Capítulo 28


Peijin ficou completamente desnorteada com o elogio de He Xun. Então, era assim que ele a via?

He Xun soltou o queixo dela, endireitou-se lentamente e inclinou a cabeça, olhando diretamente nos olhos de Peijin, observando sua expressão.

Ele falou devagar:

— Certo... ultimamente... eu me apaixonei por uma garota... quero conquistá-la.

Apaixonado por uma garota? Quer conquistá-la?

Peijin olhou para He Xun, atordoada.

O He Xun diante dela era o mesmo de sempre: bonito e descolado. Seu corpo alto e esguio exalava uma classe distinta, que o destacava de todos os outros, e uma leve rebeldia em sua postura. Mas, talvez por estar falando daquela garota, seus olhos continham um toque de sorriso suave.

Peijin conseguia enxergar a adoração no olhar dele. Ele realmente... gostava tanto assim dessa garota?

Pouco antes, ela até dissera a um estranho que achava seu colega de quarto, o Grande Rei Demônio, estranho ultimamente, como se ele gostasse dela. Consequentemente, sentiu-se um pouco irritada. Pensara assim até agora, e então He Xun destruiu sua ilusão imediatamente.

Ao perceber que He Xun gostava de outra garota, Peijin sentiu um certo alívio... e, ao mesmo tempo, uma ponta de desânimo.

Ela não perguntou quem era a garota. Apenas deu um tapinha leve no próprio rosto, tentando se animar.

— Isso é ótimo, Irmão Xun. Você esteve solteiro por tantos anos, então é bom que finalmente tenha alguém de quem goste.

He Xun sorriu de canto.

— Também acho.

Ai... por que ela se sentia cada vez mais desanimada ao ouvir isso? Era porque He Xun não precisaria mais dela, como seu "irmão", no futuro? Com certeza era isso. Depois de começar a namorar, quem teria tanto tempo para sair com os amigos? Certamente ele gastaria esse tempo com a namorada.

E, quando isso acontecesse, ela seria apenas um peso morto.

Uma leve preocupação surgiu no rosto de He Xun.

— Mas eu não tenho experiência em conquistar garotas e não sei do que elas gostam. Pode me dar alguns conselhos?

Peijin abaixou o olhar para a ponta dos sapatos, sua voz um pouco abatida.

— Mas... eu também não tenho muita experiência nesse tipo de coisa.

— Não tem problema. Você pode apenas me dar algumas sugestões. Antes de se transferir para cá, o que as garotas da sua antiga escola gostavam?

O que as garotas ao seu redor gostavam...?

— Chocolates, chá de leite, rosas, caixas de música, bichinhos de pelúcia... na verdade, cada uma tem suas próprias preferências.

— Ah... então, do que você gosta?

— Eu? — Peijin quase achou que tinha ouvido errado. He Xun não estava perguntando sobre o que as garotas gostavam? Por que queria saber do que ela gostava também?

— Quando eu for comprar um presente para ela, posso comprar algo para você também, já que estarei passando pelo local. — Depois, He Xun sorriu. — Somos bons irmãos, afinal, não somos? Relaxa, não vou esquecer de você.

Peijin suspirou internamente. Agora, ela era apenas um pensamento secundário... Mas deveria se sentir grata por He Xun ao menos se lembrar dela por enquanto. No futuro, nem tinha certeza se ainda estaria na lista dos "presentes por conveniência".

Pensando nisso, Peijin tentou animar-se e respondeu:

— Não sou exigente, gosto de tudo. Se eu ganhar um saquinho de algodão-doce, já ficarei muito feliz.

Os olhos de He Xun se estreitaram num sorriso.

— Certo, entendi.

Naquele dia, os pãezinhos que Peijin havia comprado pela internet finalmente chegaram. Como foi uma entrega expressa dentro da mesma cidade, chegou muito rápido.

Ela foi buscar sua encomenda com o tio zelador do dormitório e voltou para o quarto segurando uma caixinha. Estava preocupada que He Xun perguntasse sobre isso. No entanto, para sua surpresa, ele não demonstrou o menor interesse, nem fez qualquer pergunta.

