Capítulo 12 — Sem rosa


 — Zhong Ruanxing nunca tinha morado em uma casa tão luxuosa. A vista era tão ampla e bonita que todas as luzes de Pequim pareciam ao alcance dos olhos. O mar de luzes parecia um show. Sentada na enorme varanda, jantando enquanto apreciava a paisagem noturna, ela se animou silenciosamente: precisava trabalhar duro para ganhar dinheiro! Um dia compraria uma casa tão linda quanto aquela para os pais também.

— A varanda era tão grande que Zhong You poderia plantar suas flores favoritas e criar seus bichinhos de estimação. Ruanxing nunca cogitou realmente ocupar aquela mansão que estava registrada em seu nome.

— Depois de terminar o trabalho, Song JinXing apertou a ponte do nariz e ergueu os olhos. Aquela figura familiar estava sentada sozinha na varanda vazia, mas já não carregava a solidão de antes. A nova alma brilhava como o sol, fazendo aquele corpo e o mundo movimentado ao redor reluzirem em harmonia.

— Em algum momento, quando ela virou o rosto, seu semblante normalmente inexpressivo revelou um sorriso vívido. Ela acenou para ele:

— Terminou o trabalho? Vamos comer.

— Só quando o prato de comida requentada foi colocado à sua frente que Song JinXing voltou à realidade. Ouviu-a lembrar com consideração:

— Não esquece de comer na hora. Pular refeições dá problema no estômago, igual eu.

— O cheiro do arroz quentinho fez sua fome despertar. Ele assentiu.

— Depois do jantar e de passarem em revista os assuntos do dia, estavam prontos para voltar para casa. Zhong Ruanxing, naturalmente, teria uma carona — sentia-se mal por monopolizar o motorista particular do CEO.

— Vou pedir pro Feng Ling arrumar um motorista pra te levar — disse ela.

— Mas Song JinXing balançou a cabeça.

— Não precisa. Vou de táxi mesmo. Você tem carteira de motorista?

— Zhong Ruanxing respondeu:

— Tenho sim, e carro também. Pode usar da próxima vez. Tá parado na vaga 167 do subsolo. A chave tá pendurada na entrada.

— Song JinXing assentiu em reconhecimento.

— Após Feng Ling buscar Ruanxing, JinXing organizou as coisas e pegou um táxi de volta para a casa dos Zhong.

— Era a hora mais movimentada do condomínio, com o céu recém-escurecido. Pais e mães passeavam com os filhos, a música das dançarinas de praça ensurdecia. De máscara e boné abaixado, Song JinXing se apressava entre a multidão.

— De repente, uma voz infantil cortou o ruído e chegou aos seus ouvidos:

— Mana! Mana!

— Song JinXing parou e olhou para trás.

— Era mesmo Zhong You, correndo na sua direção como um filhote sujo. Instintivamente, ele se agachou para recebê-la. A garotinha se jogou nos braços dele. Na mão, segurava um picolé derretido que enfiou contra o pescoço dele.

— Song JinXing se levantou com ela nos braços e franziu o cenho.

— Por que você tá sozinha?

— Não tô! — Zhong You chupava o picolé com a boca toda manchada de vermelho. — Papai e mamãe tão ali!

— Seguindo o dedinho dela, Song JinXing viu mesmo os pais dos Zhong sentados num canteiro assistindo à dança. Zhong You acenou e gritou:

— Mamãe! Papai! A mana voltou!

— Ao ver Ruanxing, os pais dos Zhong se levantaram e vieram em direção a eles. A mãe de Zhong tinha um olhar vago e confuso, mas ao ver as duas filhas, seus olhos voltaram ao foco e o rosto se iluminou com um sorriso apertado.

— Ela acelerou o passo e, ao chegar perto de Song JinXing, puxou sua mão como uma criança que quer mostrar um tesouro:

— Ruanxing, isso é pra você.

— Carregando Zhong You com uma mão, Song JinXing abaixou a cabeça para olhar a palma aberta.

— Havia um doce de frutas embrulhado em papel colorido.

— A mãe dos Zhong segurava a mão dele, visivelmente feliz.

— Ruanxing, vem pra casa com a mamãe.

— Song JinXing abriu a boca, mas ainda não conseguiu chamar por aquela palavra.

