Capítulo 27


 Peijin ouviu e ergueu a cabeça. O rosto bonito de He Xun surgiu claramente diante de seus olhos.

Ela tentou empurrá-lo, mas não conseguiu afastá-lo. Então, sussurrou:

— Irmão Xun...

He Xun soltou suas mãos no momento certo, arqueando uma sobrancelha enquanto questionava:

— Peipei, fugindo assim que me vê, hein?

Peijin se sobressaltou. Ela balançou a cabeça rapidamente, negando:

— De jeito nenhum, Irmão Xun. Eu estava brincando de esconde-esconde com você.

Brincando de esconde-esconde no supermercado?

He Xun riu, claramente não acreditando naquela desculpa esfarrapada, mas não a desmentiu de imediato.

Ele olhou ao redor.

— Peipei, o que você veio comprar?

Uma fina camada de suor se formou em suas palmas. Escondendo as mãos atrás das costas, ela gaguejou:

— Eu só estou dando uma olhada.

Você saiu da escola quinze minutos mais cedo só para "dar uma olhada"? E escolheu justamente o supermercado mais distante da escola?

He Xun sabia que Peijin estava escondendo algo dele, mas, por ora, não a pressionou. Se insistisse, talvez nem conversassem sobre isso. Ele ergueu o braço e, com carinho, passou-o sobre os ombros dela, adotando um tom arrogante:

— Então olhe à vontade. Se gostar de algo, pegue.

Embora Peijin estivesse nervosa, não conseguiu conter o riso com as palavras dele.

— Pegar à vontade? Irmão Xun, por acaso sua família é dona deste supermercado?

Ela tinha dito aquilo em tom de brincadeira, mas não esperava que, assim que terminou de falar, He Xun realmente assentisse com a cabeça.

Peijin ficou boquiaberta. Aquele supermercado gigante e luxuoso, localizado no coração da cidade, pertencia à família de He Xun?

Ele soltou uma risada indiferente.

— Este supermercado é apenas uma das propriedades mais insignificantes da minha família.

O tom de He Xun era plano, extremamente plano, como se estivesse falando sobre o que iria comer naquele dia.

Peijin sabia que ele não estava se exibindo, apenas constatando um fato.

Ela sempre soube que seu colega de quarto, o "Rei Demônio", era um novo-rico, mas só agora percebia o quão rico ele realmente era.

No final, Peijin comprou alguns itens essenciais, como escovas de dente, além de alguns lanches.

Ao saírem do supermercado, ela ainda sentia um leve arrependimento. Era uma pena que os pãezinhos não pudessem voltar com ela para o dormitório. Se pudesse levá-los, o dia teria sido perfeito.

Assim que chegou ao dormitório, a primeira coisa que fez foi pedir pãezinhos pela internet. Ao finalizar a compra, deixou uma mensagem especial nos comentários:

"Por favor, não escreva o que é no lado de fora da embalagem. Obrigado."

Depois de garantir os pãezinhos, Peijin finalmente conseguiu riscar uma preocupação da sua lista.

Enquanto isso, He Xun estava do lado de fora do dormitório, ao telefone.

— Gerente Zhang, reveja as imagens das câmeras de segurança e descubra o que o garoto que estava comigo hoje fez antes da minha chegada... Isso... Entre em contato comigo assim que terminar. Esse assunto é extremamente importante para mim, então vou aguardar sua ligação. Seja rápido.

Peijin não fazia ideia dessa ligação.

Após finalizar o pedido dos pãezinhos, ela finalmente teve tempo de refletir sobre tudo o que acontecera nos últimos dois dias. Primeiro, aquelas palavras com tom de confissão durante a aula de inglês. Depois, o que ele disse no supermercado hoje:

"Tanta empolgação assim? Se jogando em cima de mim."

Parecia uma piada, mas, ao mesmo tempo, não parecia.

Ela se sentia confusa. Perdida.

Sem pensar muito, pegou o celular e abriu o aplicativo "Soul". Era um app de bate-papo por voz anônimo. Embora já o tivesse baixado há tempos, nunca o utilizara.

Na época em que instalou o aplicativo, queria usá-lo como um "buraco na árvore", um lugar onde pudesse desabafar todas as suas angústias. Mas, como não era acostumada a conversar com estranhos, nunca chegou a usá-lo de fato.

(Nota: "Buraco na árvore" é um termo da internet que se desviou de seu significado original. Antigamente, representava um vazio emocional. Hoje, é usado para descrever a confissão de segredos a um confidente. O termo surgiu da história "O imperador tem orelhas de burro", em que um rei escondia suas orelhas de burro. Seu barbeiro, incapaz de guardar o segredo, sussurrou para um buraco em uma árvore, que depois espalhou a verdade ao vento.)

Nos últimos dias, muitas coisas aconteceram. Peijin não tinha uma amiga próxima com quem pudesse conversar, então só lhe restava recorrer ao aplicativo.

Era triste pensar nisso. Desde que transmigrara, não tinha ninguém em quem pudesse confiar ou apenas conversar.

O slogan do Soul era: "Encontre alguém com uma alma parecida com a sua."

