Capítulo 19.2


 Depois de um breve descanso, a cena prosseguiu.

Jiang Zheng trocou para uma camisola de brocado amarelo. O tecido dessa vestimenta era extremamente precioso, chamado Huang Run, um dos tributos enviados de Chang’an, em Sichuan, durante a Dinastia Tang. Como o Reino Dongnu fazia fronteira com a Estrada de Jiannan naquela época, não era surpreendente que a rainha usasse brocados feitos em Sichuan, que eram populares entre as famílias reais e nobres da Dinastia Han.

A camisola era leve e sedosa, esvoaçava graciosamente pelo chão. Deslizava pelo pescoço esguio de Jiang Zheng, por seus belos ombros retos, até cair suavemente sobre suas pernas longas e delgadas.

Jiang Zheng andava de um lado para o outro com naturalidade, entre franzir a testa e sorrir, encantadora a ponto de atrair todos os olhares, que simplesmente não conseguiam desviar dela.

Ji Muye abaixou os olhos e recitou Om Mani Padme Hum três vezes em sua mente, enquanto erguia o robe e voltava a se ajoelhar.

Cui Ling permaneceu ajoelhado diante do palácio da Rainha por dois dias e duas noites, e Sua Majestade ainda o havia “presenteado” com um chute. O assunto causou um rebuliço, a ponto de Su Mingchen ir pessoalmente tentar convencê-la, mesmo em sua cadeira de rodas. Mas ela fechou a porta. A rainha sequer o recebeu.

Cen Baoqian, a criada, estava tão ansiosa que os lábios chegaram a congelar. Não era como se ela não ouvisse Sua Majestade revirando-se na cama real durante a noite, ou não percebesse como ela andava aérea, sem se importar com chá ou refeições.

Uma queria forçar o outro a ficar, enquanto o outro insistia em partir. Em apenas meio mês, parecia que Sua Majestade havia mudado de ideia — e ainda por cima, estava com sentimentos por um homem tão inconsequente.

E dessa vez, a chuva nas montanhas estava prestes a cair, o vento já soprava forte, sem qualquer espaço para recuo.

Numa noite, Cen Baoqian levou um grupo de criadas para ajudar Sua Majestade a trocar de roupa. Ao passar por Cui Ling, ela baixou a voz, correndo o risco de ser repreendida, e o aconselhou:

— Quando Sua Majestade sair, fale com calma… e por favor, peça que ela se acalme.

O rosto de Cui Ling suava, e seu corpo tremia como se fosse desabar a qualquer momento. Mas mesmo assim, ele respondeu:

— Obrigado, Lorde Cen. O plebeu continuará ajoelhado.

Cen Baoqian quase bateu o pé no chão de raiva por aquele osso duro de roer.

Lá dentro, as criadas enxugavam silenciosamente suas mãos com água e penteavam seu cabelo, prendendo a respiração e pisando com leveza, temendo provocar a fúria da mestre.

De repente, ouviu-se um baque lá fora, abafado, mas claramente audível.

O rosto frio de Tang Qinlan mudou na hora. Ela empurrou a criada que segurava o pote dourado e saiu às pressas.

A bacia dourada caiu com força no chão, espalhando água por todo lado. Todas as criadas se ajoelharam imediatamente, tremendo de medo, temendo que ela descontasse nelas.

Tang Qinlan contornou o biombo com passos largos, o rosto cada vez mais sombrio, a cauda de sua saia levantando-se de repente — e então, ela correu.

Cen Baoqian correu atrás, um suor frio escorrendo por suas costas.

Quem estava caído no chão era Cui Ling. Seus olhos estavam bem fechados, o rosto pálido ao ponto de não haver cor alguma. Metade do rosto estava esmagado contra os ladrilhos de pedra, os lábios pálidos e sem sangue, as órbitas escuras.

Idiota!

