Capítulo 101
— Aqui está o balanço deste mês. Depois de todos os descontos, tivemos um lucro de mil novecentos e oitenta e seis yuans e cinquenta centavos.
Gui Xiang olhou para o dinheiro, sem acreditar que haviam conseguido ganhar tanto. Dividindo meio a meio — sem nem contar a renda das panquecas assadas — significava que, em apenas mais cinco meses, sua família poderia quitar todas as dívidas.
— Yufen, fique com isto primeiro. Já faz tempo que isso pesa na minha consciência. Pegamos emprestado para o tratamento da Ershun, mas agora os gastos médicos não são mais tão altos quanto antes.
Gui Xiang arredondou para oitocentos yuans e empurrou o dinheiro para as mãos de Yang Yufen. O restante seria reservado para o tratamento da filha, o que ainda era mais do que suficiente para cobrir as necessidades diárias.
— Yufen, quando quitarmos tudo, estou pensando em comprar uma casa por aqui. O tratamento da Ershun pode durar sabe-se lá quanto tempo, mas aqui o atendimento médico é o melhor. Quanto à nossa antiga casa... bem, a família já se separou mesmo.
Gui Xiang compartilhou seus planos.
— Se for assim, não tenha pressa em me pagar agora. Os preços dos imóveis sobem a cada dia. É melhor economizar para comprar um lugar, se estabelecer de vez, e só então o coração de vocês vai estar tranquilo.
Yang Yufen devolveu o dinheiro. Ela já tinha propriedades suficientes, e suas economias estavam estáveis. Sua vida atual não exigia grandes gastos.
— Hoje vim mais cedo porque queria conversar com você. Esses dias em que não estive presente, você conseguiu cuidar bem dos turnos da noite. A partir de agora, talvez eu nem venha mais. Durante o primeiro ano, ainda vamos dividir os lucros meio a meio. Mas se você continuar tocando a loja no segundo ano, pode me pagar só o aluguel.
Yang Yufen já havia pensado bastante sobre isso. Dabao e Erbao não eram mais tão fáceis de lidar como quando eram pequenos — as crianças ficam mais agitadas conforme crescem. Ela também observou como algumas famílias educavam os filhos e percebeu que não podia simplesmente deixá-los soltos.
Nem Shen Xianjun nem Niannian tinham condições de dar atenção constante às crianças, por causa do trabalho.
Dinheiro podia ser conquistado depois, mas os filhos não podiam ser negligenciados. Além disso, a renda do aluguel continuaria subindo, o que já era suficiente para cobrir suas despesas.
O incidente das crianças brincando com água tinha realmente assustado Yang Yufen.
— Por quê? Não, Yufen, você já fez tanto por nós. Sem você, nem teríamos essa renda, quanto mais pagar tratamento! Se estiver ocupada, eu mesma cuido da loja. Como vamos simplesmente nos separar assim?
Gui Xiang ficou agitada.
— Não estamos nos separando. Mas justamente porque nosso laço é forte, temos que deixar tudo claro. Nada deve abalar nossa amizade — somos irmãs para a vida toda.
— Mesmo assim não dá. A localização da sua loja é excelente. Mesmo que eu compre uma casa depois, talvez não encontre uma tão boa quanto essa. Que tal isso? Você entra com o ponto, eu com o trabalho, e continuamos dividindo os lucros.
Gui Xiang achava que sua proposta era perfeita.
Quando o pai da Ershun voltou, as duas mulheres ainda não tinham chegado a um acordo.
— Vamos fazer assim: a Yufen fica com trinta por cento e nós com setenta. Vamos dividir só os lucros da loja de macarrão. As minhas panquecas vão contar como fornecimento para o restaurante. Assim fica justo. A Yufen não precisa mais gerenciar a loja, e continuamos usando o espaço. Os lucros e perdas ficam divididos desse jeito.
O pai da Ershun sugeriu um meio-termo. Finalmente, Yang Yufen concordou, e as duas famílias redigiram um novo contrato — agora chamado de “acordo”.
Depois, o pai da Ershun trouxe boas notícias.
— O médico disse que, enquanto a Ershun continuar melhorando e aprendendo, mesmo que as memórias não voltem totalmente, ela vai poder viver como uma pessoa normal. Vamos tratar como se estivéssemos criando ela de novo.
— Isso é maravilhoso, maravilhoso demais!
Lágrimas escorreram pelo rosto de Gui Xiang. Essa era a melhor notícia que poderiam receber. Aquelas lembranças dolorosas — fossem esquecidas ou não — já não importavam mais.
E assim, Yang Yufen se tornou oficialmente sócia silenciosa da loja de macarrão.
— Madrinha, a senhora queria falar comigo?
Wang Shuo veio direto do trabalho quando sua mãe lhe disse que Yang Yufen precisava conversar.
— Que bom que voltou! É o seguinte — estou pensando em adicionar sopa de macarrão com carneiro ao cardápio de inverno. Lembro que você comentou que o instituto agrícola onde trabalha não estuda só plantações, mas também criação de animais. Você conhece algum criador de carneiro?
Yang Yufen já não precisava mais cuidar das crianças o tempo todo. Ela levou o Pequeno Zhou com ela, deixando a professora Wen supervisionando os maiores.
