Capítulo 139: Notícia Súbita de Morte
Enquanto uma pessoa não se desesperar, ainda há esperança. Fu Yunxi jamais se desesperou naquele ambiente hostil, então não deveria perder a esperança agora. O mais assustador seria se ele aceitasse seu destino sem lutar — isso, sim, seria verdadeiramente aterrorizante.
Ao ouvir isso, Fu Yunxi esboçou um leve sorriso.
— Sim.
Aquele sorriso trouxe certo calor aos seus olhos antes tão frios. Han Yan estendeu os braços e o envolveu pela cintura, enterrando a cabeça profundamente em seu peito. O corpo de Fu Yunxi estava gélido, e mesmo Han Yan, ao tocá-lo, sentiu como se tivesse entrado numa câmara de gelo, sendo congelada até os ossos. Se ela se sentia assim apenas o abraçando, que tipo de sofrimento Fu Yunxi suportava, dia e noite, com o veneno frio corroendo-lhe o corpo?
Ela falou com voz baixa e abafada:
— Fu Yunxi, vamos encontrar um jeito juntos.
A frieza e o distanciamento de antes haviam desaparecido por completo, substituídos por uma profunda preocupação e dependência. Se a doença de Fu Yunxi não pudesse ser curada, ao menos ela poderia ajudá-lo a se vingar da Imperatriz Viúva. De certa forma, ela era inimiga de ambos. Embora Han Yan jamais tivesse conhecido o Príncipe Dong Hou nem sua esposa, sangue era sangue — aquele ódio, enraizado no mais profundo do coração, jamais poderia ser esquecido.
Fu Yunxi abaixou os olhos para Han Yan, que o abraçava com força. O calor que emanava dela era real, suavizando o frio que o consumia nos últimos dias. O veneno frio devastava seu corpo, como agulhas geladas perfurando seus ossos; cada movimento era uma tortura insuportável. Mesmo diante de um braseiro, coberto por mantos espessos, não sentia calor — o frio parecia vir de dentro. E então, aquela garota entrou às pressas com uma expressão fria, ouviu-o em silêncio, e logo o abraçou com todo o corpo. Seu corpo ainda era pequeno, mas ela já havia se tornado uma jovem graciosa — ele quase se esquecera de que ela já havia atingido a maioridade.
A expressão de Fu Yunxi se alterou levemente. Da última vez em que Han Yan atingiu a maioridade, ele arruinou a cerimônia. Na verdade, quando voltou de viagem, exausto, e a viu, ficou comovido. A garotinha havia se transformado numa moça linda, e aquilo o surpreendeu. Mas não podia demonstrar nada. Depois disso, Han Yan passou a insistir que, como a cerimônia não havia sido completada, ela não podia ser considerada adulta. Recusava-se a mudar o penteado, mantendo os dois coques infantis em vez do penteado de uma jovem mulher.
Uma das mãos de Fu Yunxi tocou um dos coques, e ele suspirou silenciosamente. Já que não a afastei, e essa garota é tão teimosa, por que eu mesmo tomaria a iniciativa? Além disso, protegê-la assim talvez fosse mais eficaz do que afastá-la. Ela já sofrera demais por causa dele, e agora que sua identidade como filha do Príncipe Dong Hou fora exposta, não se sabia quais perigos a aguardavam. Enquanto ainda respirasse, ele a manteria em segurança ao seu lado.
Ele disse:
— Está bem.
Mal as palavras saíram de sua boca, ela se afastou do abraço e o encarou. Fu Yunxi olhou para baixo e viu que Han Yan já não tinha o olhar brincalhão de uma garotinha — sua expressão agora era firme e serena. Ela disse rapidamente:
— A Imperatriz Viúva está prestes a agir, mas também pressente algo. Precisamos dissipar as suspeitas dela.
Fu Yunxi ficou surpreso por um instante, e então riu baixinho; havia se esquecido de que, em momentos assim, Han Yan não se dava ao luxo de agir como uma jovem qualquer. Ela apenas analisava a situação e traçava estratégias no menor tempo possível.
— O que você pretende fazer? — Fu Yunxi perguntou.
Han Yan puxou a gola da túnica dele, aproximando-o, e sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Depois o soltou e perguntou:
— O que acha?
Fu Yunxi respondeu:
— É viável.
Dois dias depois.
