Mao Feixue tinha um filho de cinco anos, então, naturalmente, era muito mais experiente em cuidar de crianças do que Zhong Jin. Ela pediu para Zhong Jin sair da sala e trancou a porta do escritório. Primeiro, tirou a roupa da garotinha e percebeu que a calcinha estava vestida ao contrário. Mao Feixue rapidamente a ajeitou. Depois, usou um vaporizador de roupas para alisar a camisetinha e o short antes de vesti-los novamente. As sandálias, que não serviam direito, foram ajustadas apertando as tiras, ficando bem mais confortáveis.
Mao Feixue tinha o cabelo curto e não encontrou nada para prender o cabelo da menina, então a levou até Rao Shishi. Ainda faltavam uns dez minutos para o início oficial do expediente, e Rao Shishi estava escondida atrás da mesa, tomando café da manhã. Tinha dado apenas algumas garfadas no macarrão quando viu Mao Feixue se aproximar com uma criança. Levou alguns segundos para reconhecer Zhong Yuntong.
— Ei, o que aconteceu com você? — perguntou.
Ontem, ela parecia uma princesinha digna, vestida em trajes tradicionais, mas hoje estava com uma roupa extremamente simples. Felizmente, sua beleza ainda se destacava, caso contrário não seria muito diferente das crianças que brincavam no escorregador do lado de fora.
Depois de uma breve explicação de Mao Feixue, Rao Shishi tirou de sua gaveta um pente e alguns elásticos de cabelo. Habilidosa em arrumar cabelos, dividiu rapidamente os fios longos da menina em duas partes e os prendeu em coquinhos bem alinhados. Em seguida, colocou uma presilha de laço cor-de-rosa de um lado.
— Essa criança tem um cabelo lindo — comentou Mao Feixue, sem conseguir se conter.
Rao Shishi suspirou de forma exagerada:
— É mais volumoso que o meu. Totalmente injusto.
Com o penteado pronto, Zhong Yuntong parecia bem mais apresentável. Rao Shishi ainda desenterrou uma pequena bolsinha transversal de tricô — brinde de um iogurte —, ajustou a alça e a pendurou no ombro da menina. Para completar, colocou dentro um punhado de amendoins saborizados.
Assim arrumada, Zhong Yuntong saiu desfilando com sua bolsinha, as sandálias de plástico batendo no chão com barulho, enquanto seguia o cheiro até o escritório do “pai”. Empurrou a porta, e Zhong Jin levantou os olhos da tela do computador, falando com um tom levemente impaciente:
— O que você quer agora?
Zhong Yuntong levou a mão ao laço no cabelo.
— Olha isso.
— Bonito, muito bonito — respondeu Zhong Jin, sem entusiasmo.
Não satisfeita, Zhong Yuntong deu alguns passos à frente e subiu no colo dele. Tirou um amendoim da bolsinha, comeu um e depois tentou enfiar outro na boca de Zhong Jin.
— Não, come você — protestou Zhong Jin, mas antes que terminasse a frase, outro amendoim já tinha sido empurrado para dentro de sua boca.
— Eu não quero.
Veio mais um amendoim.
Tá bom, tanto faz.
Quando Mao Feixue bateu e entrou, deparou-se com a cena de seu chefe, normalmente frio e distante, segurando um pequeno “boneco de neve” no colo, digitando no computador enquanto mastigava amendoins. Ela parou na porta, sem saber se devia ou não prosseguir.
Zhong Jin, também um tanto constrangido, tentou manter a postura séria, colocando uma expressão fria no rosto.
— O que foi? — perguntou.
— Diretor Zhong, o pessoal do departamento de propaganda da cidade está aqui para gravar um vídeo de utilidade pública. O senhor gostaria de ir recebê-los?
Zhong Jin voltou os olhos para a tela.
— Não, você resolve. Se precisar coordenar alguma coisa, faça isso.
Sabendo da aversão de Zhong Jin a conversas sociais, Mao Feixue apenas assentiu.
— Então vou levar a Yuntong comigo. Talvez, se alguém a reconhecer na transmissão ao vivo, possamos encontrar a família dela.
Sem hesitar, Zhong Jin tirou Zhong Yuntong do colo e a entregou para Mao Feixue.
— Leve ela logo, rápido.
Mao Feixue riu enquanto acomodava a menina nos braços.
— Nossa Yuntong é mesmo uma fofura. Vem com a titia, tá bem?
Zhong Jin observou o sorriso radiante de Mao Feixue e não conseguiu deixar de perguntar:
— Ela é mesmo tão fofa assim?
— Você nunca criou uma criança, então não sabe como uma filha é maravilhosa. Elas são carinhosas, delicadas, o tesouro dos pais. Eu sempre quis ter uma menina, mas acabei com um moleque levado.
