Capítulo 130: Sua Impotência
— Você é tão esperta… deve saber quem foi que envenenou, não é? — disse o Doutor Wu, levantando os olhos para Han Yan.
Han Yan o encarou, sua voz saiu lenta e suave. Se alguém não prestasse atenção, poderia pensar que ela apenas movera os lábios sem emitir som.
— A Imperatriz Viúva? — perguntou ela.
O Doutor Wu assentiu.
Era realmente muito estranho que apenas Fu Yunxi tivesse sido envenenado enquanto o Imperador permanecia ileso. No entanto, os fatos que Fu Yunxi descobrira eram ainda mais alarmantes. Após a morte do antigo Imperador, entre os muitos príncipes, apenas o atual Imperador e Fu Yunxi se destacaram. Naquela época, a Imperatriz Viúva os tratava como tesouros preciosos, chegando ao ponto de convocar médicos do palácio para preparar o mais raro dos medicamentos com lótus de neve, a fim de fortalecer os dois irmãos. O que a Imperatriz Viúva não sabia era que os irmãos eram muito próximos. Quando pequenos, Fu Yunxi era mais frágil do que o Imperador, então este cedia sua parte do remédio ao irmão — e foi aí que surgiu o problema.
Aquele prato medicinal estava misturado com um veneno letal sem antídoto. O Imperador não ingeriu o remédio e permaneceu ileso, enquanto Fu Yunxi tomou o dobro da dose, o que intensificou os efeitos. Por isso, ele passou a apresentar sintomas de envenenamento ainda na infância, quando, em circunstâncias normais, esses efeitos só surgiriam na idade adulta.
Foi graças a esses sintomas precoces que o Doutor Wu acabou descobrindo o envenenamento. Ao longo dos anos, ele tentou todos os tratamentos possíveis para a doença de Fu Yunxi, mas infelizmente só conseguiu aliviar um pouco os sintomas. Embora Fu Yunxi não consumisse mais aquele prato e não estivesse mais sendo envenenado, os danos acumulados em sua juventude haviam se enraizado profundamente em seu corpo.
A água da nascente na área proibida do palácio fora criada especialmente pelo Imperador para Fu Yunxi. O Imperador sabia que Fu Yunxi sofria com um veneno de frio, mas se recusava a acreditar que a Imperatriz Viúva fosse a responsável. Mesmo quando Fu Yunxi trouxe pratos medicinais para análise, talvez alguém tenha sido subornado, pois não encontraram qualquer irregularidade. Sem provas, era impossível convencer o Imperador — enquanto isso, o veneno de frio ganhava força a cada dia. A água da nascente aliviava o frio, aquecendo um pouco o corpo dele, e sempre que os sintomas se agravavam, Fu Yunxi se escondia lá.
Han Yan se lembrou da vez em que foi envenenada pelas toxinas da nascente; de fato, havia encontrado Fu Yunxi lá. Aquele local era realmente proibido, sem eunucos ou criadas por perto. No início, pensara que fora coincidência, mas agora percebia que Fu Yunxi estava, na verdade, tentando aliviar os efeitos do veneno.
No caso do envenenamento, mais do que a ameaça à sua própria vida, Fu Yunxi havia sofrido um golpe ainda mais cruel — provavelmente causado pela Imperatriz Viúva. A mulher que ele respeitava desde a infância, a pessoa mais próxima dele após a morte da mãe, revelara-se uma carrasca impiedosa, disposta a tirar tanto sua vida quanto a de seu irmão. Talvez até a morte de sua mãe e do irmão mais novo estivesse relacionada a ela. A expressão “tomar o ladrão por pai” parecia descrever perfeitamente a situação deles.
— O Imperador e o Príncipe são irmãos de sangue — Han Yan expressou sua dúvida. — Mesmo que o Imperador confie na Imperatriz Viúva, se o Príncipe levantasse suspeitas, o Imperador deveria ficar em alerta. Por que ele ainda confia tanto nela?
A atitude do Imperador em relação à Imperatriz Viúva era mais intensa do que a de um filho comum com sua mãe, o que era de fato estranho.
O Doutor Wu balançou a cabeça.
— Quando o Imperador era pequeno, a Imperatriz Viúva salvou sua vida. Ele caiu em um lago, e não havia criados por perto. Foi a própria Imperatriz Viúva quem pulou na água para resgatá-lo. Desde então, ela ficou com sintomas de frio persistentes e começa a tossir incontrolavelmente sempre que chove. Por todos esses anos, o Imperador tem vivido com profunda culpa.