Naquela manhã, só se falava de uma coisa na capital: o Príncipe Xuanqing, Fu Yunxi, havia sucumbido à doença e falecido na noite anterior. Um homem de potencial ilimitado, poderoso, extremamente belo, dotado em literatura e artes marciais — as pessoas lamentavam profundamente sua partida. Jovens donzelas, ainda solteiras, choravam ao ouvir a notícia, e a cidade inteira se encheu de luto e suspiros. Fu Yunxi possuía um enorme prestígio entre o povo comum, e sua morte era considerada uma perda irreparável.
A residência dos Zhuang estava anormalmente silenciosa; até os criados, que costumavam fofocar às escondidas, agora se calavam. A Quarta Senhorita da família Zhuang já fora prometida a Fu Yunxi, e embora tivesse se tornado uma esposa rejeitada, jamais demonstrara ódio pelo Príncipe Xuanqing. Muitos acreditavam que Han Yan ainda guardava sentimentos por Fu Yunxi. Agora que o Príncipe havia morrido, estaria a Quarta Senhorita imersa em profunda tristeza… ou sentia, secretamente, alívio?
Claro, ninguém podia adivinhar os pensamentos de Han Yan. Zhuang Hanming, preocupado com ela, foi até lá especialmente para confortá-la, mas Han Yan recusou-se a recebê-lo. As pessoas assumiram que ela estava devastada demais para permitir que a vissem naquele estado — o que, afinal, condizia com seu comportamento habitual. Após várias tentativas frustradas de vê-la, Zhuang Hanming não teve escolha senão partir, instruindo os criados a cuidarem bem dela. Já Zhuang Shiyang nem sequer apareceu — parecia estar evitando Han Yan por algum motivo. Desde que ela voltara à residência Zhuang, era raro que os dois sequer se encontrassem. No entanto, longe dos olhos, longe do coração — Han Yan parecia bastante confortável em sua solidão.
Naquela tarde, no Pátio Qingqiu, um grupo inesperado de visitantes apareceu. A mulher à frente brandia um chicote de aço e golpeou uma criada que estava limpando a entrada. A moça, pega de surpresa ao se aproximar para receber os visitantes, gritou de dor ao cair no chão. No momento seguinte, outro golpe caiu sobre ela, junto com uma voz agressiva:
— Onde está Zhuang Han Yan?
A criada, sufocada pela dor, mal conseguia falar. A mulher do chicote não teve piedade e continuou a espancá-la no chão. A moça se contorcia de agonia, seus gritos assustando os que estavam dentro da casa.
De repente, a porta do aposento interno do Pátio Qingqiu rangeu ao se abrir, e Han Yan apareceu, dizendo friamente:
— Quem ousa ser tão insolente aqui?
Ao vê-la, a mulher do chicote parou imediatamente e gritou:
— Zhuang Han Yan!
— Eu me perguntava quem era tão mal-educada assim — Han Yan disse friamente, lançando um olhar para a criada ferida no chão. — Acabou sendo a Princesa do Reino das Regiões Ocidentais.
O tom sarcástico das palavras chegou claro aos ouvidos de Yi Lin Na, mas hoje ela não viera para discutir com Han Yan. Parecia inquieta, e declarou com firmeza:
— Você sabe que o Príncipe morreu?
— Todo mundo na capital está comentando sobre isso; naturalmente eu sei — respondeu Han Yan.
Os olhos de Yi Lin Na estavam vermelhos, claramente havia chorado muito. Ela balançou a cabeça e disse:
— Eu não acredito. Isso deve ser mentira. Estão todos conspirando para me enganar. Zhuang Han Yan, você com certeza sabe a verdade.
Han Yan a encarou friamente.
— Parece que a Princesa confundiu a pessoa errada. Fiquei sabendo sobre o ocorrido com o Príncipe por terceiros, assim como você. Além disso, se a Princesa acha que estou conspirando com o Príncipe para enganá-la, então me diga: por que faríamos isso? Que benefício teríamos em enganar você?
— Eu... eu... — Yi Lin Na olhou para Han Yan, confusa. — Eu não sei, mas como ele poderia morrer assim, de repente... mesmo que...
Ela parou de repente, hesitou, e então ergueu a voz para Han Yan:
— Você com certeza sabe que ele não está morto, não é?
Parecia cada vez mais convicta, e ao notar outra criada parada ao longe no pátio, arqueou a sobrancelha e ergueu o chicote outra vez:
— Onde está o Príncipe?
— Basta! — disse Han Yan, com firmeza.
Sua voz foi tão severa que Yi Lin Na instintivamente interrompeu o movimento. Han Yan continuou:
— Se o Príncipe Xuanqing está morto ou não, essa não é uma pergunta para mim. Não saí de casa nesses últimos dias. Se a Princesa está entediada e procurando uma forma de passar o tempo, talvez devesse encontrar alguém mais apropriado. Cuidado com o que diz.
