Capítulo 133: Fazendo um Acordo
— Liberdade? — a Tia Mei ficou surpresa, mas logo reagiu, cuspindo para Han Yan — Quarta Senhorita, suas palavras estão ficando cada vez mais incompreensíveis. Liberdade? Está brincando?
Embora o tom fosse frio, carregado de autodepreciação e descrença, havia um brilho nos olhos dela. Han Yan percebeu aquela centelha; Tia Mei ansiava por liberdade. Enquanto houvesse desejo, haveria espaço para negociação. Encarando o olhar de Tia Mei, Han Yan falou quase como se a estivesse acalmando:
— Tia Mei está presa aqui há mais de um ano. Com certeza já deve estar acostumada a essa vida. Achei que gostaria de sair e ver o mundo.
— O que quer dizer com isso? — Tia Mei parou de sorrir, o tom tornou-se urgente. Assim que falou, arrependeu-se de mostrar tanta ansiedade diante de Han Yan, mas as palavras dela eram tentadoras demais. Parecia que havia uma chance de escapar dessa prisão. O tempo de Tia Mei naquela masmorra parecia um pesadelo sem fim; jamais imaginara cair tão fundo na vida. Faminta, vivendo da pior e mais suja forma, à mercê de inúmeros homens estranhos, sem liberdade nem dignidade — e o pior, o medo de que essa vida nunca terminasse até seu último suspiro.
— Tia Mei não quer ver a luz do sol lá fora? Passar o dia todo nesse lugar escuro e úmido... Você não sabe como as flores florescem lindas e como o mercado é encantador? — Han Yan sorriu levemente. — Aliás, Tia Mei, deve fazer muito tempo que você não usa roupas bonitas. Uma beleza como você é realmente... bem... — Ela não completou a frase, mantendo a calma, mas o sorriso tinha um toque de malícia.
Tia Mei olhou furiosa para Han Yan.
— Quarta Senhorita, não vá longe demais.
Era como colocar uma refeição deliciosa diante de alguém que está morrendo de fome e dizer que só poderá comê-la se vender sua dignidade. As palavras de Han Yan despertaram o desejo mais profundo de Tia Mei, mas eram um isca que pisava em seu orgulho. A altivez e o desafio que Tia Mei mostrara no início desapareceram completamente, dando lugar a uma derrota profunda.
— Como isso seria ir longe demais? — respondeu Han Yan. — Quando fecharmos esse acordo, você terá tudo o que acabei de mencionar. Não estou mentindo; cumprirei minhas promessas.
— Mas estou presa agora. Como você poderia me resgatar? — perguntou Tia Mei. Ela não confiava em Han Yan. Na verdade, como antiga rival, tinha um receio profundo dela. Afinal, havia sido derrotada por essa garota aparentemente comum. Quem diria que ela tinha tanta astúcia? Tudo que Tia Mei enfrentava hoje era consequência dos planos de Han Yan. A oferta de Han Yan sugeria que tinha informações valiosas para trocar, mas se isso realmente levaria à sua liberdade era incerto.
— É simples — disse Han Yan — Olhe ao redor; não há uma alma aqui. Se eu quiser resgatá-la, será fácil. Quando você sair, desde que nunca mais pise na capital, poderá ter uma vida estável. Talvez não rica, mas certamente melhor que esta. Com a beleza de Tia Mei, pode até encontrar um protetor melhor que o velho mestre.
Tia Mei fixou os olhos em Han Yan, que a encarou firmemente. Isso a deixou um pouco desconfortável; ela conhecia as capacidades de Han Yan. De fato, seria fácil para ela se salvar agora. Mas não existe almoço grátis, e, com Han Yan oferecendo termos tão generosos, o que ela exigiria em troca?
— O que a Quarta Senhorita quer que eu faça? — perguntou Tia Mei, hesitante, mas sincera. Naquele momento, já havia tomado sua decisão: desde que pudesse escapar daquele inferno, haveria esperança. Se Han Yan tinha poder para isso, ela precisava agarrar a chance. O que viesse depois poderia ser resolvido devagar; não havia pressa.