Han Yan arqueou uma sobrancelha, mas permaneceu em silêncio. Aos seus olhos, as ações da Imperatriz Viúva eram insignificantes. Estando num palácio luxuoso, o fato de alguém te salvar não significa que não vá te matar depois. Han Yan até suspeitava que a própria queda do Imperador no lago estivesse relacionada à Imperatriz Viúva. Pessoas realmente cruéis não demonstram sua maldade abertamente — agem com gentileza, fingem sacrifício, aparentam pensar no seu bem, ganham sua confiança… e depois te empurram para o abismo quando você menos espera. Como a Senhora Zhou e sua filha, em sua vida passada. Han Yan já havia morrido uma vez, e por isso enxergava tudo com clareza — mas o Imperador era diferente. Crescer na família imperial o tornara indiferente aos laços familiares. Tendo perdido a mãe cedo e carente de afeto materno, era fácil para ele tomar as ações da Imperatriz Viúva como âncora emocional e vê-la como uma segunda mãe.
O Imperador não acreditava em Fu Yunxi… ou melhor, ele se recusava a acreditar. Admitir que a Imperatriz Viúva tinha segundas intenções significaria destruir sua ilusão — seu sonho de uma figura materna. O Imperador também se enganava a si mesmo, e essa autoilusão teve consequências trágicas para Fu Yunxi. Todos os dias, ele assistia ao seu inimigo — e irmão — encenar uma relação de afeto, sem alternativa além de canalizar sua frustração para o campo de batalha. Assim, cresceu em força até se tornar alguém que ninguém mais podia subestimar… alguém temido, que impunha pressão onde quer que fosse.
Han Yan olhou para o Doutor Wu e perguntou:
— Yi Lin Na pode curar a doença dele, não é?
O Doutor Wu se espantou, depois respondeu:
— Não é uma cura completa. O povo da Região Oeste é hábil no uso de venenos, e a princesa apenas conseguiu controlar temporariamente o veneno de frio com um de seus insetos. No entanto, o veneno não pode ser completamente expulso, e se o inseto Gu for manipulado contra Han Yan, Fu Yunxi ainda correrá perigo. Mas… — o Doutor Wu levantou o olhar — ele não aceitou o inseto da princesa.
Não aceitou o inseto de Yi Lin Na? Han Yan ficou surpresa. Mas Yi Lin Na já havia se mudado para o Palácio Xuanqing, e Fu Yunxi não a rejeitara. Se ele não aceitou o inseto… por que a deixou fazer aquilo?
O Doutor Wu prosseguiu:
— O veneno de frio tem piorado ultimamente. Ontem, ele voltou gravemente ferido. Fui tratar de seus ferimentos, mas o Príncipe estava envenenado e com novos machucados. Senti-me verdadeiramente impotente. Moça, você sempre tem muitas ideias. Espero que consiga encontrar uma solução para ajudar o Príncipe. — Ele fez uma pausa antes de continuar: — Posso ver que você realmente se importa com ele.
Han Yan sorriu com amargura.
— Doutor, o senhor me superestima. Mas há algo que não entendo… o Imperador sabe da gravidade da condição do Príncipe?
O Doutor Wu assentiu.
— Claro. Foi o Imperador quem me enviou para tratar dele.
Han Yan refletiu por um instante. Os acontecimentos de ontem deixaram claro que o Imperador estava mirando nela. Mas se ele sabia que Fu Yunxi estava à beira da morte, então deveria entender que o comportamento de Fu Yunxi para com ela não era real. Se ela morresse pelas mãos do Imperador, Fu Yunxi jamais deixaria isso barato. Ainda assim, o Imperador tomou essa atitude. Qual seria o motivo para correr o risco de entrar em conflito com o próprio irmão?
Quanto a Fu Yunxi, ele praticamente se expulsou do Palácio Xuanqing sem aceitar o inseto. O que ele estava tentando fazer? Uma possibilidade era que ele não queria que ela soubesse da situação. Se ela descobrisse sobre o veneno de frio, com certeza ficaria arrasada. Talvez ele não quisesse sobrecarregá-la, e por isso tomou essa medida drástica de romper o noivado, dando-lhe liberdade. Mas Han Yan achava que Fu Yunxi não era esse tipo de pessoa. Ele seria direto, contaria tudo a ela e se despediria com dignidade.
Então restava apenas uma outra possibilidade: Fu Yunxi foi forçado a afastá-la. O rompimento completo poderia ser uma forma de protegê-la. Estaria isso relacionado à decisão do Imperador?