Vendo que Yi Lin Na ainda parecia desconfiada, Han Yan acrescentou:
— Além disso, se deseja confirmar se o Príncipe está realmente morto, não é difícil. Como Princesa Consorte não casada de Xuanqing, você certamente tem o direito de ver os restos mortais do Príncipe. Depois de vê-lo com seus próprios olhos, isso não seria a melhor prova?
Essas palavras atingiram em cheio a dor de Yi Lin Na. Ela não conseguia acreditar que Fu Yunxi estava realmente morto. Embora o estado dele tivesse piorado, apenas alguns dias antes ele ainda estava bem — comia, falava normalmente. Como poderia ter morrido assim, de repente?
Ela gritou, tomada pela loucura, quebrando tudo no Palácio e agredindo os criados. Por fim, foi Cheng Lei quem não pôde mais assistir à cena e a levou ao salão de luto.
Lá, Yi Lin Na viu Fu Yunxi deitado no caixão, o corpo já sem vida.
Tremendo, ela estendeu a mão para tocá-lo. Não havia mais calor algum em seu corpo. Ele se fora de verdade; não existia mais Fu Yunxi neste mundo.
Yi Lin Na não conseguia aceitar essa realidade. Havia se esforçado tanto, por tanto tempo, apenas para tornar-se sua esposa, para tê-lo só para si. Mas antes que esse dia chegasse, ele morreu.
Incapaz de aceitar o fato, ela foi atrás de Han Yan. A pessoa no coração de Fu Yunxi nunca havia mudado; sempre fora Han Yan. Yi Lin Na ainda nutria uma fagulha de esperança, desejando ouvir que Fu Yunxi não havia morrido. No fundo, sabia que essa possibilidade era mínima — mas se nem ao menos essa pequena chance existisse, ela realmente não sabia o que faria.
— Você o amava tanto, mas ele morreu, e você não está nem um pouco triste. Então é porque sabe que ele não está realmente morto, não é? — Yi Lin Na encarou Han Yan, e essa percepção lhe trouxe uma alegria inesperada. O comportamento estranho de Han Yan... será que ainda havia esperança?
Han Yan a observou em silêncio e disse:
— Por que eu deveria estar triste? Princesa, parece que esqueceu de algo: o Príncipe me abandonou diante de todos. Por que eu ainda o amaria?
Capítulo 140: O Futuro de Cada Um
Yi Lin Na ficou atônita. De fato, Fu Yunxi havia humilhado Han Yan durante sua cerimônia de maioridade. Se fosse com ela, teria odiado Fu Yunxi e jurado vingança. Mas... sendo Han Yan, ela não conseguia acreditar. Se Han Yan reconhecesse que Fu Yunxi estava morto, então não haveria realmente mais esperança. De repente, ela riu com frieza:
— Como você consegue ficar tão indiferente? Ele te amava tanto que até entregou a vida por você. Está morto, e você não derramou uma única lágrima. Zhuang Han Yan, seu coração é mesmo cruel!
— Princesa, está enganada — respondeu Han Yan, com o olhar ainda gelado. — Neste mundo, os relacionamentos entre as pessoas sempre são recíprocos. Meu envolvimento com o Príncipe terminou no dia em que deixei o Palácio Xuanqing. Para mim, ele não passa de um estranho. Estranhos morrem todos os dias nesse mundo; se eu chorasse por cada um, seria absurdo.
Ela sorriu de leve.
— Sou diferente da senhora, Princesa. Talvez você seja bondosa e ingênua — seu tom carregava uma pitada de sarcasmo —, mas Han Yan sempre foi insensível. Então, se veio me perguntar por que eu não chorei, não vou lhe fazer esse favor.
Dito isso, virou-se para ir embora, mas como se lembrasse de algo, parou e disse a Yi Lin Na:
— No entanto, se ainda duvida da morte do Príncipe, basta esperar a reação do Imperador. Se ele emitir um decreto, então é verdade. Um soberano não fala levianamente.
Depois de dizer isso, entrou no quarto e bateu a porta com força.
Yi Lin Na ficou parada por um momento, atordoada, antes de reagir de súbito e correr até a porta para bater. Porém, uma criada próxima — aparentemente confidente da Princesa — a segurou timidamente pelo braço e sussurrou:
— Alteza... os olhos de Zhuang Han Yan estavam vermelhos.
— Olhos vermelhos?
