Capítulo 111 a 115


 Capítulo 111 — Retribuição

O Príncipe Chen desviou o olhar sem expressão e pressionou a cabeça de Jiuzhu contra o próprio peito.

— Não olhe para esse tipo de sorriso. Faz mal para você.

Jiuzhu se aninhou obedientemente contra ele e perguntou com a voz abafada:

— O que aconteceria?

— Você ficaria feia.

Yun Yanze podia parecer refinado e gentil, mas por baixo daquela superfície, sua crueldade era mais dura que os degraus de jade branco do Palácio Taiyang. Sua porquinha era uma menina doce e adorável — mantê-la longe de gente assim era mais seguro.

— Quinto Irmão — Yun Yanze riu, parado junto à janela, olhando para baixo, para ele. — Que crime essa pessoa cometeu para merecer prisão pelos Guardas Imperiais?

— O Quarto Irmão parece bastante interessado nela. É cúmplice? — Embora o Príncipe Chen olhasse para Yun Yanze, sua presença dominava o outro. — Se quer saber o crime dela, vá perguntar na prisão da Corte de Revisão Judicial.

— O Quinto Irmão ficou bem humorado depois do casamento — o sorriso de Yun Yanze não alcançava os olhos. Ele lançou um olhar para Ming Jiyuan e para a carruagem da família Ming antes de falar devagar: — Já que está ocupado, não vou incomodar mais.

Criminosos comuns eram tratados pelo magistrado da capital. Se um caso chegava à Corte de Revisão Judicial, provavelmente envolvia um crime grave.

Yun Yanze lançou mais um olhar para a mulher amarrada e amordaçada antes de afastar o olhar.

A Corte de Revisão Judicial...

Ele tamborilou os dedos levemente sobre a mesa. Que pena. Com sua queda atual de poder, não conseguia reunir informações úteis. Um ano atrás, a identidade e o passado dessa mulher estariam em sua mesa em menos de dois dias.

Desde que o Imperador Longfeng os confinara ao palácio sob a vigília dos Guardas Imperiais, ele estava tão cego e impotente quanto um homem com os olhos vendados e as mãos cortadas.

Além de Yun Duqing, qual outro príncipe ousava tratar os Guardas Imperiais como servos pessoais?

De volta ao palácio, após o jantar, o Príncipe Chen se aproximou de Jiuzhu, compartilhando uma bacia para molharem os pés juntos.

Os servos do Palácio Kirin já estavam acostumados a ver os pés deles brincando na água. Quando a brincadeira cessava, traziam uma bacia nova com água quente.

Depois de molharem os pés, uma criada se aproximou para secar os pés de Jiuzhu, mas o Príncipe Chen pegou o pano macio e absorvente.

— Deixe. Vou secar os pés de Sua Alteza eu mesmo.

As criadas contiveram risadinhas e se afastaram discretamente.

— Alteza, faça direito. Isso faz cócegas.

— É a primeira vez que seco os pés de alguém e você reclama? — o Príncipe Chen fingiu tristeza. — Rápido, sinta meu peito. Será que meu coração não está chorando?

Jiuzhu riu e encostou o ouvido no peito dele, depois balançou a cabeça.

— Não escuto nada.

— Ingrata.

O Príncipe Chen jogou o pano na bacia, pegou Jiuzhu no colo e a lançou suavemente na cama.

— Parece que vou ter que impor disciplina doméstica.

Dito isso, fez cócegas nas axilas dela, e os dois caíram na gargalhada.

As criadas logo baixaram as cortinas da cama, recolheram os utensílios de lavagem e fecharam a porta silenciosamente atrás delas.

Criada A sussurrou:

— Alteza e Sua Alteza estão tão próximos.

— Quando os mestres estão felizes, é uma bênção para nós servos — respondeu Criada B, já em seus aposentos. — Ouvi das criadas do Palácio Zhangliu que a Quarta Princesa Consorte chora sozinha no quarto, mesmo estando grávida. Os servos lá nem ousam falar alto.

— O Quarto Príncipe é tão gentil. Como ele faria a esposa grávida chorar? — Criada A não acreditava. — A Quarta Princesa Consorte vem de família nobre e é deslumbrante. Será que ela não conseguiu o favor dele?

— Quem sabe? — Criada B sacudiu o cobertor e soltou os cabelos. — Se fossem realmente felizes, por que uma grávida choraria às escondidas? Antes, quando Sua Alteza parecia triste, o Alteza continuava servindo comida, tentando fazê-la falar, até secar seus pés — até ela rir de novo. Isso sim é um bom casamento.

Criada A pegou água e, depois de se lavar, se deitaram.

— Sua Alteza é tão bondosa. Seria insuportável ver o Alteza tratá-la mal.

Criada B se virou sonolenta.

— Verdade.

Não era só o Príncipe Chen — até as criadas do palácio adoravam servir Jiuzhu e fazê-la feliz.

No palácio, onde todos estavam presos às regras e imersos em intrigas invisíveis, encontrar alguém tão puro e radiante despertava o último resquício de humanidade em seus corações.

Exausta de tanto rir, Jiuzhu se esticou na cama, recusando-se a se mexer. O Príncipe Chen cutucou suas costas, mas ela apenas resmungou e ficou parada.

Divertido, ele se jogou ao lado dela, os rostos a poucos centímetros, olhando nos olhos um do outro.

— Você estava tentando me animar hoje à noite? — Jiuzhu piscou, seus olhos escuros brilhando como ônix polido.

— Finalmente percebeu meus esforços, hein? — o Príncipe Chen bagunçou seus cabelos soltos. — Está melhor agora?

— Hum.

Jiuzhu se enroscou nos braços dele.

— Naquela época, a família Ming de Lingzhou me abandonou no deserto. Meus dois mestres me encontraram e me levaram ao templo deles. Durante o reinado do Imperador Xian, muitos oficiais leais foram rebaixados ou executados. Vendo o tecido fino em que eu estava enrolada, meus mestres suspeitaram que eu poderia ser filha de uma família injustiçada, por isso não me denunciaram às autoridades. Depois de procurarem em Lingzhou e não encontrarem ninguém me procurando, criaram-me.

— Eles costumavam tratar os aldeões de graça em troca de leite de cabra ou leite materno — Jiuzhu riu. — Meus mestres diziam que, enquanto outros comiam o arroz de “cem famílias”, eu bebia o leite de “cem famílias” — por isso sempre tive muito apetite. Brincavam que o templo quebrava me alimentando.

— Parece que você era mesmo uma comilona — o Príncipe Chen acariciou seus cabelos, divertido.

— Embora suspeite que o templo era pobre porque meus mestres eram preguiçosos — Jiuzhu, lembrando, ficou tagarela. — Em dias de sol, eles ficavam horas sentados numa árvore, recusando-se a lavar a louça.

— Então você lavava?

Jiuzhu hesitou.

— ...Não. Eu puxava uma cadeira de balanço para debaixo da árvore e cochilava.

O Príncipe Chen ergueu a sobrancelha.

— Que trio tão dedicado e filial vocês deviam ser.

— Depois da chuva, as montanhas ficam cheias de cogumelos. Meus mestres me levavam para coletar, e a gente vendia o que sobrava para conseguir dinheiro — Jiuzhu suspirou. — Uma vez, o Segundo Mestre cavou uma raiz de ginseng para vender, mas o Primeiro Mestre confundiu com nabo e cozinhou. Eu tomei a panela inteira e tive sangramento nasal por dias. O Primeiro e o Segundo Mestre brigaram e quebraram a única mesa intacta do templo.

Esses dois mestres... soavam completamente imprestáveis. O fato de Jiuzhu ter crescido saudável devia ser pura sorte.

Espera — quebraram a mesa?

Os olhos do Príncipe Chen se arregalaram.

— Quebraram uma mesa?

— Hum. Era velha, e meus mestres sabiam um pouco de artes marciais. Quebrar coisas não era difícil para eles.

Faz sentido. Duas mulheres que administram um templo nas montanhas precisariam saber se defender.

Ainda assim, quebrar uma mesa de madeira não era algo simples.

— Seus dois mestres já te ensinaram artes marciais?

— Aprendi algumas técnicas básicas — Jiuzhu sussurrou baixinho no ouvido do Príncipe Chen. — Mas ambos disseram que eu não tinha talento para isso. Mandaram eu não contar para ninguém depois que chegássemos à capital — minhas habilidades atrapalhadas os envergonhariam.

Não era de se espantar que ela nunca tivesse mencionado isso em todo o tempo que se conheciam.

Se suas habilidades de pintura eram péssimas, mas ainda assim os mestres elogiavam, o quão ruim seriam as artes marciais dela para eles nem tentarem um elogio?

— Porquinha — o Príncipe Chen olhou nos olhos dela. — Eu não ligo para o que aquela mulher disse, e você também não deveria.

Jiuzhu piscou seus grandes olhos para ele.

— Nossa porquinha é gentil, adorável, pura e amável — disse ele com sinceridade. — Não importa onde você cresceu. O que importa para mim é se você foi feliz antes, se sofreu, se alguém já te machucou.