— Veio falar com a pessoa certa, madrinha. Conheço sim. Quantos carneiros a senhora precisa? Comprar o animal inteiro sai mais em conta, embora abatê-lo possa ser trabalhoso. Mas podemos providenciar alguém pra cuidar disso.
Desde as reformas de mercado, comprar carne ficou muito mais fácil.
— Um carneiro deve durar cinco ou seis dias. Com o clima mais frio, conserva por mais tempo. Vamos precisar de uns cinco ou seis por mês, e o inverno dura mais ou menos quatro meses.
Yang Yufen fez as contas.
— É bastante. Podemos fazer o pedido com antecedência e pagar um sinal pra reservar. Amanhã eu dou uma sondada pra senhora.
— Perfeito, muito obrigada!
— Não foi nada. A senhora vai vender sopa de pera de novo este ano, madrinha?
Wang Shuo já havia terceirizado seu negócio de batata-doce e não se preocupava mais com a renda.
— Com certeza!
A loja de macarrão tinha espaço para mais um fogão, e não dava muito trabalho. Com tantas crianças em casa, o que sobrasse podia ser reduzido até virar xarope de pera. O Pequeno Zhou até sugeriu adicionar bulbos de fritilaria — depois ela ia pedir os detalhes.
— Que bom.
Wang Shuo saiu sorrindo. Sua filha mais velha já tinha terminado a lição de casa e ajudava com a mais nova. Sua mãe, agora cuidando das duas netas, parecia mais animada do que nunca. A vida estava boa.
A única sombra era a longa ausência do pai. Mas, como o país precisava dele, Wang Shuo se encarregaria de cuidar da mãe por enquanto.
Cada família tinha suas tarefas, e o tempo passava mais rápido quando se estava ocupado.
— O quê? Querem que a gente vá pra escola? Nós, um bando de velhos calejados? Nessa idade? Tem certeza de que ouviu direito?
Shen Xianjun encarou Hu Jun, sem acreditar.
— Uma nova academia militar está sendo criada. Vocês vão fazer parte da primeira turma, junto com um grupo de estudantes universitários com bom desempenho e que passaram na triagem política.
Desde quando educação era tão implacável? Mal tinha terminado — ou quase — o treinamento na escola do Partido, e já descobria que aquilo era só o começo!
Achava que sua esposa ter que estudar por dois anos era duro. Agora era a vez dele!
Voltara pra casa cheio de expectativa, só pra receber mais uma rodada de estudos. Até voltar pro treinamento em regime fechado parecia melhor que isso!
— Você não se adaptou bem ultimamente?
Hu Jun retrucou, aliviado por não estar entrando como aluno — se estivesse, estaria tão infeliz quanto Shen Xianjun.
— Não estamos em guerra agora, mas com o avanço das armas, os soldados não podem ficar pra trás. Manter-se preparado e melhorar as capacidades individuais é essencial.
Hu Jun transmitia a ordem dos superiores. Depois dessa etapa da escola do Partido, eles teriam apenas duas semanas de folga.
Aprendizado não tem fim — só fica pra trás quem decide parar.
Shen Xianjun voltou pra casa arrastando a mochila, só pra ser deixado na porta pelo cunhado, que foi embora sem dizer uma palavra, deixando-o diante de uma porta trancada.
— Ô, Xianjun, voltou? Sua mãe tá na casa dos seus sogros.
A tia Wang, ao ouvir o barulho, saiu e encontrou Shen Xianjun parado sozinho.
Capítulo 102
— Ah, entendi. Obrigado, tia. Vou procurar minha mãe primeiro.
Shen Xianjun sentiu um leve amargor no peito, mas obedeceu, pendurou a mochila no ombro e seguiu pelas marcas deixadas pelas rodas da carroça.
— Mãe, tia! Estavam aqui? Eu não sabia. Deixei o Xianjun na porta. Se soubesse que estavam aqui, teria trazido ele junto.
Hu Jun não esperava encontrar Yang Yufen em sua casa.
— Tudo bem. Ele tem pernas, sabe andar sozinho. O jantar já vai sair. Vou fazer mais macarrão.
Com isso, Yang Yufen voltou para a cozinha, deixando a sala para a Professora Wen e o filho.
— Terminou os estudos? Vai se lavar primeiro. Eu vou ajudar sua tia na cozinha. Seja rápido — daqui a pouco você vai cuidar do Pequeno Bebê.
Vendo o filho com saúde, a Professora Wen se sentiu aliviada. As crianças logo voltariam da escola, e ela não queria atrasar nada.
Hu Jun observou a silhueta da mãe se afastando. Desde que ele havia ido para a Escola do Partido, parecia que ela estava mais distante. Seria influência do cunhado? Sim, só podia ser isso.
Hu Jun subiu apressado para se lavar. Ao descer novamente, reparou em como a casa tinha mudado. O Pequeno Bebê brincava dentro de um cercadinho acolchoado, já conseguia ficar de pé apoiando-se nas bordas.
Shen Xianjun também estava lá.
— Não acha que devia tomar um banho?
Hu Jun lançou um olhar de desaprovação para Shen Xianjun — o homem estava coberto de poeira.
— Vou me lavar quando voltar pra casa.
Assim que terminou de falar, as crianças chegaram.
— Vovó, vovó! Olha, ganhei uma florzinha vermelha!