A mente de Han Yan se encheu de confusão, mas lembrar-se de como Fu Yunxi tomara uma lâmina por ela no dia anterior fez seu coração doer. Ela se esforçou para perguntar:
— Como ele está agora?
O Doutor Wu entendeu que “ele” se referia a Fu Yunxi e suspirou profundamente.
— Nada bem. Os ferimentos são graves, e o veneno está muito agressivo. O inseto da princesa não faz mais efeito. Não sei por quanto tempo ele ainda vai resistir.
O coração de Han Yan se apertou.
— Realmente não há como salvá-lo?
O Doutor Wu sorriu com amargura.
— Estou de mãos atadas.
Han Yan abaixou o olhar, sem palavras. O Doutor Wu olhou pela janela, então sacudiu as mangas e se levantou.
— Preciso voltar agora. Se eu demorar demais, podem desconfiar. As pessoas da capital não sabem do envenenamento e da condição de risco de vida do Príncipe. Se alguém se aproveitasse disso, seria desastroso.
Han Yan assentiu, e o Doutor Wu partiu. Ela permaneceu junto à janela, com Ji Lan e Shu Hong paradas em silêncio atrás dela. Nenhuma das duas esperava ouvir algo tão chocante. O aparentemente glamoroso Príncipe Xuanqing não estava em situação melhor que sua jovem senhora. Os jogos palacianos eram ainda mais aterrorizantes.
Han Yan esboçou um sorriso sombrio. Ela havia recebido uma segunda chance na vida… mas e Fu Yunxi? Se ele morresse, estaria realmente acabado. Não haveria mais Fu Yunxi neste mundo. Ela podia buscar vingança porque ainda estava viva. Mas se ele morresse com suas mágoas ainda não resolvidas, a Imperatriz Viúva permaneceria em sua posição de poder. Será que os céus realmente observam este mundo?
Instintivamente, Han Yan levou a mão ao cabelo, apenas para perceber que sua presilha de jade azul havia sumido. Uma presilha pode ser substituída… mas uma pessoa, uma vez perdida, se vai para sempre.
Depois de muito tempo, ela se levantou. Na escuridão da noite, seus olhos estavam especialmente brilhantes.
— Vamos voltar para a mansão.
Shu Hong olhou surpresa para Han Yan. Pensou que, ao ouvir tais notícias, ela correria imediatamente ao Palácio Xuanqing para ver Fu Yunxi.
Han Yan franziu a testa. A atitude de Fu Yunxi para com ela não era apenas resultado do veneno. A única maneira de encontrar respostas era investigar sua relação com a Imperatriz Viúva. Embora os motivos exatos ainda fossem nebulosos, o fato de até o Imperador ter se voltado contra ela indicava algo muito mais profundo.
Do lado de Zhuo Qi, já deveria haver algum progresso.
Capítulo 131: Um Passado Complicado
Quando retornou ao casarão, o céu já estava completamente escuro, e não havia sequer um carregador de lanterna à vista, como se Han Yan tivesse sido totalmente negligenciada. Quando Mamãe Chen viu que haviam voltado, suspirou de alívio.
— Onde a senhorita se meteu? Voltar tão tarde sem um guarda é preocupante. E se algo tivesse acontecido?
Han Yan conseguiu convencê-la a ir descansar e seguiu para o Pátio Qingqiu. Nos últimos dias, Zhuo Shiyang andava estranhamente comportado. Zhuo Hanming havia se transferido da Academia Imperial para os campos de treinamento unificados, deixando o casarão praticamente vazio, com exceção de Han Yan. Ela não sabia o que Zhuo Shiyang estava planejando, mas era fácil presumir que estava relacionado ao Príncipe Wei, o Sétimo Príncipe. Quanto ao papel da Imperatriz Viúva nisso tudo, Han Yan não tinha certeza, mas sabia que era significativo.
Assim que empurrou a porta do quarto, viu uma sombra parada junto à cabeceira da cama. A figura não se mexeu nem tentou se esconder quando a lamparina foi acesa — era Zhuo Qi. Ao vê-la entrar, ele sorriu e disse:
— Achei que não fosse mais voltar.
Han Yan o encarou com irritação. Aquele homem sempre entrava no casarão como se fosse o quintal da própria casa, indo e vindo sem o menor constrangimento. Era bastante incômodo. No entanto, isso poupava alguns problemas; com suas habilidades, ninguém desconfiaria de que um estranho tivesse invadido o lugar.
