Capítulo 25

 Após ser flagrada várias vezes pela líder da seita, Xia Shi começou a evitar o contato frequente com Suiyin. Seguindo o conselho da líder, ela aparecia brevemente diante de Suiyin apenas para desaparecer como fumaça quando era perseguida.

Xia Shi percebeu que Suiyin parecia determinada a encurralá-la. Felizmente, a Irmã Sênior Huaiwen havia convencido a líder da seita a restringir os ensinamentos de Suiyin à seita interna.

Durante mais uma palestra na seita interna, três rostos novos apareceram.

Dois olhares intensos captaram sua atenção assim que entrou. No canto, estavam sentadas em fila Suiyin, Lu Ciyou e Yan Li. O rosto de Suiyin se iluminou de empolgação, enquanto Lu Ciyou, ao lado dela, lançava um olhar carregado de ódio sem disfarces.

Xia Shi apertou os lábios. Lu Ciyou devia tê-la reconhecido do encontro na floresta de bambu.

Com um leve suspiro, ela pousou sua espada sobre o púlpito. A turma era composta por novos discípulos internos em treinamento como cultivadores da espada. Xia Shi decidiu falar sobre as origens da esgrima dos Nove Reinos e das grandes reformas nas artes da espada do Reino Sanqing ao longo dos milênios.

Eram histórias que ela amava desde a juventude, agora contadas com fluência natural.

A bela Anciã mantinha sua plateia cativada, embora poucos realmente absorvessem o conteúdo. Suiyin a fitava com um olhar vago, as palavras entrando por um ouvido e escapando pelo outro.

— Hmph.

Um resmungo cheio de desdém rompeu o ar.

— Anciã — uma voz chamou de repente —, por que não fala sobre a Meio Passo para Imortal da Espada, Xia Wuwei, de quatrocentos anos atrás?

Discípulos da primeira fileira se viraram com olhares reprovadores. Embora o líder da seita não tivesse dado detalhes sobre o passado da Anciã Wuwei ao anunciar sua nomeação, todos os discípulos internos sabiam que ela era a lendária Xia Wuwei — daí o respeito automático.

O prefixo “Meio Passo” carregava conotações zombeteiras. Usar esse título dentro dos salões do Reino Sanqing era uma provocação direta.

Uma discípula júnior se levantou de repente.

— Qual é o seu intuito, Jovem Mestre?

A jovem mestre do Pavilhão Liujin se destacava entre os trajes dos discípulos como uma garça vermelha-sangue. Lu Ciyou não gostava de olhar para cima. Endireitando-se com altivez, rebateu:

— Eu disse algo errado? Xia Wuwei não faz parte do Reino Sanqing?

Yan Li puxou sua manga com urgência.

— Ainda estamos no Reino Sanqing.

Dividida entre a lealdade à seita e a dívida com sua salvadora, Yan Li tentava desesperadamente conter o conflito iminente.

A jovem furiosa lançou-lhe um olhar cortante antes de desafiar a figura sobre o palco:

— A Anciã não vai responder? Está faltando conhecimento ou coragem?

— Aula encerrada.

Xia Shi agarrou sua espada e fugiu.

Correu em direção ao Pico Wentiang, abandonando qualquer pensamento sobre continuar as aulas. Memórias enterradas emergiram como um maremoto — chamas celestiais lambendo o céu, tribulações trovejantes despencando do alto. O rosto da amiga moribunda, cultivadores golpeando em vão a barreira de ascensão do Dao Celestial…

Discípulos se curvavam ao vê-la passar, mas ela não diminuiu o passo para reconhecê-los.

O pico já se avistava de perto.

Uma lança prateada cortou o ar, avançando direto contra seu peito.

Xia Shi recuou bruscamente, curvando a cintura para se esquivar.

— Xia Wuwei — Lu Ciyou apontava a lança, o desprezo ardendo em seu olhar. — Dizem que você é um prodígio que só surge a cada séculos. E mesmo assim, uma simples cultivadora do Núcleo Dourado a alcançou. Patético.

— O que você quer? — Os dedos de Xia Shi se apertaram até ficarem brancos ao redor do punho da espada.

Ela não tinha desejo algum de enfrentar Lu Ciyou.

A jovem, no entanto, não demonstrava qualquer contenção. As sobrancelhas se ergueram enquanto um sorriso provocador torcia seus lábios.

— Morrer pelas minhas mãos ou ajoelhar-se e pôr fim à própria vida.

— Milhares de cultivadores dos Nove Reinos morreram durante sua tribulação! Por que você ainda respira?