— Meu pai biológico não é Zhuang Shiyang — disse Han Yan.
Tia Mei ficou abalada. Ainda não sabia disfarçar suas emoções tão bem quanto as irmãs Zhou. O choque estava claro no rosto dela, e Han Yan percebeu imediatamente. Um calafrio percorreu Han Yan; a expressão de Tia Mei parecia confirmar muitas coisas.
— Você... — Tia Mei ficou sem palavras, olhando para Han Yan com medo.
— Tia Mei deve saber quem é meu pai biológico, ou melhor, qual é minha verdadeira identidade? — perguntou Han Yan calmamente.
Zhuo Qi ficou surpreso, não esperando que Han Yan abordasse um assunto tão delicado tão abertamente com Tia Mei. Ele não sabia que Han Yan sentia que não precisava manter segredo; mesmo que Zhuo Qi descobrisse sua origem, não faria diferença. Afinal, ele não vinha de um tribunal poderoso e não havia muitos interesses envolvidos.
Tia Mei balançou a cabeça.
— Não sei.
Han Yan não lhe deu chance de continuar.
— Nesse caso, o acordo está encerrado. Vamos embora. — Virou-se para sair.
— Espere! — Tia Mei chamou rapidamente. Não esperava que Han Yan fosse tão decidida. Quando Han Yan levantou a questão, Tia Mei hesitou; era um assunto sério demais para ser tratado levianamente. Ela guardava esse segredo há anos para sua própria segurança, para evitar problemas. Agora, estava sendo pedida para trocar esse segredo por liberdade — uma escolha difícil. Ela queria ganhar tempo para pensar, imaginando que Han Yan poderia se ansiar e elevar suas exigências, mas não esperava que Han Yan simplesmente fosse embora. Era completamente diferente do que Tia Mei imaginara, e ela não teve tempo para reagir antes de chamar Han Yan.
Han Yan virou as costas para Tia Mei e sorriu levemente. Sabia exatamente o que Tia Mei pensava. Se ela achava que podia ameaçá-la com aquela informação, estava muito enganada. Han Yan não permitiria estar em desvantagem na negociação; se mostrasse fraqueza, a outra parte ficaria ainda mais forte, dificultando sua vida depois. Agora, Tia Mei precisava dela; Han Yan era sua única esperança, e claro que não deixaria essa chance escapar. Como resistir a explorar essa vulnerabilidade?
Zhuo Qi observava maravilhado. Se Han Yan fosse para o comércio, certamente prosperaria. Sua mente afiada, o entendimento da psicologia alheia e a intimidação sutil faziam parecer que a outra parte fazia um ótimo negócio sem perceber.
Han Yan voltou e perguntou:
— Tia Mei, já que não sabe, então o acordo está encerrado. O que quer que eu faça? Ou sabe realmente o que quer?
Tia Mei percebeu que não tinha mais espaço para manobra; não era sábio pechinchar com Han Yan. Aquela garota segurava seu destino nas mãos. Apesar da relutância e da raiva, não podia arriscar seu futuro. Então disse:
— Devo ter me confundido, Quarta Senhorita. Eu sei sobre esse assunto.
— Ótimo, se sabe, podemos prosseguir — respondeu Han Yan, sentando-se atrás das grades. — Há bastante tempo; os guardas não vão acordar por pelo menos três horas. Tia Mei pode explicar com calma.
— Eu posso falar — Tia Mei fixou o olhar em Han Yan. — Você precisa garantir que eu possa sair daqui e ter uma boa vida. — Ainda sentia um pouco de insegurança; talvez a felicidade fosse súbita demais para acreditar.
— Claro — respondeu Han Yan, olhando para ela — E também vou lhe dar algum dinheiro. Não será muito, mas o suficiente para você viver sem preocupações por alguns anos.
— A Quarta Senhorita é realmente generosa — Tia Mei sorriu, e aquele sorriso trouxe um pouco do antigo charme, lembrando sua beleza na juventude.