Ji Lan correu para fechar portas e janelas, puxou as cortinas e trouxe uma cadeira para Han Yan. Zhuo Qi sentou-se ao lado da cama, enquanto Shu Hong e Ji Lan ficaram de pé atrás dela. Han Yan não escondia suas conversas com Zhuo Qi das duas. No passado, Zhuo Qi achara estranho que Han Yan confiasse tanto nessas duas criadas, mas agora já havia se acostumado.
Han Yan foi direto ao ponto:
— O que descobriu?
Desta vez, Zhuo Qi não estava com o tom brincalhão de sempre. Lançou um olhar sério para Ji Lan e Shu Hong, que congelaram surpresas, olhando para Han Yan com confusão.
— Não precisa se preocupar com elas — Han Yan sinalizou para Zhuo Qi não hesitar. — Ji Lan e Shu Hong são as pessoas em quem mais confio. Nesta vida, essas duas podem estar diretamente envolvidas sem necessidade de reservas. Embora nunca se conheça completamente o coração de alguém, há pessoas que verdadeiramente nunca te trairão.
Diante daquelas palavras, Zhuo Qi não pôde mais hesitar. Baixou a cabeça por um momento, como se estivesse organizando os pensamentos para explicar tudo da forma mais clara possível. Han Yan esperou pacientemente.
Zhuo Qi, enfim, disse:
— Embora os membros do Clã Tang façam de tudo para esconder, eles na verdade têm feito um bom trabalho em manter esse segredo. Ainda assim, descobri que a filha mais nova do antigo líder do Clã Tang, Tang Xiao Qiao, é a ex-consorte do Príncipe Dong Hou.
A filha mais nova do Clã Tang é a consorte do Príncipe Dong Hou? Han Yan franziu o cenho. A corte e o mundo marcial sempre foram conceitos incompatíveis; os do mundo marcial desprezavam as intrigas da corte, enquanto os da corte desconfiavam da crescente influência dos clãs marciais. A relação entre ambos sempre fora delicada — nenhum invadia o espaço do outro, mas mantinham-se atentos.
Casamentos entre oficiais da corte e membros do mundo marcial eram extremamente raros. Em geral, os marciais já eram vistos com desconfiança, especialmente os de grandes seitas, tornando essas uniões quase impossíveis.
No entanto, o Príncipe Dong Hou e Tang Xiao Qiao — um poderoso oficial e a joia do mundo marcial — deveriam, por natureza, ser opostos. Mas, considerando o temperamento impulsivo do Príncipe Dong Hou, não era impossível que se apaixonasse por uma mulher do mundo marcial. Ainda assim, mulheres desse mundo que se apaixonavam por oficiais da corte costumavam ser vistas como peões do governo ou traidoras do mundo marcial.
Com isso em mente, a decisão do antigo líder do Clã Tang de esconder sua filha Tang Xiao Qiao fazia mais sentido.
Mas o lenço bordado nas mãos de A’Bi tinha o caractere “Qiao” escrito. Se a mãe dela era amiga de infância do Príncipe Dong Hou e Tang Xiao Qiao era sua esposa, então aquele lenço só podia pertencer a Tang Xiao Qiao.
Como o lenço de Tang Xiao Qiao foi parar com a mãe dela? De repente, Han Yan se lembrou das palavras de A’Bi — sua mãe amava o Príncipe Dong Hou, mas acabou se casando com Zhuang Shi Yang. A família do Príncipe Dong Hou foi exterminada, e A’Bi nasceu pouco depois de sua mãe se casar com Zhuang. Comentava-se que ela não era filha de Zhuang Shi Yang.
O coração de Han Yan começou a acelerar, e uma suspeita ousada surgiu em sua mente.
Desde que ouvira as palavras de A’Bi, Han Yan já suspeitava que não fosse filha biológica de Zhuang Shi Yang. Achava que seu verdadeiro pai não poderia ser ele, pois suas atitudes nunca demonstraram afeto algum. No início, pensara que isso se devia à frieza natural de Zhuang Shi Yang — ele tratava Zhuang Qin, filha com a concubina Wan, da mesma forma. No entanto, ele ao menos demonstrava algum sentimento por Concubina Wan, mesmo que mínimo — às vezes perguntava por ela. Mas nunca demonstrara qualquer carinho pela mãe de Han Yan.
Desde seu nascimento, jamais vira Zhuang Shi Yang tratar sua mãe com afeto. Mesmo uma esposa de origem humilde normalmente teria alguns anos de companheirismo. No Jardim Qingqiu, no entanto, não havia nada disso.
