O Venerável Dao Hengwu agora enfrentava um grande problema. Como criar uma criança tão pequena?
Lu Qingyu não estava em situação melhor. Sua vida consistia em cultivar, lutar, matar e governar o Reino Demoníaco. Uma criatura tão frágil e pequena nunca havia aparecido diante dele. Entre a raça demoníaca, até mesmo os demônios de mais alta patente nasciam em forma de besta. No entanto, quanto mais puro era o sangue, mais cedo assumiam a forma humana. Já os de linhagem inferior só conseguiam se transformar depois de atingir a idade adulta — aos cem anos.
Lu Qingyu havia se transformado três dias após nascer, mas essa criança já havia nascido em forma humana. Ele se encheu de orgulho. Realmente digna de ser filha do Venerável Demônio.
Mas ainda era fraca demais. Após nascerem, os filhotes demoníacos não demoravam a começar a pular por aí cheios de energia. Pensando nisso, o olhar de Lu Qingyu não desgrudava da menininha macia e fofa diante dele.
Após um breve momento de ternura, Lu Qingyu e Yao Jiuxiao voltaram à razão. Observavam a bebê em silêncio, mas não se atreviam a tocá-la.
Lu Qingyu examinou cuidadosamente a aparência da menininha. Seu nariz, sua boca... e se lembrou daqueles olhos redondos que se abriram mais cedo. Sim, essa criança se parecia com ele em todos os aspectos. Essa constatação o deixou extremamente satisfeito.
Yao Jiuxiao fitava a criança. Um sentimento complexo passou por seus olhos:
— Físico dual do Dao e do Demônio.
No continente Yuanqi, humanos e demônios cultivavam por sistemas completamente distintos e incompatíveis. Se um humano quisesse seguir o caminho demoníaco, era necessário destruir completamente seu corpo dao antes de iniciar a prática demoníaca.
A única exceção era o físico dual do dao e do demônio. Aqueles que nasciam com esse físico podiam cultivar ambos os caminhos simultaneamente, formando tanto o núcleo demoníaco quanto o núcleo dourado em seus corpos. Um físico assim era naturalmente raro — mais raro até do que os físicos puros dao ou demoníacos. Nos últimos cinco mil anos, ninguém havia nascido com essa constituição.
Embora tenha sido formado pelo sangue dele e de Lu Qingyu, essa criança era, na verdade, um feto espiritual natural. Yao Jiuxiao havia lido uma vez em um texto antigo que fetos espirituais naturais eram concebidos pelos céus e pela terra, favorecidos pelo Dao Celestial¹. A visão que apareceu nos céus no momento do nascimento da menina era prova suficiente de que ela era especial.
Ao ouvir as palavras de Yao Jiuxiao, Lu Qingyu bateu palmas e riu de alegria:
— Como era de se esperar da filha deste Venerável! A princesa do nosso Reino Demoníaco! Hahahaha...
No continente Yuanqi, apenas o Venerável Dao Hengwu era capaz de enxergar com tanta facilidade a constituição inata de alguém. Lu Qingyu acreditou sem hesitar.
Físico dual do dao e do demônio... que talento formidável! Lu Qingyu mais uma vez se decidiu: teria que roubar essa menina das mãos de Yao Jiuxiao e levá-la de volta para o Reino Demoníaco.
…
Lu Yaoyao dormiu por um tempo e logo acordou, então começou a refletir.
Ela havia transmigrado — foi o primeiro pensamento que cruzou sua mente. Mas... o que era transmigrar mesmo? Lu Yaoyao não conseguia entender.
Pensando em seu estado, outra palavra surgiu em sua mente: amnésia.
Ela queria olhar ao redor, mas seu pescoço era tão mole que nem conseguia virar a cabeça.
Ah, ela havia se tornado um bebê.
Enquanto Lu Yaoyao encarava o teto com seriedade, tentando entender a situação, uma voz grave e magnética soou:
— Acordou?
Instintivamente, ela girou seus olhos pretos em busca da origem da voz. O rosto bonito que havia visto antes apareceu diante dela mais uma vez. Lu Yaoyao ficou paralisada com a beleza daquele homem da primeira vez, mas agora conseguia resistir ao “ataque de beleza”. Vendo aquele rosto gigante se aproximando, ela não sentiu medo — sentiu, na verdade, uma estranha euforia.
Seria ele o seu papai?
Ela ofereceu ao homem um sorriso banguela.
Vendo isso, Lu Qingyu sorriu inconscientemente de volta.
— Ah, ah! — Lu Yaoyao de repente sentiu fome. Gritou duas vezes, tentando avisar o Papai Bonito que estava na hora de alimentá-la. Balbuciou e gritou diversas vezes, mas o Papai Bonito apenas ergueu as sobrancelhas, confuso:
— O que ela está dizendo?