— Contudo, o que você disser deve ter valor — Han Yan falou lentamente. — Se eu descobrir que está mentindo, o acordo está encerrado. Você sabe que sou muito boa em perceber quando alguém mente. — Ela aumentou a pressão gradualmente, causando um leve pânico em Tia Mei, eliminando qualquer pensamento de engano.
Tia Mei então começou a falar, e pelas suas palavras, Han Yan soube um segredo chocante — que mudaria o curso de sua vida.
A mãe de Han Yan, Lady Wang, fora uma jovem bela e ingênua, muito respeitada na capital por seus talentos. Era gentil e adorável, vinda de uma família decente, e tinha pretendentes batendo à sua porta. Porém, Lady Wang sempre guardara um lugar no coração para uma pessoa: seu amigo de infância, o Príncipe Dong Hou.
O Príncipe Dong Hou era conhecido por sua personalidade arrogante e comportamento fora do comum. Nem mesmo o velho Príncipe Dong Hou conseguia controlá-lo. Ainda assim, era excepcionalmente talentoso e tinha um talento para política, o que lhe garantiu a admiração do falecido imperador. Como o velho Príncipe Dong Hou e o imperador haviam lutado juntos no campo de batalha, o imperador frequentemente fechava os olhos para as travessuras do príncipe.
Ao longo da vida, o Príncipe Dong Hou se envolveu em muitas aventuras imprudentes, a mais escandalosa delas foi casar-se com uma mulher do mundo Jianghu como sua Consorte Princesa. Naquela época, o tribunal e o Jianghu estavam em oposição, e com o prestígio do Príncipe Dong Hou, esperava-se que ele se casasse com alguém de alta linhagem. Embora Lady Wang viesse de uma família respeitável, corria o boato de que o príncipe se casaria com uma princesa, então ela mantinha seus sentimentos em segredo. No fim, ele surpreendeu a todos ao casar-se com uma mulher desconhecida do Jianghu.
Essa mulher do Jianghu era um mistério, mas o Príncipe Dong Hou a chamava de: Xiao Qiao.
Capítulo 134: A Verdade Revelada
Quando o Príncipe Dong Hou se casou com Xiao Qiao, muitos se opuseram à união, incluindo o velho Príncipe Dong Hou e o falecido Imperador, que queria casar sua própria filha com ele. Contudo, o Príncipe Dong Hou rejeitou firmemente, jurando perante todos que teria apenas Xiao Qiao como esposa, sem tomar esposa formal nem concubinas.
Nesse momento, a Tia Mei zombou, dizendo com desdém:
— São apenas palavras bonitas; como confiar nos votos de um homem?
Depois disso, lançou um olhar significativo para Han Yan. Em seu coração, ela acreditava que Han Yan também havia recebido um voto de Fu Yunxi. Naquela época, todas as mulheres da capital sentiam inveja de Han Yan, mas veja só sua situação agora — ela fora expulsa do Palácio Xuanqing, enquanto Fu Yunxi casava-se com uma princesa estrangeira.
Han Yan, de olhos frios, mal demonstrava expressão, sentindo uma mistura de emoções. Ao contrário da Tia Mei, que desconfiava dos homens, Han Yan acreditava que um homem que ousasse fazer tal juramento devia ser profundamente sentimental e leal, alheio às convenções sociais. O Príncipe Dong Hou devia amar verdadeiramente a garota chamada Xiao Qiao.
Vendo que Han Yan não mostrava a tristeza que esperava, Tia Mei ficou um pouco desapontada e fez uma pausa antes de continuar sua história.
Todos na capital sabiam do amor do Príncipe Dong Hou por aquela moça do Jianghu. Embora ele fosse arrogantemente audacioso, era um jovem bonito, o que fazia muitas mulheres sentirem inveja de Xiao Qiao. Lady Wang também sentia ciúmes, mas principalmente desejava a felicidade daquele que amava, abençoando-os silenciosamente em seu coração.