Quando A’Bi mencionou que sua mãe amava o Príncipe Dong Hou, Han Yan chegou a pensar que talvez fosse filha do príncipe, concebida antes do casamento com Zhuang.
Contudo, ao descobrir o lenço de Tang Xiao Qiao, Han Yan descartou essa ideia. Se sua mãe realmente amasse o Príncipe Dong Hou, não teria guardado um lenço da esposa dele. Devia haver rivalidade entre elas.
Então... e se ela não fosse filha nem de Zhuang Shi Yang, nem de sua suposta mãe?
E se, na verdade, fosse filha do Príncipe Dong Hou com Tang Xiao Qiao?
Zhuang Shi Yang era frio com ela porque sabia que não era sua filha, que não corria seu sangue em suas veias. Além disso, o extermínio da família do Príncipe Dong Hou era altamente suspeito — talvez tivesse ligação com a família imperial? Adotá-la significava esconder um segredo perigoso dentro da família Zhuang, o que poderia atrair uma crise vinda da corte, preocupação essa certamente válida para Zhuang Shi Yang.
Mais ainda: Han Yan era filha do homem por quem a esposa legítima de Zhuang Shi Yang, Lady Wang, era apaixonada. Cada vez que Zhuang Shi Yang a via, era como se Lady Wang tivesse lhe posto um enorme chapéu verde na cabeça.
Então surgiu a pergunta crucial: por que Lady Wang adotou Han Yan?
Han Yan nunca havia duvidado que Lady Wang fosse sua mãe biológica, pois ela sempre a tratara com extrema bondade. Suportara muitas humilhações por sua causa, cuidando dela com todo o carinho de uma verdadeira mãe, o que tornava impossível para Han Yan suspeitar que aquela mulher gentil não fosse, de fato, sua mãe.
No entanto, quando a possibilidade de ser filha de Tang Xiao Qiao e do Príncipe Dong Hou surgiu, diversas lembranças começaram a passar diante de seus olhos. Por exemplo, ninguém jamais comentara que ela se parecia com sua mãe, nem tampouco com Zhuang Shi Yang. Sua mãe tinha uma natureza gentil e graciosa, enquanto ela, embora aparentasse ser obediente, era teimosa e determinada por dentro. Houve vezes em que sua mãe esquecia a data de seu nascimento; sempre que ia ao templo rezar, seu comportamento parecia estranho.
Ela percebeu que não havia nenhuma semelhança entre as duas. Em muitos casos, o que pareciam detalhes triviais agora soavam suspeitos — e, quando reunidos, formavam uma revelação coerente e estarrecedora.
Tudo aquilo que a intrigara durante anos de repente se esclareceu. No entanto, essa clareza não lhe trouxe felicidade. Descobrir que seu pai não era seu pai, e que sua mãe não era sua mãe, tornava sua identidade um completo mistério. Talvez todos os seus verdadeiros parentes já tivessem partido deste mundo. Se fosse realmente filha do Príncipe Dong Hou, então sua existência pacífica ao longo dos anos talvez fizesse parte de uma conspiração.
Pois Zhuang Shi Yang jamais teria ousado manter consigo uma criança que considerasse um desastre — a menos que alguém o tivesse instruído a criá-la dentro da família Zhuang. Essa pessoa conhecia sua origem e sabia que ela ainda estava viva. As únicas pessoas capazes de fazer com que Zhuang Shi Yang obedecesse sem questionar pertenciam à família imperial, e Han Yan não conseguia pensar em mais ninguém. Mas naquela época, o Sétimo Príncipe ainda não havia nascido, então só poderia ser uma pessoa: a Imperatriz Viúva.
De repente, Han Yan se lembrou do pedido de casamento feito por Wei Ru Feng anteriormente. Parecia que, desde sua vida passada, a intenção de Wei Ru Feng de tomá-la como esposa jamais havia mudado. Mesmo que fosse um destino distorcido, tudo aquilo parecia coincidência demais. Em sua vida anterior, Han Yan estava em uma situação ainda pior do que agora — sequestrada por bandidos, considerada desonrada pela capital, desaparecida dos olhos do público, quase esquecida. E, ainda assim, Wei Ru Feng havia enviado uma proposta de casamento.
Naquela época, ela ficara comovida ao ponto das lágrimas, sem jamais questionar o quão absurdo aquilo era. Como alguém orgulhoso e ilustre como Wei Ru Feng poderia sequer considerar uma moça tão insignificante como ela? Seus status eram completamente diferentes — ele destinado a ser um Príncipe, e ela apenas filha de um oficial sem importância.
