin retornou ao sofá, deitou-se e cobriu os olhos com o braço. Costumava ter dificuldade para dormir, mas talvez por causa do dia exaustivo com a pequena encrenqueira, acabou adormecendo rapidamente.

Às 6h30 da manhã, Zhong Jin despertou no horário de costume. Mantinha esse hábito desde os tempos da academia de polícia — acordar cedo para correr sempre que não estava de serviço.

Ao se sentar, sentiu algo em sua testa. Olhando para baixo, viu que Zhong Yuntong, de alguma forma, havia acabado no seu travesseiro, dormindo profundamente como um cachorrinho. Zhong Jin estava espremido na beira do travesseiro, com o pescoço rígido e dolorido por causa da posição desconfortável.

Ele esfregou a nuca, intrigado. Como não havia acordado com toda aquela movimentação?

Com Zhong Yuntong em casa, Zhong Jin não se sentia à vontade em deixá-la sozinha. Assim, sua rotina de corridas matinais, mantida por uma década, foi temporariamente interrompida. Em vez disso, desceu até o supermercado do bairro para comprar uma escova de dentes infantil, pasta e uma toalha.

Por volta das oito da manhã, Zhong Jin trabalhava em seu laptop na mesa de jantar quando viu Zhong Yuntong se sentar de repente, o cabelo desgrenhado, olhando para o nada.

Justo quando Zhong Jin estava prestes a chamá-la, ela murmurou sonolenta:

— Quero fazer xixi.

Zhong Jin largou imediatamente o laptop, correu até ela e a levou no colo ao banheiro.

Depois de uma noite de sono, a blusa de seda de Zhong Yuntong estava toda amassada. Zhong Jin lhe entregou as roupas recém-lavadas.

— Consegue se vestir sozinha?

— Consigo — declarou Zhong Yuntong, cheia de confiança.

Zhong Jin esperou do lado de fora, e logo a menina saiu usando a camiseta de abacate e o shortinho, mas o cós estava torto e ela estava descalça.

Ela ergueu o rosto para Zhong Jin com uma expressão orgulhosa.

Zhong Jin ajeitou o cós da roupa sem dizer nada.

Embora conseguisse se vestir sozinha, Zhong Yuntong não fazia ideia de como usar uma escova de dentes. Zhong Jin tentou ajudá-la a escovar, mas logo o banheiro se encheu de sua voz frustrada.

— Não morda a escova.

— Não engula a pasta. Cuspa fora.

Depois da escovação, Zhong Jin torceu uma toalha morna e passou em seu rosto. A menina fez birra, e mesmo com ele sendo delicado, fingiu chorar de forma exagerada, como se estivesse sendo torturada.

Na hora de sair, Zhong Jin finalmente reparou nos sapatos que ela usava — um par de sapatinhos bordados com cabeça de tigre, largados de qualquer jeito na entrada. A luz fraca do corredor fazia algo nos sapatos parecer brilhar.

Zhong Jin se agachou e pegou um deles para examinar.

Eram feitos de cetim brilhante, com padrões bordados à mão de forma intrincada. No centro da testa de cada tigre havia uma grande conta que emitia um brilho tênue azul-arroxeado.

Com o vasto conhecimento adquirido em sua carreira policial, Zhong Jin reconheceu a pedra como fluorita, que brilhava graças aos elementos de terras-raras em sua composição. Embora não tivesse tanto valor nos dias atuais, a fluorita era historicamente conhecida como “pérola da noite” ou “pérola da lua”, considerada uma gema preciosa.

Além das contas de fluorita, cada bochecha dos tigres era adornada com pequenos pingentes de pérola, lembrando bigodes.

O trabalho artesanal e os materiais daqueles sapatinhos eram refinados demais para serem comuns. Uma investigação sobre a marca ou o artesão por trás deles provavelmente levaria ao comprador.

Zhong Jin colocou os sapatos em um saco de evidências. Levando a descalça Zhong Yuntong nos braços, desceu até uma rua comercial e comprou para ela um par de sandálias plásticas provisórias.


Naquela manhã, Mao Feixue, vice-diretora da Delegacia do Distrito He’an, chegou cedo ao trabalho. Ao se aproximar da entrada, viu sua colega Rao Shishi chegando em uma scooter elétrica.

— Bom dia, Mao — gritou Rao Shishi de longe.

Mao Feixue sorriu e a esperou ao pé da escadaria. As duas subiram juntas em direção à delegacia.

— A propósito, como está a criança que vocês encontraram ontem? — perguntou Mao Feixue de forma casual.

O rosto de Rao Shishi imediatamente se iluminou com um brilho de fofoca. Ela se aproximou mais de Mao Feixue e baixou a voz:

— No momento em que viu o Diretor Zhong, a menina começou a chamá-lo de “papai” e não quis mais soltá-lo. No fim, o Diretor Zhong acabou levando-a para casa.

Mao Feixue franziu as sobrancelhas delicadas.

— Que absurdo é esse?

— É verdade! — insistiu Rao Shishi, os olhos brilhando, realçados pelo delineador que usava naquele dia. — A menina tem o mesmo sobrenome do Diretor Zhong, e é lindíssima, parecia uma princesinha. Não tem como ter sido abandonada. Eu e o Xiao Wang até especulamos… e se ela for, na verdade, filha do Diretor Zhong? Talvez exista alguma história secreta por trás disso.

— Não fale bobagem — repreendeu Mao Feixue.

Rao Shishi queria continuar fofocando, mas um olhar afiado de Mao Feixue a fez se calar. Depois de despachar a colega, Mao não deu muita importância ao assunto. O caso de Zhong Jin na Cidade Jing era algo que só ela conhecia dentro da delegacia. Pelo que havia acontecido lá, era impossível Zhong Jin ter uma filha.

O dia estava cheio de tarefas, e Mao Feixue logo esqueceu a conversa. Pelo menos até o momento em que viu Zhong Jin entrar em sua sala carregando uma criança. Por um instante, ficou atônita.

— De onde saiu essa menina?

Zhong Jin colocou a garotinha no chão.

— Criança perdida. Você sabe fazer penteado? Arrume o dela pra mim.

Mao Feixue olhou para a pequena à sua frente. Ela usava uma camiseta verde amassada de gola redonda, um par de sandálias plásticas que não serviam direito e o cabelo estava tão desgrenhado que parecia ter passado por uma explosão.

Espera aí — não tinha sido a própria Rao Shishi quem disse que a menina estava vestida como uma princesa? Como, depois de apenas uma noite sob os cuidados de Zhong Jin, ela havia se transformado em uma pequena refugiada?


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