Zhong Jin ficou em silêncio por um momento.
Mao Feixue logo percebeu que talvez tivesse dito algo inadequado, principalmente diante de alguém que havia perdido uma pessoa querida recentemente. Ainda que sem intenção, suas palavras soaram cruéis.
Zhong Jin, no entanto, manteve a calma. Pegou um saco de evidências da mesa e entregou a Mao Feixue.
— Estes são os sapatos dela. Peça para o Xiao Wang verificar se conseguimos rastrear o comprador. Precisamos nos preparar para as duas possibilidades — caso a comparação de DNA não dê resultado, isso pode ser outra pista.
Mao Feixue pegou a sacola com os pequenos sapatinhos de “cabeça de tigre” e os examinou com atenção. Não conseguiu evitar o pensamento: De que tipo de família essa criança veio? Até os sapatos do dia a dia eram tão elegantes e luxuosos...
O departamento de propaganda da cidade estava produzindo uma campanha de utilidade pública e, recentemente, havia organizado uma equipe para visitar as delegacias da região. As visitas eram transmitidas ao vivo, mostrando o trabalho de cada posto policial, e depois o material seria editado em um vídeo promocional. Naquele dia, estavam filmando justamente na Delegacia do Distrito de He’an.
A câmera mostrou a entrada da delegacia e, em seguida, percorreu o interior, revelando os policiais ocupados em suas tarefas, tudo em perfeita ordem.
A seção de comentários da transmissão estava tranquila, com apenas algumas mensagens ocasionais.
— [“Que tipo de live é essa? Ninguém fala nada.”]
— [“É um vídeo público feito pela polícia da cidade, mostrando a rotina de cada delegacia. Hoje é a do Distrito de He’an. Fica bem em frente à minha casa.”]
— [“Esse tipo de live é meio chato.”]
— [“Então não assiste.”]
Os comentários logo cessaram novamente, enquanto a câmera continuava seu percurso.
De repente, surgiu no quadro uma criança com dois coquinhos no cabelo. Carregava uma bolsinha de tricô com as palavras “Berry Yogurt” estampadas e estendeu um amendoim saborizado para a câmera.
— Quer um?
A câmera balançou de um lado para o outro, recusando.
A menina colocou o amendoim na própria boca, mastigando ruidosamente enquanto encarava a lente.
— Que tipo de monstro é você?
A câmera: “...”
Rao Shishi correu para o enquadramento, pegou Zhong Yuntong e a colocou debaixo do braço.
— Desculpem, pessoal. Essa é uma criança perdida, e estamos tentando localizar sua família. Se alguém a reconhecer, por favor, entre em contato com a Delegacia do Distrito de He’an, na Cidade de Haishan.
Zhong Yuntong, agora segurando firme na cintura de Rao Shishi para se equilibrar, gritou em protesto:
— Não entrem em contato com ninguém!
— [“Hahahaha, que garotinha adorável! Como será que ela se perdeu? Os pais devem estar desesperados!”]
— Posso ficar com essa criança? Já que o país está incentivando as pessoas a terem filhos, eu vou levar essa aqui.
— Hahaha, para de brincar. Vamos todo mundo tirar print e compartilhar pra ajudar a encontrar a família dela logo.
Rao Shishi carregou Zhong Yuntong para fora, e nesse instante o telefone da delegacia tocou. Ela atendeu, colocando no viva-voz já que estavam transmitindo ao vivo. A voz do interlocutor estava distorcida para preservar a identidade.
Uma voz masculina ecoou:
— Policial, meu filho está desaparecido.
Rao Shishi instintivamente lançou um olhar para Zhong Yuntong. Que coincidência — logo depois da transmissão, o pai liga?
— Quando ela sumiu? Como aconteceu? Pode descrevê-la?
— Eu não sei como ela saiu. Só percebemos que não estava em casa. É uma menininha, veste uma camiseta verde com um short combinando, carrega uma bolsinha. Tem a pele clara, cabelo preto e dois coques pequenos.
Ao ouvir a descrição, Rao Shishi quase riu. Um golpista ligando para a delegacia? Que ousadia. Mas esse golpista era mesmo sem noção — não fazia ideia de que a roupa de Zhong Yuntong tinha sido improvisada às pressas por ela e os colegas. Logo na primeira frase já tinha se entregado.
— Por coincidência, temos aqui uma criança perdida que corresponde à sua descrição. Por que você não vem até a delegacia? — disse Rao Shishi.
Talvez por estar fácil demais, ou porque o golpista tenha ficado com medo e não ousou aparecer na delegacia. Depois de um breve silêncio, a ligação caiu de repente.