A voz estridente de Dabao ecoou quando ele correu em direção à cozinha, completamente alheio aos dois adultos na sala.
— Pai! O senhor voltou?
Hu Zhenghao foi o primeiro a notar.
— Hah, do jeito que você fala, parece até que minha volta é um incômodo. Fez alguma travessura?
Hu Jun já assumiu imediatamente o tom severo de pai.
— Não, é que foi tão de repente! O senhor nem ligou avisando que vinha. Só fiquei surpreso. Olá, tio.
Hu Zhenghao também não se esqueceu de cumprimentar Shen Xianjun, que estava ao lado do pai.
— Papai!
Dabao, que já tinha corrido até a cozinha, voltou correndo.
— Bom menino, deixa eu ver sua florzinha vermelha.
Shen Xianjun se abaixou, de braços abertos, pronto para pegar Dabao. Mas ao ouvir a menção à flor, Dabao lembrou que ainda não tinha mostrado à vovó. Ao ver que Erbao já tinha ganhado fruta de recompensa, virou-se e correu de volta.
— Vovó, eu! Eu!
Dabao mostrou orgulhoso sua florzinha vermelha e foi recompensado com uma uva, sorrindo radiante.
Hu Jun sorriu de canto para Shen Xianjun. Não deixou passar a tentativa anterior do cunhado de roubar a cena do reencontro entre pai e filho — só para acabar passando vergonha.
— Segundo Irmão, esse é meu pai, e esse é meu tio.
Hu Zhenghao apresentou Wang Xing, justo quando a Professora Wen saiu da cozinha.
— Xingxing, cumprimente o tio Hu e o tio Shen.
A Professora Wen incentivou o menino.
— Olá, tio Hu. Olá, tio Shen. Eu sou o Wang Xing.
— Uhum, olá.
Os dois homens responderam, embora não soubessem exatamente de quem o menino era filho. Mas estava claro que ele era próximo da família.
— O jantar está pronto.
Yang Yufen apareceu, tendo preparado às pressas uma porção extra de macarrão frito — não esperava que os dois homens voltassem tão de repente.
As crianças, já acostumadas com a rotina, formaram uma fila certinha enquanto Hu Zhenghao servia a comida. Hu Jun observava com aprovação.
Depois do jantar, Yang Yufen entregou uma chave para Shen Xianjun.
— Vai pra casa e arruma tudo lá. As crianças e eu não vamos voltar tão cedo.
Shen Xianjun, que estava prestes a chamar as crianças para irem com ele, congelou.
— Uh… não tô com pressa.
— Se não tá com pressa, então não atrapalha as crianças.
O tom de Yang Yufen não deixava espaço para discussão. Enquanto isso, a Professora Wen se dirigia a Hu Jun:
— Vou dar aula para as crianças mais tarde. Faça o que quiser, mas se estiver à toa, leve o Pequeno Bebê pra passear. Só não faça barulho.
Os dois homens acabaram espremidos juntos no sofá, observando o Pequeno Bebê, curiosos para ver o que aconteceria.
Hu Zhenghao ainda terminava a lição de casa.
— Vai se lavar. Aqui tem água à vontade.
Mais uma vez, Shen Xianjun se viu no centro do desprezo do cunhado. Pediu o banheiro emprestado, tomou um banho rápido e trocou de roupa — felizmente, tinha trazido a mochila consigo.
Quando desceu de novo, Hu Zhenghao já tinha terminado o dever.
— Vamos revisar o que aprendemos até agora. O desenho começa em quinze minutos.
A Professora Wen lançou um olhar para o Pequeno Bebê, que puxava a mão do pai. Satisfeita por vê-lo seguro, ignorou os adultos e começou a aula do dia.
Quando a Professora Wen começou a falar em inglês fluente, Shen Xianjun ficou chocado. E quando as crianças responderam no mesmo idioma, Hu Jun também ficou boquiaberto.
Enquanto isso, Yang Yufen preparava sopa de pera. A Professora Wen havia dado aulas durante o dia inteiro, e o clima seco tinha deixado sua garganta irritada.
As crianças conversaram animadamente por quinze minutos até o desenho começar, pontualmente.
Justo quando os dois homens pensaram que a atividade terminaria com o desenho, as crianças iniciaram outra rodada de discussão — dessa vez misturando chinês e inglês de forma tão natural que Hu Jun e Shen Xianjun mal conseguiam acompanhar.
— Minha sogra é incrível — murmurou Shen Xianjun, impressionado.
— Minha mãe nunca ensinou desse jeito — admitiu Hu Jun com dificuldade. Nem ele nem Niannian tinham sido educados assim.
Yang Yufen trouxe a sopa de pera, encheu a garrafinha do Pequeno Bebê, conferiu se ele não tinha feito xixi e o devolveu para Hu Jun.
As crianças tomavam a sopa adocicada enquanto assistiam ao noticiário, fazendo comentários de vez em quando. A Professora Wen respondia pacientemente, e Yang Yufen ouvia atenta.
Quando o jornal terminou, Hu Jun e Shen Xianjun se levantaram, achando que as atividades da noite tinham acabado. Um pegou a mochila, pronto para ir embora, enquanto o outro se preparava para acompanhá-lo até a porta.