— Se alguém fez isso, eu vou fazê-los pagar. Se seu passado não foi bom, eu vou compensar, pouco a pouco. — Ele sorriu. — O fato de termos nos encontrado há tanto tempo prova que o céu quis que ficássemos juntos.

Jiuzhu abraçou o Príncipe Chen e enterrou o rosto no peito dele.

— Hum.

Só agora percebeu que as palavras de Ming Zhenyu a tinham incomodado, nem que fosse um pouco.

Muitas coisas neste mundo não existem de verdade, mas se alguém espalha boatos, eles podem se tornar reais para os outros.

Esse é o poder das fofocas sem fundamento.

Mas Sua Alteza apagou até o último vestígio de inquietação no coração dela.

Enquanto Jiuzhu adormecia apoiada nele, o Príncipe Chen sentou-se devagar, jogou seu robe sobre os ombros e saiu da câmara interna.

— Alteza? — o eunuco de plantão se assustou ao ver o Príncipe Chen sair com o cabelo ainda solto. Apressou-se. — Por que está acordado a essa hora?

— Acendam as lanternas. Vamos para o Palácio Taiyang. — O semblante do Príncipe Chen estava sombrio, os olhos cheios de intenção de matar.

O eunuco ficou tão assustado com o olhar que logo chamou outros para pegar lanternas e um manto, enquanto um tentava prender o cabelo do príncipe.

— Não precisa — dispensou o Príncipe Chen. — Vamos direto para o Palácio Taiyang.

Ninguém ousou perguntar por que ele ia tão tarde. Preparam rapidamente uma liteira e enviaram aviso ao palácio.

O Imperador Longfeng acabara de tirar o robe e se acomodar na cama imperial quando um criado anunciou a chegada do Príncipe Chen.

Ele sentou-se.

— Deixe que Du Qing entre direto.

Quando o Príncipe Chen entrou, o imperador viu o cabelo solto do filho e sua expressão fria. Seu coração apertou.

— O que houve? Sente-se.

— Pai. — O Príncipe Chen avançou e fez uma reverência. — Peço que reabra a investigação sobre a família Ming de Lingzhou.

O Imperador Longfeng fez uma pausa, depois suspirou.

— Você já sabe do passado de Jiuzhu?

— Já sabia?

— Quando a família Ming encontrou a filha deles, pensei em arranjar um casamento aliando as famílias — admitiu o imperador. — Eles confiaram em mim, então enviei homens para investigar. A garota cresceu num templo taoísta — pura e bondosa. Não deixe isso causar mal-entendidos entre vocês.

— Como eu poderia desconfiar dela? Eu só desprezo a crueldade da família Ming. Se Jiuzhu não tivesse sido resgatada, seria apenas ossos na mata — nunca teria a chance de crescer. — Os olhos do Príncipe Chen ardiam de angústia. — Ela talvez nem estivesse inteira — espalhada por lobos ou ursos, seus restos perdidos na floresta.

— Pai, você me disse que o mal sempre encontra a retribuição. — O Príncipe Chen fez uma profunda reverência. — Eu serei essa retribuição.

O Imperador Longfeng olhou para o filho e sorriu orgulhoso.

Seu filho finalmente se tornou uma árvore imponente, capaz de abrigar quem estivesse ao seu redor.

Levantou-se e pousou a mão no ombro do filho.

— Du Qing, se quiseres ser Príncipe Herdeiro, tudo isso poderá conquistar com facilidade.

Capítulo 112 — Cuidado

O vento balançava as lanternas penduradas sob as beiradas do telhado, a luz tremeluzente delas finalmente se aquietando.

— Pai Imperador, com o senhor aqui, por que eu precisaria do título de Príncipe Herdeiro? — disse o Príncipe Chen.

— Se você se tornar o Príncipe Herdeiro, terá sua própria Chancelaria e a autoridade para cuidar dos assuntos do estado sem precisar da minha aprovação para tudo — sorriu o Imperador Longfeng. — A Família Ming de Lingzhou — o destino deles depende só de uma palavra sua.

— Mesmo que eu não seja o Príncipe Herdeiro, lidar com eles ainda exigiria só uma palavra sua — balançou a cabeça o Príncipe Chen. — Antes, eu podia vir correndo para o senhor para tudo. Se agora tenho que fazer tudo sozinho, qual o sentido de ser Príncipe Herdeiro?

— Um homem deve estabelecer sua família e sua carreira, oferecendo abrigo para esposa e filhos. Você não quer que sua princesa veja seu lado decisivo e autoritário, guiando o reino? — perguntou o Imperador Longfeng.

— Quer que ela pense que você é incapaz de algo além de correr para o pai pedir ajuda?

— Quer que os cortesãos zombem de mim, dizendo que não consegui encontrar um sucessor digno?

— Seu irmão mais velho é direto, esperto, mas inflexível. Seu segundo irmão é ainda mais simples, sem coragem para assumir grandes responsabilidades. Quanto ao terceiro, é muito dócil e excessivamente astuto — mas astúcia demais faz um governante imprudente. E o quarto...

Ao mencionar Yun Yanze, o Imperador Longfeng olhou para o Príncipe Chen.

— Seu temperamento é o menos adequado para o trono entre todos vocês.

— Você é meu filho amado, com a essência de um imperador — suspirou o Imperador Longfeng. — Durante o reinado do Imperador Anterior, o povo sofreu. Seja a Viúva Nobre Consorte Jing ou as mulheres miseráveis do palácio das consortes, eram apenas uma gota no oceano de sua crueldade. Se você pode simpatizar com a Viúva Nobre Consorte Jing, então entende o quão vital é um governante sábio para o povo.

— O reino é mais do que duas palavras — o Imperador Longfeng abriu a janela, deixando o Príncipe Chen ver as flores, as árvores e a lua brilhante no céu. — O reino são seus incontáveis habitantes — suas alegrias e tristezas, fome e calor — todos sujeitos aos caprichos do imperador.

— Quando sua princesa nasceu, foi arrancada da família e abandonada nas montanhas. O verdadeiro culpado não foi a Família Ming de Lingzhou — foi o Imperador Anterior.

— Ele ouviu difamações, não soube distinguir lealdade da traição, e mergulhou a corte no caos. Sua princesa foi uma das sortudas sobreviventes entre suas vítimas — disse o Imperador Longfeng, voltando-se para o filho. — Du Qing, você é filho meu e de Mei Dai. Tem minha determinação e a bondade dela. Acredito que será um grande Príncipe Herdeiro.

O Príncipe Chen caminhou até a janela, fechou-a e cobriu os ombros do pai com um robe externo.

— O senhor tirou o robe — disse ele —, por que convidar o frio da noite?

— Tudo bem — o Imperador Longfeng riu calorosamente. — Você ainda é jovem. Vamos conversar sobre isso outra hora. Já concordei sobre a Família Ming de Lingzhou. Fique no Palácio Taiyang esta noite.

— Tenho uma esposa agora — ajustou o Príncipe Chen o robe do pai —, o que eu faria ficando aqui? Descanse cedo. Não fique acordado até tão tarde novamente.

Sempre que os assuntos do palácio se acumulavam, seu pai evitava as broncas da mãe dizendo que passaria a noite no Palácio Taiyang. O Príncipe Chen conhecia essa tática desde pequeno.

— Ouvi dizer que alguém no palácio fofocou sobre o quarto príncipe, e você resolveu a situação? — o Imperador Longfeng sentou-se na cama imperial.

O Príncipe Chen sentou ao lado.

— A disciplina de um filho é dever do pai — disse. — Que direito têm os de fora para interferir? Há um ditado popular: “Se a carne apodrece, fica na panela.” Ninguém de fora pode levar.

O Imperador Longfeng riu.

— Você tem razão.

O mundo pensava que ele favorecia Du Qing por Mei Dai.

Mas o que ele realmente prezava era a natureza do filho.

— Descanse agora. Amanhã cedo, você deve comparecer à grande assembleia da corte.

Príncipe Chen sempre acreditou que ser imperador — especialmente sábio — era acordar antes das estrelas desaparecerem, sair do palácio com o nascer do sol e, muitas vezes, despertar à meia-noite para lidar com emergências.

O poder era tentador, mas sem autocontrole, uma alta posição só trazia mal para mais pessoas.

— Desejo sinceramente sua saúde eterna e bênçãos infinitas — fez uma reverência profunda ao Imperador Longfeng antes de sair do Palácio Taiyang.

O palácio estava silencioso, salvo pelo canto ocasional de insetos. As criadas e eunucos de plantão passavam sorrindo, mas ao verem a liteira dele, logo se recompunham e recuavam respeitosamente.

Guardas armados caminhavam com suas lanças, o tilintar das espadas batendo contra a armadura.

Eles o saudavam com as mãos unidas, as franjas vermelhas nos elmos balançando suavemente com a brisa noturna.

— Parem — ordenou o Príncipe Chen. Observou os guardas com lanternas se afastarem antes de voltar ao Palácio Taiyang. — Voltem ao Palácio Taiyang.

Jiuzhu acordou debaixo dos cobertores. O Príncipe Chen ainda dormia ao lado dela. Depois de pensar um pouco, ela enfiou a cabeça de volta sob as cobertas.