Quando Cen Baoqian saiu correndo, viu que Sua Majestade realmente havia se ajoelhado diante de Cui Ling — e seus longos cabelos, ainda soltos, cruzavam os ombros e caíam até o chão.

Felizmente, Sua Majestade sempre fora extremamente rigorosa, e ninguém ousava levantar a cabeça para olhar.

Tang Qinlan virou o rosto de repente, os olhos avermelhados:

— Chamem o médico imperial!

Cen Baoqian correu imediatamente para chamar alguém no Hospital Imperial.

As sobrancelhas e os olhos de Tang Qinlan estavam repletos de angústia, mas seu rosto se mantinha tenso. Suas mãos tremiam, e quando seus dedos estavam prestes a tocar o rosto de Cui Ling, ela os retraiu. No segundo seguinte, ergueu com firmeza a cabeça de Cui Ling e o tomou nos braços.

Cen Baoqian olhou para trás e quase deixou os olhos caírem de tanto espanto.

Cui Ling, ah, Cui Ling… como você conseguiu fazer com que Sua Majestade o tratasse com tanta sinceridade?

Fora da cena.

Han Yi tentava a todo custo controlar a expressão, mas pensava: Caramba! O ídolo dela tá no colo dela. Isso aqui é o auge da vida.

Jing Meini também estava com o humor todo embaralhado: Uau! O servo se rebelou e virou cantor principal.

O diretor Xing Weimin observava atentamente a expressão dos dois pelo monitor. Ótimo. Muito bom. A expressão reprimida e irritada de Jiang Zheng estava perfeita, enquanto a maquiagem de Ji Muye também estava no ponto, fingindo desmaio… Ei, o que foi esse tremor na boca desse cara?

Ele rapidamente gritou:

— Corta!

Jiang Zheng ergueu o rosto, os olhos ainda vermelhos, com as emoções estampadas.

Xing Weimin correu até eles:

— Professor Ji, você está passando mal?

Ji Muye, que ainda estava deitado nos braços dela, abriu os olhos lentamente, como se não tivesse ouvido o comando.

Sem Vergonha! Por que esse cara ainda não levantou? — pensou Han Yi, indignado.

A mão de Jiang Zheng não estava nem apertando demais, nem frouxa demais — o que só a deixava ainda mais envergonhada. O chute de agora há pouco já havia drenado toda a sua força, e agora ela ainda precisava continuar segurando Ji Muye em seus braços.

Meu irmão, será que dá pra acertar isso numa única tomada?

Ji Muye se apressou em pedir desculpas, livrou-se dos braços de Jiang Zheng e então olhou para Xing Weimin com uma expressão confusa.

Xing Weimin franziu a testa e, muito sem jeito, apontou para o canto da própria boca:

— Professor Ji, você… não controlou sua expressão agora há pouco…

Ji Muye ficou paralisado e, num instante, tomado pela vergonha. Tudo culpa da camisola de Jiang Zheng — aquele tecido sedoso, suave, que tocava sua bochecha… Ele realmente não conseguiu evitar a agitação. E desde quando garotas têm um cheiro tão bom assim?!

Ele pediu desculpas várias vezes, enquanto Jiang Zheng queria apenas cavar um buraco e sumir de tanta vergonha.

Todos conseguiram perceber que havia um certo desconforto entre os dois ao filmarem esse tipo de cena com contato físico. Xing Weimin então deu uma pausa geral e anunciou que retomariam as gravações mais tarde.

Agora era a vez de Ji Muye encarar uma árvore e refletir sobre seus atos.

Jing Meini trouxe para ele um copo de água gelada, para ver se acalmava os ânimos.

Ji Muye comentou, com um tom resignado:

— Até eu cheguei nesse ponto, hein…

Jing Meini segurou o riso:

— Encare isso como uma forma de aprendizado.

Ji Muye: “…”

Jiang Zheng, por sua vez, achava que Ji Muye tinha ido até ela para confortá-la quando ela travou durante a cena, então agora sentia que também deveria dizer algo a ele.