Mas assim que saíram, outro grupo de crianças chegou, cercando a Professora Wen enquanto caminhavam e conversavam sobre o noticiário e o desenho da noite — ainda misturando os idiomas de uma forma que não fazia sentido para quem não tivesse o contexto.
Ainda assim, as crianças se entendiam perfeitamente.
— Dá a sensação de que a gente não passou por um treinamento, e sim que o mundo seguiu em frente enquanto ficamos presos lá dentro — comentou Shen Xianjun, subitamente constrangido com a mochila nas costas.
— Agora entendeu? Se a gente não acompanhar o ritmo, até essas crianças vão nos ultrapassar — disse Hu Jun, finalmente compreendendo a intenção dos superiores.
De repente, um cheiro forte os atingiu, e a criança nos braços de Hu Jun começou a chorar.
Tendo experiência com bebês, Hu Jun percebeu na hora o que tinha acontecido.
— Vou voltar. Você também devia ir pra casa.
Com isso, deixou Shen Xianjun para trás e entrou apressado.
Yang Yufen, ouvindo o choro, fez menção de ir ajudar, mas a Professora Wen a deteve.
— Deixe o menino criar vínculo com o pai. Xiao Zhou deve voltar logo, de qualquer forma.
Yang Yufen assentiu, compreendendo.
O método da Professora Wen — guiando as crianças, incentivando a fala, estimulando uma competição saudável — tornava o aprendizado agradável. As crianças não precisavam ser forçadas; depois do banho, adormeciam rapidamente.
— Mãe, amanhã quero visitar o tio e os outros.
Capítulo 103
— Pode ir, se quiser. Fica na Noodle Shop do Velho Yang, logo fora do conjunto residencial. Sua sogra vai dar aulas amanhã e não pode cuidar do Pequeno Bebê, então eu vou ficar com ele.
Yang Yufen falava enquanto mantinha a cabeça baixa, separando as roupas que a criança usaria no dia seguinte.
— Ah, mãe, você tem algum dinheiro aí? Não posso ir de mãos abanando, né? Isso não é uma missão — é só um treinamento. E ainda por cima voltei pegando carona com meu cunhado.
Shen Xianjun se manifestou.
Yang Yufen parou por um instante. Depois de pensar um pouco, pegou vinte yuans.
— Use com cuidado.
— Mãe, pode me dar mais cinco? Tenho duas semanas de folga — vai ter coisa em que gastar.
Shen Xianjun tinha a cara de pau de sempre. Embora não soubesse exatamente no que gastaria, pediu mesmo assim. Do contrário, quando a mesada chegasse, a mãe com certeza tomaria dele.
Yang Yufen remexeu de novo e tirou mais dois yuans.
— É tudo que tenho. Você não fuma nem bebe — pra que precisa de tanto dinheiro? Temos duas bicicletas em casa. Vá de bicicleta pra onde quiser.
Shen Xianjun pegou o dinheiro na hora.
— Tá certo. Ah, mãe, mais uma coisa — só tenho duas semanas de licença, mas depois disso vou passar por mais um treinamento. Só que dessa vez é diferente — vou ter direito a um dia de folga por mês pra voltar pra casa.
— Vai ter mesada nesse treinamento?
Yang Yufen finalmente olhou diretamente para Shen Xianjun.
— Deve ter, mas não sei quanto.
Claro. A mãe só se importava mesmo era com a mesada, não com ele.
— Nem pense em me enganar, ou quebro suas pernas. Ah, e seu antigo comandante agora trabalha no nosso departamento de segurança. Quando for visitar seus tios, não esqueça dele. E vem comigo depois de amanhã comprar umas tábuas. Precisamos fazer uma escrivaninha pras crianças — a estante velha tá pequena, vamos precisar de outra.
Yang Yufen pensou por um momento. A família Hu já tinha mesas e cadeiras, mas como as crianças tinham alturas diferentes, não era muito prático. Antes não tinham tido tempo, mas agora que Shen Xianjun estava de volta, tinham um par de mãos a mais.
— Entendido.
Shen Xianjun assentiu.
Na manhã seguinte, Shen Xianjun carregou as três crianças na bicicleta e as levou até a creche. Inesperadamente, encontrou seu antigo comandante lá.
— Comandante!
Shen Xianjun bateu continência.
— Já chega disso. Não sou mais comandante — agora sou só o chefe do departamento de segurança do instituto de pesquisa. Mas você está bem, hein? Parece até mais animado.
O Comandante Liao o avaliou de cima a baixo antes de dar um tapinha em seu ombro.
Shen Xianjun de repente pensou em Liao Yuanjie. Talvez o sujeito não tivesse ligado porque não sabia onde o pai estava?
— O Yuanjie foi meu colega de quarto na Escola do Partido. Ele sente muito a sua falta.
Disse Shen Xianjun.
— Aquele pirralho provavelmente me odeia. “Sente minha falta” — sei. Enfim, vai fazer o que tem que fazer. Tenho que fazer as rondas.
O Comandante Liao massageou as têmporas ao lembrar do filho. As três filhas tinham personalidade forte e estavam bem casadas, então ele não precisava se preocupar. Mas o filho mais novo… Aquele moleque tinha um gênio incontrolável. Não conseguiam conversar dois minutos sem brigar.
Shen Xianjun saiu do conjunto residencial e não tinha ido muito longe quando viu a movimentação na loja de macarrão, cheia de gente comprando café da manhã.
