Capítulo 26


 — Tia, mais água quente, por favor. — Yan Li ofereceu uma pedra espiritual de primeira qualidade à idosa.

A mulher inspecionou a pedra com atenção antes de abrir um largo sorriso.

— Um momento, Senhorita.

Quando a porta se fechou, gemidos fracos escaparam do quarto.

Yan Li correu até a cama, onde a figura pálida se contorcia de dor.

— Jovem mestra — sussurrou ela, tocando a testa úmida. — Aguente só mais um pouco.

— Dói… — Lu Ciyou se encolheu de lado, a consciência escapando aos poucos.

Yan Li canalizou poder espiritual para o corpo trêmulo, caçando a força descontrolada que se espalhava internamente.

Embora não fosse letal, essa energia invasiva poderia reduzir a vítima a um estado de delírio se deixada sem controle.

Enquanto perseguia a corrente maliciosa, Yan Li se perguntava por que a Mestre arriscaria um conflito entre o Reino Sanqing e o Pavilhão Liujin ao ferir a jovem mestre deles.

No fim, o castigo fora misericordioso — a força foi logo encurralada sob sua perseguição espiritual.

— A água quente está pronta, Senhorita Fada. — Uma batida interrompeu.

Yan Li ajeitou o cobertor antes de responder:

— Obrigada.

Ela lavou o suor do rosto e do pescoço de Lu Ciyou.

Olhos turvos se abriram devagar. Uma mecha de cabelo sedosa caiu sobre o rosto de Yan Li quando Lu Ciyou puxou-a, fraca.

— Por que ficou? — a pergunta rouca se repetiu.

Yan Li sustentou firmemente o olhar sonolento.

— Você foi gentil comigo. Ainda estou devendo pedras espirituais.

Os olhos semicerrados de Lu Ciyou se enrugaram com uma risada fraca.

— Tão certinha…

As palavras traziam mais exaustão que elogio.

Yan Li estava prestes a se levantar quando a jovem a agarrou pela gola. Surpresa com aquela demonstração repentina de força, ela foi puxada para frente. Para não colidir com a outra, apoiou as mãos de cada lado da cabeça da jovem.

— Você—

Antes que pudesse continuar, uma mão arrancou a máscara de seu rosto.

As pupilas de Yan Li se contraíram. Quando fora resgatada, seu rosto estava mutilado demais para ser reconhecido. Agora que sua cultivação havia melhorado, a maioria dos ferimentos havia cicatrizado. Ainda assim, ela mantinha parte do disfarce facial sob a máscara para evitar ser reconhecida por Lu Ciyou.

Tão próxima, Yan Li não tinha certeza se o disfarce resistiria.

Suas respirações se misturavam quando Lu Ciyou pressionou a palma no rosto de A Li, o polegar traçando a pele marcada.

— A Li devia ter sido muito bonita antes…

Yan Li virou o rosto, as bochechas em chamas. Agarrou a mão inquieta de Lu Ciyou, a respiração instável. Após se recompor, murmurou:

— A jovem mestre deveria descansar.

— Não me chame de jovem mestre — a testa de Lu Ciyou se franziu.

— Então como devo chamá-la?

— A Ci.

— A… Ci. — O nome pairou na língua de Yan Li. Um calor floresceu em seus nós dos dedos ao olhar para baixo — a jovem agora se aninhava contra ela, a bochecha pressionada contra sua mão, os lábios roçando com suavidade impossível o osso do punho.

Yan Li enrijeceu, paralisada.

Algo se agitou em seu peito — uma coceira incômoda como picada de agulha. Lentamente, ela retirou a mão presa, mas deixou a outra onde estava, servindo de travesseiro para Lu Ciyou.

Sentada de pernas cruzadas ao lado da cama, Yan Li recorreu à Técnica da Mente Clara, que não usava há tempos. De olhos fechados, repetia o mantra sem cessar.

Enquanto isso, no Salão Yuxing, no pico principal do Reino Sanqing…

— Essa prova de seleção da seita externa precisa de regras adicionais — declarou o Élder Xuwu do Salão da Disciplina. — Apenas discípulos com menos de dez anos na seita interna deveriam participar. Do contrário, causaremos descontentamento.

Ao seu lado, os bigodes do Élder Fan Wen se eriçaram.

— Velho tolo! Está com inveja porque finalmente encontrei uma discípula que vale a pena ensinar?

— Inveja? — Élder Xuwu zombou. — Se ela mal possui competência básica, como merece tutoria de um élder? Que exemplo isso dá aos outros?

— Chega, estimados élderes — interveio Ye Xiao. — O Élder Xuwu fala com sabedoria. Permitir discípulos da seita interna evita ressentimentos. O Corpo Espiritual Celestial de Suiyin demonstra talento inigualável. Mesmo sem conquistar o primeiro lugar, merece orientação de um élder.

— Então eu a reivindico! — O Élder Fan Wen apontou para Xia Shi. — E você, especialmente! Pare de assombrar os passos da minha discípula com esses ferimentos!

Xia Shi: “…”

Ela não tinha dito uma única palavra!

Seu olhar acusador voou para o assento da líder da seita. Não fora o próprio Ye Xiao quem ordenou que ela acompanhasse Suiyin?

Ye Xiao tossiu, desviando o olhar.

— Fique tranquilo, Élder Fan. Ninguém contestará sua reivindicação.

Os outros élderes assentiram depressa. Que importava se a discípula servia ao Reino Sanqing? Ninguém queria aguentar mais um século de lamúrias do Élder Fan. Todos ainda lembravam de como ele resmungou por eras quando Fu Qing levou dois discípulos promissores sem lhe dar sequer um.