Os pássaros cantavam lá fora. Ela olhou para os longos cílios dele, contando-os silenciosamente com um sorriso.

Alguém andava nervoso no quarto externo, como se precisasse dar notícias urgentes, mas não ousasse incomodá-los.

Jiuzhu apoiou-se num braço, saiu da cama, envolveu-se num robe e saiu na ponta dos pés.

— O que aconteceu? — perguntou.

— Princesa — vendo-a, Chunfen se apressou e sussurrou. — Há problemas no Palácio da Sexta Consorte.

— O que houve?

— A consorte do Quarto Príncipe, Sun Caiyao, sofreu um aborto — o rosto de Chunfen ficou pálido. — O mensageiro disse que ela acordou mais tarde do que o habitual hoje. As servas ficaram preocupadas e foram ver — encontraram a cama ensanguentada. O bebê se foi.

Jiuzhu congelou por um instante.

— Busque algumas ervas para nutrir o sangue no depósito. Vou vê-la imediatamente.

— Princesa, espere — as criadas a rodearam. — Deixe-nos vesti-la primeiro.

Jiuzhu sentou-se diante do penteadeira, as sobrancelhas franzidas. Tinha visto Sun Caiyao dias atrás — a gravidez parecia estável, sem sinais de risco.

No quarto do Palácio da Sexta Consorte, Sun Caiyao recostava-se na cabeceira, tomando o remédio que Bai Shao trouxera. Sua expressão não mostrava tristeza nem raiva — apenas entorpecimento.

Yun Yanze entrou e dispensou todos com um gesto. Sua falsa preocupação e tristeza desapareceram.

Sun Caiyao zombou:

— Chega de fingimento agora, Alteza?

Yun Yanze:

— Você perdeu o bebê. Descanse em seu quarto.

— Hipócrita desprezível — a voz dela tremia de ódio. — Arrependi-me — arrependi-me de ter me casado com você.

— Não foi você que me procurou, desesperada para se tornar minha consorte? — o rosto de Yun Yanze ficou inexpressivo. — Agora que caí em desgraça, e Yun Duqing permanece exaltado como Príncipe Chen, você se arrepende?

— Que pena — sorriu. — Se você não tivesse remado comigo no lago naquele dia, talvez fosse consorte do Príncipe Chen agora. Olhe como ele trata a princesa — sedas, joias, fogos de artifício, caminhadas na montanha, até empinar pipas juntos.

— Mas o destino não foi gentil com você — apertou o queixo dela. — Ontem à noite — sei que viu.

Os olhos de Sun Caiyao se dilataram, lágrimas brotando.

— Você é um monstro!

— Depois de planejar tanto para se casar comigo, que tipo de mulher virtuosa você acha que é? — Yun Yanze soltou o queixo dela com um sorriso sarcástico. — Lembro que tem um irmão mais velho servindo em posto distante. Reze pela segurança dele, não é? Seria uma pena se algo... desagradável acontecesse com ele.

— Quem pegou a criança que caiu da janela anos atrás — não foi você, não foi? — Sun Caiyao perguntou incisiva. — Você me enganou o tempo todo.

— Enganar você? — Yun Yanze riu friamente. — Quando disse que era aquele homem? Você criou essa fantasia. O que isso tem a ver comigo?

— Então é por isso... por isso...

Sun Caiyao finalmente entendeu. Não era à toa que, em seus sonhos, Ming Jiuzhu acabara escolhendo perecer junto dele. E ela, que tanto havia sentido pena de Jiuzhu por sua dureza, preocupando-se com Yun Yanze a cada passo — só agora percebeu que tinha sido a tola o tempo todo.

— Deixe-me pensar... realmente houve um príncipe que salvou uma criança de cair naquele ano. — Um prazer torcido brilhou nos olhos de Yun Yanze. — Quer arriscar um palpite de quem foi?

O rosto de Sun Caiyao ficou pálido.

— Ah, você já descobriu.

— Foi ninguém menos que Yun Duqing — o mesmo homem que você desprezou tão completamente. — Yun Yanze caiu na risada. — Se não tivesse me seduzido, talvez você pudesse ter se casado com o homem dos seus sonhos.

Como sua própria vida já estava mergulhada em miséria, ver os outros afogando-se em sofrimento não lhe trazia nada além de alegria.

— Irmã Chunfen, escute — Jiuzhu olhou para a rocha artificial. — Não parece que alguém está chorando? Leve alguns criados e veja o que está acontecendo.

Chunfen voltou rapidamente.

— Alteza, é uma criada que cuida do gato da Princesa Roude. Alguém quebrou os membros do pobre animal, e quando ela o encontrou perto do Palácio Zhangliu, já estava quase morto. Ela chora pela dor do gato e pelo medo da punição da princesa.

Jiuzhu franziu a testa, lembrando do gato da Consorte Dowager Zhao, que também fora encontrado com as patas dianteiras quebradas perto do Palácio Zhangliu.

Ela caminhou até os fundos da rocha e viu a jovem criada embalando o gato choramingando, seu corpo peludo e frágil era uma visão miserável.

— Ainda está vivo. — Depois de pensar um pouco, Jiuzhu tirou uma pílula da bolsa, a esmigalhou entre os dedos e cuidadosamente deu ao gato.

— Alteza, que remédio é esse?

— Algo que meu mestre preparou. Ele disse que pode curar qualquer ferimento, a não ser que seja uma ruptura interna. — Vendo a respiração difícil do gato, Jiuzhu sabia que chamar um médico seria inútil. — Só podemos tentar.

— Obrigada, Alteza! Obrigada! — A criada fez várias reverências, ainda segurando o gato.

— Não precisa. Fique aqui com ele — disse Jiuzhu, acariciando a cabeça do gato. — Não o mexa. Quando eu voltar do Palácio Zhangliu, ajudarei você a levá-lo para a Princesa Roude.

A criada entendeu — a princesa a estava protegendo. Ela se ajoelhou, tocou a testa no chão em gratidão.

Depois que Jiuzhu saiu, a criada ficou encostada na rocha, segurando o gato meio atordoada. Não sabia quanto tempo havia passado quando, de repente, o gato deu um miado fraco.

Tremendo, ela olhou para baixo. Os olhos do gato estavam abertos. Lágrimas rolaram pelo seu rosto novamente.

Quando Jiuzhu chegou às câmaras de Sun Caiyao, as outras princesas já estavam presentes. O clima era pesado, e ninguém sorriu ao vê-la entrar.

— Quarta cunhada. — Jiuzhu pegou delicadamente o pulso de Sun Caiyao. — Como você está se sentindo?

Sun Caiyao fitou Jiuzhu, que havia corrido do Palácio Kirin, e de repente agarrou sua mão com força. As lágrimas que ela havia reprimido por tanto tempo jorraram.

— Você não deve chorar agora. Concentre-se em se recuperar — disse Jiuzhu, vendo o rosto abatido da bela. — Haverá outras chances. — Ela enxugou as lágrimas de Sun Caiyao com um lenço. — Não importa o que aconteça, uma mulher deve sempre ser gentil consigo mesma.

— Deixe-a chorar. — Os olhos da Princesa Huai também estavam vermelhos. — O médico imperial disse que o aborto foi causado por choque e raiva. Às vezes, um bom choro é a única saída.

Mas ninguém esperava que Sun Caiyao, que nunca parecia particularmente próxima de Jiuzhu, desabasse finalmente em sua presença.

Ouvir as palavras reconfortantes de Jiuzhu só aprofundou a angústia de Sun Caiyao. Ela envolveu os braços em volta da cintura de Jiuzhu e soluçou abertamente.

Aquela mulher — que ela temera, ressentira e desconfiara — tornara-se a única fonte de consolo que lhe restava.

Jiuzhu congelou por um momento, depois pousou a mão nas costas de Sun Caiyao, acariciando-a suavemente.

Bai Shao entrou com remédios e parou ao ver a quarta princesa agarrada à Princesa Chen. Ela lançou um olhar para a tigela fumegante nas mãos e baixou a cabeça, esperando silenciosamente.

— Não haverá outra chance... nunca mais. — Sun Caiyao chorava no ombro de Jiuzhu, a voz quase inaudível. — Foi tudo minha culpa. Eu estava errada.

— Não foi sua culpa. — murmurou Jiuzhu. — A criança era apenas muito travessa, saiu para brincar e esqueceu o caminho de casa. Quando você se recuperar, eles voltarão.

— Um lar como este... talvez seja melhor que eles nunca venham. — Sun Caiyao encostou os lábios no ouvido de Jiuzhu e sussurrou com urgência: — Cuidado com Yun Yanze. Ele é um louco.

Então, abruptamente, ela afastou Jiuzhu com um empurrão e zombou:

— De que adiantam esses consolos vazios? Está zombando de mim?

Jiuzhu se virou calmamente — justo a tempo de ver Yun Yanze parado na porta, o rosto abatido pela dor.