— Xianjun! Aqui! Já comeu? Não importa — come mais um pouco!
O pai de Ershun foi o primeiro a vê-lo, puxando-o para dentro e sentando-o antes de encher a mesa com pães achatados, pãezinhos no vapor e mingau de milhete.
— Come aí. Quando der uma folga, conversamos.
E voltou correndo ao trabalho — a fila pelos pães era longa.
Embora Shen Xianjun não estivesse com muita fome, o cheiro da comida era irresistível. A comida da Tia Gui Xiang era tão boa quanto ele lembrava.
Já que tinha ido visitar mesmo, Shen Xianjun não estava com pressa. Estacionou a bicicleta e comeu com calma, chegando a se levantar depois para ajudar a limpar as mesas.
Depois de uma hora agitada, o movimento finalmente diminuiu.
— Tio, você se recuperou bem!
Disse Shen Xianjun com um sorriso.
— Pois é, graças à sua mãe. Então, terminou o treinamento?
O pai de Ershun se sentou ao lado dele.
— Terminei. Cadê o Segundo Irmão?
Shen Xianjun já tinha olhado em volta antes, mas não o tinha visto.
— Ershun e Qing foram pra escola. Voltam pro almoço.
— O Ershun tá na escola agora?
Shen Xianjun não conseguia acreditar. Todo mundo estava avançando, estudando com afinco.
— É. O médico disse que aprender faz bem pra mente dele. E com a Qing cuidando dele, a gente não precisa se preocupar. Na última prova, ele até tirou nota máxima — nunca esteve tão esperto assim.
O pai de Ershun riu. Seu cachimbo já estava aposentado desde o acidente.
— Vou esperar até o almoço pra ver ele antes de ir. Tia, tio, tem algo em que eu possa ajudar?
Já era tarde pra sair às compras — pareceria estranho.
— Não precisa, não precisa. Já temos tudo sob controle. Se tiver tempo, vai ajudar sua mãe. Volta pra jantar hoje à noite.
Gui Xiang o dispensou com um aceno, já planejando sair para as compras mais tarde.
— Minha mãe tá ajudando minha sogra com as crianças hoje — saíram juntas. Eu ajudo vocês com a limpeza.
Shen Xianjun arregaçou as mangas e começou a levar os cestos de vapor pra fora. Vendo isso, Gui Xiang não tentou impedi-lo. O pai de Ershun também entrou na pia pra lavar louça, enquanto Gui Xiang preparava os ingredientes pro almoço.
Tinham sovado a massa dos pãezinhos na noite anterior, e pela manhã, os cozinhavam no vapor, enquanto deixavam a massa do macarrão descansando numa bacia.
Ao meio-dia, a massa estava no ponto. Vendiam o que conseguissem no almoço, e isso permitia fechar mais cedo à noite. O movimento era estável, e como havia um poço no quintal, podiam manter a massa fresca mergulhando a bacia na água — sem risco de azedar.
Quando terminaram de limpar, já era meio-dia. Shen Xianjun mal teve tempo de sentar antes que a loja se enchesse de clientes novamente.
— Segundo Irmão! Qing!
— Olá, tio!
Qing segurava a mão de Ershun ao retornar, cumprimentando-o alegremente.
— Ei! Segundo Irmão, sou eu — Xianjun.
Ershun quase seguiu o exemplo da Qing e o chamou de “tio”, mas hesitou ao ouvir as palavras de Shen Xianjun.
— Xianjun?
— Isso mesmo!
— Comam logo — vai ficar cheio de novo.
O pai de Ershun colocou duas tigelas de macarrão sobre a mesa.
Shen Xianjun achava que já estava cheio o suficiente — quanto mais poderia ficar?
Ao ouvir falar de comida, Ershun puxou os dois até a mesa, onde as tigelas os esperavam.
Enquanto comiam, a loja enchia rapidamente.
Ershun terminou primeiro. Antes mesmo de Qing pôr a tigela de lado, ele já estava limpando as mesas.
— Tio, vou ajudar agora.
Qing tomou o resto da sopa e correu para o quintal lavar louça, garantindo que não faltasse nada.
Shen Xianjun, com sua memória afiada, ajudava a entregar os macarrões aos clientes.
Quando o movimento diminuiu, Ershun e Qing já tinham ido embora.
— Foram pra escola — não queriam se atrasar. Tá cansado?
Gui Xiang lhe entregou uma tigela com água.
Capítulo 104
— Vocês estão sempre tão ocupados assim todo dia?
Shen Xianjun não fez cerimônia, pegando a tigela d’água e bebendo em grandes goles.
— É bom estar ocupado. Ter renda todo dia afasta as preocupações. Isso aqui é muito mais fácil do que plantar algodão e feijão nos campos — sem vento, sol nem chuva pra aguentar. Um ano inteiro de labuta na roça não se compara ao que ganhamos em um único mês agora.
Gui Xiang não pôde deixar de suspirar.
— Agricultor depende do céu pra colher. Depois da enchente, a lavoura quase não deu nada aquele ano. Se não fosse sua mãe dando um jeito de arrumar mudas de batata-doce pra gente plantar, talvez nem tivéssemos conseguido sobreviver. E dessa vez, se a gente tivesse dependido só da renda da roça, seu tio e o Ershun não estariam mais aqui, mesmo se tivessem sido salvos.
