Capítulo 12 Parte 1 – A Vida Está Cinzenta (I)


 Sob a luz tênue do amanhecer, Lu Yaoyao despertou de seu sono doce. Sua consciência ainda estava um pouco turva, e seu rostinho avermelhado parecia perdido. Antes mesmo de abrir completamente os olhos, suas duas mãozinhas gordinhas se esticaram para a direita.

— Ah.

Um par de mãos firmes veio ao seu encontro, acolhendo Lu Yaoyao em um abraço frio.

Meio sonolenta, Lu Yaoyao envolveu o pescoço do Pai Bonito com os bracinhos. Desde que nasceu — não, desde quando ainda estava no ovo espiritual —, salvo os momentos em que seus pais brigavam, Lu Qingyu e Yao Jiuxiao sempre estiveram ao seu lado.

Instintivamente, o corpo de Lu Yaoyao seguia o ritmo de um bebê humano. Passava a maior parte do tempo dormindo. E, enquanto dormia, seus dois pais permaneciam sempre próximos, exceto quando era a vez de um deles sair para caçar.

Lu Yaoyao já estava acostumada. Todos os dias, quando abria os olhos, via os dois sentados de cada lado, como divindades guardiãs. Isso lhe trazia uma sensação de segurança.

Ela estava nos braços de Yao Jiuxiao, que a embalava suavemente, dando tapinhas de leve em suas costas. A garotinha semicerrava os olhos e logo voltava a adormecer. Na vez seguinte que os abriu, já estava nos braços do Papai Bonito, bebendo leite espiritual de uma garrafinha de jade. Agora que seus dentinhos haviam nascido, Lu Yaoyao precisava ser mais cuidadosa — se mordesse a ponta dura da garrafa e quebrasse os preciosos dentinhos, acabaria chorando no meio do sono.

Depois de terminar de beber, ela apontou com energia para a porta:

— Aaah! — Vamos!

Lu Qingyu segurou a filha nos braços e saiu da casa com passos preguiçosos.

Uma rajada de vento soprou, e Lu Yaoyao de repente sentiu muito frio — especialmente no topo da cabeça. Ela ergueu os olhos para o céu, confusa: será que o tempo havia esfriado?

Lu Qingyu já entendia os hábitos da filha. Todos os dias, logo após beber leite, a primeira coisa que ela fazia era ir até o lago lavar o rosto. Ele nunca entendeu esse hobby peculiar da criança. Ele e Yao Jiuxiao usavam incontáveis feitiços de limpeza nela diariamente — ela estava sempre limpinha! Mas ainda assim, a garotinha insistia em ir até o lago lavar as mãos, os pés e o rosto. E mais: adorava brincar na água.

Lu Qingyu foi até o lago e tirou um lenço. Lu Yaoyao sentou-se em seus braços, ergueu o rostinho de forma cooperativa e esperou que o Papai Bonito molhasse o pano e limpasse seu rosto.

A água fria do lago tocou a pele da menina. Lu Qingyu controlou sua força e limpou cuidadosamente as bochechas rechonchudas. Em seguida, lançou um olhar para o topo da cabeça da filha e passou o pano ali também.

Assim que o pano molhado tocou sua cabeça, Lu Yaoyao estremeceu.

— Ah, ah! — Ela balançou a cabeça em protesto. Não molha meu cabelo! Quero que o Pai me arrume lindamente!

Levantou as duas mãozinhas para proteger o cabelo do Papai Bonito.

Ué?

Lu Yaoyao tocou a própria cabeça várias vezes.

Cadê meu cabelo?

Cadê aquele cabelo preto, grosso, macio e bonito?

O Papai Bonito sorriu. Tocou a cabecinha de Lu Yaoyao e disse, satisfeito:

— Zhu’er ficou mais bonita sem cabelo.

Lu Qingyu achava que aqueles dois coquinhos tortos só deixavam sua filha mais feia. Sem cabelo, seus traços fisionômicos se destacavam ainda mais — parecia um bolinho branco fofo e adorável.

Na verdade, ele exagerava. Mesmo que os coques feitos por Yao Jiuxiao fossem tortos e irregulares, isso não era o suficiente para prejudicar a beleza natural da menina. Mas o Lorde Venerável Demônio não tolerava nenhuma imperfeição. Aos seus olhos, aqueles dois coquinhos eram insuportáveis.

Demorou um pouco até Lu Yaoyao digerir o que o Daddy havia dito. Seus olhos redondos se arregalaram de choque.

Ela está sem cabelo?

Não pode ser!

— Ah, ah, ah!! — Lu Yaoyao se inclinou para frente e tentou olhar seu reflexo no lago.

Cadê meu cabelo?

Cadê meu cabelinho lindo?

Após confirmar repetidamente que estava careca, foi como se um raio caísse sobre Lu Yaoyao. Seus dias coloridos se tornaram cinzentos e sombrios num piscar de olhos.

Ela... não tem mais cabelo...

Lu Yaoyao sofreu um golpe devastador. Sua mente ficou completamente vazia, e ela encarou a superfície do lago com um olhar atônito.

Lu Qingyu, confuso com a reação da filha, perguntou:

— Zhu’er? O que foi?

Será que ela ficou encantada com a nova aparência?

Lu Yaoyao virou lentamente a cabeça em direção ao Papai Bonito. Seus olhos grandes estavam sem vida e apagados.

Lu Qingyu sacudiu a mão:

— Zhu’er?

Ela olhou para ele. Seus lábios se curvaram para baixo, e lágrimas começaram a se acumular em seus olhos.

Lu Qingyu imediatamente ficou em alerta.

— Yao Jiuxiao—

— UÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! —

No canto mais interno do sofá simples e rústico, uma bebê estava encolhida em forma de bolinha, escondendo a cabeça e deixando à mostra apenas seu bumbum gorducho.

Ao lado do sofá, dois homens belos e elegantes estavam de pé, impotentes. Olhavam para a criança, depois um para o outro. Naquele momento, deixaram de lado qualquer inimizade para tentar resolver o problema em comum.

Lu Qingyu cutucou Yao Jiuxiao com o cotovelo e sussurrou:

— Yao Jiuxiao, você não consegue consolar Zhu’er?

Yao Jiuxiao: “…”

Ele já havia tentado de tudo durante a manhã, usando todos os métodos de antes, mas nenhum funcionou.

Parece que raspar o cabelo dela enquanto dormia a atingiu fundo demais. Quando acordou e percebeu que estava careca, chorou por um bom tempo antes de finalmente se calar. No começo, os dois pais pensaram que seria como das outras vezes: que ela ficaria bem depois de desabafar. Mas logo perceberam que haviam se enganado.

Desde então, a menina estava completamente desanimada. Parou de brincar com os brinquedos, recusou o leite espiritual e nem reagia às provocações de Lu Qingyu.

Naquele momento, Lu Qingyu e Yao Jiuxiao se arrependeram amargamente. Não deviam ter raspado o cabelo da criança só porque acharam trabalhoso cuidar dele.

Ver a filha sem comer, sem beber, sem brincar, sem chorar — apenas deprimida — deixava os dois muito mais angustiados do que se ela estivesse chorando.

Dois veneráveis poderosos, outrora onipotentes, mais uma vez se viam derrotados… por sua pequena filhinha.


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