Capítulo 113 — Qual dos Dois

— Quarta cunhada, descanse bem e cuide da sua saúde. Voltarei para visitá-la mais tarde. — Jiuzhu levantou-se, segurou a barra da saia e saiu. Ao passar pela porta, esbarrou acidentalmente em Yun Yanze, que parecia abatido e mal conseguia se manter de pé, fazendo-o tombar escorregando pelos degraus de forma desajeitada.

— Alteza Quarta! — Os servos do palácio rapidamente ajudaram Yun Yanze, pálido, a se levantar do chão.

As outras consortes lançaram olhares silenciosos para Sun Caiyao, que jazia fraca na cama, mas nenhuma ousou falar. Por que ela tinha dito aquelas coisas tão desagradáveis? Incapaz de revidar contra ela, Jiuzhu havia despejado sua raiva no marido de Sun Caiyao.

— Peço desculpas, Quarto Irmão. — Jiuzhu fez uma leve reverência. — Estava tão preocupada com o estado da Quarta Cunhada que não o percebi. Por favor, me perdoe.

— Não foi nada. — A voz de Yun Yanze tremia de dor.

— O Quarto Irmão realmente é um cavalheiro, magnânimo e gentil. — Jiuzhu fez outra reverência antes de se virar e sair, acompanhada pelos servos do Palácio Kirin, sua saída tão audaciosa quanto sua presença.

Vendo a situação esquentar, as outras três consortes mantiveram sorrisos desconfortáveis, suportando o clima tenso por quase uma hora antes de se retirarem.

— Bai Shao, pode ir. Não precisa mais ficar aqui. — Yun Yanze lançou um olhar para a criada encostada no canto. — O remédio esfriou. Prepare uma tigela fresca para a consorte.

Bai Shao hesitou.

— Devo chamar alguém para ajudar?

— Não precisa. Eu vou ficar com ela. — Yun Yanze foi até a cama e segurou delicadamente a mão de Sun Caiyao. — Vou fazer companhia à minha esposa por um tempo.

— Como desejar. — Bai Shao fez uma reverência e saiu.

O silêncio tomou conta do quarto.

— Neste mundo, apenas as pedras e os mortos guardam segredos. — Yun Yanze tirou um pequeno frasco da manga. Antes que Sun Caiyao pudesse reagir, ele pressionou um pano contra o pescoço dela, abriu sua boca à força e inclinou o frasco em direção aos seus lábios.

Fraca pelo aborto, Sun Caiyao não teve forças para resistir. Sufocada pela mão firme de Yun Yanze, nem sequer conseguiu gritar por socorro.

Seus olhos se arregalaram de terror, fixos nele em acusação silenciosa.

Para o Quarto Alteza, famoso por suas habilidades marciais e erudição, matá-la seria tarefa fácil.

— Alteza! — A voz de Bai Shao veio de fora.

— O que houve? — A voz de Yun Yanze estava estranhamente calma.

— A Princesa Consorte de Chen chegou.

Por que ela voltara? Lembrando que Jiuzhu o derrubara mais cedo, Yun Yanze soltou Sun Caiyao, dobrou cuidadosamente o pano e o colocou ao lado do travesseiro dela.

— Pense bem no seu querido irmão antes de falar — sussurrou.

— Deixe-a entrar.

Mal terminara de falar, Jiuzhu varreu a cortina e entrou.

— Quarta Cunhada, Sua Majestade a Imperatriz, comovida com sua perda e sabendo que não tem ninguém mais velho para cuidar de você, me enviou para levá-la ao Palácio da Lua Brilhante para se recuperar.

— Como júnior, seria impróprio para Caiyao incomodar Sua Majestade — Yun Yanze disse, estreitando os olhos. — Além disso, mulheres devem evitar o vento após um aborto. É melhor que ela não seja movida.

— Sua Majestade é gentil e atenciosa. Ela já pensou nisso, Quarto Irmão. Não se preocupe — Jiuzhu caminhou até a cama e sentou-se ao lado de Sun Caiyao, cujos ombros tremiam incontrolavelmente. Pegou suas mãos frias nas suas. — Você está recusando porque não confia em Sua Majestade?

Yun Yanze observou as mãos entrelaçadas.

— Não é que eu desconfie de Sua Majestade, mas minha esposa e eu temos um laço profundo. Simplesmente não posso suportar...

— Quarto Irmão, essa é a ordem da Imperatriz. Vai desafiá-la? — Jiuzhu mostrou o talismã da fênix, deixando claro que não cederia.

Os servos do palácio ficaram congelados em choque. Até os outros príncipes e consortes que correram ao ouvir a confusão estavam atônitos. Quando a sempre alegre e amável Ming Jiuzhu fora tão inflexível?

O Príncipe Huai, no pátio, puxou a manga da Princesa Huai.

— Quinta cunhada nunca pareceu do tipo mesquinho. Por que está fazendo tanto barulho por umas poucas palavras da Quarta Cunhada, ainda invocando a autoridade da Imperatriz?

A Princesa Huai balançou a cabeça lentamente. Aquela situação cheirava a algo muito mais sombrio.

— Quarta Cunhada. — Jiuzhu tirou um véu vermelho transparente da manga e o colocou sobre o rosto de Sun Caiyao. — O vento lá fora está forte. Cubra a boca e o nariz para não pegar um resfriado. Vou levá-la ao Palácio da Lua Brilhante.

Sun Caiyao olhou fixamente por um momento antes de agarrar a mão de Jiuzhu com força desesperada, recusando-se a soltar.

— Quarto Irmão, saia do caminho. — Jiuzhu se abaixou e levantou Sun Caiyao nos braços.

Yun Yanze tentou bloqueá-la, mas Jiuzhu franziu a testa.

— Você não só desobedece a ordem da Imperatriz, como ainda quer colocar as mãos numa mulher?

Aproveitando a hesitação dele, Jiuzhu passou por ele.

— Uau! — Os olhos do Príncipe Huai se arregalaram. — Quinta cunhada é mais forte do que parece!

— Silêncio! — A Princesa Huai lançou-lhe um olhar e correu para ajudar Jiuzhu a apoiar Sun Caiyao.

A Princesa Consorte An, saindo do estado de torpor, se aproximou para ajustar o véu, garantindo que nenhum vento passasse por baixo.

As três acomodaram Sun Caiyao no palanquim. Como a mais velha entre as consortes e amiga de Jiuzhu, a Princesa Huai confiava que ela não atormentaria Sun Caiyao por simples palavras.

Além disso—

Ela percebeu como Sun Caiyao agarrava a manga de Jiuzhu. Não era medo de Ming Jiuzhu. Era medo de ficar para trás.

A Princesa Consorte An, que geralmente só se importava com lazer, viu a seriedade no olhar da Princesa Huai e baixou a voz.

— Quarta cunhada não está ela mesma agora. Não leve as palavras dela a sério.

— Segunda cunhada, não se preocupe. Nunca guardaria rancor dela. — Vendo Sun Caiyao ainda segurando sua manga, Jiuzhu entrou no palanquim ao seu lado.

Depois que saíram do palácio, Sun Caiyao levantou lentamente o véu vermelho.

— Por que você voltou?

— Porque você pediu ajuda — Jiuzhu respondeu, intrigada. — Você chorou tão amargamente e me afastou quando Yun Yanze apareceu — não foi um pedido silencioso para alguém salvá-la?

Sun Caiyao a encarou. Será que era realmente assim tão simples? Tão direto?

Como consorte, ela não deveria entender a necessidade de cautela e cálculo?

— Você tinha medo, e eu pude ajudar. Então ajudei. — Jiuzhu ajeitou a posição. — Se estiver mal, encoste no meu ombro.

Mil palavras giravam no peito de Sun Caiyao, mas tudo que conseguiu foi um silencioso:

— Obrigada.

No instante em que sua cabeça repousou no ombro de Ming Jiuzhu, a tormenta em seu peito cedeu a uma calma inesperada.

— Não sei o que há entre você e Yun Yanze, mas alguns fardos só ficam mais pesados quando guardados. — Jiuzhu olhou para a companheira silenciosa. — Se não conseguir resolver algo sozinha, procure seus mais velhos. Eles passaram por mais que nós — saberão o que fazer.

— Mas eu não quero preocupá-los...

— Se eles não puderem ajudar, então você fica calada. Mas sua família, os Suns, é uma casa de honra. Seus antepassados foram generais e ministros leais. Com certeza eles vão lhe servir melhor do que o silêncio.

— Quinta cunhada. — Sun Caiyao apertou a manga de Jiuzhu. — Sei que o Quinto Alteza é favorecido por Sua Majestade. Pode pedir para ele enviar um recado — para que alguém proteja meu irmão imediatamente?

— Está bem. — Jiuzhu usou a manga para cobrir o rosto de Sun Caiyao, levantou a cortina do palanquim e chamou um jovem eunuco: — Envie alguém para informar Sua Alteza que tentaram assassinar um erudito do último exame imperial. Peça que ele se apresente a Sua Majestade e providencie proteção.

O eunuco apressou-se a sair, e Jiuzhu abaixou a cortina, afastando a manga do rosto de Sun Caiyao:

— Seu irmão mais velho foi um dos eruditos daquele exame. Questões assim devem ser reportadas diretamente a Sua Majestade.