Rao Shishi balançou o telefone para o Pequeno Wang:
— Pequeno Wang, rastreie esse número.
— Pode deixar — respondeu ele, rindo do golpista trapalhão.
Nesse momento, o celular de Rao Shishi vibrou. Ela pegou e viu uma mensagem de Zhong Jin:
“Não revele o nome verdadeiro de Yuntong nem nenhuma outra informação pessoal na transmissão ao vivo.”
Zhong Jin sempre foi cauteloso, até mesmo em mensagens. Referiu-se a ela apenas como “Yuntong”, evitando usar o nome completo para o caso de a câmera captar a tela.
Rao Shishi acomodou Zhong Yuntong em uma cadeira do saguão e pegou emprestado um tablet de um colega para deixá-la assistir a desenhos, lembrando-a de não sair de perto. Depois de se certificar de que Yuntong estava bem, saiu apressada com os colegas para lidar com outro caso.
Yuntong era de fato muito obediente, ficou sentada com o tablet, concentrada nos desenhos, de vez em quando jogando alguns amendoins na boca. Quanto mais entretida ficava, mais inclinava a cabeça para frente, quase colando os olhos na tela.
Zhong Jin, que conversava com alguém na entrada, a viu de relance. Despediu-se rapidamente e caminhou até ela, segurando-a pela gola da blusa e afastando sua cabeça da tela.
— Chega de assistir. Vai estragar sua vista — disse Zhong Jin, confiscando o tablet.
Sem o tablet, Yuntong ficou meio entediada. Escorregou da cadeira, a bolsinha pendurada no ombro, mastigando amendoins enquanto andava pelo local, curiosa com tudo.
Um policial que ela não conhecia estava mediando uma briga familiar. Um casal discutia, e em vez de tentar acalmar as coisas, a sogra tinha entregado uma faca ao filho. A esposa chamara a polícia, e agora a família inteira estava na delegacia. Os adultos gritavam uns com os outros, enquanto o bebê, com menos de um ano, chorava sem parar.
Yuntong tirou um amendoim da bolsinha e tentou enfiá-lo na boca do bebê, mas uma policial atenta segurou sua mão.
— Bebês não podem comer amendoim — disse ela com suavidade.
Yuntong então colocou o amendoim na própria boca, mastigando pensativa:
— Então o que os bebês comem?
— Bebês só tomam leite — respondeu a policial.
Yuntong se virou e saiu correndo, disparando pelo corredor até abrir a porta da sala do chefe da delegacia. Colocou a cabecinha redonda para dentro e perguntou:
— Com licença, papai, você tem leite? Tô precisando de um pouco.
— ...Não. Cai fora.
— Tá bom, tá bom.
Yuntong correu de volta para onde a família discutia, abrindo os bracinhos em um gesto de desculpas:
— Não deu. Não consegui nenhum leite.
Tong Tong observava um casal discutindo ali perto. Embora não entendesse sobre o que brigavam, ficou na ponta dos pés, esticando o pescoço e assistindo com enorme interesse. O amor inato por fofoca, profundamente gravado em seus genes, tinha despertado.
O Pequeno Wang a encontrou no meio da multidão caótica, agarrou-a e a carregou para fora.
Tong Tong chutava as perninhas curtas, gritando:
— Me solta!
O Pequeno Wang continuou andando com ela nos braços e disse:
— Preciso falar com você.
Ele levou a menina até um homem de meia-idade e apontou para Zhong Yuntong, perguntando:
— Essa é a sua filha?
O homem, de aparência honesta e simples, balançou a cabeça.
— Não.
— Então por que você fez aquela ligação aleatória? Sabe que isso é considerado obstrução ao trabalho policial? Se causar consequências negativas, você pode até pegar detenção administrativa. Entendeu?
O homem abaixou a cabeça, realmente arrependido.
— Me desculpe, policial. É que achei a criança fofa. Pensei que, se ninguém quisesse, eu podia ficar com ela.
O Pequeno Wang ficou sem palavras. Perguntou educadamente:
— O senhor tem algum histórico de doença mental?
— Não, policial. Por que pergunta?
O Pequeno Wang suspirou:
— Às vezes até eu sinto vontade de chamar a polícia por sua causa, sabia?
A transmissão ao vivo de educação legal captou exatamente essa cena, e o chat foi tomado por gargalhadas.
【Hahahaha, nunca mais faço piada. As pessoas honestas levam tudo ao pé da letra!】
【Amigo, quando o governo fala em ter filhos, não é nesse sentido.】
【E aí, qual é o jeito certo então? Vai explicar ou não?】
【Gente, foco. Isso é uma transmissão de educação legal, o que vocês estão fazendo?】
A câmera rodava pela delegacia movimentada, registrando todo tipo de caso bizarro. Um homem exigia compensação porque o cachorro macho do vizinho montara na sua cadela. Outro afirmava que havia um fantasma em casa e insistia que a polícia o capturasse. O policial retrucou gritando:
— Eu não sou padre taoísta!