Não é que trabalhar no campo fosse ruim — só era duro demais.
Agora, mesmo que o marido dela não pudesse mais fazer esforço pesado, ainda dava conta de todos os trabalhos leves. Enquanto ele estivesse inteiro e saudável, o que mais ela poderia querer? E Ershun melhorava a cada dia.
— A senhora tem razão. Bem, tia, tio, vou indo. Descansem um pouco. Vamos almoçar aqui, mas não vou poder ficar pro jantar — as crianças têm aula lá na casa da minha sogra à noite. Tenho meio mês de folga agora, então quando os pequenos tiverem tempo, trago eles comigo.
Sabendo que ainda haveria trabalho à noite, Shen Xianjun não quis se demorar.
— Tá certo, tá certo.
Ela até queria ter ido às compras, mas com a correria acabou esquecendo. Gui Xiang anotou mentalmente quando seria a próxima folga dos gêmeos e decidiu comprar os ingredientes com antecedência.
Shen Xianjun pedalou de volta pro conjunto familiar. A casa ainda estava trancada, então pegou a chave e entrou.
Vendo tudo no lugar, pegou uma vassoura e começou a varrer o chão, depois foi ao quintal alimentar as galinhas.
O jardim estava impecável — típico do cuidado meticuloso de sua mãe.
Conferindo as horas, achou que já estava bom e foi até a casa da sogra. E, claro, encontrou a mãe lá.
— Tia, esse peixe tá bom assim? Quer que eu corte em filés?
Hu Jun levantava o peixe limpo para Yang Yufen inspecionar.
No momento em que Shen Xianjun entrou e viu aquela cena, duas palavras lhe vieram à mente: estamos ferrados.
— Não precisa, não precisa. Hoje vamos ensopar o peixe — só faz uns cortes de dois dedos de largura.
Yang Yufen respondeu com um sorriso acolhedor enquanto picava os acompanhamentos. Lá fora, a Professora Wen vigiava o Pequeno Bebê.
— O Xianjun chegou.
Ao ouvir o barulho, a Professora Wen se virou e avistou Shen Xianjun. Como havia visitas, a porta da frente estava naturalmente aberta.
— Sogra, vou ajudar na cozinha.
Shen Xianjun se apressou em cumprimentá-la.
A Professora Wen quase disse que a cozinha já estava cheia, mas hesitou e segurou a língua.
— Mãe, deixa que eu te ajudo.
— Xianjun chegou? Eu já terminei de ajudar a tia. Por que você não se senta no sofá?
Hu Jun sorriu, mas tudo o que Shen Xianjun viu foi malícia naquele sorriso.
— Então vou arrumar a cozinha. Irmão, por que você não ajuda a sogra a cuidar do Pequeno Bebê? Ela deve estar cansada de dar aula o dia todo.
Yang Yufen acrescentou o molho à panela, e o cheiro forte e delicioso tomou conta do ar.
— Que tal vocês dois irem buscar as crianças? Já devem estar saindo da escola.
Yang Yufen lançou um olhar para a cozinha apertada — ela podia cuidar dali sozinha.
— Claro, vamos sim. Obrigado pelo trabalho, tia.
Hu Jun concordou prontamente, e Shen Xianjun não teve escolha a não ser acompanhá-lo.
Quando saíram, ouviram a risada da Professora Wen vindo lá de dentro.
A Professora Wen entrou na cozinha, sem conseguir conter o riso, e caiu na gargalhada assim que encontrou o olhar de Yang Yufen.
— Yufen, desde que você chegou, a vida tem sido cheia de pequenas alegrias.
— Hehe, eu sinto o mesmo — agora nunca tem um dia parado.
Yang Yufen riu enquanto deslizava o peixe preparado para dentro da panela — um grande que Hu Jun havia trazido mais cedo.
— Tive sorte hoje e consegui um peixão. Quando a tia chegou, só comentei como sentia falta do peixe ensopado dela, e ela foi direto pra casa buscar os ingredientes pra fazer pra mim.
Hu Jun falava tranquilamente.
— Não é só pra você. A gente não vai buscar o Zhenghao? O caminho pro jardim de infância é por aqui.
Shen Xianjun apontou. Hu Jun parou no meio do passo, depois mudou de direção.
— Esqueci.
Hu Jun deu de ombros.
Quando chegaram ao portão da escola primária, perceberam que quase nunca precisava buscar as crianças ali — nunca tinha acontecido de alguém sumir.
Mesmo assim, era bom conferir como iam as coisas no dia a dia dos filhos.
O olhar de Hu Jun percorreu o pátio até pousar numa figura empoleirada bem alto nos galhos de um caquizeiro — Hu Zhenghao. Na hora, seus dedos coçaram de vontade de agir.
— Uau, como é que o moleque subiu ali? Esse caquizeiro tá bem viçoso.
Shen Xianjun comentou casualmente.
Hu Zhenghao jamais esperava que o pai fosse aparecer na escola — ainda mais com o tio junto — bem na hora em que ele estava colhendo frutas, no flagra.
Mas já que tinha subido na árvore e pegado os caquis, não ia largar agora. Tinha prometido aos irmãozinhos que traria alguns. Os caquis daquela árvore eram deliciosos, só que muito altos.