— Não sei.
A resposta veio de uma voz fria, e Lu Yaoyao percebeu que havia outra pessoa no cômodo. Lembrou de repente que, quando abrira os olhos pela primeira vez, havia dois homens bonitos, e ambos pediram que ela os chamasse de pai.
Seria aquele o outro papai? Mas por que ela tinha dois pais?
O pequeno cérebro da bebê ficou confuso, mas a fome rapidamente substituiu qualquer outra preocupação.
Embora não conseguisse ver o outro pai, Lu Yaoyao balbuciou na direção de onde viera a voz.
Papai Bonito, o bebê está com fome. Seu bebê está com fome, viu?!
Mas infelizmente, nenhum dos dois homens entendia a linguagem de bebês. Os dois pais assistiam à menina balançar os bracinhos e emitir sons, achando que ela estava brincando.
Lu Yaoyao esperou, e nada de comida. Estava morrendo de fome. Não aguentou mais e começou a chorar:
— Uaaaaaaah!!!!!
Num instante, o quarto se encheu com o choro alto da bebê. Lu Qingyu, que estava relaxado no sofá, se levantou num pulo e recuou rapidamente.
Com a mesma cautela de quem enfrenta um inimigo, Lu Qingyu perguntou:
— Por que ela está chorando?
Yao Jiuxiao, cujo rosto não mudaria nem com o colapso do Monte Tai² diante de si, agora estava parado a dois passos do sofá, com a expressão rígida:
— Eu não sei. — Como ele poderia saber? Nunca teve contato com um bebê recém-nascido.
— H-hic... uaaaaah!!! — Lu Yaoyao chorou ainda mais alto ao ouvir a conversa deles.
Ela estava tão injustiçada. Estava com tanta fome!
Por que esses dois pais eram tão inúteis?
Yao Jiuxiao conduziu um pouco de energia espiritual até a ponta dos dedos e a fez circular pelo corpinho da bebê. Não havia nada de errado. A criança estava saudável.
Lu Yaoyao sentiu-se aquecida e confortável, e parou de chorar com um soluço.
Antes que os dois homens pudessem respirar aliviados, Lu Yaoyao voltou a chorar.
Ainda estava com fome!
— O que há com essa criança?
— …Eu não sei. — O corpo dela estava bem. Ele realmente não sabia por que chorava.
Yao Jiuxiao viu que ela parou de chorar quando ele verificou sua condição, então tentou enviar mais energia espiritual. Mas dessa vez, foi inútil. A menininha continuou chorando alto.
— Por que você é tão inútil? — Lu Qingyu estava visivelmente irritado.
Yao Jiuxiao: “…” Como se ele fosse útil.
Os dois pais de primeira viagem ficaram ali, parados, sem saber o que fazer com a filha chorona.
— Uaaaaaah, uaaaaah...!!
Lu Qingyu pareceu perder a paciência com o choro interminável:
— Tenta pegar ela no colo.
Yao Jiuxiao ia recusar, mas Lu Qingyu sorriu com sarcasmo:
— E se este Venerável usar força demais sem querer…
Yao Jiuxiao franziu a testa e deu um passo à frente. Seu corpo alto e imponente estava tenso. Depois de dar um único passo, ele parou. Não ousava tocar na menina. Ela era tão frágil... e se ele quebrasse alguma coisa sem querer?
Então, Yao Jiuxiao ficou parado diante do sofá, olhando para a bebê, e disse com frieza:
— Não chore.
Lu Qingyu: “…”
Lu Yaoyao: “…”
— Uaaaaaaaah! — Lu Yaoyao chorou ainda mais alto.
Ela estava com tanta fome, e o Papai Bonito ainda brigava com ela!
Seu choro era mais assustador do que o rugido de uma besta demoníaca. Os dois grandes ancestrais sentiram os nervos da cabeça formigarem.
Por que essa criança é tão aterrorizante?
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Nota da autora:
Lu Qingyu: Um filhote não sai por aí pulando atrás de comida sozinho logo depois de nascer?
Yao Jiuxiao: …
Lu Yaoyao: Minha vida é tão difícil T_T
—
P.S. A protagonista está sem memória no momento. Mas o senso comum dela vai se manifestando de tempos em tempos. No futuro, sua memória será restaurada.
P.P.S. O Venerável Demônio e o Venerável Dao não serão um casal! Eles são inimigos de verdade!
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Notas:
¹ Dao Celestial representa as leis da natureza às quais todos os seres do universo devem obedecer. Também pode ser entendido como a “Vontade do Céu”.
² O Monte Tai ruindo é um provérbio chinês que significa manter-se impassível, não importa o que aconteça.
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