E ainda tinha quem quisesse que a polícia investigasse quem tinha defecado em frente à sua casa.
O dia a dia de uma delegacia de base era puro caos. Os internautas riam sem parar, enchendo a tela de comentários: 【Que absurdo!】 【Hahahaha!】 【Isso já passou de ridículo.】 Muitos até sugeriram transformar aquilo em uma série fixa de transmissões ao vivo, já que facilmente passaria por um programa de comédia.
Por volta das sete da noite, a transmissão de educação legal chegou ao fim, e os policiais do turno diurno finalmente puderam encerrar o expediente.
Rao Shishi trocou de roupa no vestiário, vestindo roupas casuais. Jogou uma grande bolsa preta no ombro e mandou uma mensagem no celular. Em seguida, tossiu de propósito duas vezes na direção do Pequeno Wang, sinalizando para ele olhar o telefone.
O Pequeno Wang pegou o celular, deu uma olhada na mensagem e digitou uma resposta rápida.
Logo depois, Rao Shishi e Pequeno Wang saíram juntos da delegacia. Já estava escuro lá fora, e o estacionamento estava quase vazio. As sombras das árvores balançavam suavemente, criando uma atmosfera um tanto solitária. Eles pararam sob as sombras do estacionamento.
De pé sob uma grande árvore, o Pequeno Wang disse:
— Você não me contou que era seu aniversário hoje mais cedo. Não preparei nenhum presente.
Rao Shishi deu um tapinha amigável no ombro dele.
— Justamente por isso não falei nada. Não conheço muita gente aqui, então só de vocês se juntarem para uma refeição comigo já é o suficiente.
Enquanto conversavam, Mao Feixue se aproximou, seus saltos altos ecoando forte no asfalto. Caminhou direto até eles e disse, quase repetindo as palavras do Pequeno Wang:
— Por que não avisou que era seu aniversário? Eu conheço um hotpot muito bom. Será que ainda conseguimos mesa? Hoje o jantar é por minha conta, sem discussão.
Mao Feixue puxou o celular, prestes a ligar para o restaurante, mas hesitou.
— Shishi, você convidou o Chefe Zhong?
Rao Shishi balançou a cabeça.
— Não sabia se devia. Ele sempre parece tão frio e difícil de se aproximar... Eu tenho até um pouco de medo. Além disso, mesmo que viesse, todo mundo ficaria desconfortável. Acho melhor não.
— Tudo bem, você que decide — disse Mao Feixue, antes de ligar para o restaurante.
Nesse instante, uma vozinha clara soou atrás delas:
— Onde vocês vão? Eu quero ir também!
As duas se viraram e viram a pequena Tong Tong parada ali. Ela havia corrido pela delegacia o dia todo e agora metade do cabelo estava solto. As sandálias, grandes demais, deixavam os dedinhos escapando pela frente, e a bolsinha caía torta do ombro.
Parecia uma pequena andarilha, mas seus olhos grandes brilhavam de empolgação.
— Eu quero ir também — repetiu Zhong Yuntong.
Mao Feixue cobriu o microfone do telefone e assentiu para ela.
— Claro, você pode vir.
Rao Shishi puxou Tong Tong para perto e a colocou em pé diante de si. Abaixou-se para juntar o cabelo bagunçado da menina e o prendeu novamente.
— Olha só pra você, vivendo como uma pequena vagabunda. Quando é que seus pais vão vir te buscar?
Zhong Yuntong respondeu na hora, em voz alta:
— Eu tenho pai. Meu pai é o Zhong Jin.
— Para de inventar. O resultado do exame de DNA sai amanhã. Quero ver de quem você realmente é filha.
Depois de arrumar o cabelo, Rao Shishi se agachou para ajustar as sandálias de Tong Tong. Ainda estavam grandes, mas ela apertou as tiras o máximo que conseguiu.
Enquanto isso, Zhong Jin ainda estava em seu escritório, revisando alguns documentos enviados pelo departamento municipal. Recebeu uma mensagem de Mao Feixue:
【Chefe Zhong, trouxe a Tong Tong comigo. Ela vai dormir na minha casa hoje, então não precisa se preocupar.】
Zhong Jin respondeu:
【Entendido. Obrigado pela ajuda.】
Depois de enviar a mensagem, sentiu um estranho alívio.
Mao Feixue levou todos de carro até o restaurante de hotpot. A cidade brilhava à noite, e Tong Tong, presa na cadeirinha, grudava o rostinho no vidro, os olhos arregalados diante das luzes movimentadas.