Aplacado, o Élder Fan Wen se empertigou, puxando a manga do Élder Xuwu para elogiar as virtudes de sua futura discípula.

Três dias depois seria a prova de seleção. Após discutir assuntos triviais, Ye Xiao dispensou a assembleia.

Os élderes retornaram a seus respectivos picos, deixando Xia Shi sentada imóvel com a xícara de chá nas mãos.

— Irmã sênior, você não deveria ter agido daquele jeito naquele dia — disse Xia Shi. — Sendo ela a jovem mestre do Pavilhão Liujin, feri-la não traria benefícios ao Reino Sanqing.

— Desde quando você me dá sermões? — Ye Xiao continuou examinando convites das seitas líderes, sem levantar o olhar.

— Aquela garota impulsiva… se o pai dela soubesse que ela quase empalou um élder do Reino Sanqing, provavelmente pediria desculpas primeiro.

— Falando nisso… — Ye Xiao largou os documentos e cravou nela um olhar gélido — quem deveria estar sendo repreendida agora é você.

A pálpebra de Xia Shi tremeu quando o pressentimento se instalou.

— Não conseguiu derrotá-la? Bloquear uma arma divina com as mãos nuas? Você perdeu completamente o juízo? — Os anéis de jade de Ye Xiao tilintaram contra a mesa. — Se não fosse pela intervenção de Yan Li e Suiyin no momento certo, você estaria se recuperando na casa de Huaiwen por meses!

— A espada! Onde estava sua espada? Devemos construir um santuário pra ela?

De cabeça baixa, Xia Shi se amaldiçoava por não ter ido embora com os outros quando Huaiwen a sinalizou. A bronca parecia interminável, e seu silêncio trêmulo logo entediou a líder da seita.

— Pode sair.

A antiga Xia Shi teria rebatido três vezes antes de recuar.

Xia Shi se apressou para sair do Salão Yuxing. No limiar, uma voz a deteve:

— Passe pelo campo de treino depois. Fique por ali, bem visível, perto da Suiyin — nada de flertes nem contato visual.

— …

— Entendido — respondeu Xia Shi entre os dentes, após inspirar fundo.

— Anciã Wuwei.

Os discípulos se curvaram conforme ela deixava o salão. Ao reconhecer uma voz familiar, Xia Shi se virou.

— Qin An?

A discípula escondeu a Pedra das Sombras virando os pulsos para dentro.

— Sim?

— Está se adaptando à espada? Algum novo insight recente? — Xia Shi perguntou, ciente dos treinos diários dela com Suiyin.

— Seus ensinamentos foram valiosos. Agora, tudo flui naturalmente.

— Natural não é suficiente. A lâmina precisa tornar-se a sua vontade.

Os nós dos dedos de Qin An empalideceram ao apertar a Pedra das Sombras escondida. A pedra cravou-se na palma enquanto ela fitava a figura se afastando.

Por que ela?

Nenhuma Suiyin apareceu no campo de treino. A área dedicada à esgrima era tão isolada que qualquer visita pareceria proposital.

Xia Shi trocou o peso entre os pés antes de suspirar, derrotada.

— Talvez seja melhor voltar. Faltam três dias. Pular uma vez não vai me fazer perder a chance.

Ela se virou nos calcanhares.

— Saudações, Anciã Wuwei. — Suiyin sorriu com inocência, as pupilas brilhando como estrelas.

Xia Shi: — …

— Como está seu ferimento? — Suiyin lançou um olhar ao antebraço ferido dias atrás.

— Mhm.

— A anciã… estava me procurando?

Suiyin havia chegado cedo. Queria cumprimentar a Anciã Wuwei adequadamente, mas hesitou ao ver o campo de treino cheio, temendo fofocas. Acabou observando das sombras.

Percebendo que a anciã vasculhava rostos em vão — e ela era a única ausente dentre os candidatos da seletiva — Suiyin abandonou a cautela, aproximando-se com alegria florescendo no rosto.

— Por que eu a procuraria? — O semblante de Xia Shi permaneceu indiferente.

Suiyin ignorou a máscara de porcelana da calma e focou na mão pairando próxima ao punho da espada. Os dedos elegantes se tensionaram quase imperceptivelmente diante de suas palavras.

Acertou em cheio.

Ela viera especificamente por ela.

Suiyin mudou de assunto com tato, dando leves tapinhas no estômago.

— Estou ficando com fome.

Xia Shi agarrou o desvio:

— No pico há refeitórios.

Mas logo reconsiderou — quem cruzou a barreira entre a vida e a morte não precisa de sustento mortal. Por que então alegar fome?

— As refeições de lá não têm sabor — Suiyin insistiu. — Dizem que há bons restaurantes morro abaixo, onde vivem as famílias dos discípulos.

— Quer ir? Eu pago — em retribuição pela sua ajuda fora do salão de prática.

— Disciplinar discípulos desobedientes é meu dever. Não precisa agradecer — Xia Shi sustentou seu olhar. — Mas se insiste, o Restaurante Chengxian serve.

— Perfeito! — Os olhos de Suiyin se curvaram com malícia. — Agora você me deve um agradecimento.

Xia Shi: — ?

— Se eu não tivesse desviado a lança da Ciyou, você estaria ferida. Isso não merece gratidão? — Suiyin inclinou a cabeça, o olhar brincalhão. — Então é Chengxian mesmo!

Xia Shi: — …

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