Yi Lin Na hesitou. Recordou o tom calmo de Han Yan — embora tivesse sido ligeiramente diferente do habitual. Olhos vermelhos... ela chorou?
Han Yan sempre foi forte e contida. Mesmo diante dos outros, raramente deixava transparecer o que sentia. Seria possível que ela realmente tivesse recebido a notícia da morte de Fu Yunxi, sofrido profundamente, mas escolhesse esconder isso, fingindo indiferença? Isso combinaria com sua personalidade.
Contudo, esse pensamento fez com que Yi Lin Na se sentisse verdadeiramente desesperançada. A atitude de Han Yan indicava que Fu Yunxi estava, de fato, morto. Não havia mais esperança. Tudo o que ela vira e ouvira confirmava essa notícia cruel, mas ela ainda alimentava a ilusão de que Fu Yunxi estivesse vivo — não podia mais se enganar.
Pensando em como o havia seguido até a capital, sem jamais ter experimentado sua ternura, apenas para vê-lo desaparecer de repente deste mundo, ela percebeu que ele nunca mais voltaria. Seja o jovem valente no campo de batalha de anos atrás, seja o homem frio em que ele se tornara, ele não pertencia mais às Regiões Ocidentais.
Subitamente, desabou no chão, como se todas as forças tivessem sido drenadas de seu corpo, e cobriu o rosto, chorando em silêncio.
No Palácio do Príncipe Wei.
Aquele dia estava especialmente animado no Palácio Wei, com a maioria dos criados ostentando sorrisos e expressões de contentamento. Tudo isso por causa da morte do Príncipe Xuanqing, Fu Yunxi. Era de conhecimento geral que os Príncipes Wei e Xuanqing nunca se deram bem. Agora que o Príncipe Xuanqing havia morrido, isso era uma notícia grandiosa para o Príncipe Wei. Com a maré a seu favor, os criados naturalmente celebravam. Ocasionalmente, algumas jovens servas demonstravam certa tristeza, lamentando a perda de alguém tão extraordinário quanto Fu Yunxi.
Nos aposentos femininos do Palácio Wei, havia um pátio nos fundos com um quarto escuro em sua parte mais interna. O lugar estava em desordem, repleto de sujeira e objetos empilhados, passando uma sensação de abandono. Uma criada entrou carregando um cesto, destrancou a porta e a abriu com um rangido, liberando um odor fétido e sufocante.
A criada era uma mulher magra, de meia-idade, que franziu o nariz ao sentir o cheiro. Marchou para dentro e largou o cesto sobre a mesa com força, levantando uma nuvem de poeira.
O cômodo era mal iluminado. Após um instante, ouviu-se um farfalhar, e uma figura surgiu lentamente da cama desarrumada num canto, caminhando até a mesa. A criada recuou alguns passos, visivelmente incomodada pelo mau cheiro que emanava daquela pessoa.
A figura aproximou-se, estendeu uma mão fina e ossuda, abriu o cesto, de onde saiu um aroma apetitoso.
— O que é isso... — perguntou uma voz rouca, com um leve tom de surpresa, enquanto os olhos brilhavam.
— O Príncipe Xuanqing morreu. O jovem mestre mandou que todos na casa tivessem uma refeição extra hoje — explicou a criada com impaciência. — Considere-se sortuda. Coma logo.
— O Príncipe Xuanqing?
A pessoa congelou por um instante, depois começou a tossir de excitação e agarrou o braço da criada:
— O Príncipe Xuanqing morreu?
Assustada, a criada deu-lhe um tapa no rosto e se desvencilhou com força:
— Sim! E daí?
Ela olhou para a figura com certo receio, apenas para vê-la jogar a cabeça para trás e começar a rir descontroladamente:
— Zhuang Han Yan, Fu Yunxi, chegou o dia de vocês pagarem! Hahahahaha!
Ela ria como uma louca, e à luz tênue do sol, seu rosto se revelava: envelhecido, encovado, parecendo o de uma mulher de quarenta anos, mas ainda havia traços remanescentes de sua antiga beleza.
Era Zhuang Yushan.
A criada, sem saber o que estava acontecendo, encolheu-se cautelosamente perto da porta, com medo de que aquela pessoa enlouquecesse de vez. No entanto, viu Zhuang Yushan abaixar a cabeça devagar na escuridão, mergulhada em lembranças sem fim.