Era hora do jantar, e o restaurante de hotpot estava lotado. As janelas envidraçadas exibiam mesas cheias, e até as cadeiras de plástico do lado de fora estavam ocupadas pelos que esperavam lugar. Felizmente, Mao Feixue havia reservado antes, e o garçom os conduziu até uma mesa junto à janela.
Ao ver uma criança, o garçom rapidamente trouxe uma cadeirinha alta.
Pequeno Wang pegou naturalmente Tong Tong no colo e a colocou na cadeirinha. Em apenas um dia, ele já tinha abraçado de vez o papel de cuidador oficial da menina, desempenhando a tarefa com facilidade.
Mao Feixue e os outros eram apaixonados por pimenta e sempre pediam o caldo vermelho de óleo extra-apimentado. Mas, como havia uma criança com eles naquela noite, optaram por um caldo dividido, adicionando o novo caldo de cogumelos do restaurante.
Tong Tong sentou-se na cadeirinha, sem conseguir alcançar a comida na mesa. Pequeno Wang assumiu o papel de garçom pessoal, pescando os ingredientes do caldo de cogumelos para ela.
Ele lhe ofereceu um pedaço de cogumelo branco, mas Tong Tong balançou a cabeça:
— Não.
Em seguida, ele pegou um pedaço crocante de broto de bambu, mas ela novamente balançou a cabeça:
— Não.
Quando ele levantou uma fatia de carne bovina, Tong Tong imediatamente estendeu a tigelinha:
— Coloca aqui.
Após algumas tentativas, Pequeno Wang começou a entender o padrão. Virou-se para Mao Feixue e reclamou:
— Essa criança é muito exigente. Só come carne.
Tong Tong mastigava feliz uma pata de frango, a boca brilhando de gordura, os olhos semicerrados de tanto prazer. Ao ouvir a reclamação de Pequeno Wang, abriu os olhos por um instante, mas logo voltou à sua pata de frango, completamente indiferente.
Talvez incomodada com o quanto Tong Tong parecia satisfeita, Mao Feixue pegou uma colher, colocou um pedaço de carne nela e ofereceu para a menina:
— Aqui, Tong Tong, abre a boca. É carne!
Tong Tong nem precisou olhar. Pelo cheiro, já sabia que era carne e abriu a boca bem grande, pronta para ser alimentada. Mas, num movimento rápido, Mao Feixue colocou em sua boca um pedaço de verdura fria, escondido na colher.
Zhong Yuntong arregalou os olhos, percebendo que tinha sido enganada. Mas o pai a havia ensinado que, se não gostasse de algo, não precisava comer — porém, uma vez que a comida já estivesse na boca, não poderia cuspir. Então mastigou com força e engoliu o legume.
Rao Shishi levantou o polegar para Mao Feixue.
— Você é boa nisso.
Mao Feixue deu de ombros:
— Ela tem só uns três ou quatro anos. Eu já sou mãe há cinco. Tenho mais experiência.
Mas o truque só funcionou uma vez. Depois disso, Zhong Yuntong ficou esperta e recusou ser alimentada novamente. A partir dali, a comida precisava ser colocada em sua tigelinha, para que ela mesma inspecionasse antes de comer.
Mao Feixue riu e balançou a cabeça:
— Essa garotinha é mais difícil de enganar do que meu filho.
No meio da refeição, chegou uma travessa de bolinhos de arroz glutinoso com açúcar mascavo. Crocantes por fora e macios por dentro, eram regados com calda de açúcar mascavo e polvilhados com farinha de soja. Era a primeira vez que Tong Tong experimentava os bolinhos, e assim que deu a primeira mordida, seus olhos brilharam. Ela balançou a cabeça com entusiasmo, exclamando:
— Delícia!
Ao ver o quanto ela gostou, Pequeno Wang pegou outro pedaço e colocou em sua tigelinha.
Mao Feixue percebeu e interveio imediatamente:
— Só dois pedaços, está bem? Comida grudenta demais é difícil de digerir.
Enquanto os adultos conversavam e comiam distraídos, Tong Tong aproveitou a chance. Pegou um bolinho de arroz com açúcar mascavo com a mão e o escondeu discretamente em sua bolsinha pequena.
O jantar tinha sido por conta de Mao Feixue, e Pequeno Wang originalmente queria encomendar um bolo, mas não havia tempo. Depois de tentar em segredo várias confeitarias pelo celular e descobrir que nenhuma poderia entregar a tempo, sugeriu:
— Que tal irmos jogar um escape room? Por minha conta.