Quando Zhuang Yu Shan a envenenou em sua vida passada, mesmo após sua morte, Zhuang Yu Shan ainda tomou seu nome, e para o mundo exterior parecia que havia se tornado esposa de Wei Ru Feng. Talvez... tudo aquilo não passasse de fachada. Então, o desejo de Wei Ru Feng de se casar com ela também havia sido influenciado por outra pessoa?
Han Yan levou a mão à testa, sentindo-se sufocada por uma enxurrada de revelações que quase embaralharam seus pensamentos — mas não havia nada que pudesse fazer. Ao ver o rosto pálido dela, Zhuo Qi franziu o cenho.
— O que aconteceu com você?
— Não é nada — respondeu Han Yan entre os dentes. — Zhuo Qi, posso te pedir mais uma coisa?
A palavra “pedir” incomodou profundamente Zhuo Qi, mas mesmo assim ele assentiu.
— O que é?
— Você pode me levar até a prisão? — Han Yan perguntou. — Sem que ninguém perceba.
Investigação particular na prisão? Zhuo Qi a encarou com certa curiosidade. Por que ela parecia tão abalada com aquelas revelações? Embora Zhuo Qi também estivesse ansioso para entender o que realmente havia acontecido com Han Yan, ao vê-la tão desnorteada e perdida, ele desejou, do fundo do coração, que ela não soubesse de nada.
Capítulo 132: Adeus, Velha Amiga
Dentro do Palácio Imperial.
A Imperatriz Viúva observava silenciosamente o velho gato encolhido ao seu lado, sorrindo levemente.
— O que foi?
A criada do palácio ao seu lado sussurrou:
— O Príncipe Xuanqing está à beira da morte.
Na última vez, quando o Imperador havia enviado os Guardas Imperiais para assassinar Han Yan, todos foram mortos por Fu Yunxi. No entanto, Fu Yunxi também tomou uma lâmina por Han Yan. Esse ferimento, que talvez não fosse fatal no passado, agora apenas agravava o sofrimento de Fu Yunxi. Seu corpo já não suportava tamanho desgaste.
— O Imperador colocará toda a culpa sobre Zhuang Han Yan. Fu Yunxi apenas guardará rancor do Imperador... que continue a guardar rancor. — A Imperatriz Viúva acariciava o pelo macio do velho gato. — Já vi o suficiente do "afeto" da família imperial. No fim, ele nunca resiste ao egoísmo.
A criada disse:
— E quanto à Princesa da Região Oeste...? Se ela realmente conseguir curá-lo...?
— É só uma tola — a Imperatriz Viúva acenou com a mão com desdém. — Se ela tivesse como curá-lo, já teria feito isso. O Príncipe tem um temperamento forte. Vi esse garoto crescer. Ele jamais aceitará isso.
— Majestade, então o que devemos fazer agora...? — a criada ainda parecia inquieta.
A Imperatriz Viúva sorriu de leve.
— Agora? Apenas esperamos todos eles entrarem. Depois disso, o assunto estará encerrado. Quanto ao nosso Da Zhong, já está na hora de uma mudança.
Ao dizer isso, seu rosto de repente se contorceu em malícia, o olhar se tornando afiado e cruel. O velho gato soltou um guincho, arranhando sua mão com as garras, deixando um longo arranhão vermelho.
A Imperatriz Viúva não se irritou. Em vez disso, chamou suavemente:
— Mimi...
Acariciando o animal, tentou acalmá-lo. O gato, ainda com as costas arqueadas, hesitou por um momento antes de finalmente relaxar e roçar o focinho em sua mão. A Imperatriz Viúva lançou um olhar à criada, que, tremendo de medo, correu para pegar o gato.
— Mate-o. — A mulher com vestes amarelas ordenou friamente, sua gentileza anterior completamente desaparecida.
— Sim. — A criada estremeceu ligeiramente, pegou o gato nos braços e saiu apressada.
A Imperatriz Viúva passou os dedos sobre o arranhão em sua mão, um sorriso gélido curvando os cantos dos lábios. Qualquer um que ousasse feri-la teria que pagar o preço. Tinha sido assim mais de uma década atrás — e continuaria sendo agora.
Naquela noite, na prisão, os guardas haviam todos caído em sono profundo. Algo parecia errado — não se ouvia nenhum som.