Com os professores numa reunião e a última aula sendo de recreação livre, ele aproveitou a chance.
Seu pai ainda não podia entrar no pátio da escola — ainda tinha tempo.
Hu Zhenghao desceu cuidadosamente, colocou as frutas na mochila e se aproximou do portão, mantendo-se fora do alcance.
— Tio, segura essas pra mim. Senão vão amassar quando o pai me der umas palmadas depois. São pros meus irmãozinhos.
Shen Xianjun pegou a bolsa e lançou um olhar para Hu Jun.
— Hmph. Acha mesmo que seu velho é tão cruel assim? A gente resolve isso em casa.
Como estavam em público e o filho já não era mais tão pequeno, Hu Jun poupou-o da vergonha ali mesmo.
Hu Zhenghao lançou um olhar ao pai — aquelas duas palavras pareciam estar esculpidas em seu rosto.
Quando o sinal da saída tocou, Hu Zhenghao saiu, e os três foram buscar os outros no jardim de infância.
Wang Xing e os gêmeos já estavam esperando ansiosos.
— Aqui, irmãozinhos. Aproveitem. Seu irmão mais velho aqui trocou uma surra por essas frutas, então lembrem do meu sacrifício.
Hu Zhenghao fez todo um drama, mas suas mãos se mexeram rápido pra distribuir os caquis. De qualquer jeito, a surra viria — era melhor adiantar logo, já que tinha terminado o dever de casa. Assim não atrapalhava o horário dos desenhos.
— Eu nunca disse que ia bater em você.
Hu Jun finalmente falou.
— Sério?
O rosto de Hu Zhenghao se iluminou.
— Vamos, suas avós estão esperando em casa pro jantar.
— Oba! Vamos pra casa!
As crianças apertaram os caquis contra o peito, empolgadas demais pra comer na hora, tagarelando e rindo no caminho de volta.
Os dois pais vinham logo atrás.
Depois do jantar, os homens cuidaram da limpeza.
— Amanhã vamos comprar umas tábuas pra fazer novas mesas e estantes pras crianças.
Hu Jun sugeriu.
— Minha mãe comentou isso ontem à noite.
Shen Xianjun varreu os últimos restos de lixo.
— Já que estamos em casa, temos que cuidar dessas coisas, pra não deixar tudo pros mais velhos. Vamos ver o que precisa de conserto antes que o inverno chegue.
— Eu também estava pensando nisso.
— Ótimo. Amanhã a gente sai cedo — deixa a mamãe e a Tia Yang no armazém de departamentos no caminho.
A Professora Wen não teria aula no dia seguinte e tinha comentado que queria fazer umas compras.
Capítulo 105
— Uh, eu tô sem dinheiro — só tenho vinte e dois yuans.
Shen Xianjun falou, pensando nos bolsos vazios, apenas para receber um olhar de desdém do cunhado.
— Irmão, o que você quer dizer com isso? Desde que eu me casei, nem vi a cor do meu próprio pagamento.
Naquela época, ao menos podia comprar um cigarro de vez em quando. Agora, até os maus hábitos tinham desaparecido.
— Não, você tá indo muito bem. Continua assim. Não precisa contribuir com nada.
Hu Jun se corrigiu rapidamente.
— Então para de rir assim, irmão!
— Eu? Você que tá imaginando coisas. Anda logo, vai se arrumar. Mesmo sendo feriado, não dá pra relaxar nos estudos. Sua base em língua estrangeira ainda é fraca. A gente vai pra sala de estudos depois.
Hu Jun mudou de assunto com agilidade.
A folga de duas semanas passou num piscar de olhos, e antes que percebessem, novembro chegou, trazendo o frio com ele.
A Lanchonete do Velho Yang adicionou sopa de carneiro ao cardápio. Cozinhada desde as quatro da manhã, o aroma forte se espalhava do café da manhã até o meio-dia, provocando o apetite de todos.
— Tá esfriando. Como será que a Nian tá agora?
Enquanto Yang Yufen preparava o ensopado de carneiro, seus pensamentos foram até a nora, que não dava notícias fazia muito tempo.
— A Nian já não é mais uma criança. Sabe se cuidar. O Velho Hu descobriu que o professor sob o qual ela tá trabalhando agora é extremamente renomado — e muito exigente também.
A Professora Wen também estava preocupada.
— Será que lá tá ainda mais frio? Eles têm aquecimento? Eu devia ter mandado o cobertor elétrico com ela naquela época...
Meses sem nenhuma ligação — como Yang Yufen não ficaria ansiosa? Não era como antes, quando Nian ainda estava no país. Agora, ela estava em solo estrangeiro.
— Não se preocupe. A embaixada fica de olho. O desenvolvimento deles é até melhor que o nosso.
Era o máximo que a Professora Wen podia dizer para consolá-la.
Yang Yufen percebeu que estava falando demais. Sentindo que o ensopado estava quase pronto, adicionou os nabos à panela.
Qin Nian mergulhou as mãos em água morna antes de continuar a transcrever suas anotações. Ao longo desse período, havia clareado muitas ideias e aprendido ainda mais. Os caracteres de suas anotações eram uma forma de taquigrafia única que só ela compreendia — mesmo que alguém pegasse seus cadernos, não entenderia nada.