Em Haishan havia um grande clube de escape room, famoso pelos cenários de alta qualidade e histórias envolventes. Vários colegas de trabalho já eram frequentadores assíduos, e Pequeno Wang e Rao Shishi tinham ido duas vezes, mas nunca conseguiram aproveitar totalmente. Então, quando Pequeno Wang propôs a ideia, Rao Shishi aceitou na hora.
Embora fosse alguns anos mais velha que eles, Mao Feixue não era do tipo que estragava a diversão. Concordou rapidamente:
— Vamos!
Os três seguiram em direção ao estacionamento, com Mao Feixue indo à frente para buscar o carro. Pequeno Wang e Rao Shishi pegaram os celulares para olhar os temas disponíveis de escape room, reservando um com antecedência para começar a jogar assim que chegassem.
Quando Mao Feixue tirou o carro da vaga, viu Pequeno Wang e Rao Shishi parados na calçada — mas não havia sinal da criança.
— Cadê a Tong Tong? — perguntou.
Pequeno Wang e Rao Shishi se entreolharam, confusos:
— Ela não estava com você?
O coração de Mao Feixue afundou. Ela ligou o pisca-alerta e encostou o carro na beira da rua.
— Rápido, vamos procurá-la!
Enquanto isso, Zhong Yuntong já tinha alcançado a esquina da rua. Sua bolsinha estava recheada de docinhos deliciosos, e ela pulava alegremente em suas sandálias, que deixavam metade dos dedinhos de fora. Estava a caminho de encontrar o pai, confiante de que ele a elogiaria por ter levado tantas guloseimas para casa.
Não muito tempo depois que a criança se perdeu, Mao Feixue e os outros decidiram não avisar a delegacia local. Em vez disso, se separaram para procurar pelas ruas. Como a criança tinha perninhas curtas e não conseguia andar rápido, pensaram que poderiam alcançá-la rapidamente.
Rao Shishi enviou a foto de Zhong Yuntong para todos, e os três seguraram os celulares, parando pedestres para perguntar se a tinham visto. Mao Feixue conseguiu encontrar alguém que a avistou. O transeunte apontou numa direção:
— Ela foi por ali. Eu a vi andando sozinha e perguntei se estava perdida. Ela disse que ia procurar o pai.
Zhong Jin acabara de voltar da delegacia. Sentou-se no banco do sapateiro na entrada para calçar chinelos. Assim que se levantou, o celular sobre o sapateiro vibrou abruptamente.
Atendendo à ligação, a voz de Mao Feixue soou no telefone:
— Diretor Zhong, a Yuntong se separou da gente. Ela provavelmente está indo para a sua casa. Fique atento.
Zhong Jin olhou para os chinelos que acabara de calçar, sem expressão. Com resignação, trocou de volta para os sapatos de couro e saiu.
Não muito longe do condomínio, Zhong Jin avistou Zhong Yuntong. O cabelo dela estava preso em dois coques pequenos, e ela caminhava com confiança, embora não se entendesse bem do que tanto se orgulhava.
Zhong Jin se escondeu na sombra da parede, pegou o celular e ligou para Mao Feixue:
— Encontrei-a. Ela vai ficar comigo esta noite. Não se preocupe. Certo, tchau.
— Zhong Yuntong! — chamou Zhong Jin, mãos nos bolsos, a silhueta alta iluminada pela luz amarela da rua.
Zhong Yuntong se virou ao ouvir a voz do pai e imediatamente o reconheceu sob o poste de luz, parecendo um gigante. O rosto se iluminou de alegria:
— Papai!
— Onde você foi? — a voz de Zhong Jin estava calma, mas carregava um leve tom de repreensão.
Zhong Yuntong cambaleou até ele:
— Fui comer. — Ela bateu na bolsinha atravessada no corpo e levantou o queixo orgulhosamente. — Trouxe uns doces para você!
Zhong Jin olhou para ela, seus grandes olhos brilhando, como uma criança buscando elogio. A raiva que sentira por ela ter fugido desapareceu, mas ele manteve o rosto sério e falou ríspido:
— Você saiu correndo sem avisar. Sabe quantas pessoas estavam te procurando?
Zhong Yuntong estendeu sua mãozinha macia e segurou um de seus dedos, falando com sinceridade:
— Não seja malvado.
Ela arrastou a mão de Zhong Jin enquanto caminhavam para casa, tagarelando:
— Você é tão malvado que seus amigos não brincam com você e nem te convidam para comer.
Zhong Jin a ignorou, mas ela não se importou e continuou tagarelando:
— Eu trouxe doces para você, então deveria agradecer.
Zhong Jin, “...” Pegou-a no colo e começou a caminhar na direção oposta à de casa.
Os olhos de Zhong Yuntong se arregalaram ao perceber para onde o pai a levava. Imediatamente abraçou o pescoço dele e gritou:
— Eu não quero tomar banho! Não vou!