Peijin não pôde evitar pensar: "Como esperado, agora que He Xun tem alguém de quem gosta, ele não presta mais atenção neste colega de quarto."

Se fosse antes, ele certamente teria feito algum comentário. Mas agora, não disse uma palavra.

Ela percebeu como as pessoas são volúveis. Quando têm algo, se sentem incomodadas; mas, quando perdem, ainda assim não ficam felizes. Antes, ela se preocupava com o que responder se He Xun perguntasse. Agora, como ele não disse nada, sentiu que algo estava faltando.

Peijin colocou a caixinha no armário, planejando abri-la quando precisasse.


No dia seguinte, logo que He Xun se sentou na sala de aula, Zheng Li se aproximou apressado. Ele o olhou de maneira travessa e perguntou:

— O que você e o seu nerdzinho foram aprontar ontem, hein?

He Xun se acomodou na cadeira.

— Nada demais.

Zheng Li claramente não acreditou. Ele piscou maliciosamente e disse num tom misterioso:

— Nada? Então por que vocês dois saíram da aula quinze minutos mais cedo, ao mesmo tempo? Não me diga que não fizeram nada!

He Xun riu baixinho. O fato de não terem feito nada ontem... não significava que não fariam no futuro.

Depois que viu Peijin saindo da aula, ele saiu logo em seguida e a seguiu de perto. No ônibus, estavam separados por apenas três ou quatro pessoas.

Mas, talvez porque a pequena tolinha estivesse com a cabeça cheia de pensamentos, ela nem percebeu sua presença. Quando chegaram ao supermercado, porém, ele foi interrompido pelo gerente do local, que o confundiu com um visitante importante e insistiu em lhe mostrar a loja. Por causa disso, perdeu Peijin de vista.

No entanto, no final, ele ainda conseguiu descobrir o que queria saber.

He Xun coçou o queixo, seus olhos brilhando.

— Deixa eu te contar uma coisa.

Zheng Li, achando que era algum segredo picante, se inclinou e sussurrou:

— Fala logo, como foi a primeira vez?

Ao terminar de falar, ele riu maliciosamente.

O sorriso de He Xun desapareceu.

— Zheng Li, que merda se passa na sua cabeça?

Zheng Li imediatamente perdeu o interesse.

— Ah, cara, então não é nada do que eu pensei? Tá, fala aí, vou ouvir.

He Xun abaixou um pouco a voz.

— Ele é uma garota.

Zheng Li arregalou os olhos.

— O quê? Você tá dizendo que seu nerdzinho... é uma garota?!

— Uhum.

Zheng Li ainda estava incrédulo.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Ontem, Peijin passou um bom tempo na seção de absorventes, mas, ao vê-lo, desistiu da compra. No entanto, ao voltar para o dormitório, comprou absorventes pela internet e os guardou no armário. Todas essas evidências apontavam para uma única verdade: ela era uma garota.

Agora tudo fazia sentido.

Ela não tinha barba nem precisava se barbear.

Ela era baixinha, macia e tinha um temperamento gentil.

Ela era delicada e feminina.

Porque, desde o início, nunca foi um menino, e sim uma garota.

Vendo que He Xun falava com tanta certeza, Zheng Li percebeu que ele já tinha plena convicção.

— Cara... ela enganou a gente direitinho.

— Pois é.

— E agora, Ah’Xun? Vai desmascará-la?

— Claro que não.

— Vai namorar ela, então?

— Com certeza.

Num colégio só para garotos, uma garota disfarçada... Não seria divertido fingir que não sabia e ver até onde ela levaria essa encenação?

Naquela noite, ao voltar para o dormitório, Peijin viu sua mesa coberta de algodão-doce. De todos os tipos e sabores: morango, matcha, chocolate. Até um artesanal feito à mão.

He Xun comprou todos os algodões-doces do mercado para ela?!

Naquele momento, Peijin lembrou-se de que He Xun era rico. Sua família possuía o supermercado mais luxuoso da cidade. Se ela realmente quisesse algo, ele poderia dar a ela.

De repente, sentiu-se um pouco invejosa da garota que He Xun gostava.

Se ele já era tão atencioso com um simples colega de quarto, como ele trataria a garota que realmente gostava?


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