Han Yan olhou para a figura de Zhuo Qi, todo vestido de preto, e não pôde deixar de se sentir um pouco impotente.
— Por que você deixou todos inconscientes? Isso só vai levantar suspeitas.
Zhuo Qi respondeu com inocência:
— Se eu não tivesse derrubado todos, como poderíamos garantir que tudo correria bem? Viu como nosso incenso da Região Oeste é eficaz? Eles não vão acordar por pelo menos três horas.
Em três horas, o céu já estaria claro. No dia seguinte, os rumores provavelmente correriam por toda a capital de que alguém havia invadido a prisão. Mas por ora, não havia tempo para se preocupar com isso.
Han Yan saltou da plataforma superior.
— Precisamos encontrar alguém primeiro.
Como todos os guardas estavam desacordados, encontrar alguém na prisão se tornava ainda mais difícil. Não adiantava apenas chamar um nome esperando resposta. Zhuo Qi foi à frente enquanto Han Yan examinava cada cela com cautela, até que ele finalmente chamou:
— É essa aqui?
Han Yan franziu o cenho e se aproximou rapidamente. A pessoa caída no chão estava com os cabelos desgrenhados e o rosto coberto de sujeira. Han Yan observou atentamente a figura, reconhecendo as roupas esfarrapadas que, apesar de maltrapilhas, ainda traziam marcas distintas.
Era mesmo a Tia Mei, a concubina favorita.
Havia se passado um ano, e a Tia Mei, presa durante todo esse tempo, estava em um estado deplorável. Embora Han Yan soubesse que uma masmorra não era lugar para se viver, ver uma mulher que antes fora tão atraente agora reduzida àquele estado, parecendo uma mendiga de rua, era um contraste brutal. Ao lembrar de como ela já fora radiante, a diferença era gritante.
Han Yan não pôde evitar um aperto no peito, mas apesar das lembranças, não sentia nenhuma compaixão.
— Você realmente a reconheceu assim, de imediato? Boa visão — comentou com Zhuo Qi.
Zhuo Qi sorriu, orgulhoso.
— Eu conheço o corpo de uma mulher melhor que ninguém. Tem muitos prisioneiros aqui, mas a única que ainda tem um certo atrativo é essa mulher. Imaginei que fosse sua tia.
Han Yan lançou-lhe um olhar de repreensão, indicando para ele se apressar. Zhuo Qi retirou um pequeno frasco de seu manto. Com uma mão, puxou o corpo de Tia Mei para perto das grades; com a outra, passou o frasco sob seu nariz.
Logo, Tia Mei soltou um leve gemido e começou a recobrar os sentidos.
Assim que abriu os olhos e viu duas figuras encapuzadas de preto ao seu lado, ela gritou em pânico:
— Não me matem! Socorro! Socorro!
A maioria dos prisioneiros na masmorra imperial eram criminosos sem perdão ou pessoas que ofenderam altos oficiais, condenados à prisão perpétua — uma existência pior que a morte. No entanto, também havia aqueles que serviam como bodes expiatórios, e muitos encontravam mortes misteriosas durante o cativeiro.
Era mais apropriado dizer que eram silenciados pelos que estavam por trás dos panos. Tia Mei provavelmente testemunhara diversas dessas mortes, por isso acreditava que as figuras de preto haviam vindo para matá-la e silenciá-la.
— Cale a boca — disse Zhao Qi friamente. — Ou eu mesmo te mato com um golpe da espada.
Tia Mei continuou a implorar, percebendo que restavam apenas duas pessoas naquela prisão deserta. Desesperada, começou a bater a cabeça contra o chão.
— Por favor, não me matem! Me poupem, por favor!
De repente, ela rasgou as próprias roupas, expondo a pele nua. Apesar da sujeira, sua pele ainda era lisa, marcada apenas por manchas vermelhas e hematomas — provas dos maus-tratos que havia sofrido. Na prisão, mulheres eram vulneráveis a abusos, e Tia Mei não fora exceção.
Han Yan se lembrou da postura arrogante que Tia Mei costumava ter, do charme irresistível que encantava os homens. Ela os tratava como brinquedos, incluindo Zhuang Shi Yang, que não passava de mais um entre seus inúmeros admiradores. Agora, ali estava ela, suplicando de forma patética, sem qualquer resquício da elegância ou do encanto de outrora.
A frase “a fortuna sobe e desce como o fluxo do rio para leste e oeste” ecoou na mente de Han Yan. Ela suspirou e retirou a máscara.
— Sou eu, Tia Mei.