No calor sufocante, não se banhar significaria feder. Zhong Jin não se deixou persuadir e a levou direto para a casa de banhos.
A atendente da casa de banhos já estava acostumada com situações assim. Chamou ajuda rapidamente, e as duas carregaram a criança gritando para dentro do local.
Cerca de dez minutos depois, uma das atendentes saiu e entregou a Zhong Jin um pedaço frio de bolo de arroz glutinoso:
— A criança insistiu para que eu trouxesse isso para você. Coma enquanto ainda está frio.
O bolo tinha perdido sua forma original, amassado em um pedaço irregular com algumas migalhas desconhecidas grudadas. Zhong Jin aproximou do nariz e cheirou. Estava na bolsinha da criança por algum tempo e agora cheirava a amendoim velho.
Ele jogou casualmente no lixo.
Após encarar o lixo por alguns segundos, pegou algumas folhas e cobriu o bolo. Não queria que a pequena traquina o encontrasse depois e fizesse birra.
A rotina do dia seguiu exatamente como ontem. Zhong Jin levou Zhong Yuntong a uma loja de roupas infantis após o banho e escolheu outro conjunto no setor de descontos. Para ele, parecia déjà vu.
A única diferença foi que, ao passar por uma loja de calçados infantis, Zhong Jin a carregou e entregou aos funcionários, pedindo para que encontrassem um par que servisse bem.
Zhong Jin sentou-se num banco macio para esperar. Zhong Yuntong correu até ele com os sapatos novos, azul-celeste de bico redondo:
— Olha, tem uma florzinha aqui também! — disse, cutucando a florzinha 3D na tira com os dedinhos.
— Servem bem? — perguntou Zhong Jin.
Zhong Yuntong exagerou no gesto:
— Servem super bem!
Zhong Jin não pôde evitar um sorriso:
— Bom, contanto que sirvam.
Os funcionários colocaram as sandálias velhas dela em um saco de papel. Zhong Yuntong pegou o saco sozinha, comportando-se de maneira incomum, diferente de ontem, quando se recusara a carregar suas próprias roupas.
De volta à rua, Zhong Yuntong jogou as sandálias feias de lado e virou-se para Zhong Jin, estendendo os braços:
— Me leva!
Zhong Jin, “...” Caminhou até ela, pegou os sapatos, pensou por um momento e depois os jogou no lixo. Curvou-se, pegou a criança no colo e seguiu para casa.
O clima em Haishan estava incomumente agradável. A luz da manhã atravessava as folhas, espalhando pontos cintilantes no chão.
Nesta luz dourada, Yuntong sentou-se quieta em um banquinho na loja de café da manhã, olhos fixos na janela de atendimento próxima. Quando viu o pai se aproximando com uma bandeja de pãezinhos cozidos, apoiou o rosto nas mãos e abriu um sorriso largo.
Zhong Jin colocou duas cestas de bolinhos de porco sobre a mesa baixa e se virou para pegar o leite de soja.
Yuntong colocou uma quantidade quase letal de açúcar no leite. Zhong Jin olhou, mas não disse nada, apenas a incentivando a comer mais rápido.
Ao chegar à delegacia, encontraram Rao Shishi e Pequeno Wang levando café da manhã para dentro do prédio. Zhong Jin chamou Rao Shishi:
— Preciso ir ao departamento da cidade. Leve-a para dentro.
Rao Shishi apressou-se, abriu a porta dos fundos e pegou Zhong Yuntong no colo.
Zhong Jin virou o carro, mas parou de repente, inclinando-se pela janela:
— Os resultados do laboratório forense devem sair hoje, certo?
Pequeno Wang respondeu:
— Já saíram. Recebi uma mensagem ontem à noite. Há correspondência de DNA. Vou buscar os resultados daqui a pouco.
Zhong Jin olhou para o banco do motorista:
— Entra. Eu te levo.
Enquanto o SUV desaparecia de vista, Rao Shishi segurou a mão de Zhong Yuntong:
— Vamos. Provavelmente vamos encontrar seus pais hoje.
Seu olhar caiu sobre a cabeça da criança, e suspirou:
— Isso é cabelo ou ninho de pássaro?
Quando Mao Feixue chegou à delegacia, o cabelo de Yuntong já estava penteado. Hoje, estava trançado em dois coquinhos, cada um preso com uma bolinha verde felpuda.
— Yuntong, olha o que eu trouxe para você! — Mao Feixue acenou com uma sacola de papel.
Yuntong saltitou até ela:
— O que é?
Mao Feixue tirou uma caixa da sacola e abriu, revelando um par de tênis rosa para correr:
— São tênis de corrida. Quando você usar, poderá correr e pular sem machucar os pés.
