Capítulo 15 – Foice Negra Gigante


 Os aldeões já estavam quase terminando de se livrar de todos os cadáveres de fantoches na estrada, mas, por algum motivo desconhecido, continuavam lançando olhares cheios de compaixão na direção de Xia Ge.

Como discípula externa, Xia Ge recebia um pagamento e tinha direito a uma pequena cabana de madeira para protegê-la das quatro estações, mantendo seu corpinho frágil em segurança.

…Ok, de vez em quando a cabana estava meio detonada, com goteiras e vento entrando por todo lado. Um pouco problemático.

Mas não importava. Ela era uma pequena especialista em consertos. Na verdade, era do tipo de especialista versátil, habilidosa em todo tipo de batalha. Arrumar um telhadinho com vazamento era fichinha. √

Depois de passar quase o dia inteiro sendo atormentada de todas as formas possíveis, Xia Ge finalmente chegou à pequena cabana que chamava de lar.

“……”

Fitando intensamente sua casa, o rosto de Xia ‘Pequena Especialista’ Ge deu uma leve contraída.

…Alguém podia explicar o que tinha acontecido ali?

O sistema lamentou, sem uma gota de compaixão genuína: [……Realmente Uma Pena.]

A pequena especialista Xia Ge levantou a cabeça lentamente, os olhos cravados na enorme foice negra fincada em seu telhado. E com quem ela podia reclamar disso?! O peso das vicissitudes da vida se abateu sobre Xia Ge.

Na hora que ela tinha enfrentado o fantoche demoníaco, não tinha reparado muito no tamanho da foice dele. Mas agora que a tal foice estava enfiada no seu teto, tudo graças ao qi de espada da Chu Yao, a coisa parecia imensa.

A lâmina da foice, com cerca de um metro de comprimento, tinha perfurado o topo do telhado, e seu cabo de dois metros apontava direto para a lua no céu noturno. As correntes presas a ela dançavam ao vento, tilintando alto.

Por mais fodona que ela fosse, esse nível de destruição não era um pouco além das suas capacidades, não?!

Xia Ge agarrou sua moeda de prata, tentando se consolar:

— Existem dezenas de milhares de construções em Ande Guangsha…

Sistema: [Não Existe.jpg.]

Sem ter outra escolha a não ser encarar a realidade, Xia Ge lamentou:

— …Não me diga que esse dinheirinho maravilhoso que caiu do céu vai ter que ser usado pra consertar o telhado amanhã?!!

Comovido, o sistema declarou: [Provavelmente Não Vai Ser Suficiente.]

Será que aquela desgraçada da garota assassina fez isso de propósito?!

— Eu exijo um duelo com ela!!! — vociferou Xia Ge.

Alguém tinha que pagar pela perda de dez deliciosos pãezinhos de gergelim!!!

Percebendo que o dinheiro que tinha caído do céu ia sumir sem deixar vestígios, um interminável coral de “vai tomar no cu” se formou na mente de Xia Ge.

Depois de destrancar com cuidado e empurrar a porta de madeira decadente, Xia Ge ficou parada no canto da parede, olhando fixamente a perigosa foice caída do céu que atravessava a viga do seu telhado. A lâmina cintilava sob a luz trêmula da vela que ela acendera, como se zombasse de sua impotência.

— Bonequinho, eu andei pensando, e assim não vai dar.

A voz de Xia Ge era amarga e carregada de pesar:

— Vamos ter que pensar num jeito de ganhar dinheiro.

O sistema, sabiamente, se manteve em silêncio.

Sempre que Xia Ge inventava alguma forma de ganhar dinheiro, o sistema era o que mais sofria, virando basicamente “morte declarada como suicídio pelas autoridades”.

Xia Ge não sabia como ganhar dinheiro. Não, ela claramente só queria passar a perna nos outros!

Com doçura e benevolência, Xia Ge tentou seduzir:

— Bonequinho, nesses tempos difíceis, não devíamos ser unidos? Olha só, tá vendo? O estado do nosso bem comum—não me diga que você não tá sentido com isso? Não é possível que não queira ajudar sua anfitriã queridinha, né?

Sistema—indiferente.

Realmente não quer. Nem um pouco.

Xia Ge forçou ainda mais o drama:

— Bonequinho, se não quiser fazer isso por mim, então pelo menos por você mesmo—por que não tenta achar um jeito de tirar essa foice do telhado sem contratar um trabalhador? Assim a gente pode vender e ganhar mais prata!

Sistema: [……]

Finalmente o sistema respondeu, com palavras raríssimas: [Se Tirar Aquilo, A Cabana Vai Desabar.]

O rosto de Xia Ge se inflamou de justiça:

— Que tipo de sistema é você?

Sistema: [……]

Sistema: [Anfitriã, Recomendo Que Você Faça Um Upgrade Assim Que Possível. Não Demore. Depois De Atualizado, Você Não Vai Mais Precisar Me Implorar Pra Achar Um Jeito De Vender A Foice.]

— O quê? Por quê? — perguntou Xia Ge.

Sistema: [……]

Então depois do upgrade, furtar, roubar e vender a foice ia ficar mais fácil?! Sem mais ralação?!

Percebendo que o sistema tinha ficado mudo de novo, Xia Ge suspirou fundo, sua expressão desolada igual à de uma criança que cresceu sozinha:

— Ai, bonequinho ficou mais esperto e agora sabe mudar de assunto…

Sistema: [Depois Do Upgrade, Anfitriã Poderá Saquear E Pilhar Por Onde Passar, Alcançando O Auge Da Vida.]

