Capítulo 15


 A Tia Ma trabalhava como comissária de bordo há mais de uma década — que tipo de gente ela ainda não tinha visto?


O comportamento culpado do Velho Wang não escapou de seus olhos perspicazes.

Some a isso a impressão favorável de Shen Nanchu, e sem pensar duas vezes, a simpatia da Tia Ma pendeu para o lado de Shen Nanchu.

Ainda assim, superficialmente, ela se manteve imparcial, repreendendo a todos por perturbarem a ordem pública.

E assim, o assunto foi resolvido.

Quando a Tia Ma se virou para sair após lidar com a situação, Shen Nanchu se pronunciou.

"Camarada, espere um momento."

"Tenho uma pomada aqui. Deixe-me pegá-la para você."

Que mulher não aprecia a beleza? Tia Ma não era exceção.

O presente de Shen Nanchu acertou em cheio.

"Oh, como posso aceitar isso?"

"Camarada, você sofreu por minha causa. Honestamente, a culpa é toda minha."

"Se eu tivesse ficado parada e deixado ela me bater, você não teria levado aquele tapa."

Que mestre em se fazer de vítima.

Tia Ma lançou outro olhar furioso para Li Mei, seus olhos afiados como adagas.

Li Mei estava furiosa, mas não ousou retaliar, contentando-se em lançar um olhar venenoso para Shen Nanchu.

Mesmo com todo aquele ódio direcionado a ela, Shen Nanchu não demonstrou nenhum ressentimento — parecia que já havia drenado Li Mei por completo.

Hora de encerrar o assunto.

Shen Nanchu nem se deu ao trabalho de olhar para Li Mei.

Ela tirou um frasco de óleo medicinal e um pequeno pote marrom de sua bagagem — presentes do irmão mais velho do protagonista masculino para a dona original do corpo.

A dona original havia usado um pouco, mas Shen Nanchu não gostava de usar coisas que outros haviam tocado.

Já que ia jogá-los fora de qualquer maneira, poderia muito bem dá-los para a Tia Ma.

Li Mei deu uma olhada e zombou — não era nem creme para neve, apenas algum produto desconhecido.

Mas Fang Jie, que havia permanecido em silêncio o tempo todo, empaleceu ligeiramente.

A família de sua prima era rica, e ela já tinha visto aquele frasco antes — sua prima o guardava como ouro!

Os olhos da Tia Ma brilharam no momento em que viu o rótulo.

Eram produtos importados! Do tipo que você não conseguia comprar mesmo que tivesse dinheiro.

Qualquer coisa importada tinha que ser boa, independentemente de ela reconhecer ou não.

Agora, o olhar da Tia Ma para Shen Nanchu ficou ainda mais caloroso.

"Isso é… Estée Lauder?" O rosto de Fang Jie ficou pálido.

"Oh? Alguém aqui realmente entende das coisas?" Shen Nanchu lançou um olhar avaliador para Fang Jie — um reconhecimento raro.

A expressão de Fang Jie desmoronou ainda mais.

Tia Ma era esperta. Só pelo nome, ela podia dizer que esse "Estée seja lá o que for" era de alta classe.

"Querida, não consigo ver meu próprio machucado. Por que você não vem comigo até o vagão-restaurante e me ajuda a aplicar?"

Tia Ma não era de receber sem retribuir.

Shen Nanchu entendeu imediatamente. "Claro!"

"Ah, e não se esqueça de trazer suas coisas!"

Tia Ma piscou, e Shen Nanchu entendeu o recado.

Ela guardou seu lençol na mala e seguiu a Tia Ma para fora.

Li Mei cuspiu quando Shen Nanchu saiu. "Humpf! É só um creme chique. Qual é o problema?"

"Li Mei, você se deu mal," murmurou Fang Jie, com o rosto sombrio.

Song Qingyang percebeu a tensão. "Fang Jie, o que você quer dizer?"

"Aquilo não era creme para neve. São importados americanos!" Fang Jie forçou um sorriso amargo.

"E daí? Você também pode comprar importados, não pode?" Li Mei ainda não havia compreendido a gravidade da situação.

Fang Jie odiava admitir. "Estée Lauder só está disponível em lojas duty-free para diplomatas ou chineses no exterior. É praticamente inédito aqui. Dinheiro não compra."