Sun Caiyao congelou — será que assuntos envolvendo um príncipe podiam ser tratados tão diretamente?

— Sua Majestade é um governante sábio. — Jiuzhu, embora ingênua sobre os assuntos do mundo, entendia a natureza humana: — Depois que você se encontrar com sua família amanhã, pode decidir como proceder.

— A vida é curta. Pensar demais e hesitar só traz arrependimentos e sofrimento. — Jiuzhu ajeitou o manto que escorregava dos ombros de Sun Caiyao: — Comparado à imensidão do mundo, o ser humano é pequeno e passageiro. É melhor seguir o coração e viver sem arrependimentos.

Antes, ela achava Sun Caiyao estranha e contraditória, como se estivesse lutando com algo. Mas nos encontros recentes, aquele conflito havia desaparecido — e junto dele, toda a sua vitalidade. Estava pior do que antes.

Pelo menos naquela época, apesar de sua estranheza, havia uma centelha de vida nela.

— Viva sem arrependimentos... — Sun Caiyao fitava Ming Jiuzhu intensamente. A mulher diante dela agora era totalmente diferente daquela dos seus sonhos. A Ming Jiuzhu dos sonhos tinha olhos cheios de uma escuridão insondável, ao contrário da Jiuzhu presente, cujos olhos brilhavam com estrelas e luz.

— Yun Yanze quer me matar.

— Ele já perdeu a razão.

Fitando os olhos de Jiuzhu, ela murmurou: — Talvez... ele esteja louco há muito tempo.

Os corredores do Palácio Zhangliu estavam assustadoramente silenciosos. Yun Yanze sentava-se na câmara vazia, observando Bai Shao do lado de fora da porta:

— Depois de hoje à noite, Sua Majestade não vai mais me tolerar. Estou acabado.

Ele não era mais um príncipe — talvez já tivesse esquecido disso.

— Se eu me arruinar, você também. — Yun Yanze sorriu, um sorriso gelado: — Como ele não vai poupar a mim, não seria justo ter o filho mais amado dele me acompanhando na morte?

As pupilas de Bai Shao tremiam. Ela ergueu a cabeça lentamente:

— Vossa Alteza, tem algum plano?

— Plano? — Yun Yanze zombou. — Será tão difícil fazer uma criada do Palácio Kirin me servir voluntariamente?

— Hoje à noite, não vou dormir. Que o palácio inteiro mergulhe no caos — não seria animado?

O coração de Bai Shao batia violentamente. Ela se ajoelhou:

— Esta serva jura seguir Vossa Alteza até a morte.

— Bai Shao, sua lealdade é o que mais admiro em você. — O sorriso de Yun Yanze se aprofundou. — Por isso não quero que você se torne outra Hong Mei.

Hong Mei...

Será que Sua Alteza a matou?

— Vá agora. Troque-se por algo limpo e bonito. — Yun Yanze olhou para ela como se fosse apenas uma ferramenta. — Você me serve ao meu lado. Quando morrer, ao menos deve estar apresentável.

— Sim. — Bai Shao se afastou da câmara principal. Lembrou-se de uma criada do Palácio Kirin que frequentemente corava ao lançar olhares para o Quarto Príncipe sempre que acompanhava a Princesa Consorte de Chen ao Palácio Zhangliu.

Assim que teve certeza de que Yun Yanze não podia mais vê-la, virou-se e correu — desesperada, frenética, em direção ao Palácio Kirin.

Etiqueta do palácio, postura adequada — nada disso importava agora.

Nunca antes a distância entre o Palácio Kirin e o Palácio Zhangliu parecera tão assustadoramente grande.

Os corredores do palácio pareciam se estender infinitamente, o céu noturno opressivamente escuro. Por mais rápido que corresse, o caminho parecia não ter fim.

Atrás dela, um pelotão de guardas imperiais invadia o Palácio Zhangliu, cercando a residência de Yun Yanze.

— Quarto Príncipe, por ordem de Sua Majestade, você está preso.

Yun Yanze saiu andando, com as mãos cruzadas nas costas. Ele olhou para as lâminas sacadas dos guardas e riu sarcasticamente:

— Vocês chegaram mais rápido do que eu esperava.

Se ao menos ele não tivesse hesitado na noite anterior — se tivesse matado Sun Caiyao então, nada disso teria acontecido.

Que pena. Aquela intrometida, Ming Jiuzhu, o arrastou para esse abismo.

Uma lembrança distante surgiu — no dia em que foi emboscado, foi o grito de “Jiuzhu” que o distraiu, dando uma brecha para o assassino.

Desde aquele momento, a desgraça o seguiu, passo a passo, até o fundo do poço.

Se a família Ming nunca tivesse recuperado sua filha, ele não teria caído tão fundo.

Bai Shao encostou-se na parede do palácio, suor molhando suas costas, seus grampos de cabelo há muito perdidos. O Palácio Kirin estava logo à frente, mas suas pernas mal se moviam.

Aquele palácio tinha muitos cantos frios e sombrios. Mas naquele dia em que ela desabou em desespero sob uma árvore, certa de que morreria de dor, foi a Princesa Consorte de Chen quem colocou seu próprio manto sobre ela e chamou um médico.

Quando se conhecia tão pouca gentileza, até a menor bondade se tornava inesquecível.

O médico dissera que, por causa da lesão causada pela sua senhora, ela nunca teria filhos. Se o tratamento tivesse sido atrasado, não teria sobrevivido.

Ela servira sua senhora com lealdade por anos, mas aquela senhora a privara da maternidade. E, ainda assim, ela só a traíra uma vez.

Usando sua posição como criada-chefe da Consorte Ning, ela induziu a família Zheng a espalhar rumores sobre a família Ming e a Princesa Consorte de Chen no momento e lugar errados — arruinando todos os planos de sua senhora em um só golpe.

— Tia Bai Shao! — Yang Yiduo avistou sua figura despenteada tropeçando pela parede e correu para apoiá-la. — O que aconteceu?

— Leve-me — arfou Bai Shao, segurando o braço dele. — Leve-me até a Princesa Consorte! Preciso avisá-la — é urgente!

Vendo o pânico dela, Yang Yiduo hesitou apenas um momento antes de guiá-la para dentro.

Dentro dos aposentos, Jiuzhu cansada tirava seus ornamentos de cabelo.

— Estou exausta. Só quero dormir.

O príncipe Chen massageava seus ombros.

— Isso ajuda?

As criadas entraram com materiais para lavagem.

— Princesa Consorte! — Bai Shao caiu na porta, seus olhos fixos em uma criada a dois passos de Jiuzhu. — Cuidado! Aquela criada quer fazer mal a você e a Sua Alteza!

Antes que as palavras saíssem completamente, a aparentemente frágil Princesa Consorte empurrou o príncipe Chen para a cama, varreu as pernas para derrubar as criadas que se aproximavam, fazendo bacias d’água e adornos de jade caírem e se quebrarem.

Guardas escondidos arrombaram as janelas, protegendo o príncipe e Jiuzhu.

Atordoado por ter sido jogado na cama, o príncipe Chen sentou-se a tempo de ver sua esposa agarrar um banco de madeira ornamentado, brandindo-o como arma — pronta para esmagar quem ousasse se aproximar, até mesmo os guardas recém-chegados.

Jiuzhu não atacou as criadas, mas manteve os olhos vigilantes, exigindo de Bai Shao:

— Qual delas é?


Capítulo 114 — Compartilhando o Fardo do Pai

Vendo que a Princesa Consorte de Chen estava fora de perigo, Bai Shao não conseguiu mais se segurar e desabou no chão, escorregando pelo batente da porta.

Os Guardas do Dragão olharam para a Princesa Consorte, depois para o banco de madeira maciça ricamente entalhado que ela segurava erguido, e finalmente pousaram o olhar nas criadas do palácio caídas e inconscientes no chão.

Temiam que, se continuassem encarando a Princesa Consorte, aquele pesado banco de madeira pudesse desabar sobre suas cabeças.

Antes que Bai Shao conseguisse reunir forças para apontar as culpadas, uma criada de rosto redondo virou a cabeça e a fulminou com ódio.

— Você ousa trair sua própria senhora?!

Bai Shao apoiou-se no batente da porta, ofegante, rindo fraquejamente, com os cabelos úmidos grudando no rosto, parecendo completamente desarrumada.

— Embora eu seja uma serva, ainda tenho consciência.

Ela não podia escolher seu nascimento humilde, mas sabia que ainda era humana.

— Desleal e sem vergonha! — A criada de rosto redondo mal começava sua fúria quando um banco de madeira bloqueou sua visão, apagando sua ira como fogo diante de uma nevasca.

— Não jogue pedras se vive em uma casa de vidro — disse Jiuzhu, incomodada com a hipocrisia dessas elites da capital. — Como criada do Palácio Kirin, você ajudou estranhos a conspirar contra Sua Alteza e contra mim. Antes de amaldiçoar os outros, que tal olhar para si mesma?

— O que você sabe?! — A criada de rosto redondo puxou um grampo de cabelo da manga e investiu contra o pescoço de Jiuzhu!

