Capítulo 11


Chai Yong ia à frente.

Li Chengyan colocou Fang Ziyue no meio e ele próprio caminhava por último. Mesmo assim, Fang Ziyue sentia um calafrio percorrer sua espinha. As esculturas de gelo dos dois lados da estrada eram tão realistas que ela tinha a sensação de que poderiam ganhar vida a qualquer momento.

O NPC havia dito que o segredo da Donzela da Neve estava no jardim de esculturas de gelo. Chai Yong mandara todos examinarem cada escultura com atenção, pois havia uma grande chance de o segredo estar escondido nelas.

Mas, não importava como Fang Ziyue olhasse, as esculturas lhe pareciam assustadoras — especialmente as de formas humanas. Aqueles olhos pareciam de verdade. Eram apenas entalhados no gelo, mas quanto mais ela encarava, mais aterrorizantes se tornavam.

Felizmente para Fang Ziyue, o som de marteladas no gelo vinha dos fundos, quebrando o silêncio opressor.

Pela primeira vez, Fang Ziyue achou que Lin Xinghe era útil — pelo menos, suas ações insanas tornavam o ambiente menos aterrorizante. Ela até conseguia entender por que Tang Xin quisera seguir Lin Xinghe.

Na atmosfera de um filme de terror, Lin Xinghe tinha a capacidade de agir como se estivesse numa comédia.

Fang Ziyue virou a cabeça discretamente para olhar.

Tang Xin ainda brincava com Lin Xinghe.

Lin Xinghe retribuiu o sorriso enquanto, impiedosamente, rachava a cabeça de uma escultura ao meio. Com um “bang”, a cabeça caiu sobre o caminho de pedra.

Fang Ziyue não invejava o clima leve entre elas, mas reconhecia que ajudava. Ela não estava mais tão assustada e passou a estudar com mais atenção a escultura à sua frente.

Era de uma garotinha com dois coques laterais, vestindo um bonito vestido e sapatinhos de couro.

Fang Ziyue não resistiu e tocou a escultura.

No mesmo instante, ela viu claramente os lábios da escultura se moverem.

Ela gritou de horror.

Chai Yong virou-se e ralhou:

— Mulher só sabe gritar o dia inteiro, que estorvo. Se assusta até com a própria sombra!

Ao ver a escultura da garotinha diante de Fang Ziyue, ele zombou de novo:

— Uma esculturazinha de menina te faz gritar? Ela vai te comer ou te foder?

Fang Ziyue gaguejou:

— E-e-ela sorriu...

Li Chengyan disse:

— Foi coisa da sua cabeça, não aconteceu nada.

Para encorajar Fang Ziyue, Li Chengyan esticou a mão, deu um tapinha no rosto da garotinha e ainda socou sua boca congelada, dizendo:

— Tá vendo? Não aconteceu nada. Irmão Chai, mulher é tudo assim mesmo. Vamos continuar procurando as pistas. O que importa são as pistas.

Chai Yong lançou um olhar irritado para Fang Ziyue e virou-se para continuar a busca.

Fang Ziyue, desesperada, puxou a manga de Li Chengyan:

— Eu... eu juro que vi! Ela sorriu, levantou os cantos da boca...

— É sua imaginação — retrucou Li Chengyan.

— Não! De verdade! Eu vi...

Li Chengyan a interrompeu:

— Tá bom, chega. Se ficar resmungando, o Irmão Chai vai ficar puto. Vamos logo encontrar o segredo da Donzela da Neve, matar essa vadia e ir embora.

Fang Ziyue só pôde concordar.

Depois desse episódio, porém, ela não teve mais coragem de olhar para as esculturas. Manteve os olhos grudados no chão.

Eles já estavam no jardim fazia mais de meia hora. Chai Yong já havia inspecionado vinte esculturas diferentes. O NPC dissera que o jardim não era muito grande, devia ter só umas trinta ou quarenta esculturas no total.

Mas, mesmo tendo examinado mais da metade, Chai Yong ainda não encontrara nada.

As esculturas eram iguais a esculturas comuns de gelo.

Faltavam poucas. O final do caminho já estava próximo. Sem pistas encontradas e sem como voltar atrás, seguiram em frente — enquanto Lin Xinghe quebrava todas as esculturas que ficavam para trás.

Chai Yong começava a perder a paciência. Ao virar-se, viu Fang Ziyue parada, imóvel, e ficou furioso.

— Eu não te falei pra...

Antes que terminasse a frase, ouviu Fang Ziyue gritar de novo.

— Só sabe gritar, caralho! Sabe fazer mais alguma coisa?

Fang Ziyue levantou a cabeça num tranco e gritou:

— Não! Eu juro que vi! A escultura se mexeu! Ela tava aqui... e deu um passo, de verdade!

— Cala a boca! Mulher burra só atrapalha! Como é que uma escultura vai se mexer? Assiste filme de terror demais! Se alguma coisa se mexer, eu arranco a cabeça e chuto longe... eu...

Antes que terminasse, Chai Yong viu Li Chengyan olhando para trás com uma expressão de puro pânico. Ele disse:

— I-irmão Chai... ela... ela se mexeu.

Chai Yong estava prestes a explodir de raiva.

— Dois porcos, é o que vocês são! Como é que essa porra ia se...

Chai Yong de repente sentiu algo gelado ao lado da mão. Baixou os olhos.

Um cão de gelo — que antes estava a uns dois metros de distância — agora estava ao seu lado. Com as mandíbulas abertas, mostrou duas fileiras de dentes afiados e brilhantes e mordeu sua mão.

Ouviu-se um estalo seco.

O sangue jorrou.

