Capítulo 29

A maior parte da equipe do cruzeiro havia torturado e matado incontáveis passageiros nas jornadas passadas.

Com o tempo, passaram a se sentir como pequenos tiranos do mar, controlando a vida e a morte de seres humanos comuns. Para eles, humanos eram como formigas — facilmente esmagados.

Mas agora, a situação havia se invertido.

O grupo começou a examiná-los como se escolhessem frutas bem suculentas, e por fim, selecionaram o mais forte entre eles — o chefe de segurança.

Ouviram alguém no grupo dizer:

— Escolhe um pra experimento.

— Esse aqui.

— Será que eles ainda viram fantasmas se não tiverem restos mortais?

— Vamos testar?

Conversavam como se estivessem decidindo o que comer num rodízio. Sorriram ao desamarrar o chefe de segurança. Ou melhor, não foi uma pessoa quem o amarrou, e sim uma planta ornamental no convés que, de repente, esticou um galho fino e o prendeu. Ele foi pendurado de cabeça pra baixo no ar.

— Fogo?

— Isso.

— Alguém aí tem magia de fogo ou talismãs flamejantes?

— Eu tenho……

Uma chama varreu o corpo do chefe de segurança.

Ele gritou de dor.

— …Vai com calma, se ele morrer e virar fantasma, vamos ter que trocar por outro.

— Quem aí tem poder de fogo forte e direto? Vamos ver se ele ainda vira fantasma depois de ser reduzido a cinzas!

— Todos com poderes de fogo, se apresentem!

— Eu acendo!

— Eu acrescento um pouco…

— Tô dentro também!

Equipe do cruzeiro: …Foram paridos por fornalhas, é?

Sob o ataque combinado de todos os estudantes, o fogo era ainda mais intenso que os de crematórios. O corpo do chefe de segurança foi queimado até não restar nem os ossos — só um punhado de cinzas finas, levadas pelo vento.

— …Parece que deu certo?

— Não! Ele virou um fantasma! Cuidado! Tá te batendo com um guarda-sol!

O fantasma do chefe de segurança girava um guarda-sol no convés e o arremessava contra o grupo de estudantes que usaram fogo. Mas, antes de acertar alguém, a planta mágica o agarrou com um cipó.

— …Parece que Jiuge e os outros tinham razão. Os ligui ainda estão fracos e só conseguem controlar um objeto por vez.

— Tantos músculos e só consegue manipular um guarda-sol? Fraco demais!

Naturalmente, o chefe de segurança ouviu e ficou tão furioso que só conseguiu fugir e desaparecer sem deixar rastro.

— …Que pena. Ele fugiu antes de a gente poder continuar os testes.

Os olhares dos estudantes voltaram-se para os funcionários presos na jaula.

Funcionários-em-pânico.jpg

— Merda, tem uns funcionários tentando se matar, parem eles.

— Agora só restam noventa e quatro.

— Alguém foi até a sala do capitão pedir um pouco de cabelo pro Jiuge…?

— Esquece isso. A menos que o próprio Jiuge controle, não tem como usar. Além disso, o cabelo dele é tão precioso quanto a vida!

Naquele momento, uma voz feminina familiar soou pelo interfone.

— Tem um fantasma na sala 8023. Alunos que quiserem experimentar podem levá-lo.

Os colegas imediatamente passaram a confiar um pouco mais e simpatizar com a voz feminina.

Alguém perguntou em voz baixa:

— Alguém sabe de que turma é a garota do rádio? Desde quando o Jiuge tem namorada?

— O Jiuge não tem tempo pra correr atrás de garota — ele passa todo o tempo tentando aumentar o volume do cabelo. A única namorada dele só pode ser uma doida por cabelo. Eu sei quem é, é a Lin Xinghe do departamento da era moderna!

— Quem?

— Aquela que saiu viva da bolha de espaço do Xie Wuan.

— Eu conheço ela! A líder do Culto da Carpa! Então o nome dela é Lin Xinghe!

— Isso mesmo, ela é a Lin Xinghe, a esperança do futuro do departamento moderno. Eu assisti ela na última sala de exame — mesmo sem itens mágicos, conseguiu conduzir a prova inteira!

……

Naquele momento, Lin Xinghe estava na sala do capitão observando os vários monitores do cruzeiro.

Xiao Xue Ji estava enfrentando o fantasma masculino que Li Jun havia eletrocutado. Ela não conseguia tocá-lo, e os objetos que o fantasma controlava também não conseguiam feri-la.

Jiuge notou o que Lin Xinghe estava observando e perguntou:

— Está preocupada com seu bichinho?

Mas Lin Xinghe definitivamente não estava preocupada com Xiao Xue Ji.

O fantasma era fraco demais, não conseguia nem arranhar Xiao Xue Ji — mesmo que ficasse mais forte, ainda poderia não vencê-la.

Ela estava pensando em algo que não tinha nada a ver com essa sala de exame.

Antes, achava que Xiao Xue Ji havia escapado da detecção da fenda espaço-temporal porque estava morta. Depois que chegou ao mundo diferente da escola de vilões, ela renasceu e esqueceu tudo sobre seu passado.

Já fazia alguns dias que Lin Xinghe vinha pensando se Xiao Xue Ji era apenas um ser morto… ou um espírito que cultivou um corpo físico.

Naquela época, ela não pensou muito a respeito. Se Xiao Xue Ji era um ser morto ou vivo, tanto fazia — Lin Xinghe estava cuidando dela, então qual era a diferença?