Peijin preencheu todas as suas informações sem pensar muito. Idade, localização... tudo falso. Não acreditava que o app realmente a conectaria com alguém de alma semelhante. No momento, só queria alguém para conversar e desabafar.

Ela lançou um olhar para fora do dormitório. Não sabia o que He Xun estava fazendo, mas suspeitava que ele não voltaria tão cedo. Com isso em mente, finalmente apertou o botão de "match".

"Procurando por uma conexão..." apareceu na tela.

Ao ver aquelas palavras, ela sentiu um leve arrependimento.

Talvez fosse melhor não seguir adiante. Um estranho não daria um conselho realmente útil.

Além disso, desabafar seus segredos para um completo desconhecido... era realmente apropriado?

Peijin estava prestes a cancelar a busca quando, de repente, o sistema encontrou alguém para ela.

Uma voz masculina jovem e agradável soou do outro lado:

— Alô?

Ela franziu os lábios, um tanto desconfortável, e murmurou:

— Eu escolhi ser pareada com uma garota. Por que fui combinada com um cara?

O outro riu de bom humor.

— Eu selecionei para ser combinado com um cara também, mas acabei sendo pareado com uma garota. Deve ser algum bug no sistema.

Peijin soltou um "hm" em resposta.

Por se tratar de um estranho, ela não revelou que, na verdade, estava vivendo como um "garoto" naquele momento.

E como o outro não a conhecia, ela não precisava forçar a voz para soar mais grossa. Finalmente, podia falar com sua voz real.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo.

Até que o garoto riu e quebrou o gelo:

— Por que não está falando nada?

Peijin apertou os lábios, sua voz soando frustrada:

— Porque minha mente está uma bagunça. Não sei o que fazer.

— Algo está te incomodando?

— Mhm.

— Se quiser, pode me contar.

Peijin hesitou por um instante. Mas pensou: Nós nem nos conhecemos, então não tem problema.

Com esse pensamento, contou tudo o que aconteceu desde sua transmigração. Claro, sem mencionar os detalhes que não poderiam ser revelados.

— Eu estou escondendo um grande segredo do meu colega de quarto, e isso me faz sentir muito culpada. Muitas vezes, as palavras chegam até a ponta da minha língua, mas, no final, recuo com medo de contar.

— Por que tem medo?

— Porque estou com medo de que ele me entenda errado.

Medo de que He Xun a considerasse um pervertido, medo de que ele se afastasse, e, acima de tudo, medo de perder completamente esse amigo.

O garoto do outro lado concluiu:

— Você se importa muito com ele.

Peijin admitiu sem hesitar:

— Sim, porque, de todas as pessoas que conheço, ele foi o que mais me tratou bem.

O outro ficou em silêncio por alguns segundos.

Peijin continuou:

— Mas, ultimamente, ele tem agido de um jeito muito estranho.

— Como assim?

Aquelas palavras, uma suposta confissão na aula de inglês, e depois as palavras de hoje no supermercado:

— Tanto entusiasmo? Se jogando em cima de mim.

Essas palavras soavam como uma piada, mas ao mesmo tempo, não pareciam uma.

Peijin não sabia se estava pensando demais ou se era outra coisa. Justo quando ia contar mais sobre sua situação para aquele estranho, naquele momento, He Xun começou a abrir a porta para entrar. Peijin rapidamente encerrou a chamada de voz e guardou o celular.

Ela esperou um tempo depois de guardar o celular, mas os passos que estava esperando demoraram a vir.

Será que He Xun ainda não tinha entrado?

Pensando nisso, Peijin ergueu a cabeça apressadamente e olhou para a entrada.

Para sua surpresa, He Xun estava parado ali, com uma mão no bolso e o olhar fixo nela, sem piscar. Aquele olhar intenso a deixou um pouco desconcertada, como se houvesse algo importante acontecendo e ela não soubesse.

Peijin tocou o próprio rosto.

— Irmão Xun, por que está me olhando assim?

Os lábios de He Xun se curvaram em um sorriso enquanto ele ria. Ele deu um passo à frente em direção a Peijin.

— Acho você bonit.

Peijin riu.

— Irmão Xun, será que você está solteiro há tanto tempo que qualquer pessoa que olha parece lindo?

He Xun parou bem na frente dela.

Seu olhar estava baixo, fixo no rosto de Peijin. Então, ele sorriu devagar.

— Peipei, você tem alguma ilusão sobre a sua aparência?

Peijin fez um som de surpresa.

— Que ilusão?

He Xun ergueu levemente o queixo dela com uma das mãos, e os olhares dos dois se encontraram no ar, por acaso.

Ele se inclinou, aproximando-se devagar. Sem que ninguém o ensinasse como fazer, ele a elogiou:

— Se a sua aparência fosse apenas bonita, então, neste mundo inteiro, não existiria ninguém mais belo que você.


Nota da autora:

Ela caiu do cavalo. (1)

(1) Metáfora para "cair da graça" / Peijin foi exposta.

Mas o irmão Xun, mesmo enxergando através dela, não vai desmascará-la.

Soul é um aplicativo real que existe.


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