Ao ver Ji Muye sorrindo, Jiang Zheng secretamente soltou um suspiro de alívio.
— Eu vou primeiro. Você sai depois de meia hora!
Estava escuro, e a mata era densa. Assim, ninguém os veria saindo da floresta um após o outro.
Ji Muye pensou que finalmente havia descoberto o pequeno segredo de Jiang Zheng, mas no segundo seguinte ouviu ela mandá-lo manter distância.
No mesmo instante, o coração que havia acabado de se animar se despedaçou com um estalo. O quanto ela o desprezava afinal?
De volta à praça, a dança ao redor da fogueira continuava. Jiang Zheng e Han Yi não estavam em lugar algum, então deviam ter voltado primeiro para o hotel.
Ji Muye sentou-se ao lado de Jing Meini. A luz do fogo refletia em seu rosto, tornando suas feições ainda mais marcantes. Ele ficou encarando as chamas por um tempo, depois perguntou:
— Você diria que é alta a proporção de garotas que agem com frieza e do nada mudam de atitude?
Jing Meini sorriu:
— Essa pergunta é meio constrangedora. Vamos reformular. Essa expressão não costuma ser usada mais pra homens?
Ji Muye se engasgou:
— Você tá de coração partido de novo?
Jing Meini ajeitou o cabelo atrás da orelha:
— Fala logo o que quer perguntar.
Ji Muye endireitou a postura e disse em voz baixa:
— Existe algum tipo de garota que parece te olhar de longe, com frieza, mas que no fundo só tem um jeito mais fechado?
Jing Meini franziu a testa:
— Deve existir, sim.
As sobrancelhas de Ji Muye relaxaram, e ele abriu um sorriso contido, cheio de alívio:
— Eu também acho.
Jing Meini virou o rosto para ele:
— Você tá falando da Jiang Zheng, né?
Ji Muye arregalou os olhos na hora:
— Foi tão óbvio assim?
Jing Meini:
— Foi.
Ji Muye: “…”
Ele tentou negar com teimosia, mas Jing Meini continuou encarando-o sem piscar.
No fim, o culpado Ji Muye acabou fugindo do olhar dela.
Jiang Zheng tinha acabado de voltar pro quarto quando recebeu uma ligação do irmão, Jiang Ran.
O tom de Jiang Ran era animado, parabenizando a irmã querida pela estreia do novo drama.
Jiang Zheng riu duas vezes:
— Obrigada, irmão. Eu também tô bem feliz.
Jiang Ran costumava achar que sua irmã não precisava se desgastar trabalhando fora. Além disso, o meio artístico era uma grande tina de tinta: qualquer um que mergulhasse lá saía manchado. Jiang Zheng era assim antes de perder a memória. Algumas pessoas elogiavam, mas a maioria criticava. Sempre que ele via as ofensas dos haters, tinha vontade de entrar no jogo pessoalmente e sair quebrando a cara deles.
Mas não só sua irmã amava atuar, como também era muito boa nisso. Então o máximo que podia fazer era protegê-la das marés altas e baixas do meio.
Jiang Ran estava todo emocionado com o forte laço entre eles, quando de repente ouviu Jiang Zheng dizer:
— Irmão, tenho um amigo que é salgado e doce ao mesmo tempo, tem jeito de velho certinho, e consegue interpretar tanto um vilão doentio quanto um plebeu comum. Você tem algum roteiro que se encaixe nele?
O canto da boca de Jiang Ran tremeu. Alguns dias atrás, um subordinado sem noção havia tentado empurrar pra ele um ator que ele detestava. Disseram que o cara era cheio de potencial, e o bajularam como se fosse um novato promissor. Uma das descrições usadas foi “salgado e doce”.
Seria ele? Talvez? Provável?
Droga! Seja quem for, é não e pronto.
Jiang Ran respondeu firme:
— Não tenho.
Jiang Zheng resmungou:
— Irmão, eu nem falei quem era e você já disse que não.