Um ano após o casamento do Príncipe Dong Hou com Xiao Qiao, eles tiveram uma filha. Tragicamente, quando a criança ainda estava nos panos, toda a família do Príncipe Dong Hou foi massacrada. Centenas de pessoas do clã foram assassinadas sem exceção, e dizia-se que era vingança. A jovem filha do Príncipe Dong Hou também não escapou desse destino e morreu tragicamente.
Lady Wang ficou devastada com essa perda, quase morrendo de desgosto junto com o Príncipe Dong Hou. Felizmente, sua família a convenceu gentilmente, e ela foi se recuperando aos poucos. Pouco tempo depois, Lady Wang casou-se novamente com Zhuang Shiyang.
Naquela época, Zhuang Shiyang não ocupava uma posição importante, especialmente comparado aos pretendentes ilustres que cortejavam Lady Wang. O casamento deles era realmente inesperado. No entanto, Zhuang Shiyang era um homem atencioso com Wang, vendo nela uma jovem esposa bonita que também poderia auxiliá-lo em sua carreira. Dado seu caráter, ele fez o possível para agradá-la, e logo Lady Wang teve uma filha — Han Yan.
Depois do nascimento de Han Yan, a atitude de Zhuang Shiyang para com Lady Wang mudou, tornando-se fria e indiferente. Era incompreensível para um marido se afastar tanto da esposa que acabara de dar à luz, o que gerou rumores na casa de que Han Yan não era filha legítima de Zhuang Shiyang, mas sim fruto de um caso de Lady Wang com outro homem. Caso contrário, por que Zhuang Shiyang seria tão indiferente, sem demonstrar o afeto que um pai deveria ter?
Tia Mei fez uma pausa, observando a expressão de Han Yan. Percebendo que Han Yan permanecia calma, até indiferente ao mencionar a “infidelidade de Lady Wang”, Tia Mei não pôde deixar de sentir um pingo de culpa.
Na verdade, as fofocas entre os servos eram só isso — fofocas. Uma mulher do harém, que raramente via outro homem além do marido, e sendo Lady Wang uma pessoa reservada que quase não convivia com as damas da capital, tinha poucas chances para infidelidade.
— Na verdade, os servos erraram. Você é mesmo filha do Príncipe Dong Hou, mas não de Lady Wang; você é filha do Príncipe Dong Hou e de Xiao Qiao — disse Tia Mei.
Quando Han Yan finalmente ouviu sua suspeita confirmada pela Tia Mei, sentiu uma mistura complexa de emoções. Não houve excitação, apenas uma calma misturada a uma sensação de perda. Era lamentável que quem a criara não fosse sua mãe biológica, e que ela jamais tivera a chance de conhecer seus verdadeiros pais, que lhe estavam para sempre perdidos.
Tia Mei já fora favorecida por Zhuang Shiyang, e durante o tempo em que estiveram juntos, soube de muitas coisas. Por exemplo, Zhuang Shiyang nunca tocara Lady Wang; então, como ela poderia estar grávida? Mais tarde, quando Zhuang Shiyang estava bêbado, mencionou cuidar da filha do Príncipe Dong Hou. Lady Wang, sendo tola, protegeu uma criança que nem era sua, dedicando-se totalmente ao Príncipe Dong Hou. Tia Mei especulou com ousadia que Han Yan era de fato filha do Príncipe Dong Hou e Xiao Qiao, teoria que depois foi confirmada por Zhuang Shiyang.
Han Yan ficou surpresa; Zhuang Shiyang nunca tivera contato com sua mãe, o que significava que Lady Wang viveu quase como uma viúva a maior parte da vida. Esse pensamento apertou seu coração. Lady Wang devia amar profundamente o Príncipe Dong Hou, disposta a sacrificar a própria vida para criar seu filho. Ela nada ganhara, apenas dava e dava.
Não é à toa que no dia em que nasci, todas as empregadas pessoais ao redor da minha mãe foram afastadas sob vários pretextos. Era para manter a boca fechada e guardar o segredo.