Os olhos de Lu Ciyou brilhavam, úmidos. A Lança Dragão Ascendente tremia em sua mão, ecoando a fúria da mestra com um uivo agudo.

— Eu… — Xia Shi não conseguia suportar aquele olhar — o mesmo olhar de Lu Qingyu, que havia sido consumida pelas chamas da tribulação.

— Não vai se matar? Então eu mesma tomarei sua vida miserável!

A ponta em forma de cabeça de dragão da lança rugiu. Um calor abrasador se espalhou como marés de lava.

Nada de ataques de teste. Apenas intenção assassina.

A forma de Xia Shi se desfez em névoa, reformando-se a alguns passos de distância.

Essa evasiva enfureceu Lu Ciyou. Zombaria! Uma cultivadora da espada se recusando a desembainhar!

— Saque essa lâmina!

Estocadas rápidas miraram as articulações de Xia Shi — cotovelos, pulsos — forçando-a à defesa.

A recém-remendada Espada Sem Coração continuava embainhada. Xia Shi bloqueava os golpes com o antebraço, contraindo-se ao sentir a arma divina colidir com sua carne.

Seu braço entorpecido pendia inutilmente. O gosto de sangue metálico enchia sua boca. A ponta reluzente da lança roçou sua garganta.

CLANG!

O impacto do aço soou como ossos sendo esmagados.

A empunhadura de Lu Ciyou vacilou. Xia Shi se lançou para trás, ilesa.

— Idiotas cegos! — A mestra da lança se voltou furiosa para os que haviam intervindo.

Suiyin e A Li estavam ofegantes, com a Espada Corrente Quebrada flutuando entre elas — não uma lâmina mágica comum, mas a própria espada divina.

— Ciyou! — Suiyin implorou. — Aqui é o Reino Sanqing! Ferir uma anciã aqui traz consequências!

Yan Li também tentou persuadi-la:

— A Senhorita Suiyin tem razão. Aqueles discípulos já foram informar a líder da seita e os outros anciãos. A Jovem Mestre não deveria agir de novo.

Lu Ciyou cerrou os dentes, gritando furiosa:

— Vocês não deveriam vir! Ela quase morreu há poucos instantes!

A expressão de Yan Li se endureceu, sua voz ganhando firmeza:

— E se ela tivesse morrido, e você? Acha que o Reino Sanqing pouparia você?

Lu Ciyou zombou, desdenhando de suas palavras:

— Eu sou a jovem mestre do Pavilhão Liujin. Será que o Reino Sanqing realmente entraria em conflito com o Pavilhão Liujin por causa de alguém que merecia morrer?

— Entraria!

Uma voz trovejante rompeu o ar, sua força espiritual fazendo todos estremecerem. A pressão avassaladora de um cultivador do estágio de transformação, vinda do pico principal, desabou apenas sobre Lu Ciyou.

A força diminuiu levemente antes do impacto, mas ainda assim fez seus lábios sangrarem. Yan Li também cambaleou sob a pressão. Virou-se para Suiyin, apenas para encontrar a garota completamente ilesa, os olhos fixos em silêncio na Anciã Wuwei.

Como alguém poderia permanecer calmo sob a pressão de um especialista no estágio da Transformação? Quem exatamente ela era?

Ye Xiao e Shen Huaiwen chegaram imediatamente. Ye Xiao se posicionou entre Xia Shi e Lu Ciyou, enquanto Shen Huaiwen examinava os ferimentos de Xia Shi, franzindo a testa ao notar sua energia caótica e o braço caído.

— Esqueceu como se defender?

Ao ouvir isso, o olhar de Ye Xiao tornou-se gélido.

— Esqueceu que este é o território do Reino Sanqing? Se minha irmã mais nova sofrer danos permanentes hoje, você não sairá ilesa.

Lu Ciyou cuspiu sangue, mas manteve-se ereta, encarando com ódio Xia Wuwei, agora protegida.

— Só lamento não ter sido mais rápida.

Um instante mais veloz, e ela estaria morta.

Os olhos de Ye Xiao se estreitaram perigosamente.

— Nesse caso, você também estaria morta!

— Você é a líder da seita, representando todo o Reino Sanqing. Para alguém assim—

As palavras foram abruptamente interrompidas. Embora tivesse sido criada com impecável etiqueta sanqing, Ye Xiao agora quebrava o protocolo, sua compostura desfeita.