Jiang Ran franziu a testa:
— Ele precisa que você se preocupe com ele?
Jiang Zheng:
— Então você sabe de quem eu tô falando.
Ela esticou a voz num tom manhoso:
— Irmããããão~~~~~~
Assim que terminou, sentiu nojo de si mesma. Mas estava lutando por Ji Muye com unhas e dentes.
Jiang Ran queria explodir, queria dar um chilique, mas aquele “irmão” sussurrado apagou metade do fogo no peito.
Ele rangeu os dentes:
— Vou pensar no caso.
Desligou o telefone e, ao levantar os olhos, deu de cara com a senhora Chen Jinjiao olhando pra ele com um sorriso.
— Mãe, amanhã mesmo eu me mudo. Não precisa ficar me encarando assim.
Desde que Jiang Zheng tinha ido gravar, a casa andava muito vazia. Jiang Ran até queria sair, mas a irmã disse que a mãe ficaria solitária e que ele devia fazer companhia a ela.
Como era obediente à irmã, acabou ficando. Mas ele e a senhora Chen discutiam sempre que se viam. O clima entre os dois era complicado.
Chen Jinjiao tentou lhe dar um cascudo, mas ele era alto demais, ela não alcançou.
Quando não dá pra usar as mãos, usa-se a boca:
— Se sair, não volte mais. Quando Zhengzheng e eu estivermos transbordando de amor, você vai morrer de inveja.
Jiang Ran: “…”
A estreia foi um sucesso, e parecia que a equipe inteira tinha tomado injeção de ânimo. Todo mundo acordou de madrugada pra se preparar pras filmagens do dia.
Cada setor assumiu sua posição, e as filmagens começaram oficialmente.
Cui Ling se recusava a comer ou beber, decidindo fazer greve de fome pra rejeitar a “bondade” da Rainha Tang Qinlan. Se debatia com apenas um pedido: que o libertassem.
Tang Qinlan jamais havia encontrado alguém tão teimoso e desobediente. Controlando o temperamento, perguntou:
— Você já é casado?
Cui Ling balançou a cabeça.
— Está escondendo alguma coisa?
Cui Ling balançou a cabeça de novo.
— Por que este palácio não consegue te prender?
A expressão de Cui Ling era indiferente. Ele se ajoelhou e bateu a cabeça no chão, gritando:
— Este plebeu é culpado!
Tang Qinlan ficou tão furiosa que rangia os dentes ao responder:
— Você passou um dia e uma noite sem comer, mas ainda tem forças pra se declarar culpado. Então continue com fome. Se morrer de inanição, mandarei jogarem seu corpo no rio pros peixes.
Dizendo isso, ergueu o pé e deu um chute em Cui Ling.
A criada Cen Baoqian franziu a testa, pensando em silêncio que Sua Majestade havia perdido a paciência afinal.
Cui Ling pareceu não perceber. Continuou ajoelhado, imóvel.
Fora das câmeras, todos estavam atentos ao pé de Jiang Zheng, mas ela apenas o ergueu no ar, hesitou, e então o pousou no chão.
Ela franziu os lábios e ergueu os olhos na direção de Han Yi.
Han Yi entendeu. Os outros, não.
Jing Meini correu para ajudar Ji Muye a se levantar. Ele fez um gesto com a mão e se ergueu sozinho. Como estava ajoelhado havia muito tempo, suas pernas estavam fracas, e ele quase caiu de novo. Jing Meini foi rápida e o segurou.
Jiang Zheng se assustou. Ao ver essa cena, sentiu ainda mais culpa. Ela simplesmente não conseguia chutar “a parede da própria casa”. Seria seu fim. Mesmo tendo feito um baita esforço mental antes da cena, na hora H não teve coragem de dar o chute.
O diretor Xing Weimin se levantou atrás do monitor e veio até ela:
— Professora Jiang, está tudo bem?