Em outras palavras, você precisava de contatos.

O que significava que a família daquela garota tinha muita influência.

O peito de Song Qingyang se apertou — que oportunidade perdida! Se ele tivesse feito amizade com ela, talvez até se tornado seu namorado, poderia ter evitado ser enviado para o campo.

Não importa. Haveria outra chance.

Os outros passageiros murmuravam admirados.

Dar casualmente algo tão caro para uma estranha — quão poderosa era a família daquela garota?

E se esse fosse o caso, ela realmente precisaria amaldiçoar o Velho Wang?

Todos olharam para a aparência pobre do Velho Wang e rapidamente chegaram a uma conclusão.

As palavras dela provavelmente eram verdadeiras.

Em um instante, a multidão deu um passo coletivo para trás, colocando o máximo de distância possível entre si e o Velho Wang.

Enquanto isso, Shen Nanchu não tinha ideia de que descartar um item indesejado havia causado tanta comoção.

Quando chegaram ao vagão-restaurante, ela e a Tia Ma já estavam conversando como irmãs.

Shen Nanchu até descobriu que o marido da Tia Ma era o diretor da Agência Ferroviária XX.

Tia Ma não era só conversa — ela discretamente usou seus contatos para transferir Shen Nanchu para uma cabine com cama.

Shen Nanchu não ia recusar.

Alguém como a Tia Ma valia a pena manter por perto.

Viajar de trem frequentemente significava que ter contatos a bordo era inestimável.

Depois de um tempo, Tia Ma acompanhou Shen Nanchu até a seção de cabines com cama.

Enquanto atravessavam entre os vagões, um passageiro frenético quase colidiu com elas. Felizmente, Tia Ma reagiu rápido, puxando Shen Nanchu para o lado bem a tempo.

"Camarada, olhe por onde anda!"

"Desculpe!"

Um jovem com rosto redondo, olhos pequenos, nariz achatado, lábios grossos e uma pinta do tamanho de um grão de gergelim perto da boca passou pela visão de Shen Nanchu antes de desaparecer.

Correndo tão rápido? Definitivamente tramando alguma coisa.

Como esperado—

Não muito tempo depois, dois policiais ferroviários e vários homens com semblantes sérios abriram caminho pela multidão em direção à Tia Ma e Shen Nanchu.

"Tia Ma, você viu algum suspeito passar por aqui?" perguntou um policial em voz baixa.

Tia Ma pensou por um momento. "Havia um homem antes que parecia estar com muita pressa."

"Você pode descrevê-lo?" Liu Jiadong pressionou. "Ele estava usando uma camisa de tecido preto?"

Tia Ma balançou a cabeça. "Não, era uma blusa azul-esverdeada."

"Então não é ele." Os ombros de Liu Jiadong caíram.

Ele estava rastreando esse alvo há muito tempo. Finalmente se aproximando, apenas para perdê-lo agora — inaceitável.

Depois de acomodar Shen Nanchu na cabine com cama, Tia Ma voltou para suas funções.

Na hora do almoço, ela voltou para levar Shen Nanchu ao vagão-restaurante.

Shen Nanchu trouxe um pato assado embalado.

A refeição foi farta — carne de porco assada, pato assado e ovos de pata salgados.

Tia Ma adorava conversar.

"Lembra daquele cara que quase esbarrou na gente antes?"

"Claro." Shen Nanchu nunca esquecia um rosto.

Tia Ma abaixou a voz. "Ele é um espião."

"O quê?!" Shen Nanchu entrou na brincadeira, fingindo choque.

"Adivinha há quanto tempo ele está à espreita em nosso país?" Tia Ma parecia presunçosa.

"Cinco anos?" Shen Nanchu deu um palpite aleatório.

Tia Ma cruzou os dedos indicadores. "Dez."

"Eles o pegaram?" Shen Nanchu estava genuinamente surpresa — este era um peixe grande.

"Ainda não." Tia Ma suspirou. "O Capitão Liu está arrancando os cabelos. Temos duas horas até a próxima parada."

Shen Nanchu assentiu em compreensão.

A próxima estação não era um grande centro, mas tinha várias saídas. Se não pegassem o espião nessas duas horas, ele desapareceria no momento em que descesse do trem.

Postar um comentário

0 Comentários