Esse código especial era invenção da própria Qin Nian, um método rápido de memorização que economizava tempo e reforçava o aprendizado, garantindo que tudo que ela estudava ficasse fixado na mente.
O professor a havia designado para os arquivos, então ela não precisava mais correr de volta para o dormitório. Cada minuto livre era dedicado à leitura e ao estudo. Pão dormido embebido em água morna tinha um gosto horrível, mas mantinha o estômago cheio.
Ela era grata à sogra por tê-la criado com vigor — do contrário, talvez não suportasse aqueles dias intensos. Ter um corpo forte era um tesouro de verdade.
A carne meio crua, pesada com o gosto metálico de sangue, era algo que ela forçara a si mesma a engolir. No começo sentia ânsia, mas com o tempo se acostumou.
A neve caía mais cedo no exterior do que em casa. Qin Nian deu uma olhada rápida pela janela antes de reforçar a vedação. Não podia se dar ao luxo de adoecer — seria um desperdício de tempo precioso.
— Vovó, tamo de férias!
Dabao e o Pequeno Bebê se jogaram nos braços de Yang Yufen.
— Que bom, que bom.
— Vovó Yang, posso ficar na sua casa?
O rosto de Wang Xing não tinha nem sombra da alegria típica dos feriados.
— O que foi? — Yang Yufen se virou para ele.
— A folga é longa demais. Eu não quero ir pra casa da minha avó. Mamãe e papai não têm tempo pra mim, e não se sentem à vontade me deixando sozinho em casa.
Wang Xing abaixou a cabeça.
— Vovó, deixa ele ficar com a gente! Nossa cama é grande!
— É mesmo! — Dabao e o Pequeno Bebê falaram em uníssono.
— Se seus pais concordarem, a vovó Yang não se opõe.
Yang Yufen olhou para Wang Xing, que antes era magricela, mas agora estava tão rechonchudo quanto Dabao e o Pequeno Bebê. Só de pensar que ele podia perder aquele brilho saudável, ela já ficava com pena.
Além disso, o menino era esperto, bem-comportado, e os pais dele mandavam comida — não era como se estivesse comendo de graça.
— Eles vão dizer que sim, com certeza!
Wang Xing se animou na hora.
Naquela noite, Wang Xing contou aos pais que queria ficar na casa da vovó Yang.
— Xing, a gente já incomodou demais a vovó Yang. Não é certo. Sei que você gosta de brincar com o Dabao e o Pequeno Bebê, mas seus avós também sentem sua falta.
O pai de Wang Xing falou com gentileza.
— Não, eles não sentem falta de mim — só querem o dinheiro e os presentes que vocês levam. Meus primos vivem me zoando, e a vovó só me xinga de pão-duro. Eu não quero ir.
— Por que você nunca nos contou isso antes?
A mãe de Wang Xing ficou chocada. Sempre achara que o filho ficava feliz na casa dos pais dela — por isso o mandava pra lá nas férias.
— Porque vocês nunca tiveram tempo pra mim. E antes não existia a creche.
Lágrimas escorriam pelas bochechas de Wang Xing. A mãe o puxou para um abraço, e só então percebeu o quanto ele tinha engordado.
Agora, olhando de perto, viu como ele estava forte — a pele mais corada do que nunca. Ela andava ocupada demais pra perceber. Antes, culpava a magreza dele pelo fato de ser enjoado com comida, já que sua culinária não era lá essas coisas.
Mas agora estava claro: ele podia até ser um pouco exigente, mas não tanto quanto pensava. Então por que era tão magro antes, e agora tão robusto? A resposta era óbvia.
— Tudo bem, você não precisa ir. Amanhã a mamãe compra umas coisinhas e te leva pra casa da vovó Yang. Mas tem que se comportar, entendeu?
— Eu sempre me comporto! A vovó Yang gosta muito de mim!
O rosto de Wang Xing, ainda molhado de lágrimas, se abriu num sorriso.
— Que bom, que bom. Agora vai dormir. Amanhã a gente arruma suas coisas.
A mãe de Wang Xing o cobriu, e só então o casal conversou em particular.
— Me desculpa. Achei que, com dinheiro, minha mãe cuidaria bem dele. Não percebi que ele tava sofrendo.
— Não é culpa sua. Eu também concordei em mandá-lo pra seus pais. Estávamos ocupados demais e confiamos mais na família do que em estranhos.
A culpa pesava nos dois — tinham trazido uma criança ao mundo, mas não haviam criado direito.
— Amanhã, vamos às compras juntos e agradecer direito à Tia Yang.
— Tá bom.
A creche fechou para as férias com a aproximação do Ano Novo, e uma forte nevasca tornou arriscado o trajeto para as crianças pequenas, que facilmente poderiam adoecer uma após a outra.
Na manhã seguinte, Yang Yufen encapuzou Dabao e o Pequeno Bebê com roupas grossas. Depois do café, os dois saíram correndo pra fazer boneco de neve.
Observando à distância, Yang Yufen não se preocupava. Lavou gengibre, fatiou, e deixou ferver com açúcar mascavo e tâmaras vermelhas numa panela. Depois, usaria essa infusão para fazer sopa com ovo batido para os meninos quando voltassem para dentro.
A Professora Wen estava fora havia dias, participando de reuniões. Com o fim de ano chegando, todos estavam atolados de trabalho.
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