Capítulo 13. Pei Yunhuan


 Sangue quente respingou no rosto de Lu Tong.

O caos tomou conta.

Em meio à confusão, Lu Dashan se esquivou com agilidade, desviando por pouco da flor de prata que mirava seu olho, mas que acabou perfurando sua bochecha esquerda.

O golpe de Lu Tong fora certeiro; a agulha de prata penetrou quase até a metade no rosto do homem, depois rasgou com violência, abrindo um ferimento sangrento.

Lu Dashan urrava de dor e raiva. Ignorando Lei Yuan, avançou contra Lu Tong com a faca em punho, gritando:

— Desgraçada, eu vou te matar!

Assim que se soltou, Lu Tong se esquivou rapidamente e correu para frente. A lâmina veio pela lateral, pegando-a de surpresa. Ela não teve tempo de escapar, e o brilho prateado da lâmina estava prestes a atingir seu rosto.

— Senhorita, cuidado! — O coração de Yin Zheng disparou de medo. Se a faca caísse sobre ela, sua aparência estaria arruinada, mesmo que sobrevivesse.

Do alto de seu cavalo, Lei Yuan estreitou os olhos e fez um gesto com a mão. Atrás dele, seus homens miraram diretamente em Lu Dashan com longas flechas.

Lu Tong sentia a lâmina gelada perigosamente perto de seus olhos. Cerrou os dentes.

Ela não se importava com a aparência. Se seu rosto pudesse ser trocado por sua vida, ela o entregaria sem hesitar.

Mas não agora.

No momento crítico, ouviu-se um som vindo da distância. Antes que a multidão pudesse entender o que estava acontecendo, um raio dourado cruzou o ar. Desviou o fio da lâmina que se aproximava de Lu Tong e a lançou para o lado.

Lu Tong ficou atônita. No instante seguinte, uma figura surgiu diante dela. O homem agarrou a mão de Lu Dashan que segurava a faca. Ouviu-se um estalo seco — como ossos sendo quebrados. Lu Dashan gritou de dor:

— Solta!

Antes que pudesse terminar a frase, foi lançado para longe com um chute. A longa faca em sua mão caiu e foi apanhada pelo outro homem, que a usou para bloquear a flecha que voava direto ao seu coração.

— Clang! —

A flecha caiu no chão com um som metálico.

Tudo ao redor ficou em silêncio.

Os movimentos foram precisos, sem a menor hesitação. Cada ação no tempo exato. Um segundo a mais ou a menos e o resultado teria sido outro.

Lu Tong olhou para a flecha dourada no chão. Fora com ela que aquele homem desviara a lâmina que vinha em sua direção.

Ela ergueu os olhos e olhou ao redor.

A rua estava repleta de barracas viradas. No meio da multidão, um jovem estava de pé com um arco na mão, vestindo uma túnica vermelha de brocado com gola de pele de raposa.

Mesmo cercado por inúmeros soldados e cavalos, ele parecia tranquilo e à vontade. Guardou o arco com um gesto casual e olhou para Lei Yuan com um sorriso no rosto:

— Oficial Lei, tudo isso só pra capturar um homem?

A expressão de Lei Yuan azedou. Após uma longa pausa, respondeu:

— Comandante Pei.

O coração de Lu Tong deu um salto. Comandante da Guarda Imperial?

Do outro lado, Du Changqing sussurrava para Yin Zheng:

— Ele é o atual Comandante da Guarda Imperial, Pei Yunhuan. Parece que o Lei Yuan bateu de frente com uma muralha dessa vez.*

*Significa que Lei Yuan encontrou um adversário formidável.

No chão, Lu Dashan estava encolhido em um canto, gemendo. Seu pulso havia sido quebrado, e os ossos despedaçados pelo chute. Sem a faca, ele não passava de um homem agonizando no leito de morte.

Lei Yuan olhou para Pei Yunhuan com um sorriso falso.

— Comandante, recebemos ordens para capturar o fugitivo. Agora que ele foi capturado, por favor, se retire.

Pei Yunhuan estalou a língua.

— O Oficial Lei disparou uma flecha mortal para capturar alguém. Se eu não tivesse interferido agora há pouco, o fugitivo teria morrido. — Sorriu de leve. — Isso tem relação com o caso do Supervisor Militar. O fugitivo será entregue ao Departamento de Justiça Criminal pelo Setor de Prisões e Detenções. Ou será que o Oficial Lei pretendia matá-lo para silenciá-lo?

A expressão de Lei Yuan se iluminou com frieza quando respondeu:

— Comandante, refeições podem ser feitas sem critério, mas palavras não devem ser ditas sem cuidado.

O jovem riu novamente.

— Foi só uma brincadeira. Por que tanto nervosismo, Oficial Lei? Quem não sabe, pensaria que o senhor está se sentindo culpado.

— Você…!

Ele então se virou e chamou:

— Duan Xiaoyan.