Ao ouvir aquela voz familiar, Tia Mei ficou momentaneamente atônita, depois levantou lentamente a cabeça para encarar Han Yan. Seu olhar parecia confuso, apertando os olhos como se tentasse reconhecer aquela mulher diante de si, tão nobre — será que era mesmo a garotinha que antes sofria bullying na mansão?
De repente, jogou a cabeça para trás e soltou uma risada estrondosa.
— É você! É mesmo você! — sua voz estava cheia de amargura e raiva. — Veio aqui pra me ver nessa desgraça, é isso?
Momentos antes, quando ainda não sabia quem era Han Yan, Tia Mei havia se ajoelhado no chão, suplicando desesperadamente, disposta até a vender o próprio corpo e pisotear sua dignidade. Mas assim que descobriu a identidade de Han Yan, começou a resistir ferozmente. Seus olhos se encheram de escárnio e rancor, como se voltasse a ser a altiva Tia Mei do passado.
Talvez fosse um mal comum entre as mulheres de grandes mansões — ao se depararem com uma velha conhecida, especialmente uma que antes era inferior, mas agora estava em posição superior, sentiam a necessidade urgente de competir. Era uma doença sem cura.
Han Yan a observou em silêncio:
— Tia Mei, faz um ano desde nosso último encontro; você envelheceu.
Essas palavras foram cruéis, atingindo o coração de Tia Mei como uma lâmina. Para uma mulher, a beleza é tudo. Tia Mei sempre se orgulhara de sua aparência, mas as palavras de Han Yan esmigalharam completamente sua autoconfiança.
Ela levantou o rosto para encarar Han Yan — aquela Quarta Senhorita que antes sofria calada, que nem ousava chorar, que podia ser repreendida por qualquer criada ou servo da mansão — agora havia se transformado completamente. Mesmo vestida apenas com uma camisola simples, exalava uma aura de nobreza. Não apenas vivia melhor que Tia Mei, vivia muito melhor. Mas por quê? Han Yan era claramente inferior a ela! Aquele rostinho simples agora havia amadurecido, delicado e encantador, a pele tão suave quanto a de uma flor de lótus recém-florida. Era muito mais jovem que Tia Mei — e isso era o que mais a fazia arder de inveja.
De repente, Tia Mei voltou a rir alto.
— Mas e daí? Você é jovem, mas virou uma esposa descartada! O Príncipe Xuanqing não te quer, ele vai se casar com a Princesa da Região Oeste! Zhuang Han Yan, você não tem nada!
Ao lado dela, Zhuo Qi parou por um instante, imediatamente tomado pela raiva. Sacou a adaga — aquela mulher era insuportável! Mas Han Yan ergueu a mão, impedindo-o com calma.
— Tia Mei, você anda bem informada. Imagino que tenha ouvido isso do carcereiro Yan, quando andava se engraçando com ele?
Ao ouvir aquilo, Tia Mei ficou muda, tomada pela vergonha. De fato, Han Yan tinha razão — ela quase se tornara uma prostituta naquela prisão, à mercê de qualquer figura de autoridade. No início, resistira, mas depois se acostumou, até recebendo favores dos oficiais quando estavam de bom humor. No entanto, ser exposta daquela forma por Han Yan a fez se sentir nua em plena luz do dia, sem qualquer escudo. Ela já não conseguia sequer articular uma resposta.
Zhuo Qi, por dentro, elogiou Han Yan em silêncio por sua resposta afiada, devolvendo o golpe com precisão e sem hesitação — essa era a verdadeira Han Yan. Mesmo em meio ao caos mental, ainda conseguia reagir com frieza. Aquela mulher era assustadora. Bastava um olhar para identificar a fraqueza do oponente — e então pisar na ferida, salpicando sal por cima. Assustadora... mas, de certo modo, também encantadora.
Han Yan não fazia ideia do que passava pela cabeça de Zhuo Qi. Tia Mei, por sua vez, aos poucos se recompôs e voltou a zombar:
— Zhuang Han Yan, você veio hoje pra rir da minha desgraça, não foi? Se é pra isso, então já conseguiu. Quando vai embora?
— Qual a pressa, Tia Mei? — Han Yan se agachou, olhando diretamente nos olhos dela através das grades. Seu olhar era calmo, firme e ligeiramente ameaçador. — Vim hoje apenas para fazer um acordo com você.
— Por que eu faria um acordo com você? — Tia Mei zombou, fria.
— É simples. Você quer liberdade — respondeu Han Yan.
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