Capítulo 14. Confronto


 Amparada por Yin Zheng, Lu Tong caminhou até uma loja de cosméticos próxima à Torre Fragrância Preciosa.

A dona da loja, uma mulher rechonchuda, havia se assustado quando Lu Dashan apareceu de repente. Escondeu-se atrás da porta e viu toda a cena. Agora, ao ver Lu Tong coberta de sangue, sentiu pena. Mandou buscar uma bacia com água quente e deixou que as duas se lavassem na saleta dos fundos.

Yin Zheng molhou um lenço na água e começou a limpar delicadamente o sangue do rosto de Lu Tong. Preocupada, disse:

— Espero que essa ferida não deixe cicatriz...

— Está tudo bem — respondeu Lu Tong, com tranquilidade. — O corte não é profundo. Vamos voltar para a estalagem e passar um remédio.

Yin Zheng, com raiva contida, exclamou:

— Aquele fugitivo estava mirando na moça ao seu lado. Se os guardas dela não tivessem reagido, você não estaria assim. Que sujeito cruel!

Ela se referia à jovem filha do Grande Preceptor.

Lu Tong abaixou os olhos.

Lu Dashan provavelmente correu para ali ao ver a carruagem do Grande Preceptor. Se tivesse conseguido fazer a filha dele de refém, talvez tivesse escapado. Mas, por um golpe do destino, acabou levando ela — uma plebeia sem valor — como refém.

Yin Zheng torceu o lenço e perguntou:

— Mas por que você atacou de repente? Me assustou tanto. Você sempre é tão calma, mas hoje agiu por impulso. Mesmo que o fugitivo fosse perigoso, havia vários oficiais ali. Mesmo que você não fizesse nada, eles iriam salvá-la.

Lu Tong riu por dentro, com amargura.

Será que Lei Yuan a salvaria?

Ela havia visto claramente os arqueiros por trás dele, com os arcos armados, sem qualquer intenção de poupá-la. E, pelas palavras do Comandante Pei, parecia que Lei Yuan queria matar Lu Dashan.

Ela era a parte mais irrelevante de todo aquele caso. Se morresse, não faria diferença alguma.

— Porque eu não confio neles — respondeu Lu Tong.

Yin Zheng ficou surpresa:

— Senhorita?

— Eles estão determinados a capturar o fugitivo. Temo que me usariam como isca — disse Lu Tong, com voz firme. — Não sou uma jovem nobre. Sou só uma plebeia. Aos olhos desses oficiais, sou menos que uma formiga.

Ela fitou Yin Zheng, com serenidade.

— Não quero pôr minha vida nas mãos deles. Eu só confio em mim mesma.

Yin Zheng ficou em silêncio, sem palavras.

Nesse momento, uma voz cortou o ar:

— Parece que a doutora Lu guarda certo rancor dos figurões de Shengjing. Teria alguma desavença com eles?

Lu Tong levantou o olhar, surpresa.

A loja de cosméticos estava impregnada com o perfume adocicado dos produtos. Não havia janelas, apenas uma lâmpada de óleo lançando sombras tênues. Um biombo pintado com flores de hibisco recém-despontadas se destacava, suas pétalas rosadas e delicadas. À luz tremeluzente, uma figura surgiu de trás do biombo.

O jovem vestia uma túnica vermelha de arqueiro. O cinto de couro negro na cintura reluzia sob a luz, realçando ainda mais sua silhueta esguia e imponente. Seu rosto era belo como jade, com traços impecáveis e pele alva. Em meio à penumbra da loja, sua presença era como uma visão etérea — como um sonho embriagado entre flores.

Os olhos de Lu Tong se estreitaram.

Era o “Comandante Imperial Pei” de quem Lei Yuan falara.

Na confusão de antes, ela não tinha prestado atenção ao seu rosto. Agora, vendo-o de perto, com aquele sorriso calmo e trajes refinados, recordou-se de suas palavras afiadas ao enfrentar o oficial e de como o chamavam de “Comandante Imperial”. Era evidente que aquele jovem, embora ainda na casa dos vinte, ocupava uma posição elevada. A origem de sua família certamente era poderosa.