Ela deu uma voltinha como se estivesse apenas passeando, fingiu que foi coincidência, e então se virou.

Jing Meini sorriu para ela e foi até Han Yi, pronta para provocá-lo.

Era abril, e as pereiras floresciam lindamente por toda Miyagi.

Os dois estavam de pé, juntos, sob as árvores, com as montanhas nevadas ao fundo e as torres do palácio logo ali perto. Para algumas pessoas, apenas estarem no mesmo quadro já criava uma cena deslumbrante — parecia até que tinham nascido para estarem lado a lado.

Ji Muye não se atreveu a ficar em silêncio por muito tempo e disse:

— O tempo está bom hoje, não está? Nem quente, nem frio demais.

Jiang Zheng assentiu:

— Está sim. Então, Professor Ji, por que está suando?

Ji Muye ficou sem graça. Levou a mão até a testa e, de fato, havia ali uma fina camada de suor.

Jiang Zheng ergueu o braço, e a manga caiu imediatamente, revelando seu braço branco como a neve — o que fez Ji Muye sentir ainda mais calor.

Sem perceber, alguém segurou a outra ponta da manga com a outra mão, moldando-a como um leque, e começou a abaná-lo no rosto dele.

— Professor Ji, faça como eu, se refresque. — Jiang Zheng elogiou sua própria esperteza.

Ji Muye congelou completamente. Os cílios de Jiang Zheng tremularam, e uma tempestade irrompeu dentro dele.

Ao ver Ji Muye paralisado, Jiang Zheng o chamou:

— Professor Ji?

Ji Muye então voltou a si, riu sem jeito e imitou os gestos dela, erguendo as mangas para se abanar também.

E, de repente, o estilo da cena mudou drasticamente — os dois abanando o rosto com as próprias mangas.

Jing Meini e Han Yi observavam de longe. As bocas se abriram ao mesmo tempo, e demoraram alguns segundos para conseguirem se recompor. Quando se entreolharam, viram a mesma frase nos olhos um do outro: Eu vi um fantasma!!

De volta às gravações.

Cui Ling, que estava ajoelhado diante do palácio há dois dias e duas noites, finalmente desmaiou. E foi Sua Majestade, a Rainha, quem correu primeiro para puxá-lo e trazê-lo aos braços.

As lajotas do chão estavam frias demais, e Tang Qinlan temia que Cui Ling pegasse frio, então o tirou dali imediatamente, fazendo com que ele se apoiasse nela.

O médico imperial ainda não havia chegado.

Os criados ao redor mantinham as cabeças abaixadas, com medo de presenciar algo que não deveriam ver.

Ao olhar para Cui Ling, Tang Qinlan estava completamente sem cor no rosto. Seu coração estava tomado apenas por dor — não havia mais nenhum traço de ódio.

Naquele momento, ela franziu as sobrancelhas, estendeu a mão direita e… segurou Cui Ling nos braços, num abraço horizontal.

Foi exatamente essa cena que Jiang Ran viu ao chegar no set.

!!!!!

Abraço de princesa?! Muye?! Será que pegaram o roteiro errado?!

Não, não! O Ji Muye nem deveria estar aqui!

Com o rosto fechado, ele caminhou até Han Yi, parou atrás dele e deu dois toques em seu ombro.

Han Yi estava empolgado, entre risos e suspiros, assistindo àquela cena maravilhosa no monitor, em que Jiang Zheng pegava Ji Muye no colo com firmeza. Mas no instante em que percebeu alguém o chamando, virou-se — e o susto foi tanto que quase se urinou de medo.

Com os lábios curvados num sorriso frio, Jiang Ran perguntou com uma voz gélida:

— Você disse que o Ji Muye estava com pressa porque ia interpretar o protagonista. Ele está planejando usar essa desculpa pra seduzir minha irmã?

— Ele quer se apaixonar com verba pública, é isso?


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