— Ah, Yuntong, você também está de sapatos novos hoje? — Mao Feixue finalmente percebeu os novos sapatos de bico redondo nos pés da criança.
Yuntong mostrou imediatamente os sapatos, agachando-se e apontando para a flor na tira:
— Olha, tem uma florzinha!
— Que lindos! O Diretor Zhong comprou para você? — Mao Feixue colocou os tênis de volta na sacola de papel. — Você pode alternar entre os dois pares.
Yuntong inclinou a cabeça, pensou por um momento e depois empurrou a sacola seriamente:
— Não quero.
— Por quê?
As pequenas sobrancelhas de Yuntong se franziram em desespero:
— Porque se eu usar tênis de corrida, vou ter que correr o tempo todo, e isso é muito cansativo.
Mao Feixue e Rao Shishi trocaram um olhar e caíram na risada. Os policiais próximos se juntaram, enchendo a Delegacia do Distrito de He’an com risadas alegres logo cedo pela manhã.
Rao Shishi beliscou a bochecha lisa de Yuntong:
— Sua pequena travessa, vou sentir sua falta quando você for embora.
Pequeno Wang trouxe os resultados da comparação de DNA do laboratório de perícia e abriu o arquivo na hora. Quando viu a informação correspondendo à amostra de sangue de Zhong Yuntong, seus olhos se arregalaram em choque.
— Pode haver algum erro nesses dados? — Pequeno Wang mal podia acreditar e conferiu novamente com o técnico do laboratório.
O técnico, usando máscara, olhou para ele curiosamente por trás dos óculos:
— Geralmente não há erro. O banco de dados tem uma função de comparação automática, e também verificamos manualmente. Se ainda tiver dúvidas, podem coletar novas amostras de sangue de ambas as partes para uma comparação final.
Pequeno Wang saiu do centro de identificação, semicerrando os olhos sob o sol, sentindo-se atordoado e quase incapaz de acreditar nos resultados que acabara de ver.
Zhong Yuntong realmente é filha de Zhong Jin?
Como Zhong Jin mesmo não poderia saber disso?
Quem deixou Zhong Yuntong na delegacia?
Por que nenhuma câmera de vigilância capturou alguém como ela?
Ele caminhou até o canteiro de flores próximo à entrada do departamento municipal e sentou-se, exatamente onde havia se escondido com Yuntong dois dias atrás para comer salsichas grelhadas. Embora tivessem se passado apenas dois dias, parecia uma eternidade, como se tudo fosse irreal.
Zhong Jin, segurando uma pasta, desceu às pressas os degraus do departamento municipal. Ao ver Pequeno Wang sentado no canteiro, aproximou-se.
— Você recebeu os resultados?
Pequeno Wang entregou o relatório, atônito:
— Sim, recebi.
Zhong Jin pegou o relatório, abriu-o e folheou rapidamente. Seu rosto raramente mostrava expressões exageradas e, mesmo diante de um resultado tão bizarro, apenas apertou levemente os cantos dos lábios, sem mudar quase nada a expressão.
Ele fechou o relatório com um estalo:
— Vamos voltar primeiro.
Pequeno Wang levantou-se rapidamente e seguiu atrás dele:
— Capitão Zhong, deixa eu dirigir. — Dada a situação, ele realmente temia que Zhong Jin pudesse dirigir o carro para dentro de um barranco.
Zhong Jin jogou as chaves para ele.
No caminho de volta a He’an, Pequeno Wang estava inquieto. Continuava olhando de lado para Zhong Jin, que descansava o cotovelo na moldura da janela, o olhar perdido fora do carro, pensativo.
Após alguns olhares de canto de olho, Zhong Jin lançou-lhe um olhar frio:
— Concentre-se em dirigir.
De volta à delegacia, Zhong Jin cumpriu suas tarefas normalmente, lidando com a papelada e até saindo em uma ocorrência para prender um grupo que aplicava golpes.
Pequeno Wang, por outro lado, não conseguia se manter parado. Enquanto trabalhava em sua mesa, não parava de lançar olhares furtivos a Zhong Yuntong, sentada no banco, concentrada no tablet. Talvez fosse imaginação dele, mas Pequeno Wang notou que, quando Yuntong franzia os lábios, a curva da boca e do queixo lembrava muito Zhong Jin.
Finalmente, quando Mao Feixue voltou de sua missão externa, Pequeno Wang correu para o escritório dela:
— Irmã Mao, aconteceu alguma coisa.
Mao Feixue imediatamente se tencionou, pensando que fosse um caso sério de polícia.
Mas então Pequeno Wang disse:
— Yuntong realmente é filha do Capitão Zhong.
Mao Feixue ficou boquiaberta:
— …O quê?
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