— É estranho dizer, mas desde que você nasceu, a carreira do seu pai tem prosperado. Embora você não seja filho dele, talvez traga sorte. Mas agora, por sua causa, ele foi rebaixado, então pode ser considerado karma — disse Tia Mei com um sorriso amargo, meio zombeteiro.
Han Yan não era tão ingênua quanto a Tia Mei. A boa sorte de Zhuang Shiyang após seu nascimento não vinha de nenhuma bênção; ela não achava que tivesse esse tipo de poder. Aquilo era inevitável; o sucesso de Zhuang Shiyang era apenas a recompensa por criá-la na casa Zhuang.
Han Yan perguntou:
— Por que ele me mantém na casa Zhuang?
Não fazia sentido. Uma criança que não era nem dele nem da esposa — Han Yan não tinha vínculo real com ele. Era improvável que Zhuang Shiyang a tivesse acolhido por pena. Ele devia ter um motivo, e provavelmente alguém o obrigara a criá-la. Agora, ela queria saber quem era essa pessoa.
Tia Mei balançou a cabeça.
— Ele nunca me contou. Só disse que, enquanto a Quarta Jovem Senhora estivesse na casa, ele não teria problemas.
Han Yan quase tinha certeza de que esse assunto estava ligado à Imperatriz Viúva. Ser criada na casa Zhuang significava que cada passo seu era vigiado pela Viúva; era uma forma de vigilância. Se ela fizesse algo, a Imperatriz saberia na hora — havia espiões por toda parte. Mas por que a Imperatriz não a matava? Isso não seria mais fácil? Tudo seria mais simples assim.
Não matá-la, mas ainda monitorá-la — a Imperatriz teria medo de algo? Mas medo do quê exatamente?
Han Yan não entendia, e antes que percebesse, duas horas haviam passado. Logo seria madrugada. Só quando Zhuo Qi a lembrou é que percebeu quanto tempo havia ficado ali. Levantou-se, esfregando as pernas dormentes.
Assim que a Tia Mei viu Han Yan se levantar, rapidamente fez o mesmo, segurando o corrimão com as duas mãos e perguntando com urgência:
— Já te contei tudo que sei; pode me tirar daqui agora?
Han Yan assentiu.
— Claro.
Sorriu levemente, sinalizando para Zhuo Qi abrir a porta da cela. Zhuo Qi também sorriu, e a Tia Mei quase comemorou. Mas, justo quando começou a comemorar, outra sombra a agarrou pelas costas.
— Vadia! Não pense que vai escapar! — A voz familiar soou — era a Concubina Zhou.
Han Yan olhou para Zhuo Qi, que foi surpreendentemente rápido. Ele já havia tirado Concubina Zhou do coma, e a velha conhecida presa naquela prisão não era só a Concubina Mei, mas também Concubina Zhou. Assim que Concubina Zhou recuperou a consciência, viu dois homens de preto à sua frente, um deles disse para Concubina Mei que ela poderia sair. Concubina Zhou não podia mais fugir; suas pernas foram debilitadas pelas torturas na prisão. Ela não escaparia daquele pesadelo, e certamente não permitiria que Concubina Mei fosse embora sozinha. Mesmo que ambas fossem para o inferno, arrastaria outra pessoa com ela. Esse era o egoísmo e o instinto da natureza humana; sacrifício e realização não eram para todos.
Han Yan e Zhuo Qi já haviam retirado as máscaras, então Concubina Zhou não podia ver seus rostos e pensou que eram ajudantes convocados por Concubina Mei. Ela mordeu forte a mão de Concubina Mei, abraçando-a com força e uivando como uma louca. Concubina Mei não conseguia se soltar e assistia impotente enquanto Han Yan dizia:
— Já que sua amiga está tão ansiosa para que você fique, e a hora é tarde, não temos escolha. Adeus.
Assim que pronunciou essas palavras, Zhuo Qi agarrou Han Yan como um pintinho e saiu correndo.