— Como uma marionete com os fios puxados, foi conduzido para casa pela mãe dos Zhong, com o rosto rígido. Zhong You se remexia nos seus braços, empurrando o picolé já sem forma na direção da sua boca:

— Mana, dá uma mordidinha! Só uma!

— Song JinXing, impassível, deu uma lambida.

— O pai dos Zhong vinha atrás deles como uma árvore silenciosa, protegendo aquela pequena família.

— Em casa, a governanta Liu Cai tinha acabado de lavar a louça e limpar a cozinha. Ao ver o retorno de Song JinXing, inexplicavelmente se sentiu culpada. Colocou a bandeja de frutas na mesa de centro e fez um relatório cuidadoso:

— Srta. Zhong, a casa tá toda limpa.

— Song JinXing revisava a lição de casa de Zhong You.

— Uhum. Pode encerrar o expediente.

— Liu Cai respondeu nervosa:

— Mas ainda não deu meu horário de sair.

— A voz dele era leve:

— Eu tô em casa agora. Se não tiver mais nada, pode ir mais cedo. Só não atrasa amanhã.

— Liu Cai assentiu rapidamente:

— Sim, sim.

— Song JinXing puxou Zhong You, que brincava com blocos:

— Esse ideograma tá errado em tudo. Reescreve.

— Zhong You abriu o berreiro:

— Não vou escrever! Você não é minha irmã! Malvado!

— Depois de fazer Zhong You escrever por um tempo, Song JinXing recebeu uma foto de Ruanxing no WeChat. Clicou: era ela suada na esteira.

Tô malhando! E você, se exercitou?

Vou depois que terminar a lição com a Zhong You.

A pestinha escreveu o “água” errado de novo?

— Song JinXing tirou foto do parágrafo com os erros e enviou. Ruanxing respondeu com um emoji furioso. Por algum motivo, ele achou aquele emoji engraçado e o abriu mais de uma vez antes de guardar o celular com calma.

— A casa dos Zhong era pequena, mal cabia uma esteira. Mas Song JinXing não precisava de equipamentos. Após uma hora de treino de core, correu por mais uma na esteira, cumprindo as exigências de Ruanxing, antes de pegar o pijama e ir para o banheiro.

— Foi o banho mais caótico da sua vida.

— Saiu com as orelhas vermelhas. A pele clara de Ruanxing tinha ficado vermelha como camarão fervido. No WeChat, havia mais duas mensagens dela:

[Rotina de cuidados com a pele] Segue esse passo a passo. Não pula nada.

— Depois lembra de passar hidratante no corpo. Em tudo, menos no rosto. Não precisa ficar com vergonha, eu já toquei seu corpo inteiro. Bem impressionante. 👍

— Song JinXing fez uma mudança de expressão na hora, rangendo os dentes:

— Zhong Ruanxing!

— Do outro lado, Ruanxing desceu as escadas secando o cabelo, querendo pegar uma bebida gelada na geladeira. Mas, ao abrir a porta, além de fileiras organizadas de água mineral, não havia mais nada.

— Ela suspirou e pegou uma garrafa. No caminho de volta, havia explorado a casa do CEO. Era grande e luxuosa, com academia, piscina, quintal, elevador privativo — tudo, menos um ar de lar.

— Era como um túmulo vazio e frio que a deixava solitária e apreensiva.

— Ruanxing acendeu todas as luzes do primeiro andar e ligou a TV, que passava Uma Odisseia Chinesa, espalhando o barulho pelo ambiente até que finalmente relaxou.

— Pensou um pouco e ligou para Song JinXing.

— Alguns segundos depois, a voz fria atendeu:

— O que foi?

— Encolhida no sofá, Ruanxing disse:

— Sua casa é tão grande.

— Ao ouvir o barulho da TV, Song JinXing fechou o laptop e pegou o celular.

— Tá com medo?

— Ela foi pega no flagra e ficou um pouco sem graça:

— Não é bem medo... Só parece vazia. — Hesitou, então perguntou com cautela: — Posso comprar uns móveis e decorar um pouco?

— Song JinXing respondeu na hora:

— Pode.

— Ruanxing falou:

— Ah, e as cortinas e o guarda-roupa do seu quarto são tudo pretos. Quero trocar a cor.

— Song JinXing ficou em silêncio por um momento.

— Sem rosa.


Postar um comentário

0 Comentários