Ela decidiu, ali mesmo, que se manteria longe desses herdeiros astutos e perigosos da elite.

Enquanto pensava nisso, viu-o pousar algo sobre a pequena mesa à sua frente, com um sorriso tranquilo:

— Doutora Lu, você deixou isto cair.

As sobrancelhas de Lu Tong se arquearam.

Era a presilha de flor de veludo azul-escuro. Sob a luz, emitia um brilho frio e estranho, que dava arrepios.

Ela se recompôs e disse em voz baixa:

— Obrigada, comandante.

Estendeu a mão para pegar a presilha.

Uma mão desceu sobre a flor, impedindo-a.

Lu Tong ergueu o olhar.

Os dedos longos e pálidos do jovem pressionavam a flor de veludo. Sua mão parecia entalhada em jade branco.

Ele tocou a flor suavemente, como se refletisse sobre algo. Embora sorrisse, seu olhar era profundo e penetrante, como se tentasse enxergar através dela.

Pei Yunhuan falou:

— Há algo que não entendi. Doutora Lu, poderia me esclarecer?

Lu Tong o encarou, o olhar gelado.

Ele sorriu e perguntou:

— Por que há três agulhas de prata na sua flor de veludo?

Presilhas comuns costumam ter apenas uma agulha de prata. A de Lu Tong, três.

Yin Zheng, ao lado, parecia nervosa.

Lu Tong respondeu com calma:

— Meu cabelo é grosso. As agulhas comuns escorregam com facilidade, por isso uso três.

Pei Yunhuan arqueou levemente a sobrancelha. Lu Tong permaneceu impassível.

Seus olhos percorreram o cabelo volumoso dela por um instante antes de seguir adiante.

— Entendo.

Antes que Lu Tong dissesse algo, ele acrescentou:

— Então por que você as afiou? — seu sorriso era suave — A cicatriz no rosto de Lu Dashan não foi feita por agulhas comuns.

O coração de Lu Tong apertou. Esse homem era mesmo difícil de lidar.

Normalmente, presilhas — sejam de pérola ou de veludo — têm agulhas arredondadas para evitar ferimentos. Mas a flor azul-escura que ela usava tinha pontas afiadas e ferozes. Não era preciso muita força — um toque leve já deixava marcas. Ela mesma as afiou.

Na loja, o perfume adocicado dos cosméticos parecia mais intenso. Lu Tong observou a mão dele, reparando nos detalhes em prata do protetor de pulso. Depois, ergueu o olhar e respondeu com serenidade:

— Comandante, até onde sei, não há nenhuma lei em Shengjing que proíba mulheres de usarem presilhas com agulhas afiadas, certo?

O tom era calmo, mas os olhos — desafiadores.

Por um instante, o olhar de Pei Yunhuan se acendeu, surpreso. Então ele sorriu e assentiu:

— Isso é verdade.

Seu semblante suavizou. Ele soltou a flor de veludo e tirou do bolso um pequeno frasco de porcelana, que colocou sobre a mesa.

— Doutora Lu, sua ferida precisa de cuidado adequado. Não seria bom se deixasse cicatriz. Esse remédio contra marcas da Guarda Imperial é bastante eficaz. Deveria usá-lo.

Lu Tong não se mexeu. Apenas o fitou e disse:

— Obrigada.

Alguém do lado de fora chamou:

— Mestre, os enviados da mansão do Grande Preceptor pedem para vê-lo.

Ele sorriu, lançou um último olhar a Lu Tong e se virou para sair.

Só depois que desapareceu completamente atrás do biombo, Lu Tong soltou o ar, aliviada.

Não sabia por quê, mas apesar do sorriso e da voz gentil, não conseguia afastar a sensação de perigo que ele transmitia.

Felizmente, foi apenas um encontro passageiro. Provavelmente nunca mais nos veremos.

Pensou consigo mesma. Yin Zheng, ainda ao lado, perguntou com cautela:

— Senhorita, vamos voltar agora?

— Arrume tudo — disse Lu Tong, desviando o olhar. — Vamos deixar a Estalagem Laiyi ainda esta noite.


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