Concubina Mei ficou olhando fixamente para o espaço vazio à sua frente, esquecendo Concubina Zhou que ainda se agarrava a ela. Depois de um momento, um grito rouco escapou de sua garganta, como se tivesse percebido que perdera sua última chance de liberdade. Seus olhos ficaram vermelhos de sangue. Virou-se, encarando Concubina Zhou, que sentiu uma onda de medo pelo olhar dela. No segundo seguinte, Concubina Mei atacou-a como uma fera louca, e começaram a se debater.
Lá fora, os gritos da Concubina Mei e da Concubina Zhou já não podiam mais ser ouvidos. Zhuo Qi olhou para Han Yan, que estava ao seu lado, parecendo perdida em pensamentos, e provocou:
— Nunca te vi agir assim tão mimada. Se eu fosse sua tia, já estaria querendo te devorar agora.
Han Yan sorriu de forma indiferente. Ela nem planejava deixar a Concubina Mei ir embora. Alguém como ela poderia trair Zhuang Shiyang por segredos hoje e trair a própria Han Yan amanhã. Que preço pediria pelos segredos dela? Han Yan não podia nem queria correr esse risco; tratava aquilo como lidar com um traidor.
Capítulo 135: Só Quero Ele
Han Yan ficou parada no vento, em silêncio por muito tempo. Zhuo Qi lançou um olhar para ela e perguntou:
— Quanto tempo vai ficar aí parada?
Han Yan não olhou para ele e, de repente, perguntou:
— Zhuo Qi, por que você veio para o Da Zhong?
Zhuo Qi ficou surpreso; não esperava que Han Yan mudasse a conversa para esse assunto. Pausou por um momento e então sorriu:
— Estava sendo perseguido, então me escondi no Da Zhong.
— Você não é um cachorro perdido — respondeu Han Yan friamente. — Você é um lobo. Está sendo perseguido, quer reagir, e seu campo de batalha é o Da Zhong. Fala. O que as pessoas da Região Oeste, que tomaram seu lugar, querem do tribunal do Da Zhong?
Zhuo Qi ficou completamente atônito. Inicialmente, depois da conversa de Han Yan com a Concubina Mei, ele pensava que ela tinha sido muito afetada, mas em tão pouco tempo ela voltou a ser a pessoa afiada de antes. Falar algo tão direto fez Zhuo Qi sentir que Han Yan sabia de toda a sua situação desde o começo; ela previa tudo que aconteceria e apenas assistia à realidade se desenrolar com um distanciamento frio.
Vendo que ele não respondia, Han Yan se virou e perguntou, com uma postura que era ao mesmo tempo familiar e estranha:
— Você pretende lidar com Fu Yunxi, não é?
Zhuo Qi reconheceu bem essa postura; era como Han Yan ficara da primeira vez que ele a conheceu, quando ameaçou ela para que o protegesse. Ela parecia casualmente calma, mas estava a milhares de quilômetros de distância, cautelosa e defensiva, como uma estranha que poderia atacar a qualquer momento. Zhuo Qi não gostava desse lado dela; a atitude distante dela fazia parecer que havia um abismo impossível de ser atravessado entre eles. Os olhos dele se estreitaram perigosamente enquanto ele se aproximava e perguntou:
— E se eu fizer isso?
— Devemos fazer um acordo — disse Han Yan, indiferente à atitude dele, com tom calmo. — Não toque em Fu Yunxi. O que você quiser fazer, eu posso cooperar.
Zhuo Qi riu em vez de ficar com raiva. Ele odiava esse lado de Han Yan — a preocupação nervosa dela com Fu Yunxi. Todo mundo podia ver como Fu Yunxi a tratava. Zhuo Qi nunca imaginou que alguém como Han Yan pudesse se apaixonar por ele em tão pouco tempo. Se ela fosse realmente essa pessoa, ele não teria tanto interesse nela. Ultimamente, sentia que ele e Han Yan estavam ficando mais próximos, e Fu Yunxi desaparecendo da vida dela. Seria mentira dizer que isso não o deixava feliz. Mas só por causa das palavras da Concubina Mei, Han Yan começou a se preocupar com Fu Yunxi de novo. Embora não soubesse o motivo, aquilo realmente irritava Zhuo Qi. Na vida dele, só mulheres tinham sido atentas a ele; nunca tinha experimentado tanta frieza antes. Ele não se achava uma pessoa generosa, e mal conseguia conter sua irritação agora, quase pronto para explodir. Mas quando virou para olhar Han Yan, encontrou o olhar calmo dela. Ela o encarava, mas parecia enxergar através dele, com a mente fixa em outra sombra. Ele nem precisou adivinhar quem era.