— Eu conheço sua verdadeira natureza melhor do que ninguém! Há quatrocentos anos, três mil discípulos do Sanqing estavam prontos para defendê-la contra todas as seitas. E ainda estariam! — a raiva contida vibrava em sua voz. — Você veio como aluna, e agora tenta assassinar?

— Isso é comportamento apropriado para uma jovem mestre?

— Quem quer sua hospitalidade?! — Lu Ciyou lançou um olhar para A Li. Yan Li hesitou, olhando para o rosto impassível de sua Mestra antes de se aproximar.

— Vamos! — Lu Ciyou agarrou o braço de A Li, apoiando-se pesadamente nela. Ao passar por Suiyin, perguntou:

— Vai vir?

Suiyin permaneceu em silêncio, as sobrancelhas franzidas. Quando não veio resposta, Lu Ciyou deu um tapinha na mão de A Li.

— Anda.

Ye Xiao não as impediu, soltando um longo suspiro antes de se voltar para Xia Shi.

— Estado?

— Osso do antebraço quebrado — murmurou Shen Huaiwen. — Vai precisar de tempo pra se recuperar.

Ye Xiao assentiu, deu instruções breves e partiu rapidamente.

Shen Huaiwen explicou por ela:

— Ela estava presidindo uma reunião no salão principal quando soube do seu acidente e correu pra cá em desespero.

Xia Shi suportava a dor com os dentes cerrados, os lábios pálidos. Cada palavra vinha com uma respiração cortada.

— Causando problema… de novo.

Shen Huaiwen rapidamente lhe deu um elixir para alívio da dor e se preparou para levá-la ao Pico da Floresta Outonal.

— Espere.

Xia Shi a deteve, voltando-se para Suiyin, que permanecia paralisada ali perto.

— Obrigada.

Ela claramente vira o Fluxo Partido interceptar a ponta da lança, mas foi Suiyin quem atirou a espada.

Sua salvadora.

Suiyin despertou de súbito, confusa, e se curvou às pressas.

— Descanse bem, Anciã! Até mais!

Ela fugiu sobre sua espada de madeira, aquele toco ainda sustentando seu voo.

— O que deu nela? Parece que perdeu a alma — murmurou Shen Huaiwen.

Xia Shi balançou a cabeça, fraca.

Suiyin estava com aquele olhar vago desde que chegou.

— Vamos voltar.

— Mm.

————

Suiyin voou em direção ao campo de treino onde costumava duelar com Qin An, incapaz de tirar uma figura da cabeça.

Uma espadachim praticando formas sob a neve, cada movimento fazendo redemoinhar os flocos. Vestes brancas se fundindo à paisagem invernal, energia de espada girando incessante.

Ela jogou fora a espada de madeira. O poder espiritual se condensou em sua palma, materializando uma Espada Longa.

Conforme o fantasma da memória se movia, técnicas desconhecidas fluíam por seus membros com a familiaridade de décadas. Seu corpo reproduzia os movimentos perfeitamente, antecipando cada transição antes que ela ocorresse.

Sua lâmina acelerou até que o aço se tornasse o bater de asas de um beija-flor — agora apenas um borrão a olho nu.

De olhos fechados, ela dançava com o instinto.

— Você! Como pode—?

Uma voz chocada ecoou. Suiyin interrompeu a forma no meio e encontrou Qin An boquiaberta.

— O quê?

— Essa técnica de espada… como? — a mente de Qin An estava em turbilhão.

Após tantos treinos diários, Suiyin nunca havia vencido. Qin An acabara de alcançar um entendimento crucial e viera testá-lo — apenas para presenciar essa revelação.

Neve do Fim do Inverno: nove formas criadas pela Anciã Wuwei em sua juventude, notoriamente intrincadas.

Suiyin gaguejou:

— Vi alguém praticar. Tentei copiar.

“Alguém” — ou seja, a Anciã Wuwei.

Então a anciã havia, de fato, instruído Suiyin em Neve do Fim do Inverno em segredo.

Qin An apertou a espada de madeira, todo o entusiasmo esvaindo-se.

De repente, lembrou-se do dia em que a Anciã Wuwei lhe dissera para duelar com Suiyin — claramente não tinha sido para instruí-la, afinal.

— Qin An, veio pra duelar? — Suiyin se aproximou para pegar a espada de madeira caída.

Qin An olhou para a arma nas mãos de Suiyin, baixou os olhos e se afastou.

— O que houve? — perguntou Suiyin, confusa.

Deu de ombros, voltando a praticar como se estivesse sozinha no pátio.

Ali perto, Qin An observava os movimentos com atenção, a Pedra Sombria em sua palma emitindo um brilho trêmulo.