— Princesa Consorte de Chen!

— Pequena Ming Porquinha—

A voz do príncipe Chen foi cortada abruptamente ao ver a criada desabar no chão, derrubada pelo banco de Jiuzhu. Ele se levantou silenciosamente da cama.

— Vossa Alteza, espere! — Um guarda das sombras o segurou. — Vamos primeiro verificar a identidade dessas criadas.

O que ele queria mesmo dizer era: Não se aproxime demais da Princesa Consorte — se esse banco acidentalmente caísse sobre o príncipe, seria difícil explicar para o Imperador Longfeng.

— Não gosto de brigar com mulheres — disse Jiuzhu, jogando o banco de lado. Ele rolou pelo chão até parar aos pés de outro guarda das sombras, que discretamente recuou meio passo.

— Mas se alguém tentar ferir Sua Alteza, para mim essa pessoa deixa de ser homem ou mulher. — Ela estendeu a mão. — Tragam cordas.

Yang Yiduo surgiu das sombras.

— Princesa Consorte, permita que este humilde cuide desse trabalho pesado.

Jiuzhu assentiu.

Enquanto Yang Yiduo rapidamente amarrava a criada de rosto redondo, ela arqueou uma sobrancelha.

— Chefe dos Mordomos Yang dá nós excelentes.

Yang Yiduo sorriu de maneira insinuante. Como guarda imperial designado para o príncipe Chen pelo imperador, falhara em detectar que aquela criada era uma espiã do Quarto Príncipe — uma grave negligência.

As outras criadas já haviam sido levadas para serem revistadas pelas matronas, procurando armas ou venenos escondidos.

O príncipe Chen se abaixou para pegar o banco de madeira virado, testou seu peso com uma mão antes de silenciosamente recolocá-lo no lugar.

Os guardas das sombras restantes fingiram não notar e se ajoelharam, unindo os punhos:

— Falhamos em proteger Vossa Alteza a tempo. Rogamos seu perdão.

Jiuzhu caminhou até o lado do príncipe Chen.

— Vossa Alteza, está bem? Ficou assustado?

— Estou bem. — Ele pegou sua mão, ainda um pouco tonto — provavelmente por ter sido jogado na cama com tanta brusquidão antes.

Percebendo o olhar de Jiuzhu para os guardas das sombras, ele explicou:

— São os guardas das sombras que o pai designou para nós.

— Ah. — Jiuzhu fitou as janelas que os guardas haviam arrombado e assentiu com uma expressão estranha.

Então era assim que eram os guardas das sombras — não aqueles heróis invencíveis e elusivos dos contos, que apareciam do nada para derrotar inimigos e depois sumiam.

O longo “ah” fez os guardas abaixarem ainda mais a cabeça.

— Vossa Alteza — interveio Yang Yiduo, salvando-os — as outras criadas não portavam armas. Não encontramos nenhuma prova ligando-as ao assassino.

— Bom. — O príncipe Chen estudou a criada de rosto redondo, silenciosa e bem amarrada no chão. — E esta?

— As selecionadas para o Palácio Kirin passam por rigorosas verificações de antecedentes. Apenas as de ficha limpa são escolhidas. — Yang Yiduo ajoelhou-se em sinal de desculpas. — Mas este servo negligenciou suas obrigações. Mereço punição.

— Se não fossem vocês dois conspirando contra o Quarto Príncipe, ele não teria caído tão fundo! — A criada finalmente saiu do transe. — O Quarto Príncipe já sofreu demais — por que precisam humilhá-lo ainda mais, tirando-lhe sua consorte?!

— Então você está vingando o Quarto Príncipe? — Jiuzhu entendeu finalmente. — Você assassinaria um príncipe só para aliviar a raiva dele?

A criada permaneceu em silêncio, o rosto firme e decidido.

— Eu adoro o Quarto Príncipe, e ele retribui meus sentimentos. Eu morreria por ele com prazer.

— Já que você e Sua Alteza compartilham um amor tão profundo, certamente entende meu coração. — A criada fechou os olhos. — Eu traí minha senhora. Não tenho mais nada a dizer.

— Nós somos diferentes. Mesmo que eu estivesse disposta a morrer por Sua Alteza, ele jamais permitiria que eu me arriscasse assim. — Jiuzhu olhou para ela com pena. — Se ele realmente te amasse, como suportaria te colocar em perigo?

Yang Yiduo desviou levemente o olhar. Princesa Consorte, aquelas palavras foram uma facada no coração.

— Você está mentindo! O Quarto Príncipe me ama! — Os olhos da criada se arregalaram. Ele elogiou seus lindos olhos, confidenciou suas mágoas sob a luz da lua. Um príncipe nobre não falaria tão ternamente a uma simples criada, a menos que a prezasse.

Ela conhecia toda a solidão dele, sua tristeza, sua saudade do afeto do pai.

O Quarto Príncipe recitava poesia para ela com a voz mais suave. Mesmo sem entender os versos, a elegância no porte dele era inesquecível.

Se não fosse pelo príncipe Chen, um homem tão maravilhoso não teria sido ignorado pelo imperador, perdido a mãe ou sofrido humilhações no palácio.

— Tudo bem. Supondo que ele realmente te ame, você já pensou na sua família? Nas outras criadas que não estavam de plantão — já pensou que elas poderiam ser implicadas? — Jiuzhu agachou-se, estudando o rosto da criada.

Ela conhecia aquela criada — Mu Mian, cujo sorriso era brilhante e doce.

— Assassinar um príncipe tem consequências profundas. Sua família, todos no Palácio Kirin, até mesmo nos palácios vizinhos — inúmeros inocentes serão punidos. — Jiuzhu suspirou. — Mesmo que Sua Alteza e eu mostremos clemência, sua família será impedida de exercer profissões respeitáveis por gerações.

Segundo as leis da Grande Dinastia Cheng, aqueles condenados por crimes graves tinham seus descendentes proibidos por cinco gerações de prestar exames imperiais e por três gerações de ocupar cargos ligados ao governo.

Isso já era uma leniência se comparado à dinastia anterior, quando os parentes homens eram marcados com ferro em brasa e presos.

Mu Mian permaneceu imóvel, em silêncio. Se ela se arrependia ou simplesmente recusava qualquer reação, ninguém podia dizer.

— Yang Yiduo, traga para Bai Shao um copo de água morna com uma pitada de sal e açúcar. — Jiuzhu caminhou até onde Bai Shao ainda estava caída.

— Obrigada, irmã Bai Shao, por salvar minha vida.

— Esta humilde serva não merece ser chamada de Princesa Consorte. — Bai Shao tentou se levantar do chão, mas suas pernas — exaustas de tanto correr — estavam moles como macarrão cozido demais, totalmente sem força.

— Nos tempos antigos, até uma única palavra de orientação podia fazer alguém se tornar professor. Você salvou minha vida, por isso é justo que eu a chame de irmã. — Jiuzhu delicadamente ajeitou os cabelos úmidos de Bai Shao atrás da orelha. — Irmã, descanse no Palácio Kirin esta noite. Sua Alteza e eu ainda temos assuntos a tratar.

Bai Shao assentiu e, apoiada por duas criadas do palácio, saiu da câmara principal.

O príncipe Chen chamou dois guardas das sombras.

— Levem essa criada com vocês para o Palácio Taiyang.

Jiuzhu lançou um olhar para a janela quebrada, por onde o vento uivava incessantemente.

— Não esqueçam de consertar a janela.

— Entendido — responderam os guardas rapidamente.

— Ahem. — Jiuzhu ajeitou suas vestes. — No calor do momento, de alguma forma consegui erguer aquele banco. Agora meu braço dói terrivelmente.

— Deixe, eu massageio para você. — O príncipe Chen segurou seu pulso, amassando-o gentilmente.

Nem Yang Yiduo nem os guardas tiveram coragem de contar a Seus Altezas que o banco havia sido erguido na verdade com a outra mão dela.

No Palácio Taiyang, o Imperador Longfeng olhava friamente para Yun Yanze, que estava ajoelhado à sua frente. O desdém gelado nos olhos dele trazia à tona lembranças da infância do príncipe, quando a família imperial estava confinada na antiga residência.

Anos atrás, ao passar pelo jardim abandonado da propriedade, ele tinha visto o jovem Quarto Príncipe mordiscando um grande pêssego. Queria avisar o garoto sobre as cobras escondidas na grama — só que Yun Yanze escondeu a fruta atrás das costas e disse que estava caçando insetos.

Uma criança de sete ou oito anos não tinha astúcia para mentir bem, mas o Imperador fingiu ignorância.

Agora, o menino tinha se tornado um homem cujas mentiras eram mestres — e cujas ambições cresceram.

Entre pai e filho, pouco restava a dizer.

— Por que insistir nesse fingimento de afeto paternal? — Yun Yanze falou finalmente. — Me mate, torture, faça o que quiser. Por anos, só fui um espinho no seu lado. Com minha morte, o caminho do seu precioso filho ao trono ficará livre.

— Você nunca foi um obstáculo para Duqing — respondeu o Imperador Longfeng calmamente. — Nunca o vi assim.