Os nomes Príncipe Xuanqing e Zhuang Han Yan não ecoavam nos ouvidos de Zhuang Yushan havia muito tempo. Se não fosse por a criada tê-los mencionado naquele dia, Zhuang Yushan poderia ter acreditado que Zhuang Han Yan jamais existira, que tudo o que acontecera na residência Zhuang não passava de um sonho que tivera. Ela estava trancada naquele pequeno quarto escuro, vivendo isolada do mundo, há um ano inteiro.
Muita coisa pode mudar em um ano. Por exemplo, a posição que vinha conquistando aos poucos na Residência do Príncipe Wei acabou sendo tomada pela esposa legítima do herdeiro Wei, Li Jia Qi. Wei Ru Feng não a visitara sequer uma vez durante todo aquele ano, e seu próprio filho já não lhe pertencia mais. Além disso... ela se tornara alguém dentro da residência Wei inferior até mesmo a uma criada.
A responsável por tudo isso era apenas Li Jia Qi.
Desde que Li Jia Qi entrou na casa, assumiu a posição de esposa legítima de Wei Ru Feng, agindo com autoridade absoluta. Quando Zhuang Yushan ainda era uma jovem à espera de casamento, havia convivido com Li Jia Qi e sabia que aquela moça mimada não era fácil de lidar. No entanto, naquela época, Zhuang Yushan preferia usá-la a seu favor. Apesar de arrogante, Li Jia Qi era um tanto tola, e uma aliança com ela contra Han Yan poderia poupar muito trabalho. Mas agora que aquela mulher dominadora e obtusa tornara-se sua inimiga, pisando em sua cabeça, Zhuang Yushan sentia que algo estava errado.
Li Jia Qi era extremamente ciumenta, especialmente nos primeiros dias após seu casamento, monopolizando Wei Ru Feng quase diariamente, sem dar a Zhuang Yushan nenhuma chance de se aproximar dele. Embora Zhuang Yushan não amasse Wei Ru Feng, ele era seu meio de ascensão; uma mulher que perde o favor do homem no pátio dos fundos fica estagnada. Zhuang Yushan tentou de várias maneiras se aproximar de Wei Ru Feng, o que só aumentou a insatisfação de Li Jia Qi, intensificando o conflito entre ambas.
Não demorou muito para que Li Jia Qi engravidasse, e, ao mesmo tempo, Zhuang Yushan descobriu que também estava esperando um filho. Entrou em pânico, com medo de contar a alguém. Se ambas tivessem filhos, todos inevitavelmente se inclinariam para a criança de Li Jia Qi, e quando os bebês nascessem, o dela seria um bastardo, enquanto o de Li Jia Qi seria um legítimo herdeiro. Zhuang Yushan conhecia bem a diferença entre um filho legítimo e um bastardo. Odiava Zhuang Han Yan justamente por ela ter o status de filha legítima — como poderia permitir que seu filho trilhasse o mesmo caminho que ela?
Foi então que Zhuang Yushan tramou para fazer Li Jia Qi perder o bebê.
Na verdade, seus métodos foram bastante engenhosos; influenciada pelas irmãs Zhou, mesmo tendo perdido repetidas vezes para Han Yan, isso se devia ao fato de Han Yan ter renascido. Em outras circunstâncias, Zhuang Yushan ainda era considerada uma adversária habilidosa em disputas domésticas. Li Jia Qi era tola o bastante para não desconfiar dela, dada sua aparência frágil e postura submissa.
Contudo, Zhuang Yushan cometeu um erro fatal ao subestimar as forças por trás de Li Jia Qi. Filha do Ministro da Direita, as conexões dela estavam longe de ser desprezíveis. Logo, o plano de Zhuang Yushan contra Li Jia Qi foi descoberto. O Ministro da Direita ficou furioso e exigiu que Zhuang Yushan pagasse com a própria vida pela tentativa contra sua neta.
Foi nesse momento que Zhuang Yushan percebeu a gravidade de sua situação. Procurou ajuda de Zhuang Shiyang, de quem sempre fora a filha favorita. No entanto, agora Zhuang Shiyang não passava de um oficial de quinto grau, e após o erro colossal que ela cometera, enfurecendo o Ministro da Direita, ele não teve sequer tempo de se zangar com ela. Limitou-se a dizer:
— Essa mulher não tem relação alguma comigo. Que o Ministro da Direita resolva como quiser.
E partiu.
Naquele instante, Zhuang Yushan sentiu o gosto do desespero.
No passado, quando Zhuang Yushan via o quão impiedoso Zhuang Shiyang era com Han Yan, ela apenas se regozijava. Mas agora entendia que o modo como ele tratara Han Yan no passado seria o mesmo com que a trataria no futuro. Ele era um homem que só enxergava poder; qualquer um que atrapalhasse seu caminho, mesmo sendo sangue do seu sangue, podia ser descartado sem pestanejar. Ela só percebeu isso tarde demais.