Zhuo Qi sentiu, de repente, uma estranha sensação de derrota. Zombou:
— Como você propõe que a gente coopere?
Han Yan olhou para ele e disse:
— O Reino da Região Oeste está principalmente em conluio com pessoas do tribunal do Da Zhong. Uma mudança está chegando. Zhuo Qi, você deveria saber que os que estão aliados à Região Oeste são o Sétimo Príncipe e a Imperatriz Viúva.
Zhuo Qi permaneceu neutro. Já não se surpreendia com nada que Han Yan dissesse. Ela parecia saber demais para alguém que ficava trancada dentro de casa. Suas informações eram mais confiáveis que as de qualquer outro. A expressão “olhos afiados e ouvidos atentos” combinava perfeitamente com ela. E, o mais importante, aquela mulher tinha um instinto político aterrador.
— Eles querem derrubar o atual Imperador. Suspeito que a Região Oeste deve ter concordado com algumas das condições deles como pagamento, como ceder território — continuou Han Yan.
Agora, a ambição da Imperatriz Viúva estava completamente revelada. Ela mirava claramente o Imperador e Fu Yunxi, junto com o inescrupuloso Sétimo Príncipe. Os dois estavam conspirando para conseguir ajuda da Região Oeste contra o Imperador e seu irmão, sabendo que seu poder militar era insuficiente. Só podiam tomar emprestado o exército da Região Oeste. Planejavam usar a força militar da Região Oeste para suprimir todo o tribunal e o Da Zhong, mas ignoravam o perigo de convidar um lobo para dentro de casa. O povo da Região Oeste era astuto, com ambições profundas. Se suas tropas realmente pisassem no Da Zhong, isso desencadearia uma tempestade sangrenta, e o povo sofreria consequências inimagináveis. Quando a Imperatriz Viúva e o Sétimo Príncipe percebessem o erro, já seria tarde demais, porque só ceder território nunca satisfaria a Região Oeste. Eles queriam dominar; o objetivo deles era o Da Zhong inteiro.
Zhuo Qi era até estratégico; seu plano era simplesmente ficar de fora, assistindo os dois lados se enfrentarem enquanto ele lucrava com o caos. Han Yan suspeitava que Zhuo Qi já havia instalado algumas forças secretas dentro do Da Zhong. A intenção dele era confrontar o governante da Região Oeste depois que destruíssem o Da Zhong.
Mas antes disso, o Da Zhong deixaria de existir; teria sido destruído, e Fu Yunxi também desapareceria. Han Yan não podia permitir que isso acontecesse. Depois de entender toda a conspiração da Região Oeste e da Imperatriz Viúva, o futuro previsível era terrível demais; ela não podia simplesmente ficar esperando sua ruína.
— Você acertou — Zhuo Qi olhou para Han Yan com expressão complexa. Exatamente como pensava, Han Yan tinha uma intuição política assustadora. As conclusões dela mostravam seus objetivos e planos sem reservas. Se fosse outra pessoa, até mesmo um confidente de confiança, Zhuo Qi teria matado sem hesitar. Porque um governante não pode permitir que os outros adivinhem seus pensamentos. Mas, como era Han Yan, ele não podia fazer nada. Zombou de si mesmo por dentro; talvez fosse exatamente porque Han Yan via isso nele que falava tão franca e destemidamente. Ele se orgulhara a vida toda, e acabou caindo por causa daquela mulher aparentemente fraca:
— Como quer cooperar comigo?