— Claro que não. A seus olhos, quem além de Yun Duqing poderia importar? — Yun Yanze zombou. — Você nos prendeu no palácio, fez aqui uma grande festa de casamento para ele, até preparou o Palácio Kirin — reservado ao Príncipe Herdeiro — só para ele. Admita. Você quer nomeá-lo seu sucessor.

— Está certo. Pretendo mesmo torná-lo Príncipe Herdeiro. — O tom sereno e direto do Imperador fez Yun Yanze engolir suas queixas, tornando inúteis quaisquer protestos.

Com um escárnio, ele caiu em silêncio.

— Vossa Majestade, desastre! —

Ao ouvir o grito apavorado, o rosto de Yun Yanze se iluminou com uma alegria cruel. Seus olhos ardentes fixaram-se no Imperador, ansioso para ver a devastação do homem ao saber da morte do filho favorito.

— O que aconteceu? — perguntou o Imperador Longfeng enquanto o eunuco entrava apressado.

— O príncipe Chen, ele—ele—

Yun Yanze não conseguiu conter a risada.

— Pegou a peônia “Dragão Negro em Repouso” que Vossa Majestade cultivou para a Imperatriz e a usou para enfeitar o cabelo de sua consorte!

— Que peônia você disse? — A compostura cuidadosamente controlada do Imperador quebrou.

— A “Dragão Negro em Repouso” — gaguejou o eunuco.

Aquela peônia fora cultivada pelo próprio Imperador, um presente destinado à Imperatriz. Agora, estava profanada — e pior, o príncipe havia reclamado que suas cores eram "muito apagadas" para os cabelos de seda de sua consorte. O eunuco sabiamente guardou essa parte para si.

— Pai, seu filho e nora vêm prestar respeitos. — O príncipe Chen entrou de mãos dadas com Jiuzhu, curvando-se alegremente. — Desejamos boa saúde.

— Boa saúde para o pai. — Jiuzhu fez uma reverência, a peônia tremendo na sua têmpora, as pétalas realçando suas feições delicadas.

O olhar do Imperador passeou da flor para o filho. Ele respirou fundo.

— Que tipo de “respeitos” vocês vêm prestar a esta hora?

Não era uma visita de cortesia — era uma campanha para roubar seu sono.

O sorriso de Yun Yanze congelou ao encarar Yun Duqing, vivo e ileso.

Por quê? Por que ele ainda respirava?

— Ouvimos que o Quarto Irmão estava aqui, então viemos visitá-lo. — O príncipe Chen ajeitou a peônia no cabelo de Jiuzhu. — As flores no jardim do Palácio Taiyang chamaram minha atenção. Embora esta aqui seja meio sem graça — “Rosto de Criança” ou “Belezas Gêmeas” combinariam mais com nossa Pequena Ming Porquinha.

O eunuco lançou um olhar desesperado para o Imperador.

Quinto Príncipe, por favor — pare de cavar sua própria sepultura!

— Então você admite que é feia, mas mesmo assim a escolheu? — o Imperador riu sem alegria.

De todas as flores, o pirralho escolhera justamente aquela que ele cultivara com tanto esforço. Era uma provocação deliberada.

O príncipe Chen sorriu.

— Mas é especial — criada pelas próprias mãos do pai.

O Imperador pegou um memorial, pronto para arremessá-lo, mas mudou de ideia para não se cortar com as bordas afiadas. Em vez disso, amassou duas folhas e as lançou.

As bolas de papel quicaram inofensivamente no peito do príncipe Chen. Ele segurou o lugar teatralmente.

— Pai, precisa me ferir ainda mais? Meu coração já dói esta noite.

Outro papel foi lançado. O Imperador juntou as mãos atrás das costas, com o semblante grave.

— O que aconteceu?

— Um assassino foi detido no Palácio Kirin. — Os olhos do príncipe Chen fixaram-se em Yun Yanze.

O Quarto Príncipe o encarou sem vacilar, os lábios se curvando.

— Que tenacidade, Quinto Irmão.

— Graças ao pai e à minha Pequena Porquinha, estou prosperando. — O príncipe Chen olhou para ele. — Desculpe desapontá-lo.

— Você ousou mandar assassinos contra seu próprio irmão?! — O Imperador levantou o pé para chutar.

— Pai, deixe sua nora. — Jiuzhu levantou a saia e desferiu um chute poderoso nas costas de Yun Yanze.

— Thud.

Os espectadores viram o Quarto Príncipe ser lançado ao ar antes de cair com a testa no chão, produzindo um estalo horrível.

O grampo de cabelo dele caiu pelas lajotas, deslizando até parar contra a parede.

— É meu dever compartilhar os fardos do pai. — Jiuzhu ajeitou as saias e fez uma reverência doce. — Um chute não foi suficiente?

— Ah? — O sempre estoico e sábio Imperador ficou pasmo.

— Entendi. — Assentindo, Jiuzhu levantou a barra da saia outra vez.

— Pequena Porquinha, Pequena Porquinha! — O príncipe Chen segurou seu pulso. — Já basta!

Outro chute poderia matá-lo.

Capítulo 115 — Rebaixado a Plebeu



Apesar das tentativas desesperadas do príncipe Chen para dissuadir Jiuzhu, ele não conseguiu detê-la. Arrastando o príncipe protestante junto, ela marchou até Yun Yanze, que estava estendido no chão, e deu outro chute nele.

Um grito dolorido rasgou a garganta de Yun Yanze enquanto ele rolava duas vezes como uma cabaça, uivando de agonia.

Todo vestígio de sua habitual graça e elegância desapareceu num instante.

— Quando falavam mal de você, Vossa Alteza não só te defendia, como também mandava os outros se calarem. E você — um príncipe real, filho ilustre do imperador — o que fez? Seduziu uma criada do palácio e a fez tentar assassinar meu marido?! — A fúria que Jiuzhu vinha reprimindo finalmente explodiu. — Ouça bem, Yun Yanze. Você teve sorte hoje. Se algo tivesse acontecido a Vossa Alteza, eu teria acabado com você.

O Imperador Longfeng tossiu, saindo do transe. Lançou um olhar significativo a Liu Zhongbao, que rapidamente mandou os servos saírem do salão — aquela não era uma conversa para eles ouvirem.

Yun Yanze, com a boca sangrando por causa da queda, lutava para se sentar apesar das feridas.

— Que ferocidade impressionante, Princesa Chen. Você está tão enfurecida por Yun Duqing hoje. Mas e se um dia ele mudar de afeto? Talvez você se arrependa de ter ajudado ele.

Ao ouvir isso, o próprio príncipe Chen deu um passo à frente, pronto para dar um chute.

— Os pés de Vossa Alteza são preciosos demais. Deixe que eu cuido disso. — Jiuzhu empurrou o príncipe para o lado e desferiu um chute certeiro no peito de Yun Yanze, que caiu no chão, cuspindo sangue pelos lábios.

Liu Zhongbao fez uma careta. Aquele chute... provavelmente causou lesões internas.

A Princesa Chen, geralmente gentil e alegre — o que poderia tê-la levado a tamanha violência? Ela devia ter sido levada além do limite.

— Mesmo que Vossa Alteza um dia mude de afeto, jamais me arrependeria do que fiz hoje. — Jiuzhu, que sempre usava um sorriso brilhante, agora encarava com intensidade cortante. O Imperador Longfeng observava a nora e lembrou-se dos irmãos Ming de anos atrás.

Naquele tempo, eles também se mantinham firmes na corte, denunciando traidores com resolução inabalável, suas costas eretas como pinheiros antigos.

— Eu nunca faria algo assim — sussurrou o príncipe Chen no ouvido de Jiuzhu. — Se algum dia eu te trair, você tem minha permissão para me chutar também.

Liu Zhongbao lançou um olhar para o Quarto Príncipe machucado e virou-se silenciosamente. Essa era uma promessa implacável.

— Jiuzhu — chamou o Imperador Longfeng, preocupado que, se sua nora continuasse a chutar, ela acabaria acusada de matar um príncipe. — Venha, sente-se e tome um pouco de chá.

— Obrigada, Pai Imperador, mas não estou cansada. — Jiuzhu sorriu doce para ele. — Se ainda quiser disciplinar seu filho, ficarei feliz em ajudar.

— Sua devoção filial me comove — respondeu o imperador com uma risada forçada. — Mas seu quarto irmão tem a pele dura. Não quero que machuque seu pé.

— Obrigada pela preocupação, Pai Imperador. Agora que o senhor menciona, meu pé realmente dói. — Jiuzhu assentiu. — Na ânsia de compartilhar seus fardos, não tinha percebido.

— Venha, sente-se. Deixe-me massagear. — O príncipe Chen rapidamente a conduziu a uma cadeira, murmurando: — Não tenha pressa. Vamos ver o que o pai decide primeiro.

Jiuzhu tomou um gole de chá e bufou.

— Se eu não bater nele, não me sentirei vingada.

Conspirar contra o próprio irmão — que monstro!

— Yun Yanze — declarou o Imperador Longfeng, olhando para seu filho despenteado e ensanguentado com um olhar indecifrável. — Você admite seu erro?