Ninguém pôde ajudá-la. A Concubina Zhou estava presa, Lady Zhou havia morrido há muito tempo — não havia mais ninguém a quem recorrer. Mas, por causa da criança que carregava no ventre, Wei Ru Feng concordou em poupar sua vida. Depois de dar à luz, ela foi trancada naquele pequeno quarto escuro, sem ver ninguém dia após dia. Seu filho foi criado ao lado de Li Jia Qi — seu próprio filho, chamando outra mulher de “mãe”. O mais assustador era que Zhuang Yushan sabia que Li Jia Qi jamais trataria aquela criança com sinceridade.
Sua vida dali em diante não teria esperança alguma. Somente essa notícia repentina lhe deu uma sensação momentânea de alívio.
Capítulo 141: Um Golpe Perigoso
Dentro do Salão Caifeng.
A Imperatriz Viúva reclinava-se levemente em seu assento elevado, enquanto o Sétimo Príncipe permanecia de pé logo abaixo.
— Vovó, Fu Yunxi está morto agora — disse ele, os olhos brilhando com um leve entusiasmo, embora não tenha continuado a frase.
— Por que tanta pressa? — A Imperatriz Viúva sorriu de forma tênue. — Essa pessoa é astuta e cheia de artimanhas. É melhor investigar a fundo; se estiver sendo enganado, a perda será grande.
O Sétimo Príncipe riu com confiança:
— Pode ficar tranquila, Vovó. Já enviei alguém para investigar. O Palácio Xuanqing está um caos; até mesmo Zhuang Han Yan se trancou no quarto, provavelmente chorando em silêncio.
— Ela é realmente uma sentimental — comentou a Imperatriz Viúva com certo desprezo. — Parece, então, que Fu Yunxi morreu de verdade.
Ela suspirou profundamente.
— Enfim, esperei tanto por esse dia. Sendo assim, vamos ver o Imperador. Com Yunxi morto, ele, como irmão mais velho, deve estar arrasado.
O Sétimo Príncipe assentiu.
— Quanto à Guarda Imperial...
— Você está se intrometendo demais — a expressão da Imperatriz Viúva mudou, e sua voz tornou-se fria. — Não se esqueça de que você, agora, não é nada.
— Entendido — o Sétimo Príncipe se curvou rapidamente em resposta, embora um brilho traiçoeiro tenha passado por seus olhos. Ele o ocultou rapidamente, voltando à sua postura habitual.
No Estudo Imperial.
— Pai! — O Príncipe Herdeiro entrou correndo, gritando assim que cruzou a porta.
— É assim que você aprende boas maneiras, invadindo meu estudo desse jeito? — o Imperador retrucou, os olhos vermelhos de raiva.
— Pai! — O Príncipe Herdeiro manteve-se ereto, sem medo da fúria do pai. — Todos dizem que o Tio morreu! Eu não acredito nisso!
— Besteira! — rugiu o Imperador, tomado pela ira. — Do que você está falando?
— Acalme-se, Majestade! — a Imperatriz apressou-se em envolver o Príncipe Herdeiro com os braços. — Ele está apenas muito triste, por isso perdeu a razão...
— Hmph! — o Imperador ainda fervia de raiva. — Estou vendo que ele está ficando cada vez mais atrevido. Ousou até gritar comigo! Por acaso não me vê como Imperador? Foi assim que você o educou?
Essa acusação pareceu totalmente infundada, e até a Imperatriz sentiu-se injustiçada naquele momento. No entanto, o Príncipe Herdeiro continuava de cabeça erguida.
— Soube há pouco que o Tio estava gravemente doente, e eu queria visitá-lo. Mas foi o senhor quem me impediu. Agora, sem sequer vê-lo uma última vez, dizem que ele morreu! Eu me recuso a acreditar nisso!
— Seu tio está morto! — o Imperador, incapaz de conter a fúria, exclamou — Não cabe a você fazer comentários sobre ele!
— Eu não acredito! Eu não acredito! — ao ouvir as palavras do Imperador, o Príncipe Herdeiro explodiu em lágrimas e gritou: — Eu não acredito!
Em seguida, virou-se e saiu correndo. A Imperatriz lançou um olhar ao Imperador, os olhos marejados:
— Majestade, às vezes realmente não entendo o que se passa em sua mente.
Sem esperar resposta, ela seguiu o Príncipe Herdeiro para fora.