O rosto de Jiang Zheng estava pálido:
— Me desculpe. Pode me dar alguns minutos?
Xing Weimin assentiu depressa.
Han Yi ajudou a segurar a barra da saia dela. Jiang Zheng abaixou a cabeça e foi até uma árvore ao lado do set, onde ficou parada, pensando.
De costas para todos, ela finalmente se permitiu franzir a testa e suspirar.
Han Yi sugeriu:
— Por que não chuta ele de olhos fechados?
Jiang Zheng balançou a cabeça:
— Mesmo de olhos fechados, eu ainda o vejo.
Han Yi: “…” Que lógica é essa?
— Quer que eu fale com o diretor e o roteirista pra cortar essa cena?
De jeito nenhum. Esse chute precisava acontecer. A professora Yu Juan havia dito que ele era direcionado ao personagem Cui Ling, mas no fundo era como se atingisse o coração da própria Tang Qinlan. A cena não podia ser removida. E ela ainda teria que alternar entre raiva e angústia com perfeição.
Nesse momento, Han Yi viu Ji Muye se aproximando.
Ele pigarreou duas vezes e murmurou:
— Sua parede está vindo.
Jiang Zheng se virou de repente. Han Yi se afastou discretamente, não querendo ser o “abajur” da vez.
Jiang Zheng franziu a testa, imaginando se Ji Muye achava que ela estava deliberadamente ganhando tempo só para ele ficar ajoelhado por mais tempo. Dado seu “histórico sombrio”, não era impossível que ele pensasse isso.
Ji Muye sorriu e disse:
— Professora Jiang, você finalmente teve a chance de me chutar. Por que não aproveita?
Jiang Zheng ficou tão chocada que quase tossiu na hora.
Ji Muye sorriu calorosamente, e Jiang Zheng percebeu que ele estava brincando.
Ela imediatamente ergueu o rosto:
— Tenho medo das suas fãs me caçarem.
Ji Muye deu de ombros:
— Elas só não te conhecem. Além disso, você está apenas seguindo o roteiro. Se quiserem xingar alguém, que xinguem o roteirista.
Jiang Zheng ficou atônita. Ué, ele veio aqui só pra me consolar e animar?
Seu coração inquieto parecia envolto por uma brisa morna, leve e suave, e de repente, toda a tensão se dissipou.
— Mas, professora Jiang, por favor, tenha piedade. Na hora de chutar… podemos fazer de uma vez só? — Ji Muye piscou de forma muito fofa ao terminar de falar.
O coração de Jiang Zheng disparou. Ele e eu somos “nós” agora, é isso?
Imediatamente, a coragem tomou conta dela e um “sim” escapou de sua garganta.
Logo depois, todos perceberam que Jiang Zheng voltou para o set com o ânimo renovado.
O diretor gritou “ação”.
Após Jiang Zheng terminar sua fala furiosa sobre jogar Cui Ling no rio, seus ombros tremeram levemente, seus olhos pareciam sorrir, mas seu rosto estava branco como gelo, e ela deu um chute certeiro no braço de Ji Muye assim que ergueu a perna.
Ji Muye caiu no chão, e os dois atuaram em perfeita sintonia, encerrando a cena com sucesso.
Parabéns.
Todos suspiraram em silêncio. Como esperado de uma estrela, mesmo sendo uma cena difícil, ela só precisou de dois minutos para ajustar as emoções. Enquanto isso, outros atores ajustam, ajustam… e ainda precisam repetir várias vezes até acertar.
Jiang Zheng saiu da área de filmagem com o rosto fechado. Assim que o diretor confirmou a cena, ela se virou rapidamente.
Ji Muye se levantou do chão e lhe mostrou um joinha.
Jiang Zheng respirou aliviada e sorriu para ele do outro lado da equipe.
Provavelmente, foi a primeira vez que os dois sorriram um para o outro desde que entraram para o elenco. Apesar de ter durado apenas um instante, parecia ter se tornado um pequeno segredo entre eles.
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