— O que você pensa que eu sou?! Eu não sou esse tipo de pessoa. Bonequinho, como você pode pensar isso de mim? Tô muito decepcionada! — declarou Xia Ge, indignada.

Sistema, ainda indiferente: [Ah.]

De repente, com as sobrancelhas franzidas, Xia Ge ficou séria:

— A propósito, bonequinho, tenho algo importante pra te perguntar sobre o upgrade.

Sabendo como era raro sua anfitriã ficar solene, o sistema assumiu um tom mais cooperativo:

[O Que É?]

Xia Ge perguntou com gravidade:

— …depois do upgrade, eu vou conseguir furtar da montanha de trás com mais eficiência?

Sistema: [……]

Porra, se ele ousasse acreditar de novo que essa anfitriã lixo tinha um pingo de integridade moral, ia se mandar direto pra estação de reciclagem pra ser reconstruído!!

“Chega de enrolação”, pensou Xia Ge. A foice tinha danificado o telhado, mas isso podia esperar. O mais importante agora era fazer o upgrade.

Abrindo a janela, Xia Ge espiou lá fora. Ela morava sozinha, mas Ye Ze tinha uma cabaninha ao lado da dela, onde costumava voltar com frequência. Mesmo depois de virar discípulo interno e ganhar moradia no topo da montanha, Ye Ze ainda descia pra dormir em sua velha cabana.

Mas parecia que hoje ele tinha ficado ocupado com as aulas. O sol já tinha se posto, o que significava que era tarde demais pra ele descer da montanha.

De vez em quando acontecia, quando ele tinha trabalho demais, de não voltar.

Era noite profunda, e não havia mais ninguém por perto. Os aldeões tinham destruído os restos do fantoche com rapidez, o chão já estava limpo. Lidar com a foice era complicado demais, melhor deixar esse abacaxi pra amanhã.

Então… era isso.

Sua cabana era bem precária. Havia uma cama simples de quatro pernas encostada numa das paredes, com os pés apoiados em pranchinhas de madeira em forma de ferradura. Um edredom amarelo e limpo estava cuidadosamente estendido sobre a cama, e Xia Ge bocejou só de olhar. Fechou a janela, foi até a cama e se agachou ao lado. Pensando bem, tinha estado tão ocupada copiando coisas nos últimos dias que nem tinha conseguido curtir o calorzinho do edredom…

Com uma das mãos, Xia Ge levantou a perna traseira esquerda da cama. Quando a pequena tábua quadrada foi erguida, revelou-se um buraco no chão.

De fato, havia um buraco ali, normalmente escondido pelo “ferrolho” da perna da cama. Dentro do buraco, estava guardada uma caixinha de ferro bem pequena.

Xia Ge a tirou com cuidado, removeu o conteúdo com ainda mais cuidado, colocou sua nova moeda de prata dentro, e então recolocou a caixinha no lugar.

Sistema: [Essa moeda de prata é realmente tão importante assim?!]

A expressão de Xia Ge deixava claro que o sistema não compreendia o sofrimento do povo:
— Bonequinho, é claro que uma quantia tão grande de dinheiro é importante.

Sistema: [……]

Havia uma caixinha de ferro embaixo de cada uma das quatro pernas da cama.

E Xia Ge as tirou uma por uma.

Argila branca, para a pele de um fantoche. Duas pedrinhas negras, para os olhos. Seda preta, para o cabelo. Jade, para os ossos. E por fim, madeira da árvore Liuli, para formar a carne.

Em frente à janela bem fechada, havia uma mesinha, e Xia Ge colocou os materiais sobre ela. Olhando para as duas pedrinhas negras, ela inclinou a cabeça antes de subitamente rir:

— Falando nisso…

Sistema: [Hmmm?]

— Filho de Biliu, digno é de minha admiração Jiu.
Pegando uma das pedrinhas negras, Xia Ge não conseguia parar de encará-la.
— Uma irmã sênior tão intensa e poderosa, e ainda assim seu nome é “pedra negra”.

Sistema: [……]

Sem a menor vontade de perguntar a Xia Ge o que ela queria dizer com aquilo, o sistema simplesmente abriu seu banco de dados para pesquisar por conta própria.

Após verificar a informação, não pôde deixar de corrigir sua hospedeira:
[……Que pedra negra o quê? Significa jade negra fina.]

Xia Ge suspirou:
— Uau, bonequinho, você realmente cobiça a beleza da Irmã Sênior.

Sistema: [……]

— Ai, beleza está nos olhos de quem vê. É assim que pedra negra vira jade fina.
Talvez Xia Ge ainda estivesse magoada com o placar de beleza da oponente — um SSS — enquanto o seu próprio era “nenhum” e “feia”. Resmungou sozinha algumas vezes antes de acrescentar:
— …ao contrário, aos meus olhos, pedra negra não passa de pedra negra!

Sistema: [Hehe. Você não chega nem ao nível de uma pedra negra.]

Xia Ge, sensatamente, mudou de assunto:

— Certo, tenho todos os materiais aqui. O que eu faço agora?

O sistema apenas gemeu internamente. Tentar pisar nos outros frequentemente resultava em dar um tapa na própria cara.

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O autor tem algo a dizer:

Xia Ge: Ah, jade fina. (:з)∠)

Irmã Sênior: Heh.

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