A mão de Chai Yong, do pulso para baixo, fora arrancada com uma mordida limpa, e o sangue vermelho vivo espirrou no chão.

O focinho do cão de escultura de gelo tingiu-se de vermelho. Ele sacudiu a cabeça, como um cachorro normal sacudindo gotas d’água, e avançou sobre Chai Yong.

Chai Yong, de fato, tinha alguma experiência de combate. Suportou a dor, rolou no chão e conseguiu escapar do primeiro bote do cão de gelo. No entanto, antes que pudesse se levantar, sentiu novamente uma friagem às suas costas. A figura humana esculpida em gelo, segurando uma espada, mostrou um sorriso sinistro. A espada em sua mão perfurou diretamente o ombro direito de Chai Yong.

Fang Ziyue e Li Chengyan ficaram tão apavorados que tentaram fugir.

Porém, as esculturas de gelo que ainda estavam intactas cercaram o grupo, bloqueando todas as rotas de fuga.

Lin Xinghe e Tang Xin, que estavam mais atrás quebrando esculturas, viram a cena e pararam para observar.

Tang Xin perguntou:

— Por que eles não atacam a gente?

Lin Xinghe respondeu:

— Porque não fomos marcadas...

Ela olhou para trás. Todas as esculturas de gelo que ela e Tang Xin haviam destruído também estavam se movendo, mas, provavelmente por causa dos danos, moviam-se extremamente devagar, como um bando de soldados velhos e frágeis. As esculturas mancando passaram direto pelas duas, indo atacar Chai Yong e Li Chengyan.

Fang Ziyue foi a primeira a perceber que as esculturas de gelo não atacavam Lin Xinghe e Tang Xin. Ela se lembrou de quando Lin Xinghe perguntara, naquela manhã, se eles haviam sentido algum cheiro estranho.

Ignorando qualquer outra coisa, Fang Ziyue gritou em desespero:

— Lin Xinghe, por favor, me salva! Se você me salvar, eu conto todas as pistas que sei!

Lin Xinghe perguntou:

— Que pistas?

Fang Ziyue imediatamente revelou tudo que o NPC lhes dissera naquela manhã.

Lin Xinghe ficou pensativa.

Tang Xin perguntou baixinho:

— Você vai salvar eles?

Lin Xinghe disse:

— Sim. O professor disse que eu preciso me dedicar a fazer o bem e parar de fazer o mal. Só ajudando os outros posso mostrar minha intenção e sinceridade de arrependimento.

Ela tirou de sua mochila um lança-chamas à prova d’água movido a butano.

Tang Xin ficou boquiaberta:

— O supermercado vende essas coisas?

Lin Xinghe respondeu:

— Vende sim. Conta como produto de acampamento. E eu comprei o modelo mais próximo dos industriais, com melhorias. Só segurar aqui, puxar aqui e apertar aqui...

No mesmo instante, uma chama de meio metro irrompeu da extremidade do bico.

A escultura de gelo atingida começou a derreter gradualmente.

Lin Xinghe também entregou um lança-chamas para Tang Xin e disse:

— Vai procurar uns galhos secos por perto e traz para cá.

Dito isso, ergueu sua arma e correu até Chai Yong.

Chamas crepitantes.

O corpo de Lin Xinghe foi banhado pelo reflexo do fogo, e um sorriso radiante iluminava seu rosto doce e encantador.

【Corram, monstros de gelo, corram! A Grande Rainha Demônio chegou para matá-los!】

【Ela está vindo! Ela está vindo! Ela veio com uma chama!】

【Esculturas de gelo à frente, vocês estão por sua conta!】

【Só eu fico imaginando que tipo de vilã a Lin Xinghe foi no passado? Ela não só é extremamente sortuda, como também é traiçoeira¹ — e mesmo assim ainda parece tão delicada para mim.】

【Tenho pena dos protagonistas da história dela. Devem ter sofrido horrores...】

Lin Xinghe confirmou que sua teoria estava certa.

Embora as esculturas estivessem vivas, sua composição física as tornava vulneráveis ao fogo. Agora mesmo, até as esculturas que cercavam Chai Yong, Li Chengyan e Fang Ziyue recuaram do fogo assim que Lin Xinghe se aproximou.

Elas pareciam querer se aproximar do grupo, mas temiam as chamas nas mãos de Lin Xinghe, girando no mesmo lugar como moscas tontas.

Lin Xinghe disse para Fang Ziyue e Li Chengyan:

— Venham aqui e despejem todo o álcool que tem na minha mochila por ali. Quero fazer uma fogueira para queimar todas essas esculturas.

Foi nesse momento que Tang Xin voltou com um monte de galhos secos.

Lin Xinghe disse:

— Chegou na hora certa pra acender a fogueira.

Tang Xin jogou os galhos no chão e pegou o álcool das mãos dos outros dois.

Assim que a chama tocou o álcool, ocorreu uma reação química: o fogo explodiu no chão, cercando todas as esculturas. Línguas de fogo lambiam as figuras, que derretiam rapidamente nas chamas furiosas.

Lin Xinghe lambeu os lábios e sorriu com brilho nos olhos.

— O entrelaçamento de gelo e fogo é tão bonito. Olhem como é encantador o jeito que derretem, parece a obra-prima de um artista.

Fang Ziyue finalmente viu Lin Xinghe claramente pela primeira vez.

... Aquela era a mais aterrorizante das demônias!

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¹ Nota de tradução: "Traiçoeira" aqui traduz a expressão "black-bellied" (黑心/腹黑), termo comum em chinês que descreve uma pessoa que aparenta ser doce e gentil por fora, mas é astuta e cruel por dentro.

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