Depois que os dois saíram, o Imperador levantou a cabeça lentamente. Os olhos do governante, geralmente impassíveis, refletiam uma tristeza contida. Com um gesto brusco, varreu todos os documentos da mesa. Os eunucos ao redor não ousaram emitir um som sequer.
O Imperador e o Príncipe Xuanqing tinham um laço fraternal profundo; era natural que a morte do irmão o deixasse devastado.
O Príncipe Herdeiro correu até parar no jardim diante de um pavilhão. Estava mais alto do que no ano anterior, e o ar infantil havia desaparecido de seu rosto. Como Príncipe, amadurecera mais rápido que outras crianças de sua idade. Esforçava-se para parecer mais maduro e digno, mas ao ouvir sobre a morte de Fu Yunxi, toda a fachada desabou — ele não pôde conter o choro.
Lembrava-se do tio, sempre com expressão severa. Embora raramente sorrisse ou falasse com leveza, nunca recusava os pedidos do sobrinho para brincar com ele, ao contrário do pai. Apesar do semblante rígido, era alguém gentil. Ensinara o Príncipe Herdeiro a montar a cavalo e atirar com arco, oferecendo uma afeição que parecia verdadeiramente familiar — algo que o Imperador nunca lhe dera.
Quem dizia que não havia afeto na família imperial? Pelo menos para o Príncipe Herdeiro, Fu Yunxi era o único familiar verdadeiro. Agora que ele se fora para sempre, e sequer tivera a chance de se despedir, como poderia não estar arrasado?
— Alteza, não precisa se entristecer tanto — disse uma voz repentina atrás dele.
O Príncipe Herdeiro se virou e viu o Sétimo Príncipe aproximando-se com um sorriso cortante:
— Nascimento, velhice, doença e morte fazem parte da vida. Por mais que se entristeça, seu tio não voltará.
O Príncipe Herdeiro lançou-lhe um olhar furioso por entre os dentes cerrados. Sabia da relação hostil entre o Sétimo Príncipe e seu tio. Embora não soubesse os detalhes, entendia que a morte de Fu Yunxi era uma boa notícia para aquele homem.
Vendo o silêncio do Príncipe Herdeiro, o sorriso do Sétimo Príncipe tornou-se ainda mais arrogante:
— Ninguém pode prever o rumo do mundo. Talvez, embora esteja triste agora... em breve você possa reencontrar seu tio.
O Príncipe Herdeiro sentiu-se como se tivesse sido atingido por um raio, encarando o Sétimo Príncipe com incredulidade. O Sétimo Príncipe riu maliciosamente e virou-se para partir, deixando o Príncipe Herdeiro paralisado. As palavras do Sétimo Príncipe inexplicavelmente o preencheram com um pressentimento sombrio. Parecia que algo significativo estava prestes a acontecer no palácio.
Após a morte de Fu Yunxi, o poder militar sob comando do Príncipe Xuanqing naturalmente caiu nas mãos do Imperador. Com tamanha autoridade em suas mãos, o Imperador mostrava-se relutante em confiá-la a qualquer outra pessoa. O exército permaneceu inativo por ora. Se não fosse pelo iminente ataque em larga escala dos povos da Região Oeste dentro de dois dias, ninguém teria percebido a gravidade da situação.
No Salão Dourado de Luan, um espião reportou em pânico:
— Vossa Majestade! Os povos da Região Oeste avançaram sobre a capital!
Apesar do prolongado impasse entre Da Zhong e a Região Oeste, era a primeira vez que a situação escalava a tal ponto, gerando um medo generalizado entre a população. Os povos da Região Oeste eram notoriamente brutais — onde passavam, cometiam incêndios, assassinatos e saques, deixando um rastro de dor e desespero.
Os oficiais civis e militares mantinham-se em silêncio, e a raiva do Imperador cresceu:
— Direi mais uma vez — quem está disposto a liderar as tropas em combate?
Era surpreendente que, num palácio tão grande, com tantos generais, nenhum estivesse disposto a lutar. Cheng Lei havia desaparecido misteriosamente e ninguém conseguia encontrá-lo. Os novos generais estavam apavorados demais para ir à guerra, enquanto os veteranos alegavam estarem velhos demais para tal responsabilidade. Mesmo alguns generais leais que lideravam tropas na linha de frente estavam com dificuldades para resistir ao avanço esmagador dos soldados da Região Oeste. Sem apoio, estavam em posição desesperadora.