Da multidão, um jovem de rosto arredondado e olhos arregalados, vestido de verde, deu um passo à frente.

— Mestre.

Pei Yunhuan lançou um olhar para Lu Dashan.

— Leve-o de volta e entregue ao Departamento de Justiça Criminal.

— Sim.

Lei Yuan lançou um olhar frio a Pei Yunhuan e disse:

— Comandante, Lu Dashan é alguém que a Divisão Militar quer capturar.

— O caso do Supervisor Militar também envolve os Guardas Wu da Direita. Será a mesma coisa se eu o entregar. Além disso, se o Oficial Lei capturasse alguém, não o enviaria também ao Departamento de Justiça Criminal? — disse Pei Yunhuan com desdém. — Ou será que o Oficial Lei tem outros métodos para punir um prisioneiro?

Essas palavras foram duras. Se chegassem aos ouvidos da família imperial, com certeza causariam um desastre.

Lei Yuan fitou-o intensamente. Pei Yunhuan retribuiu com um sorriso sarcástico.

Após um breve impasse, Lei Yuan percebeu que não havia mais espaço para negociação, então não insistiu. Limitou-se a olhar para Pei Yunhuan com firmeza:

— Agradeço sua ajuda, Comandante. Quando retornar ao Departamento de Segurança Pública, relatarei o ocorrido de hoje aos superiores e expressarei minha gratidão por sua gentileza.

Pei Yunhuan respondeu com indiferença:

— O senhor trabalhou duro.

Lei Yuan lançou um olhar venenoso a Lu Dashan, encolhido no canto, antes de ordenar a retirada de seus subordinados.

Em um instante, metade dos soldados e cavalos desapareceram da longa rua. A outra metade havia sido trazida por Pei Yunhuan.

Lu Tong ainda absorvia o intenso conflito entre os dois homens quando, de repente, sentiu o ombro ficando úmido. Levou a mão até lá e percebeu que era um ferimento — causado pela ponta da faca de Lu Dashan —, tingindo de vermelho a gola de seu traje.

Yin Zheng correu até ela, olhando nervoso para seu rosto.

— Senhorita, a senhora perdeu muito sangue!

Lu Tong limpou o sangue do rosto e disse com descaso:

— Não se preocupe, não é meu.

Assim que terminou de falar, ouviu alguém gritar de cima:

— Senhorita, está tudo bem com você?

Lu Tong levantou os olhos e viu a filha do Preceptor Imperial sentada no terraço florido do segundo andar, cercada por uma multidão de criadas que a consolavam.

Quando Lu Dashan aparecera, a jovem fora escoltada pelos guardas para dentro da Torre do Tesouro Fragrante. Agora que ele havia sido levado embora, ela parecia estar apavorada. Seu chapéu com véu fora removido, e metade de seu rosto podia ser vista entre a multidão. Era bela e delicada, e sua voz tremia de medo. Sete ou oito subordinados — provavelmente de Lei Yuan ou Pei Yunhuan — a cercavam, todos perguntando se estava bem, oferecendo-lhe água e chá.

— Senhorita Qi, não se preocupe. Já enviamos alguém para avisar a mansão do Preceptor Imperial.

— A segurança aqui é rigorosa. O ocorrido de hoje foi inesperado e assustou a senhorita. A culpa é do Departamento de Segurança Pública.

— Senhorita, gostaria de beber um chá aromático calmante?

Palavras gentis pairavam no ar, levadas pelo vento até os ouvidos de todos. Ninguém se importava com Lu Tong, que parecia miseravelmente sozinha.

Yin Zheng notou a diferença gritante de tratamento entre Lu Tong e a jovem com véu e sussurrou:

— Senhorita, o ferimento no seu pescoço…

Lu Tong olhou em volta e notou uma loja de cosméticos não muito longe da Torre do Tesouro Fragrante. Disse:

— Vamos entrar e limpar isso.

Yin Zheng ajudou-a a se levantar, caminhando em direção à loja. Alguns soldados notaram o movimento e gritaram:

— Ei, esperem! Aqueles dois ali ainda não registraram seus nomes!

Du Changqing se aproximou rapidamente e disse com um sorriso:

— Eu faço isso! Eu anoto por eles!

Essa moça é a Doutora Lu, da nossa Clínica Renxin! Eu sou o proprietário!

A confusão atraiu a atenção de Pei Yunhuan. Ele lançou um olhar a Du Changqing, depois desviou o olhar e seguiu adiante com expressão impassível. Após alguns passos, parou subitamente e virou-se para trás.

No meio da bagunça por onde havia passado, havia uma flor de veludo azul caída no chão.

Metade das pétalas estava encharcada de sangue e salpicada de umidade.

Ele se abaixou e pegou a flor. Quando viu a parte de trás do enfeite, uma expressão estranha cruzou seu rosto.

Os alfinetes afiados e pontiagudos estavam manchados de sangue.

Eram três no total — três agulhas de prata.


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