— Como príncipe, é errado lutar pelo trono? — Yun Yanze cambaleou até ficar de pé, os lábios salpicados de sangue, o cabelo selvagem como um espírito vingativo. — O senhor, pai, não subiu sobre os corpos dos seus tios para conquistar o trono?

A expressão do imperador endureceu, tornando-se fria e distante. Ele ficou em silêncio, deixando o filho continuar.

— Sou mais velho que Yun Duqing, mas o senhor secretamente arranjou o casamento dele com a filha da família Sun. Já pensou em mim? — Yun Yanze zombou. — Se o senhor não me daria, eu tomaria por conta própria. Meu único erro foi não prever que Yun Duqing teria um aliado inesperado. Se não fosse Ming Jiuzhu atrapalhando todos os meus planos, ele teria morrido há muito tempo nas caçadas reais.

Crack. Jiuzhu pousou a xícara de chá — com tanta força que ela se estilhaçou.

Ela arregaçou as mangas e levantou-se, com o rosto sem emoção.

— Pequena Porquinha—

— Não tente me impedir. — Jiuzhu avançou, saltou e desferiu um soco no rosto de Yun Yanze. Ele desabou instantaneamente.

Ela agarrou sua gola e desferiu golpes com precisão brutal. O imponente Yun Yanze era como um pintinho indefeso em seu controle.

— Pequena Porquinha, Ming Pequena Porquinha! — O príncipe Chen correu, puxando seus dedos da gola de Yun Yanze e a abraçando. Ele acariciava suas costas suavemente. — Eu estou bem. Não fique brava. Não tenha medo. Está tudo bem.

Gradualmente, sua postura rígida amoleceu. Jiuzhu envolveu os braços na cintura dele, a voz trêmula.

— Vossa Alteza...

— O que está olhando? — o Imperador Longfeng rosnou para Liu Zhongbao. — Traga água para a princesa lavar as mãos!

— S-Sim! — Liu Zhongbao saiu apressado. O ar da noite clareou sua mente atordoada.

O que a Princesa Chen havia aprendido durante seus anos longe do palácio? Ela não tinha nada a ver com a delicada família Ming.

Por outro lado, Ming Jinghai, o filho mais velho dos Ming, era conhecido por brandir a espada contra bandidos.

E não foi um ancestral Ming que virou general? Diziam que era lenda, mas talvez fosse verdade.

O imperador suspirou, olhando entre seu quarto filho convulsionando e seu quinto filho abraçando a esposa.

— Quando vocês nasceram, meu coração tinha amor igual por todos.

Yun Yanze forçou os olhos a se abrirem, os lábios rachados se curvando num sorriso grotesco enquanto observava Yun Duqing e Ming Jiuzhu.

Amor igual? Que piada.

O príncipe Chen pressionou o rosto de Jiuzhu contra seu peito, protegendo-a da expressão distorcida de Yun Yanze.

— Quinto Irmão, você venceu — raspou Yun Yanze. — Mas não foi você quem me derrotou. Foi o favor imperial da sua mãe e a interferência da sua esposa.

— Está com ciúmes? — sorriu o príncipe Chen, sabendo exatamente qual expressão mais irritaria seus irmãos. — Mas não importa quanto você me odeie ou inveje, nunca terá o que eu tenho. Isso dói?

Yun Yanze cuspiu mais sangue, o olhar venenoso.

— Quarto Príncipe Yun Yanze — declarou o Imperador Longfeng, com voz grave — por conspirar para assassinar parentes e trair o dever filial, você está destituído de sua condição real, rebaixado a plebeu e preso na masmorra ancestral pelo resto da vida.

— Pai Imperador — interrompeu Jiuzhu, lembrando de Sun Caiyao no Palácio da Lua Brilhante. Ela se ajoelhou no centro do salão. — A Princesa Consorte Sun nada sabia dos esquemas do Quarto Irmão. Pelo bem da lealdade da família Sun por gerações e seu serviço ao povo, suplico que a poupe.

— Falhei como pai ao guiar meu filho e trouxe vergonha à família Sun. Hoje concedo a Sun Caiyao o divórcio de Yun Yanze, outorgo a ela o título de Senhora do País, cem taéis de ouro e, a partir de agora, suas escolhas matrimoniais serão dela. — O Imperador Longfeng era realmente um governante benevolente. Ao ouvir as palavras de Jiuzhu, emitiu seu segundo decreto sem hesitar.

— Obrigada, Pai Imperador. Que Vossa Majestade viva dez mil anos. — Jiuzhu pressionou as mãos na testa e fez uma profunda reverência ao Imperador Longfeng.

— Pai Imperador, por que não me mata simplesmente? Por que fingir misericórdia poupando minha vida?! — Yun Yanze conhecia a prisão imperial sob a Corte do Clã Imperial, onde só ficavam os reais que cometiam crimes graves.

Uma sentença de prisão perpétua ali não era diferente da morte.

— Embora você seja ingrato, não posso ser cruel. — O Imperador Longfeng desceu os degraus, caminhando lentamente em direção a Yun Yanze. — Filho Quarto, você lembra do que te ensinei quando tinha oito anos?

Oito anos?

As lembranças de Yun Yanze daquela idade estavam cheias do escárnio dos guardas na mansão e das ervas daninhas selvagens no pátio.

— Escolha o que é bom e siga; corrija o que não é. — O Imperador Longfeng suspirou. — Mas você nem sabe onde errou. Como poderá corrigir?

— Aos olhos do Pai Imperador, estou errado a cada passo, falho em tudo. — Yun Yanze caiu em gargalhada, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Se vou ser enviado para a prisão da Corte do Clã Imperial, por que perder mais palavras?

O Imperador Longfeng fechou os olhos. — Guardas, escoltem o Quarto Príncipe para a prisão imperial.

A Corte do Clã Imperial supervisionava os assuntos reais com prestígio e autoridade, mas sua prisão era um lugar de escuridão e solidão sem fim.

Os presos ali não eram torturados nem deliberadamente famintos.

Mas ninguém lhes falava. Ninguém os visitava.

Eram membros esquecidos da família real, condenados a reviver suas glórias passadas dia após dia até a morte.

— Vossa Alteza, o Quarto Príncipe. — Liu Zhongbao fez uma reverência respeitosa atrás das grades da prisão. — Esta é a última vez que este velho servo o chamará assim.

Ao ver Yun Yanze deitado imóvel na cama — inconsciente ou o ignorando — Liu Zhongbao sorriu. — Sua Majestade planejou seu casamento. Sabendo que você era sensível e desconfiado desde pequeno, pretendia escolher uma jovem animada como sua princesa consorte. Se a filha da família Sun tivesse sido prometida ao príncipe Chen, você talvez fosse casado com a jovem da família Ming.

Os olhos de Yun Yanze se abriram de repente.

— Mas sua mãe, a Consorte Zheng, e sua família enviaram assassinos para matar exatamente essa moça. Se ela tivesse descoberto a verdade, até o noivado teria acabado em tragédia. — Liu Zhongbao parecia gostar de aprofundar a dor. — Talvez isso fosse obra do destino.

Aquela moça assassinada era Ming Jiuzhu?

Não é de se admirar que a família Ming tivesse pressionado implacavelmente a família Zheng, sem piedade, até mesmo no banquete de Ano Novo.

Ele e Ming Jiuzhu?

Yun Yanze sentiu que ouvira absurdos demais hoje. Se esforçando para ficar de pé, ele raspou:

— Você está mentindo.

— Vossa Alteza, cada palavra é verdadeira. — Liu Zhongbao riu. — Você já caiu tão fundo — por que este servo iria te enganar?

— Impossível… impossível… — Yun Yanze murmurou.

Se Ming Jiuzhu tivesse sido prometida a mim, ela jamais teria ido aos campos de caça reais com Yun Duqing. Nada disso teria acontecido.

Yun Duqing teria morrido lá.

Liu Zhongbao fez uma profunda reverência. — O Bureau Astronômico Imperial declarou auspicioso o décimo quinto dia a partir de agora para a investidura do príncipe herdeiro. O reino celebrará, e a prisão preparará uma refeição especial em sua homenagem. Este servo se retira. Que Vossa Alteza… não, que reflita profundamente e cuide da saúde.

Com um movimento do seu chicote de rabo de cavalo, ele se virou e foi embora.

Atrás dele, os furiosos rugidos de Yun Yanze ecoaram pela prisão. Liu Zhongbao sorriu de canto.

Há muito tempo, ele ainda se lembrava de como a Consorte Zheng o chutara, zombando dele como um "escravo eunuco inútil".

Um escravo miserável como ele sabia exatamente quais palavras atormentariam os senhores caídos até seu último suspiro.

— Eunuco Liu, há mais alguma ordem de Sua Majestade? — Um oficial da Corte do Clã Imperial se aproximou com um sorriso bajulador, sondando se o Quarto Príncipe algum dia voltaria a ter favor.

— Sua Majestade decreta: Yun Yanze está destituído do status real, removido da linhagem imperial e jamais deixará esta prisão.

— Entendido. Obrigado pela informação.

Nesse caso, nenhum tratamento especial será necessário.

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