Agora, Lin Xinghe podia ter certeza de que Xiao Xue Ji não estava morta, já que não conseguia tocar nos espíritos ali. Então ela devia ter saído da fenda espaço-temporal na última sala de exame com um corpo vivo.

Lin Xinghe não acreditava que Xiao Xue Ji tivesse escapado da fenda espaço-temporal e dos poderes do fiscal transformando-se num simples grampo de cabelo dourado. Se isso fosse possível, com certeza ela não teria sido a única a conseguir escapar.

Portanto, Lin Xinghe suspeitava que algo havia sido manipulado.

Quanto ao que exatamente foi manipulado, Lin Xinghe ainda não sabia.

Mas ela acreditava que um dia descobriria a verdade com as próprias mãos.

Lin Xinghe olhou para Jiuge e disse:

— Não, estou pensando em outra coisa. Estamos procurando por rosas-gelo alpinas. Além das possíveis pistas com os funcionários e os passageiros reincidentes, as criaturas desconhecidas do segundo massacre talvez também possam ajudar. O NPC me disse que a segunda rodada de massacre começou no oitavo dia, quando criaturas desconhecidas subiram a bordo do cruzeiro.

Jiuge perguntou:

— Você acha que, se não zarparmos, não vamos passar pela segunda rodada do massacre?

Lin Xinghe respondeu:

— Não, não é isso que me preocupa. Os fantasmas aqui têm memórias de cada reencarnação, o que prova que todos eles sabiam da segunda rodada de massacre. Mesmo assim, seguiram exatamente a mesma rota todas as vezes. Podemos tirar duas conclusões disso. Primeira: eles estão em conluio com as criaturas do segundo massacre, por isso seguem sempre a mesma rota. Segunda: eles são como os passageiros reincidentes — não têm como escapar da rota do navio.

Jiuge sentiu que perderia ainda mais cabelo se pensasse demais nesse tipo de problema. Disse:

— E qual das duas você acha mais provável?

— Ainda não temos pistas suficientes para confirmar nenhuma das teorias… — Lin Xinghe lançou um olhar aos capitães ao lado e acrescentou: — Eles são todos muito ardilosos e talvez não respondam com sinceridade. Mas podemos perguntar aos NPCs passageiros reincidentes. O NPC me disse que ficou escondido na zona segura e nunca saiu, mas outra pessoa saiu e sobreviveu por sorte. Esse passageiro deve saber mais coisas…

Claro que Wang Ke nunca tinha dito isso a ela.

Wang Ke e os outros estavam prestes a morrer antes mesmo de encontrar a zona segura, então não teria tido tempo de observar as criaturas do segundo massacre. Ele só sabia de dois fatos isolados: um, que havia uma segunda rodada, e dois, que ela era conduzida por criaturas estranhas e desconhecidas.

A segunda parte da frase, ela inventou na hora.

Ela revelou aquilo agora para observar a reação dos capitães.

Pena que todos tinham barbas espessas e bocas cheias de cabelo — nenhum deles esboçou reação alguma. As pistas estavam muito bem escondidas.

Mas Lin Xinghe não se preocupou — ainda havia muito tempo dentro daquela sala de exame, e ela acabaria encontrando um ponto fraco.

Agora, era preciso que os NPCs passageiros reincidentes embarcassem antes que ela pudesse arrancar os detalhes deles.

Ela lançou um olhar ao píer, que estava lotado de gente. Decidiu não convocar os passageiros reincidentes naquele momento.

— Ainda falta uma hora e meia pra zarparmos, e os passageiros só vão aparecer no navio depois que ele tiver partido… — Lin Xinghe olhou para Jiuge novamente e perguntou: — Jiuge, você sabe pilotar o navio?

Jiuge disse:

— …Não.

Nesse momento, o capitão, que estava amordaçado com cabelos, começou a protestar com sons abafados.

Jiuge gritou:

— Para de lamber meu cabelo!

Lin Xinghe disse:

— Ele parece querer dizer alguma coisa.

Jiuge lançou um olhar frio e puxou o cabelo da boca do capitão. O homem disse:

— Ninguém pode tocar no meu navio, esse navio é meu, eu sou o capitão.

Lin Xinghe disse:

— Então pode pilotar pra gente?

O capitão hesitou.

Lin Xinghe falou:

— Tá bem, vou procurar outra pessoa pra pilotar…

— Eu piloto! Eu piloto! — o capitão pareceu humilhado e contrariado.

Lin Xinghe disse:

— Certo, você pode pilotar, mas só se me disser qual das minhas suposições está correta. A primeira ou a segunda? Fala logo, e eu deixo você pilotar…

O capitão fez uma cara de “isso já é demais” e disse:

— Você não devia…

Lin Xinghe disse:

— Já vou chamar outra pessoa pra pilotar…

— A segunda. A gente não consegue escapar desse tipo de reencarnação.

Jiuge perguntou:

— Você acha que ele tá dizendo a verdade ou mentindo?

Lin Xinghe sorriu docemente e respondeu:

— Vamos considerar como verdade por enquanto e testar com ousadia. Se for mentira, ainda dá tempo de voltar e testar a primeira…

Lin Xinghe ligou o interfone para informar os colegas a bordo de que estavam prestes a zarpar. Após o anúncio, ouviu batidas na porta.

Jiuge olhou para a câmera de vigilância e disse:

— É meu amigo, Fu Zhou, do departamento xianxia.

Lin Xinghe se lembrava de Fu Zhou.

Era o colega que estava deitado sobre sua cobra verde na sala de espera da prova, e de quem ninguém ousava se aproximar.