Os oficiais continuavam calados. Os povos da Região Oeste avançavam com agressividade, claramente bem preparados. A brutalidade dessa guerra podia ser imaginada; afinal, havia apenas um Príncipe Xuanqing, que aos treze anos foi capaz de repelir os povos da Região Oeste. Se outro assumisse a liderança, não seria o mesmo que marchar rumo à morte? Ninguém queria ser o primeiro a colocar o pescoço na guilhotina.
Sem receber resposta, o Imperador, sentado no alto trono, soltou uma risada fria:
— Ótimo! Ótimo! Ótimo!
Após dizer "ótimo" três vezes, levantou-se subitamente e lançou seu olhar sobre os oficiais abaixo:
— São esses os pilares da nação que eu criei? Os ministros fiéis que nutri?
Ele tremia de raiva, as mãos instáveis. A dor pela perda do irmão ainda era recente, e agora os povos da Região Oeste lançavam um ataque em massa, mas nenhum súdito ousava lutar. Pela primeira vez na vida, o Imperador sentiu o peso da solidão. A atitude de seus ministros era, de fato, estranha.
— Vossa Majestade, não precisa se angustiar.
Uma voz lenta surgiu ao fundo, e a Imperatriz Viúva apareceu lentamente do salão interno, seguida pelo Sétimo Príncipe, trajando vestes douradas.
O Sétimo Príncipe aproximou-se do trono, mas não se ajoelhou — apenas curvou-se levemente:
— Este filho está disposto a liderar as tropas contra os invasores da Região Oeste.
O salão ficou em silêncio. O Imperador permaneceu quieto, com o olhar fixo no dragão dourado bordado na túnica do Sétimo Príncipe:
— Você quer liderar as tropas?
Sua voz não revelava nenhuma raiva.
O Sétimo Príncipe respondeu:
— Sim. Peço a Vossa Majestade que me conceda o token militar.
Conceder o token militar.
Apenas uma placa de bronze, mas capaz de comandar milhares de tropas. Ao longo da história, muitos haviam travado batalhas sangrentas por autoridade militar — era algo valioso, mas também fonte de inúmeros problemas. Em Da Zhong, o token militar que estivera nas mãos de Fu Yunxi representava não apenas autoridade, mas imenso poder. Com aquele token, alguém podia controlar todos os exércitos de Da Zhong. Todos os generais teriam de se curvar diante dele, e em muitos aspectos, o poder do Imperador empalidecia em comparação.
— Vossa Majestade, já que o Sétimo Príncipe está disposto a lutar, acredito que deveria lhe conceder o token militar — disse a Imperatriz Viúva calmamente, seu olhar afiado mais imponente do que nunca.
— Recuso-me — declarou o Imperador.
A expressão do Sétimo Príncipe permaneceu inalterada ao dizer:
— Agora que os povos da Região Oeste se aproximam de Da Zhong e ninguém ousa lutar, estou disposto a vestir armadura e liderar tropas, e ainda assim o Imperador recusa. Mas se não lutarmos, a nação perecerá, e isso é algo que não desejo.
Sua voz carregava uma ameaça implícita:
— Peço-lhe que me conceda o token militar!
— Está me ameaçando? — rugiu o Imperador, tomado pela fúria.
Os oficiais civis e militares mantinham-se em silêncio, todos com os olhos voltados para a Imperatriz Viúva.
Parecia que Da Zhong estava à beira de uma mudança — dizia-se isso há tempos. Agora, estava prestes a acontecer, mas apenas o leve perfume no salão restava como testemunha dessa luta pelo poder.
— O token militar não está em minha posse — respondeu o Imperador com uma risada fria. — O que pretende fazer quanto a isso?
O Sétimo Príncipe declarou, com tristeza:
— Então, só me resta carregar o nome de um filho desleal.
Após falar, ergueu a mão — e de repente, mais de cem guardas armados irromperam pelo salão principal. A Guarda Imperial foi pega de surpresa por aquele exército inesperado. O Imperador não previa tal reviravolta, mas ninguém no salão ousou se mover. A Imperatriz Viúva mantinha-se serena, e os ministros permaneciam em silêncio.
O ar estava carregado de tensão; o Imperador lançou um olhar gélido ao Sétimo Príncipe, seu corpo rígido sob o manto amarelo-dourado com dragões. Apenas dois dias após a morte de Fu Yunxi, aquelas pessoas já estavam se movendo — ou talvez já tramassem há muito tempo, esperando apenas o momento de agir.
O Sétimo Príncipe curvou os lábios num sorriso:
— Pai, diga-me, onde está o selo imperial?
Suas palavras, aparentemente casuais, estavam impregnadas de intenção assassina.
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