Han Yan respondeu:
— O motivo da arrogância do governante da Região Oeste é, em parte, o poder da Imperatriz Viúva do Da Zhong e seu grupo. A aliança dessas duas forças permite que usem uma à outra, o que, por sua vez, fortalece o governante da Região Oeste. Isso não é bom para você, especialmente se a Região Oeste realmente consumir o Da Zhong; aí pode não ser seu adversário.
Zhuo Qi zombou:
— Não sou adversário dele? — Embora falasse com desdém, sabia no fundo que Han Yan tinha razão. Aquele cara tinha força; senão, ele estaria naquela posição agora. Se esse sujeito absorvesse o Da Zhong e ficasse forte o suficiente para que não pudesse resistir, não haveria saída.
Ele olhou para Han Yan:
— Você tem um plano? — Mas estava cético. Embora Han Yan fosse sensível à política, quando se tratava de estratégias reais de batalha, poderia também estar perdida.
Han Yan sorriu levemente:
— Derrote-os um por um. Destrua o poder da Imperatriz Viúva, e o governante da Região Oeste perderá sua aliança. Aí será muito mais fácil lidar com ele.
Zhuo Qi ficou surpreso. Já conhecia esse método e esperava que Han Yan apresentasse alguma estratégia inteligente, mas era apenas um plano comum. Ele queria mais que a Região Oeste; sua intenção era também ficar com os despojos do Da Zhong. A sugestão de Han Yan implicava que ele não ganharia nada do Da Zhong, então ele disse:
— Esqueceu? Quero dizer, não me contento só com a Região Oeste; quero o Da Zhong também.
— Cuidado para a boca não abrir demais e te engasgar. Tem certeza que consegue engolir? — Han Yan olhou para ele e disse: — A Imperatriz Viúva do Da Zhong não é tão simples quanto você imagina. Caso contrário, neste palácio onde o marido dela já morreu há muito e ela não tem família, como conseguiria se manter firme nessa posição? Você acha que ela é boba?
Zhuo Qi balançou a cabeça:
— O que acontece no palácio não importa; as tramas da Imperatriz Viúva não são maiores do que minha ambição. — Disse: — A sorte favorece os audazes. Sou alguém que ousa correr riscos, com um desejo infinito por poder. Só tendo autoridade suprema posso fazer o que quero e proteger quem amo. Embora esse passo seja perigoso, as recompensas potenciais são incomparáveis. Eu quero essa terra.
Vendo a expressão determinada de Zhuo Qi, como se nada a abalasse, Han Yan ficou em silêncio por um longo tempo antes de dizer:
— Não somos amigos? Você destruiria o país de um amigo; acha que eu ficaria feliz com isso?
Zhuo Qi ficou momentaneamente atônito. Quando Han Yan disse que eram amigos, ele sentiu uma alegria passageira, embora soubesse que suas palavras podiam não ser totalmente sinceras e talvez tivessem alguma intenção oculta. Mas naquele instante, ficou um pouco perturbado. Não queria ver Han Yan triste. Depois de uma pausa, disse:
— Não vou te fazer mal. Venha comigo, e eu te darei o melhor palácio e a vida mais esplêndida. Todos vão te admirar; você será alguém tão nobre quanto eu.
Um sinal tão óbvio deixaria qualquer um bobo se não entendesse, e Han Yan deveria ter se sentido tocada. Comparado à vida anterior dela, em desespero, aquele homem deveria ser um farol de luz, tirando-a da escuridão. Ela até se sentiu um pouco comovida pela sinceridade dele em relação aos outros, mas sentir-se tocada não era o mesmo que se comover emocionalmente.
Ela disse:
— Sob um ninho que desaba, como pode haver ovos intactos? O que você diz soa bem, mas se esse dia realmente chegar, eu seguirei minha pátria até o túmulo. Vou te odiar para sempre porque você destruiu minha vida e meu país. Não vou com você; um palácio esplêndido e um status nobre não são o que eu quero.
— Então — Zhuo Qi zombou de repente — o que você quer é o Fu Yunxi?
O que uma mulher de coração frio como ela ainda apegava? O que ela queria, o que pensava, nunca foi ele.
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